Autismo Epidêmico:
Uma entrevista especial com a Dra. Suruchi Chandra
https://www.youtube.com/watch?time_continue=5&v=PXgHdKuoHvc
By Dr. Joseph Mercola
JM: Dr. Joseph Mercola
SC: Dr. Suruchi Chandra (http://www.chandramd.com/)
JM: O autismo afeta mais do que uma em 100 crianças nascidas nos Estados Unidos. O que está sendo responsabilizado por esta epidemia? Aqui é Dr. Mercola, bom dia. Hoje estaremos compartilhando com a Dra. Chandra, que tem formação e especialização em psiquiatria pela Universidade de Harvard e que tem focado e dirigido, verdadeiramente, sua carreira diretamente para crianças com autismo. Estamos muito felizes em tê-la aqui conosco, partilhando e conversando sobre o tema. Encontrei-a num evento de treinamento com o Dr. Lee Cowden, meu médico mentor e, na verdade, foi quem abriu meus olhos para muitas áreas. A Dra. Chandra está, na verdade, acolhendo os princípios do Dr. Cowden, aplicando-os e focando suas ferramentas magnificas de cura no autismo. Seja então bem vinda e agradecemos por nos acolher.
SC: Grato. Fico gratificada em ser sua convidada.
JM: Por que não nos dá um breve relato de sua caminhada nesta área e como uma psiquiatra formada em Harvard pode transitar em direção ao tratamento do autismo em tempo integral?
SC: Como sabe, estes transtornos podem ser verdadeiramente devastadores, sejam eles a bipolar, a depressão resistente a tratamentos ou o autismo. Não estava nada feliz com isso. Pensei: “talvez estejamos deixando escapar algo como um campo vital.” Isso realmente levou-me a começar a considerar a medicina integrativa. Cheguei então neste campo, poderia dizer, altamente cética e assumindo de que se estas coisas sendo desconhecidas por algumas das melhores e mais equipadas instituições estabelecidas, talvez por isso elas não poderiam assim ajudar. Mas o que me mobilizou para permanecer neste campo foi quando vi crianças melhorando e mesmo adultos se qualificando de uma forma como eu nunca tinha visto antes. Imaginei então: “tenho uma responsabilidade e mesmo uma obrigação moral de captar melhor este campo. Estou nele agora há, mais ou menos, 12 anos. Novamente o que me prende, o que me motiva é o tipo de melhora que vejo no dia a dia nas crianças e também na percepção de que há mais que poderemos aprender no sentido de auxiliar tanto as crianças como os adultos.
JM: Sem dúvida. O que não eu não inclui ao lhe apresentar é que de, pelo menos, um em cada 70 nascimentos, conforme estimativa conservadora dos Centers for Disease Control/CDC (nt.: um dos órgãos importantes na questão de saúde pública nos EUA) são de crianças autistas, os números reais são provavelmente bem maiores e há algumas projeções dizendo de que um em cada dois nascimentos será de autistas. Se as coisas não mudarem – podemos talvez tocar em alguns dos fatores que acredite serem os maiores responsáveis na contribuição para este quadro – esta situação poderá ser um problema. É um desafio devastador. Quando estava na faculdade, era uma para cada 10.000 crianças que tinha este transtorno. Uma para cada 10 mil! Agora é no mínimo, uma para menos de 70 e provavelmente apontando uma para cada três. .
SC: Penso ser igualmente importante admitimos de que as crianças com autismo seja somente a ponta de um iceberg. Apesar de ser este número realmente alto, se olharmos para a ponta deste iceberg, constataremos que existem muitas, mas muitas, outras crianças com retardo em seu desenvolvimento. Há uma série de crianças com aspectos como atraso na fala, desordens motoras, hipotonia (nt.: redução ou perda do tono muscular). Estes aspectos são todos muito comuns. Na verdade, as últimas estatísticas dos CDCs para os atrasos no desenvolvimento são de uma criança para cada seis ou sete. O autismo está crescendo dramaticamente. Não sei se as pessoas estão realmente conscientes disso, mas esta era uma doença relativamente rara, há algumas décadas atás. Quando eu estava na faculdade de medicina, fiz residência no Yale Child Study Center (nt.: Centro de Estudo da Criança na Universidade de Yale), e lá o autismo era, então, uma doença muito rara. Eu atuava na unidade de pacientes internados e não havia uma só criança com autismo sob meus cuidados. No final da minha residência, o professor de atendimento médico veio a mim e disse: “olha, eu preciso que veja esta criança com autismo, porque será pouco provável que vá lidar novamente com outra igual em sua vida de médica, já que será difícil atender 10.000 crianças em sua prática profissional.” Assim, se vê como era raro. Estive um bom tempo com esta criança. Pensava naquele momento que nunca mais ia lidar com outra com autismo. No entanto, agora eu não só vejo muitas crianças com autismo, como imagino que aqueles que estão nos vendo e ouvindo através desta entrevista, também devam ter experiência com alguma criança assim, já que se tornou agora tão comum.
JM: Este seu relato lembrou-me do que aconteceu no último século ou mais quando a doença do coração era muito rara. Lá pelo século XIX. Ou em certas culturas quando não se tinha a dieta alimentar do mundo ocidental industrializado, não tinham problemas cardíacos e por isso, muitos cânceres. Era uma condição muito rara. As pessoas se amontoavam em volta daqueles hospitais primitivos. Não acreditavam que alguém pudesse estar tendo um ataque do coração e tinham este mesmo tipo e experiência. Agora este é a causa mais comum de mortes. Em grande parte relacionadas aos mesmos aspectos. A maioria das doenças, não importa qual – autismo, doença do coração, câncer, diabetes, obesidade, doenças neurodegenerativas, artrite – nós conseguimos identificá-las. Quase todas têm fatos fundamentais que estão fora do equilíbrio que faz pouco que estamos avaliando – os sistemas gastrointestinal, imunológico, infecções crônicas, disfunção mitocondrial. Se você abordá-las, é muito, mas muito raro – especialmente se fizer isso habilmente, visando diagnósticos legítimos muito específicos – que possa transformar qualquer doença, supondo que você tenha vitalidade suficiente para viver. Mas, se você vai estar morto em duas semanas, é tarde demais. Mas praticamente não há quase que nenhuma doença que você não pode reverter se tratá-la cedo o bastante.
SC: Certo.
JM: Muitas pessoas não acreditam nisso. Muitos médicos da mesma forma também não acreditam nisso. No entanto isso é verdade. A razão de não acreditarem é porque nunca foram preparados para tal. Nunca tiveram experiência clínica para verem estas recuperações radicais e mágicas que são possíveis quando tratamos a verdadeira causa da doença. Agora quando simplesmente enfiamos um daqueles agentes farmacêuticos que estão por aí, não estaremos focando na causa fundamental da doença.
