Astronomia dos nativos do Brasil, conhecer as constelações brasileiras, e ver como viam (e ainda vêem) o céu noturno.
http://www.galeriadometeorito.com/2015/02/conheca-as-constelacoes-indigenas.html#.Vn825rYrLcv
Especial constelações indígenas (parte 1)
E com a observação do céu noturno, surgem as constelações, que são agrupamentos de estrelas que podem formar desenhos e figuras para cada sociedade. As constelações indígenas, assim como a de outras culturas, auxiliavam no controle das estações do ano, época de colheita, variações sazonais, etc…
Livro “Histoire de la mission de Pères Capucins en l’isle de Maragnan et terres circonvoisins. Créditos: Claude d’Abbeville Clique na imagem para ampliar |
Em 1612, o missionário capuchino francês Claude d’Abbeville passou quatro meses com os Tupinambásdo Maranhão. Durante esse tempo, ele escreveu o livro intitulado “Histoire de la mission de Pères Capucins en l’isle de Maragnan et terres circonvoisins“, que foi publicado em Paris no ano de 1614. Em seu livro, consta que o povo Tupi identificava cerca de 30 constelações, mas infelizmente o livro apresenta detalhes de apenas sete delas. Por isso, nós do Galeria do Meteorito decidimos nos aprofundar no assunto, e descobrimos que existem muitas outras constelações indígenas.
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Créditos: Solar and Heliospheric Observatory / NOAA / NASA
Um fato muito interessante é que as constelações dos índios Tupinambás são muito semelhantes aquelas dos índios Guaranis (do sul do Brasil), que eram separados por quase 3 mil km em linha reta, por línguas (Tupi e Guarani) e pelo tempo (cerca de 400 anos). Mas o fato ainda mais intrigante é que algumas constelações dos índios brasileiros eram as mesmas de outros índios da América do Sul, e até mesmo dos aborígenes australianos.
Os índios brasileiros davam maior importância para a região da Via Láctea, onde localizavam-se suas principais constelações, que eram constituídas de estrelas e até nebulosas, principalmente as escuras. O céu dos índios era tão escuro e livre de poluição que eles até criavam constelações utilizando apenas as nebulosas escuras, que são bem visíveis apenas em céus muito escuros.
Assim como ocorre com a Astronomia ocidental, a Astronomia indígena também é muito extensa (e até mais complexa), afinal, estamos falando de várias etnias e culturas diferentes, e por isso, não teria como resumir tudo em um único artigo, por isso, nós do Galeria do Meteorito decidimos fazer uma série, e aqui você encontrá o link para todos os novos episódios. Posteriormente, teremos um guia com todas as matérias publicadas, tudo em um só lugar!
- Sistema Solar 3D
Navegue pelo modelo online do Sistema Solar em 3D, e sinta-se um viajante espacial.
Com este planetário 3D online podemos visualizar os planetas do nosso Sistema Solar, suas luas, planetas anões, além dos principais cometas. Podemos ainda observar a posição das principais estrelas de acordo com o nosso ponto de vista.Seja você um astrônomo profissional, amador ou até mesmo um entusiasta, este é um fantástico simulador online do Sistema Solar. Para acessá-lo, basta clicar em qualquer parte do simulador e ele será ativado.Instruções
À esquerda, temos 4 botões muito úteis para extrair o máximo do simulador. O primeiro botão, nos mostra o Sistema Solar visto de um ponto de vista externo, já o segundo botão, do telescópio, teremos o nosso ponto de vista, e assim, podemos ver o que está visível no céu naquele momento. Na parte inferior da tela, podemos selecionar a data e o local de observação.
Ainda à esquerda, no botão ferramentas, podemos alterar entre os modos realista e orrery, além de poder escolher se os tamanhos dos planetas serão reais ou fictícios. Podemos ainda ativar e desativar a visualização dos planetas, planetas anões, cometas, constelações e de outras estrelas da Galáxia. No ícone abaixo (lupa), podemos selecionar o objeto que será centralizado na tela.
Este simulador foi criado pela INOVE Space Models, e é oferecido pela Solar System Scope. Não deixe de visualizar a versão completa, em tela cheia. Clique aqui http://www.solarsystemscope.com/Créditos: INOVE / Solar System Scope
Para fazer essa série, uma grande pesquisa está sendo feita, e aqui poderemos encontrar diversasconstelações indígenas, mas claro, apenas algumas, afinal, eles tinham mais de 100 constelações que eram passadas de geração à geração, e apesar de não haver muitos registros sobre isso, as constelações indígenas ainda são usadas por muitos povos até hoje.
Constelações de cada estação
Hemisfério Sul
Cada estação do ano pode ser reconhecida através de constelações “chaves”, que são grandes e de fácil localização, formadas por estrelas brilhantes, e que geralmente podem ser vistas até mesmo em regiões com alto nível de poluição luminosa, como São Paulo por exemplo. Vale ressaltar que estamos nos baseando no hemisfério sul. No final desta página, veja também o reconhecimento no hemisfério norte¹.
