Belo Monte, referência internacional do movimento contra barragens.

Rio de Janeiro, 22 junho (TerraViva) – O moçambicano Jeremias Vunjanhe conseguiu, na caótica Cúpula dos Povos, encontrar os ativistas do Movimento Xingu Vivo que denunciavam a criminalização dos seus ativistas pela policia de Altamira, no interior do Pará.

 

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por Mario Osava, da IPS

belo monte Belo Monte, referência internacional do movimento contra barragens

Manifestação contra a construção de .

 

Vunjanhe tornou-se conhecido no encontro da sociedade civil da conferencia , ao ser deportado no dia 12 de junho, quando desembarcava no aeroporto internacional de Guarulhos. Barrado pela Policia Federal, teve seu passaporte retido e devolvido “três horas depois já dentro do avião” de regresso a Moçambique, contou a TerraViva.

O carimbo no seu passaporte diz que foi “Impedido” de entrar no país porque “consta no SINPI”, siglas de Sistema Nacional de Procurados e Impedidos, apesar de ter um visto de entrada concedido pelo consulado brasileiro em Maputo.

A solidariedade de 80 organizações e negociações com a chancelaria brasileira permitiram que viesse ao Brasil com novo visto. Recebido com festas no Aeroporto do Galeão dia 18, participou dos últimos quatro dias da Cúpula dos Povos, onde trouxe denuncias sobre violências da brasileira Vale contra os desalojados por suas atividades mineiras em Moçambique.

Membro da ONG Justiça Ambiental, denunciou também a ameaça que representa a hidrelétrica de Mphanda Nkuwa, que a Camargo Correia, uma das grandes empreiteiras brasileiras, construirá no Rio Zambeze, em sociedade com duas empresas locais, com investimentos previstos de 2,4 bilhões de dólares.

Daí seu interesse em estabelecer uma troca de informações e experiências com o Xingu Vivo, também procurado por Güven Eken, diretor-executivo da ONG Doga Denergi, da Turquia.

Represas atingem povos em todo o mundo, “a solução tem que ser global”, disse Eken, pregando “união para defender os rios”. Enquanto Belo Monte ameaça a Amazônia, a hidrelétrica Ilisu, no Rio Tigre, ameaça a Mesopotâmia, berço da civilização, salientou.

O encontro foi convocado pelo Movimento Xingu Vivo para Sempre (MXVPS) para informar sobre os interrogatórios a que a Delegacia de Altamira está submetendo participantes da manifestação do dia 16, no âmbito do Xingu+23, uma serie de atos de protesto contra Belo Monte na própria região, durante a semana passada.

No dia 16 manifestantes cavaram uma vala numa das ensacadeiras, para deixar escorrer a água, num gesto simbólico em favor do livre fluxo do Rio Xingu. Após o ato, alguns índios invadiram escritórios da Norte Energia, consórcio que constrói a usina, danificando equipamentos e instalações.

Estão tentando criminalizar a resistência ao “monstro Belo Monte”, quando os culpados pela violência são o próprio Governo Federal, o Poder Judiciário e o consórcio construtor, que violam a legislação, impondo uma licença de implantação da hidrelétrica, sem que as condicionantes estabelecidas com base nos estudos de impacto ambiental tenham sido cumpridas, protestou Antonia Melo, líder do Movimento.

Só os atingidos são criminalizados, enquanto se privatiza um bem público como o rio, a Norte Energia, “maior latifundiária da região”, tem propriedades legalizadas em três municípios e os pequenos agricultores nunca recebem seus títulos de propriedade, são desalojados sem indenização, enfatizou Ana Laíde Barbosa, do Conselho Indigenista Missionário de Altamira.

O governo e as empresas implantaram um clima de “terror jurídico” na região para “imobilizar a luta” conta Belo Monte e “calar ativistas”, opinou o advogado Sergio Martins, da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, que presta assistência aos ativistas.

A repercussão dos fatos envolvendo Belo Monte, com personalidades conhecidas em todo o mundo aderindo ao movimento contra a hidrelétrica, tornou esse empreendimento uma referencia internacional dos atingidos por barragens.

* Publicado originalmente no site TerraViva.