SC: Perfeito. E eu quero mostrar que alguns destes agentes farmacêuticos podem fazer, na verdade, coisas bem piores. Por exemplo…..
JM: Podem?
SC: Sim. Alguns medicamentos psiquiátricos, por exemplo, aprovados para o autismo, na verdade, afetam a mitocôndria nas células, de forma muito adversa. Devemos buscar outros recursos antes de nos jogarmos sobre estes produtos químicos farmacêuticos já que não queremos afetar a mitocôndria de maneira tão negativa.
JM: Peço que comente sobre o que acredita serem alguns dos fatores mais significativos para o aumento desta epidemia de autismo, já que, é claro, existem uma série de teorias a respeito. Quero muito saber, em seu ponto de vista, quais são eles.
SC: Esta é uma questão importante. Acho que devemos primeiro falar sobre genética, visto que uma série de pessoas compreendem ser o autismo uma desordem genética. Precisamos primeiro fazer uma luta corpo a corpo quanto a este ponto. Quando entrei na faculdade e pensei também em minha especialização em psiquiatria, fui ensinada de que era 90% hereditário e genético. Neste caso, não podemos, infelizmente, fazer quase nada. Esta era minha crença e meu ensinamento. Penso ser esta a crença de muitos médicos quando veem crianças autistas e com retardo em seu desenvolvimento. O melhor estudo sobre genética foi feito na Universidade de Stanford. Estudaram gêmeos idênticos e bivitelinos. Constataram que as taxas de autismo eram quase as mesmas, se eram univitelinos ou não. Por que essa pesquisa? Os gêmeos idênticos compartilham exatamente os mesmos genes e os bivitelinos compartilham os genes típicos de seus outros irmãos. Dizem eles então: “isso não pode ser genético.” Tem que ter algo a mais sendo trocando entre estes grupos: e isso é o ambiente. O ambiente uterino, no ventre, e depois no início da vida foi similar. Eles contabilizaram e verificaram as causas contributivas do autismo. Detectaram que uns 38%, acredito, era genético. A maior parte, 62%, estava conectado com o ambiente. De novo, precisamos ficar atentos a questão ambiental. Tem outra pesquisa feita por uma pesquisadora na Califórnia onde observou as crescentes taxas de autismo. Pesquisou outros fatores como a questão: “estaríamos diagnosticando melhor agora esta síndrome?” E ela afirma: “isso é somente parte da questão.” “Então seriam os genes?” Esta situação é realmente importante: não tem esta coisa como se fosse um epidemia dos genes. Eles não se alterariam assim tão rapidamente. E ela de novo conclui: “precisamos estar atentos à questão ambiental.” Novamente, devemos estar alertas quanto ao ambiente. E ao tocar neste tema, não estamos só falando sobre venenos ambientais, apesar de achar que eles precisam ser vistos com muita atenção. Precisamos observar tudo o que está em volta da criança durante seu desenvolvimento. E isso inclui o mundo microbiano, as bactérias que estão em nosso entorno; alguns são patogênicos e outros são amigáveis. Precisamos também observar a alimentação. Isso está na nossa volta. E tanto pode gerar estresse como algo que nos cura. Mais recentemente, penso que outra coisa que devemos questionar é sobre o aumento de exposição aos campos eletromagnéticos. Devemos realmente ter uma visão muito mais ampliada. É improvável que o autismo vá ser gerado por um ou dois fatores. É possivelmente gerado por uma combinação de vários fatores e que serão únicos para cada criança. É realmente desafiante quando temos um sistema complexo muito individualizado, dificultando os resultados que as pesquisas estão buscando. Se estivermos esperando pelas pesquisas para agir, deveremos aguardar então um longo, mas longo mesmo, tempo para fazer ai alguma coisa.
JM: Temos, literalmente, dezenas de milhões de crianças que estão sendo afetadas. Dentro dos contribuintes ambientais, o que poderia dizer sobre quais e quem são os maiores? Temos cientistas pesquisadores, como a Dra. Stephanie Seneff e outros que acreditam que o herbicida ‘Roundup’ desempenha um poderoso papel além, é claro, dos conservantes, do açúcar, das exposições aos campos eletromagnéticos (nt.: sigla em inglês – electromagnetic fields/EMF). Em sua prática quais são os maiores?,
SC: É difícil dizer. Em termos de causas exatas, penso ser difícil numa perspectiva científica dizer: “esta é a causa.” A abordagem que realmente uso é a precaução. Começamos em nossa própria casa. O que se pode reduzir para baixar a contaminação ambiental na própria casa. Tenho um manual que entrego aos pais. Ali estão informações desde os agrotóxicos como também os compostos orgânicos voláteis e os retardadores de chama (nt.: material utilizado desde carrinhos de nenê até sofás, computadores e todos os móveis e tecidos sintéticos que vêm do petróleo). Considero que devemos examinar todas as coisas porque está sendo muito difícil sabermos exatamente o que está afetando uma criança em particular. Assim, ao invés de apontarmos uma só coisa, penso que precisamos ter, realmente, uma exata e ampla abordagem sobre tudo. Fico muito feliz em compartilhar este folheto com os pais que estão interessados, porque assim este é um bom lugar para se começar.
JM: Se nos enviar este material, faremos um link com o texto em PDF e estará no site. Isso não será problema.
SC: Grande. Faremos isso. Aí entra a dieta por ser a chave da questão. É uma das coisas que pode mudar muita coisa. Uma dieta pode introduzir toxinas. Pode alterar o microbioma num dia. Então avalio que o grande fator, se examino novamente – perguntando criticamente: “o que constato? O que é uma coisa muitíssimo comum que vemos entre as crianças?” Uma delas é o uso desmedido de antibióticos. Este abuso na medicação com antibióticos, já nos primeiros dias de vida da criança, parece-me, em meu ponto de vista, ser uma justa associação. Não há nenhum estudo estabelecendo este fato. E tão importante quanto é a presença dos antibióticos na vida da mãe. Aquelas que usam um bom volume durante a pré concepção e em qualquer ponto da gravidez, parecem ter crianças que apresentam um série de problemas intestinais que, na maioria das vezes, estão correlacionados com determinados comportamentos.
JM: Há algum tempo, entrevistamos a Dra. Natasha Campbell-McBride, uma neurologista russa. Imagino que esteja familiarizada com suas atividades.
SC: Sim, estou.