Abaixo, veja qual é a constelação simbolo de cada estação do ano, aqui, no hemisfério sul:
Estação: Outono
Constelação Símbolo: Leo (Leão)
Estrelas e objetos: Regulus (α) , Denebola (β) , Algeiba (γ).
Constelação de Leo Clique na imagem para ampliar Créditos: Stellarium |
Estação: Inverno
Constelação Símbolo: Scorpius (Escorpião)
Estrelas e objetos: Antares (α) , Shaula (β) , Lesat (γ).
Constelação de Scorpius Clique na imagem para ampliar Créditos: Stellarium |
Estação: Primavera
Constelação Símbolo: Pegasus (Pégaso)
Estrelas e objetos: Markab (α) , Enif (ε).
Constelação de Pegasus Clique na imagem para ampliar Créditos: Stellarium |
Estação: Verão
Constelação Símbolo: Orion (Órion)
Estrelas e objetos: Betelgeuse (α) , Rigel (β) , Bellatrix (γ) , Saiph (κ) , Mintaka (δ) , Alnilan (ε) , Alnitak (ζ) . Nebulosa de Orion (M 42).
Constelação de Orion Clique na imagem para ampliar Créditos: Stellarium |
No hemisfério sul, é muito utilizado o termo “triângulo de verão”, para o triangulo imaginário formado pelas estrelas Betelgeuse de Orion, Sírius de Canis Major e Procyon de Canis Minor.
1-Vale lembrar que, no hemisfério norte, essa formula é alterada, pois quando no hemisfério sul é verão, no hemisfério norte é inverno, portanto:
No hemisfério norte: no Outono a constelação é Pegasus, no Inverno é Orion, na primavera é Leo e no Verão a constelação símbolo é Scorpius.
Créditos: Imagens obtidas através do programa Stellarium
Quando indagados sobre quantas constelações existem no céu, os pajés dizem que tudo que existe na Terra também existe no céu, assim, cada animal tem seu correspondente no céu e pode ser visto como uma constelação.
Essa é uma tentativa de não apenas informar, mas também de resgatar parte da nossa cultura ancestral, que é pouco divulgada, e apesar de ser muito rica em detalhes, ficou praticamente esquecida.
Especial constelações indígenas (parte 2)
Tapi’i rapé – Via Láctea
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Tapi’i rapé significa Caminho da Anta, e era assim que os índios brasileiros conheciam os braços da Via Láctea. Seu nome (Caminho da Anta) pode até soar estranho, mas a Via Láctea, que é a maneira que conhecemos, também tem sua estranheza, afinal significa Caminho do Leite. De qualquer forma, tanto a cultura grega quanto a indígena sul-americana viam os braços da nossa Galáxia como caminhos (de alguma coisa). Para os povos indígenas, a Via Láctea também representa a morada dos deuses.
Landutim (tupi) – Guirá Nhandu (guarani) – Constelação da Ema
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Segundo relatos do livro de d’Abbeville, “o povo tupinambá conhece uma constelação chamada deLandutim (Guirá Nhandu em guarani), e segundo os maranhenses, ela procura devorar duas outras estrelas, chamadas de ‘Uirá-Upiá‘ que ficam juntas, próximas da constelação”.
Quando Nadutim (Guirpá Nhandu) surge a leste, na segunda quinzena de junho, ela indica o início do inverno para os índios do sul do Brasil, e o início da estação seca para os índios do norte e nordeste.
A constelação da Ema possui outra constelação indígena. Confira:
Mboi / Mboi Tatá (tupi) – Constelação da Cobra
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A constelação que conhecemos como Scorpius é vista como uma cobra pelos índios, e é chamada de Mboi (cobra em guarani) ou Mboi Tatá (Cobra de fogo), popularmente conhecida como Boi Tatá (que por sua vez não tem nada a ver com boi), e sua cabeça começa com a estrela Antares.
Mboi Tatá é uma cobra de fogo de olhos brilhantes, que devora os olhos dos outros animais para que os seus se tornem cada vez mais reluzentes. Assim como Ema, Mboi também simbolizava o início do inverno e da estação seca.
Devemos admitir que é muito mais fácil reconhecer uma cobra nessa região do céu do que um escorpião. Concorda?!
Especial constelações indígenas (parte 3)
Nesse terceiro episódio vamos conhecer a famosa Constelação do Homem Velho, a Constelação do Vespeiro, a Queixada da Anta e Joykexo. Confira!
Tuivaé (tupi) – Tuya’i (guarani) – Constelação do Homem Velho
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Essa constelação representa um homem segurando um bastão, ou cajado, por isso é visto como um “homem velho“. Quando o “Homem Velho” surgia na segunda quinzena de dezembro, indicava o início do verão para os índios do sul, e o início da estação chuvosa para os índios do norte e nordeste. A constelação do Homem Velho é formada pelas constelações ocidentais Tauros e Orion.