JM: Pois é, desenvolveu uma metodologia de uma dieta que chamou de Gut and Psychology Syndrome (GAPS). Sua tese básica é que o microbioma foi agredido por antibióticos ou pela pílula anticoncepcinal e ainda por uma dieta pobre praticada pela mãe. Assim ela transfere este pobre microbioma à sua criança. Esta é a disfunção na microflora em combinação com outras variáveis ambientais – ela detectou quais eram, especialmente a exposição a vacinas. Isso é um tipo de problema ósseo. Hesito mesmo sobre o fato – certamente eu não advogo de que as vacinas causem autismo, porque este é um tipo de ‘batata quente’ e existem muitas outras variáveis que contribuem para este fato, mas elas não ajudam muito. No entanto, em combinações com outras variáveis, elas causam distúrbios ao microbioma. Parece ser uma evidência muito convincente. Nunca tive a chance de aplicar esta iniciativa clinicamente. Quero conhecer qual é sua experiência com a aplicação deste tipo de abordagem.
SC: Esta é uma boa questão. Estou familiarizada com este trabalho. Novamente, clinicamente vejo que mães que usam muitos antibióticos, variadas vezes, têm crianças com estes aspectos. E então, a seguir, tão importante quanto ver os maiores ganhos estarem quando trabalhamos com os intestinos, e curando o microbioma. Existe um dito popular de que toda doença começa pelo intestino. Quando ouvi isso pela primeira vez, pensei: “esta é uma maneira muito simplista.” Embora seja um pouco reducionista, estou encontrando meu próprio caminho. Pensando desta maneira, é por onde tenho começado com cada criança: descobrindo onde está a realidade de seu trato gastrointestinal. Fazemos então testes para acessarmos esta informação. Assim que curamos o intestino, é quando principio, na maioria das vezes, a ver os maiores ganhos no conjunto geral das crianças. E ressalva-se que isso não é para a totalidade delas. Mas para este grupo de crianças onde os aspectos ligados aos intestinos são predominantes, é que vejo as grandes diferenças. E concordo com a Dra. Campbel-McBride. A abordagem que faço é um pouco diferente, mas está de acordo com seus princípios básicos.
JM: Tenho tratado centenas de pacientes autistas e realmente desenvolvo uma simpatia, ou melhor, uma empatia pela família. Como tenho estado dentro das trincheiras com os pais, posso entender a devastação que isso causa à estrutura familiar. Muitos relacionamentos acabam em divórcio porque há muito trauma emocional envolvido com o cuidado com uma criança com este tipo de desordem. Uma das estratégias comuns que algumas famílias, aquelas que estão só colocando a ponta do pé na água com os dados da medicina natural, têm tido a opção pela dieta livre de glúten e de caseína (nt.: livre de trigo e lacticínios). E são boas as razões. Existem muitos receptores opioides no cérebro: gluteomorfinas e caseomorfinas. E realmente acabamos não estimulando o seu uso. O melhor é mantê-los fora da dieta – tanto o glúten como a caseína – e poderá ser, realmente, a melhor ideia para todos nós. Não acredito que alguém esteja bem com a exposição a eles. Penso ser um boa estratégia para todos e particularmente para aquelas pessoas que apresentam déficits no desenvolvimento ou com autismo. Tenho observado e visto uma enorme melhoria quando realmente foi restringido tanto os grãos como os açúcares bem como os sucos de frutas e mesmo as frutas em si. A razão é porque todos são fontes de carboidratos líquidos que obviamente perturba o microbioma além de também ameaçarem a estrutura combustível mitocondrial. Poderá, talvez, comentar sua experiência ao aplicar estes princípios.
SC: É um bom conselho também, sobretudo para baixarmos os açúcares adicionados, a frutose e os sucos de frutas. Estes são fonte imediata de açúcares para, provavelmente, parte do microbioma que não deveria estar lá. Este é um dos conselhos que dou às crianças desde cedo. Certamente faz a mudança.
Em termos de redução de grãos, algumas das crianças se beneficiam. Há algumas evidências de que algumas com autismo não têm as enzimas para a quebra dos dissacarídeos. Mais uma vez, é um grupo de crianças que se beneficiam disso. Precisamos fazer uma abordagem mais individualizada. Mas, novamente, quanto aos carboidratos e aos açúcares, esta ação pode fazer uma grande diferença.
JM: Agora minha teoria de trabalho para a maioria das doenças, mesmo as neurodegenerativas, e certamente as complicações neurológicas, mesmo aquelas tão simples com injúrias traumáticas cerebrais (nt.: em inglês – brain traumatic injuries/BTI) poderia estar fornecendo combustível para o corpo, especialmente o cérebro que é mais estruturado se comparado à gordura. A maioria de nós vem comendo sempre muito carboidrato, e carboidrato líquido que é o total de carboidratos menos a fibra. Como resultado disso aí, queimamos combustível ineficientemente, criando geralmente uma série de radicais livres desnecessários. Parece ser uma estratégia bem razoável a se tentar. Na verdade, uma das minhas determinações neste momento é buscar realmente tornar tudo isso bem simples de se fazer e se implementar, propiciando assim que as pessoas possam começar a colher os benefícios.
SC: Acho tudo isso ótimo. Realmente é uma boa recomendação. Vejo que muitas das crianças não estão acessando, suficientemente, gorduras de boa qualidade. Falo aos pais que o cérebro é predominantemente gordura e que precisamos dar a elas recursos corretos para o seu desenvolvimento cerebral. Mesmo coisas como colesterol. Há muito poucas crianças em meu atendimento que têm baixo colesterol. Precisamos do colesterol para que os cérebros se desenvolvam. A conexão mais forte para quaisquer mutações ou autismo é na verdade a inabilidade de produzir quantidades adequadas de colesterol.
JM: Exatamente. Esta é uma estratégia muito poderosa para nos certificarmos de que elas têm estas coisas. Acho que inclusive temos também um modelo. Isso vem acontecendo por quase um século no efetivo tratamento de certas doenças cerebrais. Poderia ter sido para uma epilepsia resistente a medicamentos e convulsões, quando mostraram que estas dietas com alta concentração de gordura poderiam ter melhoras dramáticas. Obviamente que epilepsia ou convulsões não são a mesma coisa do que o autismo, mas existem muitas disfunções que são sobrepostas.
SC: Certo. Algumas crianças vão bem com estas dietas com altas quantidades de gordura, mas de novo com o princípio básico de reduzir dramaticamente os açúcares livres, os que são adicionados, os carboidratos simples e processados, além de cuidados com os grãos. Cada criança com autismo que apresente quaisquer problemas gastrointestinais, deve ter uma avaliação, penso eu, de dispor de dietas livre de caseína e de glúten para se começar a ver se elas respondem.
JM: Você está utilizando um modelo que realmente se relaciona ao perigo que corre a célula que responde a isso. Acredito que seja um biólogo, talvez um médico, não estou certo, que propôs este modelo para o autismo. Gostaria que nos explicasse sobre isso.
SC: Claro. É o Dr. Robert Naviaux. Está lotado no campus da Universidade da Califórnia de San Diego. Penso que foi o que propôs a melhor teoria unificadora para o autismo. Porque devemos sempre lembrar que o autismo é o conjunto de todos estes sintomas discrepantes e diferentes. Como podemos explicar isso a nível celular? Examinou neste nível e detectou mecanismos sinalizadores que as células fazem quando estão em perigo. Esta resposta celular é instigado pela mitocôndria. É o que encontramos em muitas doenças crônicas – incluindo o autismo –. São células respondendo umas às outras como se elas estivessem em perigo. A pergunta é: o que está fazendo com que sinalizem? O que as está mobilizando para que enviem sinais? Poderia estar ligado com algo relacionado aos poluentes ambientais, ao mundo microbiano, detectado no mundo físico, mesmo quanto a calor e a frio. O Dr. Naviaux está agora examinando os mecanismos se há plantas ou medicações que parem esta sinalização. Antes de pararmos a sinalização, precisamos remover todas as coisas que possam parecer como um perigo para as células. O que este modelo me traz é que as crianças que estão se desenvolvendo agora não têm um ambiente que as permita que vivam seguras. Chegamos tão longe de onde deveríamos estar em termos de todas as contaminações ambientais a que estamos expostos que essas são exatamente as coisas sobre as quais estamos falando: que as células não mais se sentem como se estivessem seguras. O que o Dr. Naviaux diz é que se as células não se sentirem seguras, usarão todos os recursos que dispõem e os colocarão na direção da sobrevivência em vez de desenvolverem linguagens, habilidades sociais, humor e todas aquelas funções da mais alta ordem. A primeira coisa que temos a fazer é remover o que pode ser perigoso. Isso inclui a limpeza total de toxinas nas casas das pessoas. Pode se começar pela comida. Ela pode ser percebida pelo sistema imunológico como algo perigoso. Pode gerar inflamações, por exemplo. Assim veremos inicialmente as fontes de alimentos. Devemos observar tudo, enfim. Temos que ter uma abordagem de precaução; não podemos ficar esperando pelas pesquisas. Temos que pensar: isso é perigoso? Esta é a minha primeira questão do que está provado que isso é danoso? Também observar as infecções. Elas podem ser parte de infecção tanto do microbioma como ser sistêmica. Uma vez estando as células em um ambiente seguro, podemos observar agora os mecanismos pelos quais as células podem se sentir seguras novamente. Isso é o que o Dr. Naviaux tem se fixado. Acredito que muitas das coisas que estamos empregando tipo suplementos e mesmo ervas, na verdade estão dizendo às células: “olha, isso é seguro agora. Podes retornar ao modo de cura e crescimento.”
JM: Este é um ótimo quadro para se trabalhar. Se eu pudesse sumarizar ou mesmo tentar resumir sua estratégia de ação, parece que está focada em três sistemas: os intestinos, o sistema imunológico e a mitocôndria. Acho que seria bem oportuno explanar para nossos leitores que sistemas tem utilizado para seus diagnósticos. Certamente deve empregar algum muito efetivo, seguro e claro, sem efeitos colaterais, pela abordagem auxiliar que penso ser útil para todos e não só para os autistas e que trará um certo nível de melhora. No entanto quando se tem crianças realmente doentes, como deve ter dia sim dia não, algum diagnóstico extremamente preciso deverá ser imprescindível. Para a maior parte esta se entrando em áreas nunca antes vividas e que muitas pessoas que agora vivem isso, é algo que nunca foi sentido antes. Existem algumas ferramentas realmente de ponta que podem ser utilizadas para definir e identificar precisamente o que alguns destes desafios são. Gostaria de ter acesso a sua descrição de alguns deles.
SC: Perfeito. A primeira coisa que está sendo apontada é o que eu e outros médicos que estão utilizando este modelo é que nós não pensamos o autismo exatamente como uma doença somente cerebral; consideramos que seja uma doença que envolve todo o organismo e que afeta o cérebro. É mais fácil com os dados da Dra. Martha Herbert da Universidade de Harvard. Se esta é de fato uma doença de todo o organismo, envolvendo múltiplos sistemas que afetam o cérebro, então nós precisamos acessar os diferentes sistemas. Isso inclui o trato intestinal (que mencionei antes como um dos mais importantes), o sistema imunológico e a mitocôndria. Para o trato intestinal, nós começamos ouvindo a história e examinando a criança. Mas existem análises fora que podem nos dar melhor ideia o que faz a criança ter boas bactérias, adequadas, se há inflamação, se elas estão digerindo o alimento, os carboidratos? Algumas das coisas você mencionou acima. Enquanto tivermos isso, teremos melhor chance de tratarmos uma criança com as intervenções de que ela necessita. Elas são do tipo de criança que poderão ter benefício se não ingerirem grãos, por exemplo? Posso dividir o meu olhar assim: a) Sistema imune. Novamente o sistema imunológico, que sabemos estar envolvido no autismo. Algumas destas crianças tem autoimunidade onde elas atacam a elas mesmas. Têm excesso inflamatório ou pode ser que tenham uma pobre imunidade onde as infecções podem se instalar por si mesmas. Acessemos a ele e lhe demos suporte. Precisamos aplacar o sistema imunológico? Ou dar-lhe sustentação? b) Mitocôndria. Você a colocou em evidência acima. Poderia definir o que ela é. São pequenas organelas que estão dentro de cada célula. São, hoje sabemos, o mesmo tipo de canário que se levava para as minas de carvão para ver se haviam gases venenosos, nas galerias. Quando alguém está sob algum perigo ou sob estresse, são as primeiras que respondem ao dano. Pesquisas mostram que 60% das crianças com autismo têm disfunção mitocondrial. Este é um número grande. Podemos fazer análises que nos dão uma ideia se a mitocôndria das crianças estão afetadas. Existem realmente abordagens holísticas para curar a mitocôndria que incluem, como já falamos antes que incluem: gorduras, dieta, cura dos intestinos, remoção de quaisquer possíveis infecções. Estas são coisas que podemos fazer. Novamente, existem outras partes do organismo que são afetadas e que podemos acessar baseados nestes exame e no histórico, ambos únicos das crianças.