Segundo o mito popular, essa constelação representa um homem cuja esposa estava interessada no seu irmão, e para ficar com o cunhado, ela matou o marido cortando-lhe a perna. Os deuses ficaram com pena do marido, e o transformou em uma constelação.
A constelação do “Homem Velho” possui outras 3 constelações indígenas, que vamos conhecer agora:
Eixu (guarani) – Constelação do Vespeiro – Plêiades
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Eixu significa “ninho de abelhas” ou “vespeiro” em guarani, e marca o início do ano, quando surge pela primeira vez no lado leste, antes do nascer do Sol (nascer helíaco das Plêiades). na primeira quinzena de junho. Segundo d”Abbeville, os índios conheciam muito bem a constelação de Eixu, e quando ela chegava, eles comemoravam a chegada da chuva, que vinha logo depois. Era com essa constelação que eles contavam os anos.
Tapi’i Rainhykã (tupi) – Queixada da Anta
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A constelação de Tapi’i Rainhykã, que significa Queixada da Anta também simbolizava o início das chuvas para os tupinambás, no norte do país. Ela ocupa o espaço no firmamento que conhecemos como Hyades.
Joykexo – Constelação de Joykexo
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Joykexo representa uma linda mulher, símbolo da fertilidade na cultura indígena. Essa constelação servia como orientação geográfica, pois ela nasce exatamente no leste, e se põe exatamente à oeste. Joykexo, além de ser o símbolo da fertilidade, também representa o caminho dos mortos. Joykexo é representada pelas estrelas que formam o Cinturão de Orion
Gostou? Confira nossa lista de episódios, afinal seria impossível resumir toda a astronomia indígena em apenas uma matéria… Boa leitura!
Fonte: Germano Bruno Afonso / Observatórios Virtuais / Vitae / Melissa Oliveira (antropóloga) / Aikewara.blogspot / ISSUU / Planetário UFSC (etnoastronomia) / pib.socioambiental.org
Especial constelações indígenas (parte 4)
Nesse quarto episódio vamos conhecer a Constelação da Anta, Constelação do Veado e a Constelação da Canoa. Confira!
Tapi’i (guarani) – Constelação da Anta (Anta do Norte)
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A constelação de Tapi’i, que significa Anta em guarani. era conhecida principalmente pelas etnias de índios brasileiros que habitavam a região norte e nordeste do Brasil, uma vez que essa região do céu fica muito próxima do horizonte se vista do sul do país. Ela se encontra completamente na região da Via Láctea, ou melhor, na região de Tapi’i rapé (Caminho da Anta, como é conhecida pelos índios), e seu contorno realmente se parece muito com uma anta. Existem outras constelações que representam a Anta na Via Láctea, por isso essa é conhecida como “Anta do Norte“.
A constelação da Anta é formada pelas constelações ocidentais de Cepheus, Cisne, Lacerta e Cassiopeia. Quando a Constelação da Anta é vista por completo ao leste, na segunda quinzena de setembro, ela indica a transição entre o frio e o calor para os índios do Sul, e entre a seca e a chuva para os índios do norte do Brasil.
Guaxu (guarani) – Constelação do Veado
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A constelação do Veado (Guaxu em guarani) era conhecida principalmente pelos índios do sul do Brasil, tendo em vista que para os índios do norte e nordeste ela fica muito próxima do horizonte.
A constelação do Veado ocupa a região do céu onde encontramos as constelações Vela, Carina, Musca e Cruzeiro do Sul. Quando o veado surge na segunda quinzena de março, indica a transição entre o calor e o frio para para os índios do sul do Brasil, e entre a chuva e a seca para os índios do norte e nordeste.
Yar Ragapaw (tenetehara) – Constelação da Canoa
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A constelação da Canoa (Yar Ragapaw em tenetehara, idioma dos índios da etnia Tembé) indica exatamente a posição do ponto cardeal norte. A constelação da Canoa se encontra da região das constelações ocidentais Ursa Maior e Leão Menor, e era conhecida principalmente pelos índios do norte e nordeste do Brasil, uma vez que ela se encontra muito baixa no céu quando vista a partir do sul do país. Portanto, quando ela surgia para os índios do norte e nordeste em meados de março, indicava tempo de chuvas.
Fonte: Cuabamorandu / Germano Bruno Afonso / Observatórios Virtuais / Vitae / Melissa Oliveira (antropóloga) / Aikewara.blogspot / ISSUU / Planetário UFSC (etnoastronomia) / pib.socioambiental.org
Especial constelações indígenas (parte 5)
Nesse quinto episódio vamos conhecer as constelações da Cobra e da Cobra Grande, e a curiosa Constelação da Onça. Confira!