JM: O histórico é efetivamente a parte mais importante para qualquer intervenção. Precisamos saber o que está acontecendo. Algumas vezes o corte se mostra perfeitamente claro. Suas histórias são praticamente idênticas ou semelhantes. Não há dúvidas, devemos começar por aí mesmo. Quero muito, se for possível, fazermos uma discussão sobre alguns outros tipos de ferramentas de diagnósticos que não estão sendo empregadas nos modelos convencionais, como os que fez durante seu período de residência.
SC: Faço uma série de trabalhos com o sangue e com as análises laboratoriais o que é bem incomum para um psicanalista. A maioria deles somente utilizam o histórico. Nós analisamos o sangue. Examinamos coisas como baixa ferritina (nt.: proteína hidrossolúvel rica em ferro, comum no fígado e no baço), aminoácidos, que podem ser marcadores para a disfunção mitocondrial. Exame de fezes. De novo, é uma teste de laboratório mais abrangente que nos dá uma melhor ideia do que está acontecendo mais do que só nos dizer que é uma desordem cerebral. Esta é uma abordagem que muitos dos meus colegas fazem usando um trabalho similar.
JM: Grato por ter nos explanado este aspecto. Depois de avaliar estas crianças e providenciar intervenções, queria que nos descrevesse a probabilidade de melhoria para crianças tipicamente autistas porque as pessoas acreditam isso não ser possível para crianças com autismo típico.
SC: A pesquisas mostram que, de fato, as crianças com autismo melhoram sim. Existe um estudo feito, mostrando em torno de 20% de crianças revertendo do autismo. Não está sendo utilizada a abordagem inteira ou a biomédica; é somente crianças com autismo. Não devemos desistir destas crianças. Como muitas delas melhoram com esta abordagem, é muito difícil de se dizer. Estou fazendo parte agora de um grupo que está exatamente tentando qualificar isso e estudar melhor este aspecto. Mas o que me prende nesta área é que eu vejo melhoras a cada dia. Acredito fortemente que se usarmos uma abordagem que emprega terapias comportamentais e esta abordagem, estaremos com mais probabilidade de vermos melhoras sensíveis. Outra coisa que sinto fortemente é a respeito a intervenção precoce. As crianças que chegam a mim quando estão sob duas ou, algumas vezes com relativamente poucas intervenções, podemos ver melhoras dramáticas. Algumas vezes as melhoras são o bastante que elas apresetam o que nós podemos chamar recuperação. Posso contar algumas histórias se auxiliarem para ilustrar o tipo de cura potencial que podemos presenciar.
JM: Sim. Se tiver exemplos, penso que poderá auxiliar a que as pessoas entendam melhor.
SC: Por exemplo, vi uma criança aos 4 anos e meio que muitas pessoas estavam achando que já era muito tarde, em função de se ter a ideia de que para o cérebro temos que fazer as intervenções antes dos cinco anos. Os pais vieram a mim sem nenhuma esperança. Começamos com intervenções simples. Ele tinha uma série de dores abdominais, constipação. Demos uma dieta livre de glúten. Removemos os açúcares, excessos de açúcar da dieta. Curamos esta constipação. Demos a ele uma série de ervas e sustentamos a mitocôndria. Foi um trabalho continuado. Não foi algo da noite para o dia. Continuamos o processo. Praticamos terapias que muitas vezes não são recomendadas pelos psiquiatras convencionais, incluindo terapias de movimento que acreditamos auxiliarem a regeneração cerebral. Este menino está agora com 10 anos numa pequena escola regular que é academicamente um desafio, recebendo todos os tipos de crianças com disfunções não tendo problemas comportamentais, nem necessidade de sustentação. Ele ainda apresenta alguma coisa em termos de questões motoras finas, mas está realmente motivado para praticar esportes. Ele está aí no mundo fazendo uma série de treinos físicos e logo terá condições de lidar com este seu último obstáculo. Este é o tipo de cura que mostra ser possível. Almejo que isso seja para todas as crianças. Não está disponível, acho eu, para todas, mas é possível.
JM: Percebo um de outros componentes disso aí – foi o que mencionou quanto a infecções crônicas. Estes são aspectos cruciais. Eu mesmo tenho sido um batalhador com algumas delas. Penso que a maioria de nós tem esta questão em algum nível de conexão. É muito difícil diagnosticá-las porque um típico exame de sangue não vai fazer isso. No entanto, têm certas análises mais avançadas que podem detectá-las. Podem detectar coisas como parasitas e viroses crônicas. Elas absolutamente não respondem ao típico tratamento antiparasita ou certamente não teremos nenhum eficaz para a maior parte de tratamentos antivirais. A maioria são realmente mais sintomáticos. No entanto existem algumas abordagens que são altamente efetivas tanto com ervas medicinais como homeopáticas. Quero ver se poderia comentar sobre eles e qual sua experiência. Sabemos claramente alguma coisa sobre estas infecções crônicas que são uma espécie de desafio. Se nosso corpo amealhou toda esta energia para lutar contra uma infecção, não podemos dar conta – ou seja, não ficando nada para permanecemos saudáveis.
SC: Esta é exatamente a resposta do perigo celular. Se eu posso também só intervir, aprendi em minha formação psiquiátrica que antes de rotular alguém com uma doença psíquica, devemos antes descartar as causas reversíveis. Sempre testamos para a sífilis. Situação que nunca vivenciei.
JM: Não. Isso era a dezenas de anos atrás.
SC: Exato. Mas há uma infecção que é muito similar ao sífilis que é a Borrelia. Esta também é uma espiroqueta e tem uma vida muito semelhante, claro. Pode afetar o cérebro e causar algum sintoma psíquico. No entanto são poucos os médicos e psiquiatras que descartam a doença de Lyme (nt.: doença causada pela bactéria espiroqueta Borrelia burgdorferi transmitida geralmente pela picada do carrapato). Como você disse, um dos problemas é que não dispomos de análises adequadas. Não podemos contar com testes como o Western blot (nt.: teste rápido para testar HIV) e os testes disponíveis descartam por muitas razões isso aí. O que uso, são dois caminhos. Primeiro, ouço a história de vida. Muitas vezes, já aparece o suficiente na história para me levar a pensar na possibilidade de uma infecção crônica, especialmente se a mãe tem vários sintomas como dores nas juntas, fatiga crônica, sintomas inexplicáveis de que todos os seus filhos são doentes. Talvez esteja mesmo se passando algo aí. Agora, o que descubro que provavelmente seja o meio mais efetivo para detectar se estas crianças têm esta infecção, é tratá-las empiricamente, ou seja, usar nosso melhor palpite com as ervas medicinais que conhecemos e que podemos empregar para estas infecções. Incluem então, duas ervas: banderol (nt.: árvore brasileira amazônica de nome científico Otoba parvifolia) e samento (nt.: conhecida no Brasil como ‘unha de gato’, nome científico Uncaria tomentosa), que mostraram ser mais efetivas do que doxiciclina (nt.: antibiótico sintético) para a doença de Lyme.