Mboi (tupi) – Constelação da Cobra
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A constelação da Cobra (Mboi) localiza-se na região do céu que conhecemos como Scorpius, ou constelação do Escorpião, porém os índios vêem Mboi sem considerar as garras do escorpião, sendo que a estrela Antares simboliza a cabeça da cobra. De fato é muito mais fácil ver uma cobra do que um escorpião nessa região do céu.
Mboi Guassu (tupi) – Constelação da Cobra Grande
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Segundo a mitologia indígena, a Cobra Grande (Mboi Guassu) acordou faminta e saiu em busca de alimentos, comendo os olhos dos animais e das pessoas que encontrava, e posteriormente se tornou a Mboi Tatá, que já é outra constelação. A constelação de Mboi Guassu é vista em Taipi’i rapé (Via Láctea).
Yai (tukano) – Constelação da Onça
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A constelação da Onça (Yai no idioma tukano) está dividida em cinco pequenas constelações, que seriam Yai siõkhã (estrela que ilumina a onça), Yai useka poari (bigode), Yai duhpoa(cabeça), Yai ohpu (corpo) e Yai pihkorõ (rabo).
Yai fica na região do céu onde encontramos as constelações de Cassiopéia, Andrômeda e Perseus. Infelizmente ainda não encontramos uma ilustração que mostrasse tal constelação, por isso, a imagem da constelação é apenas uma especulação de sua forma. Por outro lado, a região do céu está correta.
Fonte: Cuabamorandu / Germano Bruno Afonso / Observatórios Virtuais / Vitae / Melissa Oliveira (antropóloga) / Aikewara.blogspot / ISSUU / Planetário UFSC (etnoastronomia) / pib.socioambiental.org
Especial constelações indígenas (parte 6)
Nesse sexto episódio vamos conhecer as duas constelações Wirar Kamy (Caminho da Cruz e Caminho dos Mortos), e a Constelação da Ema.
Wirar Kamy (tenetehara) – Caminho da Cruz ou Grande Relógio
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A primeira constelação Wirar Kamy é o Caminho da Cruz, que representa um granderelógio/calendário para os índios do Brasil, pois ela começa a ser visível no mês de março, deitada no horizonte com a parte de cima apontando para o leste, indicando o ápice da estação das chuvas e o fim da semeadura. Os rios ficam altos fazendo a pesca mais difícil, os frutos silvestres se tornam raros, e as doenças tropicais como malária se proliferam, e por isso, essa é considerada a época mais difícil para os índios.
Passados três meses, o cruzeiro se encontra bem alto no céu de junho, indicando o início do período da seca, fartura de colheitas, fartura de banhos de rios, pescas, agradecimentos aos deuses e iniciação das moças da aldeia. Já em setembro, quando a constelação de Wirar Kamy se aproxima do horizonte oeste no início da noite, indica o ápice da estação seca e o início do plantio para o próximo ano.
Wirar Kamy (tenetehara) – A Cruz dos Mortos
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A segunda constelação Wirar Kamy dos índios tenetehara é conhecida também como A Cruz dos Mortos. Ela se localiza na região do céu que conhecemos como Constelação de Orion, O Caçador. As estrelas conhecidas popularmente como Três Marias e a Nebulosa de Órion (M42) compõem essa constelação indígena. Ela nasce exatamente no ponto cardeal leste e se põe exatamente à oeste, percorrendo a linha equatorial, caminho dos mortos pela cultura indígena.
Wiranu (tenehara) – Constelação da Ema
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Quando a Constelação da Ema (Wiranu), que é a maior ave da Amazônia, aparece no céu noturno, ela indica o início da estação da seca, o que representa a época de colheitas principalmente para os índios do norte e nordeste do país. A cabeça da Ema é formada pela nebulosa escura Saco de Carvão, próximo do Cruzeiro do Sul. A cauda da Ema e grande parte de seu corpo é formada pelas constelações de Escorpião, Ara e Lobo.
Fonte: Cuabamorandu / Germano Bruno Afonso / Observatórios Virtuais / Vitae / Melissa Oliveira (antropóloga) / Aikewara.blogspot / ISSUU / Planetário UFSC (etnoastronomia) / pib.socioambiental.org
Especial constelações indígenas (parte 7)
Nesse sétimo episódio vamos conhecer Azim (Constelação da Siriema), Mainamy (Constelação do Beija-Flor) e Zauxihu-Ragapaw (Constelação do Jabuti).
Azim (tenetehara) – Constelação da Siriema
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Quando Azim aparece na região alta do céu noturno, ela também indica o início da estação da seca, no mês de junho e julho. Ela encontra-se abaixo de Wiranu (constelação da Ema), onde encontramos as constelações ocidentais Coroa Austral, Telescópio, Sagitário e Escorpião. Um fato interessante dessa constelação é que algumas partes que a constituem (como o bico), são na verdade manchas claras e escuras da Via Láctea.