JM: Posso colaborar com indicações também de uma companhia chamada Nutramedix. Banderol e samento são as que eu pessoalmente estou tomando e considero excelentes.
SC: Isso é o que eu vou fazer. De novo, se eu acho que há uma probabilidade, eu vou usar essas ervas. Com base de como a criança responder, então sabemos se é uma possibilidade ou a probabilidade deles terem essas infecções. Se é provável que eles apresentem estas infecções, por causa daquilo que chamamos de resposta Herxheimer (nt.: são intensificações de sintomas que se originam de doenças provocadas por espiroquetas como sífilis, doença de Lyme, brucelose e febre tifoide), ficam dramaticamente pior ou, em alguns casos, dramaticamente melhor, e nós continuamos apenas a tratar com o que parece mais adequado. Usualmente é de longo prazo. É onde muitas das pessoas ficam presas e dizem: “Não há nenhum teste bom. Não queremos o uso de antibióticos por longo tempo. Não vamos fazer este tratamento, porque não se sabe o que fazer.”
JM: Esta é provavelmente uma boa estratégia. Parece-me que é melhor não tratar do que fazer com antibióticos, porque está se tornando esta situação problemática, em pior.
SC: Exatamente.
JM: Se tivermos e conhecermos somente um modelo convencional, seja conservador. Mas para entender isso, existem outras ótimas alternativas bem efetivas.
SC: Também acredito que isso é extremamente importante – e fico feliz por ter trazido este aspecto – se a doença é causada por uma dessas infecções, podemos fazer toda a diferença ao se tratar a infecção. Este é o espaço onde podemos estar com uma criança que pode ter retardos crônicos no desenvolvimento e autismo. Se tratarmos de forma adequada, especialmente no início, podemos colocá-la em um curso de vida diferente. É por isso que nós fomos ensinados tão enfaticamente no treinamento: descartar causas reversíveis, tratar infecções. Isso é absolutamente verdadeiro.
JM: Na verdade podemos. Este tratamento empírico se houver uma infecção, será altamente efetivo. Seu custo é relativamente pequeno para as ervas e não há praticamente nenhum efeito colateral. Mesmo que eles não venham a precisar delas, não há realmente nenhum perigo. Provavelmente há mais perigo de fazer um exame de sangue e daí contrair uma infecção, do que ter um efeito colateral de uma dessas plantas.
SC: Certo. Acredito – de novo, isso ainda precisa ser provado – estas ervas também ajudam nosso microbioma. Elas poderiam realizar isso. Elas têm propriedades de microrganismos, elas também parecem, baseada em minhas observações e pelo exame de fezes, ter um efeito positivo sobre o crescimento microbiano dos intestinos, amplo e saudável. A forma como penso sobre isso é se há uma dessas infecções crônicas tipo Lyme ou outras relacionadas, tudo isso pode ajudar. Assim, ao menos, elas ajudarão com uma dessas outras coisas que muitas das crianças têm porque de certa forma, muitos de nós já não temos o mesmo microbioma saudável de nossos antepassados. A maioria, pelo menos.
JM: É fácil entender. Realmente penso que a Dra. Seneff está correta em suas propostas que esta massiva contaminação, através dos alimentos processados, junto com todos os outros seres do planeta, face às aplicações do herbicida Roundup, está devastando nosso microbioma. Está realmente muito duro evitar este tipo de impacto. A informação mais nova é de que este mesmo herbicida, o Roundup, também está impactando negativamente a nossa mitocôndria. Temos então um duplo problema: a mitocôndria e o microbioma.
SC: Existem certamente uma série de fatores ambientais que estão afetando nosso microbioma. Os antibióticos e sua presença nos produtos de origem animal que ingerimos, e mesmo que nunca tenhamos tomado antibióticos, eles vem indiretamente. Temos tido muitos fatores que estão afetando nosso microbioma de uma forma que estão exaurindo sua riqueza e sua diversidade.
JM: Há quanto tempo vem tratando pacientes agora com autismo?
SC: Em 2009, decidi que tinha uma obrigação moral de aprender mais sobre estas abordagens quanto ao autismo. Eu estava fazendo medicina integrativa nesse ponto por cerca de cinco anos e trabalhando com outras populações. Foi-me dito pelo meu mentor que todas essas coisas que aprendemos, poderiam ajudar crianças com autismo. E poderia efetivamente. Fui e procurei alguém que pudesse me ensinar mais sobre o autismo e trabalhei numa clínica quase que exclusivamente com retardos de desenvolvimento e autismo. Agora, na minha prática na Bay Area (nt.: região da baía de San Francisco, CA), trabalho, na verdade, com um número de diferentes populações, incluindo pacientes psiquiátricos, e doenças crônicas transmitidas por carrapatos. Trabalho com essas populações, porque cada uma tem uma necessidade e assim cada grupo me ensina algo que pode ajudar a outro grupo.
JM: Estou pensando em sua prática atual – porque nós estamos focando sobre o autismo em geral – quando uma família vem para você com uma criança que é relativamente pequena, digamos, menos de dois anos. Este aspecto desempenha um grande papel como você mencionou. Ou seja, quanto mais velha a criança, maior desafio é para revertê-lo, assim como qualquer doença. Eu estou querendo saber qual a probabilidade típica para que ela apresente melhoras e reverter a uma situação essencialmente normal.
SC: Quanto mais jovem a criança chega, o mais provável é que vamos ver sua melhora e ela será mais robusta. Isso é verdade para todas as intervenções precoces. Para as crianças que vêm em torno de dois anos ou ainda menor, eu diria que a grande maioria deles, vemos melhoras. Isso é verdadeiro, em geral. Melhora aqui pode ter um significado diferente. Em termos de recuperação, é realmente difícil para mim dar números, porque eu não tive muitas crianças que venham nessa idade. Infelizmente, a maioria das crianças vêm com …
JM: Este é um ótimo ponto. A maioria delas é mais velha.