A Siriema possui um penacho em sua cabeça, e os índios Tembé dizem que na constelação, a Siriema carrega seus dois ovinhos para que a Ema, a comedora de ovos, não os devore.
Mainamy (tenehara) – Constelação do Beija-Flor
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Conta a lenda que o chefe dos beija-flores (Mainamy) vê um lugar chamado Karu-Peahary, que era um lugar seco e sem água. E assim, a deusa Mayra com todos os beija-flores fez um poço para saciar a sede de Mainamy, que é representado pela região que encontramos a constelação ocidental de Corvo. Ela se encontra muito alto no céu entre o norte e o sul, e surge no mês de maio, ficando visível até setembro, época de festas nas aldeias Tembé-Tenetehara, que são comemoradas com banhos de rio e a Festa da Moça, que é um ritual de passagem das jovens e dos jovens índios para a vida adulta.
Zauxihu Ragapaw (tenetehara) – Constelação do Jabuti
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A constelação Zauxihu Ragapaw se encontra no lado norte do céu, ocupando a região que conhecemos como Coroa Boreal. A medida que o Jabuti vai percorrendo o céu noturno, entre maio e agosto, significa que os índios estão enfrentando o final da época das chuvas.
Fonte: Cuabamorandu / Germano Bruno Afonso / Observatórios Virtuais / Vitae / Melissa Oliveira (antropóloga) / Aikewara.blogspot / ISSUU / Planetário UFSC (etnoastronomia) / pib.socioambiental.org / Osvaldo dos Santos Barro / Universidade Federal do Pará / Aldeia Teko Haw
Especial constelações indígenas (parte 8)
Nesse oitavo episódio vamos conhecer o método utilizado pelos índios para a contagem do ano:
As Plêiades – Calendário dos índios brasileiros
Na cultura indígena, o ano se inicia quando nasce ao leste, antes do Sol, o famoso aglomerado de estrelas que conhecemos como Plêiades. Ou seja, para a maioria dos povos indígenas, o ano começa em meados de junho (aproximadamente no dia 10), com o nascer helíaco das Plêiades.
Imagem mostra o nascer helíaco das Plêiades, quando elas apontam no horizonte leste um pouco antes do Sol. Créditos: Galeria do Meteorito / STELLARIUM |
Mas claro que esse famoso aglomerado de estrelas é conhecido por outros nomes entre os índios brasileiros, e cada etnia fazia uma alusão diferente a esse objeto cósmico. E é exatamente isso que vamos conhecer agora:
Povo: Tembé-Tenetehara
Zahy Tata Pi’i Pi’i – As Estrelas Reunidas
Na astronomia ocidental, essa região do céu é conhecida como as Plêiades, e localiza-se na constelação de Touro. É considerada um berçário de estrelas. A olho nu, podemos enxergar setes dessas estrelas. Zahy Tata Pi’i Pi’i significa estrelas reunidas, e segundo a cultura Tembé-Tenetehara, elas carregam uma maldição, e aquele que conseguir contar as sete estrelas morrerá no mesmo dia. No mês de novembro, quando elas surgem ao leste (durante a noite), os índios se preparavam para a estação das chuvas, que chegava alguns dias depois. Em meados de junho, quando ela desaparecia à oeste, significava o início da estação de seca.
Povo: Bororo
Akíri-dóge – Penugem Branca
Para os índios Bororos, que habitam no estado do Mato Grosso do Sul, o agrupamento de estrelas que conhecemos como Plêiades, é chamado de Akíri-dóge, que significa Penugem Branca, já que o aglomerado quando visto de soslaio se parece mesmo com uma névoa, mancha ou penugem branca. Akíri no idioma bororo significa penugem branca de qualquer ave. Alguns relatos dizem ainda que seu significado seja Angico Branco, uma árvore que durante a floração parece vestida de penugem branca. No fim de junho, ela também avisa o início da estação seca.
Os bororos realizavam uma festa chamada de Akíri-dóge E-wúre Kowúdu (Akíri-dóge = Penugem Branca; E = delas; wúre = pé; Kowúdu = queima), que significa “Queima dos pés da Penugem Branca”. Essa festa consistia em uma fogueira onde os índios cantavam, dançavam e passavam sobre o fogo, quase queimando seus pés, na intenção de pedir que a estação seca, (representada pelas Plêiades) fosse prolongada, favorecendo a vida nômade e suas tarefas.
Povo: Tucano
Ñohkoatero – Conjunto de estrelas
Para os povos Tucano, que habitam na Amazônia, o famoso aglomerado estelar das Plêiades também é muito importante para a contagem do ano indígena, e é chamado de Ñohkoatero (Conjunto de estrelas).
Povo: Tupinambá
Seichu
Assim como acontecia com as outras etnias, o nascimento do famoso aglomerado chamado de Seichu para os tupinambás simbolizava o início do ano e da estação seca.
Povo: Guarani
Eixu – Vespeiro
Já que estamos falando apenas da visão que vários povos indígenas tinham das Plêiades, vamos falar sobre Eixu, apesar de já ter sido citada em um episódio anterior. Eixu significa “ninho de abelhas” ou “vespeiro” em guarani, e assim como nas outras etnias, ela também marca o início do ano quando surge pela primeira vez no lado leste, antes do nascer do Sol (nascer helíaco das Plêiades).
Fonte: Cuabamorandu / Germano Bruno Afonso / Observatórios Virtuais / Vitae / Melissa Oliveira (antropóloga) / Aikewara.blogspot / ISSUU / Planetário UFSC (etnoastronomia) / pib.socioambiental.org / Osvaldo dos Santos Barro / Universidade Federal do Pará / Aldeia Teko Haw
Especial constelações indígenas (parte 9)
Nesse nono episódio vamos conhecer diversas constelações de culturas indígenas, mas que infelizmente não foram encontradas imagens para serem identificadas no céu noturno. Como foi dito no primeiro episódio da série, existem mais de 100 constelações indígenas, e como são várias etnias e culturas diferentes, as constelações podem ter nomes, formas e histórias diferentes.
Índios Tukano
Os índios Tukano, localizados no noroeste da Amazônia, têm uma paixão muito profunda com o céu noturno e suas constelações, chamadas de ñohkoa mahsã (seres ou gente-estrela). Os tuaknos possuem uma lista de 9 constelações principais, que são chamadas de Ñohkoa Diarã mahsã. Confira uma ilustração das principais constelações tukano:
Arte representa as principais constelações dos povos Tukano, Tuyukas e Dessanos. Créditos: AEITY/ACIMET |
Algumas constelações possuem seus siõka (brilhos), que são estrelas mais brilhantes da constelação, que seria responsável pelo brilho dela toda. Algumas vezes, os siõka podem ser planetas. Os siõka podem ter nomes próprios e podem funcionar como constelações, por isso, recebem nomes especiais.
Confira as nove principais constelações tukano e a época de seu ocaso:
A tabela abaixo reproduz o ciclo de constelações dos índios Tukano e Dessana do rio Tiquié, e indica também a região do céu em que estão situadas e a época do ocaso de cada uma delas:
Algumas constelações que se põem na mesma época, quase juntas, são consideradas constelações parceiras, nohkoã bahparitirã.
Os eventos mitológicos que dizem sobre a origem dessas constelações narram histórias de personagens que foram mortos, cortados e lançados no céu, transformados em gente-estrela (ñohkoa mahsã), em constelações.
Índios Bororo
Os índios bororo conhecem o nome de várias estrelas (Ikúie) e constelações. Uma lenda diz que os espíritos Kogaekogáe-doge ensinaram aos índios a denominação dos astros e das constelações. Normalmente, suas constelações são constituídas por apenas quatro ou cinco estrelas, bem próximas umas das outras. Quando não há luar, suas constelações servem para determinar a hora da noite. As constelações mais utilizadas pelos bororo para marcar a hora da noite são aquelas que conhecemos como Cruzeiro do Sul e Plêiades.
Veja as constelações e manchas sidéreas bororo:
Mais algumas constelações bororo:
E também há alguns desenhos de constelações bororo
Fonte: Cuabamorandu / Germano Bruno Afonso / Observatórios Virtuais / Vitae / Melissa Oliveira (antropóloga) / Aikewara.blogspot / ISSUU / Planetário UFSC (etnoastronomia) / pib.socioambiental.org / Osvaldo dos Santos Barro / Universidade Federal do Pará / Aldeia Teko Haw / Flavia Pedroza Lima / Planetário do Rio de Janeiro / Diones Charles Costa de Araújo (DF) / Melissa Oliveira (antropóloga)
Especial constelações indígenas (parte 10)
Nesse décimo episódio vamos conhecer a maneira que os índios vêem o Sol, e saber da importância que ele representa para os índios brasileiros, como para a contagem do tempo. Confira!
Sol
Povo: Tupi-Guarani Povo: Tembé-Tenetehara Povo: Bororo
Guaraci (ou Quaraci) Kwarahy Méri
O Sol também é visto da forma masculina entre os índios. Assim como para outros povos antigos, o Sol era (e ainda é em algumas tribos) visto como um grande deus, afinal, é o Sol que dá a luz, fornece as condições necessárias para o cotidiano de todos, e principalmente, o Sol é o astro responsável pela vida na Terra. É de acordo com o caminho traçado pelo Sol que os índios enterram seus mortos, constroem a casa do Cacique e descobrem a época do ano, assim como o horário do dia.