SC: Sim, a maioria é mais velha. Isso é algo que eu também estou muito tocada. Qual o momento em que as crianças são diagnosticadas com autismo? Após desenvolverem a linguagem e a socialização. A história que eu ouvi – esta também é apoiada por pesquisas – é aí que geralmente há um atraso. As crianças não estão recebendo o diagnóstico tão jovem quanto elas deveriam. Acho que têm dois fatores: um, não há recursos suficientes, e outro, os pediatras, muitas vezes. só tranquilizam os pais e propõem que fiquem observando. Isso porque, pensando historicamente, antes as coisas que afetavam as crianças, como uma febre, geralmente eram as coisas que só se tranquilizava os pais e que ficassem observando as crianças.
JM: Exato. E isso é grande parte da pediatria. Sem questionamentos. Perfeito.
SC: Penso que a medicina vem fazendo a coisa certa neste tempo. Mas agora, infelizmente, quando há uma preocupação da ciência, não devemos mais esperar. Outra coisa é que agora existem avaliações que podem ser feitas mesmo antes da criança falar e nos dar uma boa probabilidade de se perceber se ela está num processo de autismo. Também coisas como observar de como elas se balançam quando estão chorando. São os biomarcadores. Tem inclusive alguém no Silicon Valley que está desenvolvendo um aplicativo que pode informar se a sua criança está precisando um tipo de intervenção. Existe todo o tipo de instrumentos que estão sendo validados para mostrarem que estão razoavelmente acurados. Mas sabe por que eles não estão sendo utilizados?
JM: Posso imaginar, mas por que não nos esclarece?
SC: A razão que eu vejo dos meus colegas quando dizem: “não há nada que se possa fazer”, já que não se pode começar a terapia até a criança possa iniciar a fazer uso da habilidades motoras ou mesmo falar. Para mim, isso é realmente de cortar o coração. Às vezes a criança me mostra isso aos quatro ou cinco anos. E então me vem a ideia do que se poderia ter feito no momento em que os pais que primeiro percebem algo diferente, sendo eles os que normalmente sabem destas coisas já desde de pequeninos. Assim, uma criança como esta, não tem mais consolo. Ela está babando todo o tempo. Ela tem algo com seu trato intestinal. Não está fazendo contato com os olhinhos. No entanto, nós não fazemos absolutamente nada porque é só um bebê. Minha obstinação é que possamos detectar esta situação já que dispomos de intervenções realmente brandas como os probióticos, as mudanças na dieta que podem ser empregadas como abordagens precaucionais quando há alguma possibilidade destas crianças estarem afetadas. Se eu pudesse contar um episódio agora, eu gostaria, sinceramente.
JM: Sem dúvida.
SC: É uma história que penso que acontece com muitas pessoas porque foi uma mãe que me contou. Atendia uma pequena criança que veio me ver aos 11 meses de idade e que nunca eu havia atendido. Sua mãe lhe levou neste momento porque estava aplicando uma terapia de análise comportamental aplicada/ACA (nt.: em inglês – applied behavioral analysis/ABA). Ela sabia o que estava procurando e também o que aconteceria se não tomasse nenhuma atitude. Conhecia a devastação que esta enfermidade pode atingir. Aos nove meses, esta criança deixou de fazer contato com os olhos, parou de balbuciar e começou a desenvolver algo que chamamos de ‘head lag‘ (nt.: pode-se considerar a dificuldade da criança de ter a cabeça ‘firme’ ao ser levantada). Uma criança de nove meses já não apresenta mais esta dificuldade. Ela fez a sua pesquisa e soube que havia alta possibilidade de um retardo definitivo no desenvolvimento e possivelmente autismo. O que ela fez de diferente em relação às outras mães? Primeiro, teve acesso a este conhecimento e por isso disse: “não vou esperar. Não posso esperar porque sei o que poderá acontecer”. Fez pesquisas. E a segunda coisa que se indagou, foi: “o que está por trás disso aí? São comportamentos, mas o que está se passando a nível metabólico, a nível fisiológico?” Ela, baseada em suas pesquisas, percebeu que possivelmente ele tivesse uma disfunção mitocondrial e deu-se um pouco de carnitina (nt.: nutriente que faz parte do mecanismo que transporta gordura corporal para as mitocôndrias) e a coenzima Q10 (nt.: também conhecida como ubiquinona, tem atividades de aumentar a oxigenação muscular, é antioxidante dentre outras) além de outros suportes mitocondriais e ele voltou a desenvolver a fala novamente, a linguagem e o contato visual. Mas ainda permanecia com uma certa flacidez e faltavam superar alguns retardos motores. Fez mais algumas pesquisas e trouxe para eu atendê-lo. Estou agora atuando com ele, há dois anos. Ele de fato possivelmente tenha estas infecções crônicas que nós temos tratado. Tem agora três anos e fala algumas sentenças. Ele está se desenvolvendo não só para estes objetivos, mas indo além em muitas áreas e não há preocupação quanto ao retardo de seu desenvolvimento. Toda vez que o vejo – ele vem a cade três meses – é muito ambivalente, porque de um lado, estou muito feliz por esta criança e sua família. E paralelamente, penso em quantas outras crianças e no que não se está fazendo por elas.
JM: Realmente uma bela história. Grato por compartilhar conosco. É incrível o que se pode fazer seguindo estas estratégias. Penso que ela pode dar um enorme ânimo e grande encorajamento, além de suporte, aos pais para buscarem este tipo de caminho. Para mim, quando se vê uma criança com autismo, não se precisa realmente de testes sofisticados de diagnósticos. É bem simples. Você pode diagnosticá-lo como se estivéssemos do outro lado de um portão de um aeroporto lotado. Lá há uma criança autista. É tão óbvio como sói ser. O ponto central aqui é encorajar os pais a confiarem em suas sábias intuições e e não se apoiarem nos sistema convencional e procurarem alguém como você para aplicar estas outras possibilidades. Também sua história ilustra que esta mãe pode ter tido realmente uma ótima dieta, talvez uma dieta perfeita, mas isso tudo é muito mais. Uma dieta sozinha não iria curar esta síndrome; somente poderia auxiliar. Acredito ser esta, talvez, uma das mais importante estratégias, mas sozinha não funcionará.
SC: Para a vasta maioria. De novo, ouvimos histórias de crianças onde ajustamos a dieta e eles se curam. Tenho histórias maravilhosas e desejo que todas sejam assim. Esta mãe foi engenhosa. Se você quiser, penso que poderia ter questionado, antes de seguir, algum recurso para os pais que estão…
JM: Antes de seguirmos, você mencionou que esta mãe estava usando uma terapia ABA. A menos que se esteja em uma comunidade de autismo, provavelmente um leigo não saberá o que é isso. Será melhor antes que esclareça sobre isso.