O Sol descreve dois movimentos aparentes, que é o diário (leste-oeste) e outro na linha do horizonte, a cada dia mais ao sul ou ao norte. Ao observar esses movimentos, os índios sabem a hora do dia (movimento leste-oeste) e as estações do ano (posição mais ao norte ou ao sul durante a alvorada e o ocaso).
Como a região sul do céu é mais rica em estrelas, a frente da casa dos caciques fica voltada para o sul. Para os índios Tembé-Tenetehara, o surgimento do Sol no horizonte leste é chamado deKwarahy-Hem-Haw (Sol do início do dia), e no final do dia, quando se põe à oeste, é chamado deKwarahy-Wixw-Haw (o Sol que encerra o dia).
O Sol nasce sempre no lado leste do céu, porém não é correto afirmar que isso ocorre sempre na mesma posição. Esse fato é conhecido pelos índios que observam esse deslocamento sutil do Sol, e por isso, conhecem as estações do ano. No início da estação seca, ele surge e desaparece mais ao norte, e no início da estação das chuvas, o Sol nasce e se põe mais para os lados do Sul. Ou seja, apenas observando a posição da alvorada e do ocaso do Sol, os índios identificam o início e o fim das estações do ano. Para perceber essa mudança sutil, eles utilizam árvores ou pedras para marcar as posições dos astros de acordo com um determinado ponto de vista.
As estações do ano (Tembé-Tenetehara)
Kwarahy – seca
Aman – chuva
Kwarahy, além de ser o nome do deus Sol, é o nome da estação seca para os índios Tembé-Tenetehara. Essa estação se inicia próximo do dia 21 de junho. Já Aman (estação das chuvas), inicia-se por volta do dia 21 de dezembro.
Gnômon
Desde a antiguidade, gregos, romanos, e vários outros povos também utilizavam esse dispositivo para marcar o tempo nos dias ensolarados. Observando a sombra da haste de madeira projetada no chão, podemos saber a duração do dia, os períodos matutino e vespertino (separados pelo meio-dia), além de determinar os pontos cardeais.
Os índios Tembé-Tenetehara utilizam o gnômon, que é basicamente uma haste a 90° em relação ao solo, em local aberto, para que a luz do Sol faça com que a sobra da haste projetada no chão indique o horário do dia. A eclíptica (movimento que o Sol descreve no céu) é conhecido pelos Tembé-Tenetehara como Kwarahy-Kamy (caminho do Sol).
Horas do dia (Bororo)
Merirutu tabo
O nascer do Sol
Meri dieta pagogwa kejede tabo
O Sol está no nível da boca
Logo após o nascer do Sol
Meri paidiaka kejede tabo
O Sol está no nível dos olhos
De manhã cedo
Meri dieta pagudo kejede tabo
O Sol está no nível da testa
Do meio da manhã até antes do meiodia
Meri dieta pagaia kejede tabo
O Sol está em cima da cabeça
Meio-dia
Meri terawuji pagawora diokido tabo
O Sol está em nosso cangote (Sol atrás da cabeça)
Primeiras horas da tarde
O Sol está no rumo do nosso cangote
Meio da tarde Meri diati pagidoru kejede tabo
O Sol já está no pescoço
Meio pro Fim da tarde Meri rekodu tabo
Já correu o Sol
Fim da tardeMeributu tabo
Pôr-do-Sol
Além de estar presente em mitos e lendas, podemos perceber que o Sol era (e ainda é) muito observado pelo índios brasileiros, e tem um papel fundamental em seus métodos de contagem do tempo, servindo ainda como guia para criações, construções e trabalhos feitos na aldeia.
Fonte: Cuabamorandu / Germano Bruno Afonso / Observatórios Virtuais / Vitae / Melissa Oliveira (antropóloga) / Aikewara.blogspot / ISSUU / Planetário UFSC (etnoastronomia) / pib.socioambiental.org / Osvaldo dos Santos Barro / Universidade Federal do Pará / Aldeia Teko Haw / Flavia Pedroza Lima / Planetário do Rio de Janeiro / Diones Charles Costa de Araújo (DF) / Melissa Oliveira (antropóloga)
Especial constelações indígenas (parte 11)
Nesse décimo-primeiro episódio vamos conhecer a maneira que os índios vêem a Lua, e como ela é importante na cultura indígena brasileira.
Lua
Povo: Tupi-Guarani Povo: Tembé-Tenetehara Povo: Bororo
Jaci Zahy Ári
Para os índios Tupi-Guarani, a Lua é chamada de Jaci, deusa da noite, e teria sido criada por Tupã (deus dos trovões). Já para os índios Tembé-Tenetehara e Bororo, a Lua é vista como masculino, pelos nomes Zahy e Ári, respectivamente. Para todos os índios, a Lua é responsável pela contagem dos meses. O mês dos índios começa logo após a Lua Nova, quando o primeiro filete de Lua Crescente se apresenta após o pôr-do-Sol. De acordo com o grande astrônomo brasileiro Ronaldo R. F. Mourão, “o ciclo lunar corresponde a 29 dias e meio, denominado evolução sinódica ou lunação”.