SC: Claro. Ela aplicou uma análise comportamental que é uma terapia baseada no comportamento. Esta é uma terapia comum para crianças com autismo. Ela então sabia o que estava procurando. Entendeu realmente como esta síndrome era devastadora que ele não poderia esperar por um diagnóstico que confirmasse isso para então tomar uma atitude.
JM: Foi interessante ela ter ido nesta direção mesmo não tendo uma criança autista. Ela se habilitou para resgatar seu próprio filho, o que foi magnífico. Mas não se precisa ser um terapeuta ABA para se fazer isso. Basta ser um pai inteligente e com consciência para reconhecer que isso é um fato. Lembrar que já estamos tratado de uma em cada três crianças nascidas neste país – ou caminhando para isso -. Ou sem dúvida, se ainda não está bafejado por completo pelo autismo, é alguém que já está dentro deste espectro ou mesmo com um retardo no seu desenvolvimento. Sinto que têm uma série de questões no ar que devemos fazer. Onde as pessoas podem se apropriar mais deste tema? Depois de responder esta questão, poderemos detectar como se poderá descobrir um clínico, habilitado como você, que tem estado realmente nas frentes de batalha, indo a todas estas conferências, em diversas ocasiões por ano, para qualificarem suas competências, acessando ao que está mais atualizado e descobrindo quais métodos e o que fazer para que possam então fornecer o melhor do que a medicina integrativa tem a oferecer?
SC: Esta á uma boa questão. Em termos de recursos, existem livros que eu gosto. Se alguém quer se iniciar neste tema, pode ter o livro da Dra. Martha Herbert que escreveu The Autism Revolution. É uma neurologista infantil que está em Harvard. É um grande livro porque está baseada na ciência profunda, mas também é um receituário prático, dando e oferecendo esperanças. Em termos de outros recursos, o Autism Research Institute é um grupo que costuma realizar conferências. Mas o que eles oferecem agora são webinars (nt.: neologismo para seminários pela web) que são gratuitos para orientação dos pais. Eles têm webinars, para intervenções com dietas para autismo e intervenções com base comportamental. Também têm sobre ansiedade e os contaminantes ambientais que levam ao autismo. É um espaço maravilhoso para se informar.
JM: Sob certo aspecto, isto é mais interessante do que ir a conferências porque são mais sucintas, não se precisa pagar passagens aéreas, além de alguém cuidar das crianças e ainda pagar o hotel. Claro que sempre tem muito valor o contato com outras pessoas, mas certamente isso se torna uma abordagem interessante e muito menos custosa.
SC: Em termos de conectar com as pessoas localmente, este é um ponto importantíssimo, As comunidades são fundamentais, especialmente se você tem uma criança com retardo no desenvolvimento. Há um grupo chamado TACA, que significa Talking About a Cure for Autism (nt.: falando sobre a cura do autismo). Este é um grupo que se originou em Los Angeles através de uma mãe com autismo. Ele se espalhou por todo o país. Se você tiver a sorte de ter um destes grupos em sua cidade, fortaleço que os procure porque o que eles oferecem é um monitoramento pessoal para mães que tenham vindo fazer este tipo de abordagem por um período. Acho que nada substitui isso aí. Estes já são três grandes recursos. Mas existem outros ainda.
JM: Antes de irmos para outro ponto, e para aqueles que não disponham deste tipo de grupo, vale a pena viajar? Ou há algum tipo de apoio destes grupos para estas situações?
SC: Eles fazem uma série de apoio de forma online. Eles dispõem de uma quantidade enorme de informações. Por exemplo, como se pode dispor de um orçamente de uma dieta livre de glúten? É custoso viajar? Não sei dizer, mas você poderia ter disponível o suporte online. Infelizmente não tenho certeza, novamente. Quando estava na região de Chicago, havia um grupo muito ativo por lá. Muitas das mães estavam conectadas. Outra coisa são os encontros locais. Em San Francisco, ironicamente nós não dispomos de um grupo como este. Mas eu tenho junto uma mãe que veio falar comigo porque ela fez contato com eles e uma outra mãe que tenho trabalhado que tinha recuperado sua criança com outro médico que a orientou e trouxe-a para mim. Esta criança agora também está recuperada do autismo. Nós começamos quando ainda era bem pequenina. Nós começamos com ele antes dos dois anos.
JM: Esta é a maior joia que jamais uma pessoa como você, na sua função de médica, obterá: ver uma criança como esta se recuperar.
SC: Existem poucas outras coisas que seriam comparáveis a isso em termos de significado e satisfação.
JM: Sim, sem dúvida. Havia interrompido você sobre outra pesquisa que está fazendo e que iria nos mostrar.
SC: Tem outro projeto chamado de Documenting Hope (nt.: Documentando a Esperança). Este é um grupo de mulheres que estão fazendo um documentário para mostrar que a recuperação é possível para numerosas enfermidades da infância. Também estão num processo de criação de esforços de base. Será ótimo contactá-las para a construção de grupos locais.
JM: Não poderei lhe agradecer o suficiente por seguir sua paixão, por ser este um grande recurso para realmente elevar a um alto nível suas grandes habilidades profissionais de médica. Existem muitas outras pessoas que também poderão – só por tomar contato com tudo isso, mesmo com o que você sabe neste momento, transformando assim muitas destas crianças, ou pelo menos para as levar para uma direção mais acertada. No entanto, para que elas possam seguir até um estágio final, precisam, sem dúvida, de alguém como você. Realmente quero, profundamente, ampliar minha grande admiração por você e outras pessoas com esta mesma determinação por estarem na frente de batalha, fazendo isso no seu cotidiano. Não é fácil praticar sua profissão onde estão crianças autistas. Elas vão esbravejar com você na sala de espera. Isto não por sua vontade própria é claro. No entanto, você precisará ter um ambiente infantil anti-autista para elas conviverem. Deverá ter itens que sejam de vidro, por exemplo, que poderão ser arremessados, quebrando-os. Além de emitirem sons diferentes, grunhidos e outros aspectos. É um compromisso. Você tem que suportar alguns desafios estando nesta situação. Eu realmente lhe agradeço por tudo isso. É claro que o grande valor disso tudo é que podemos ver a melhora destas crianças. Este é grande tesouro. Que envolve tudo. Realmente é isso.
SC: Sim, sem dúvida. Penso que não há nada mais significativo e gratificante do que viver a mudança de rumo na vida destas crianças. Tudo na medicina é significativo, mas esta é a minha sina.
JM: Grato novamente por sua paixão e por sua sina. Isto é inspirador. Que permaneça neste seu lindo trabalho. Estou certo que nos reconectaremos novamente em algum momento no futuro.
SC: Gratidão, Dr. Mercola.
Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, outubro de 2016.