A Lua também indica os dias ideais para pesca, plantio, caça, etc… Entre a Lua Cheia e a Lua Nova está a melhor época para pesca, caça e plantio. Já entre a Lua Nova e a Lua Cheia, os animais ficam muito agitados, pois a cada dia as noites se tornam cada vez mais claras. A Lua também indica as marés, e assim, os índios sabem a melhor hora para pescas em alto mar, por exemplo.
Quando o mês dos índios se inicia, com o primeiro filete clareado após a Lua Nova (à oeste), é comum avistarmos o planeta Vênus, conhecido por nós como Estrela Vesper, e pelos índios como Zahy Imiriko (mulher da Lua). Já quando o planeta Vênus é visto pela manhã, pouco antes do nascer do Sol à leste, para nós ela é popularmente conhecida como Estrela D’Alva, e para os índios como Zahy-Tata-Hu (estrela que anuncia o Sol).
O Mito de Zahy (Tembé-Tenetehara)
A maioria dos mitos foram criados para ajudar os homens a identificar os objetos celestes e passar o conhecimento de geração à geração, servindo como método mnemônico, a fim de repassar condutas morais e sociais para as gerações futuras. O mito da Lua contado pelos índios Tembé (da família Tupi-Guarani) explica porque a Lua existe e o porquê de suas crateras/manchas na superfície.
Em uma época em que as noites eram escuras e não tinha o brilho da Lua/Zahy, nasceu um jovem índio chamado Zahy, filho do cacique mais respeitado que seu povo tivera. Seu pai, um velho índio, apesar de já ter dormido com muitas mulheres, nunca abandonara sua primeira esposa. Para a tristeza de toda a nação, esse casal não conseguia ter filhos, e quando ninguém mais acreditava nessa possibilidade, nasceu o famoso menino Zahy, abençoado por todos os deuses.
Mas o menino Zahy logo cedo quebrou seu destino de honrar o pai, e as leis da tribo. Quando jovem, o menino desejou uma mulher proibída: sua tia. Seu pai, o cacique, já havia determinado o destino de sua irmã (tia de Zahy) para outro rapaz, mas mesmo assim Zahy não controlou seu amor. Sempre que a noite chegava, o índio Zahy entrava no quarto de sua tia para passar a noite com ela. A tia, inconformada com a situação e sem saber quem era o intruso, pediu conselhos para a índia mais velha da tribo, e então, fez uma armadilha para descobrir quem era o intruso que se aproximava todas as noites. Por isso, preparou uma tigela de jenipapo, que com urucum é usado para pinturas corporais.
Caindo na armadilha da tia, Zahy correu para o rio e foi tentar tirar o jenipapo que manchou seu rosto, a fim de não ser descoberto. Foi então que os deuses, a tia e a velha índia descobriram quem era o intruso. Zahy trouxe vergonha para seu pai, e por isso se exilou no céu, que era o lugar mais distante conhecido.
Créditos: blog aikewara |
Até hoje, para tentar tirar as manchas de seu rosto, o menino Zahy (Lua) desce no rio todos os meses na Lua Nova para lavar seu rosto. Quando se torna Cheia, ele percebe que suas manchas não desapareceram, e numa tentativa de limpar o rosto, faz chover para tentar tirar suas manchas (na Amazônia é comum chuvas rápidas durante as noites de Lua Cheia), e depois, desce novamente e se esconde, que é quando o ciclo se repete.
Os índios acreditam que Zahy favorece o crescimento das crianças, das plantas e dos animais domésticos. Existe ainda o ritual chamado de Encarcamento, que é quando os mais velhos costumam apresentar seus filhos para Zahy no primeiro dia de Lua Cheia, apertando suas articulações e cantando para que ele abençoe as crianças a as façam crescer fortes e saudáveis. As mulheres mostram suas tapiocas para Zahy pedindo que a mandioca cresça saborosa. As árvores menores são sacudidas pelo tronco para que deem frutos sadios e gostosos, e os animais jovens são levados para danças para que possam dar leite, carne e couro de qualidade para todos.
Os índios possuem uma ligação muito forte com a Lua. O mito (africano) do Saci Pererê, por exemplo, é na verdade uma versão do mito original do Jaci Jaterê (dos índios brasileiros). Para os guaranis, Jaci Jaterê significa literalmente “Fragmento da Lua”, e seria uma espécie de protetor das matas.
Fonte: Cuabamorandu / Germano Bruno Afonso / Observatórios Virtuais / Vitae / Melissa Oliveira (antropóloga) / Aikewara.blogspot / ISSUU / Planetário UFSC (etnoastronomia) / pib.socioambiental.org / Osvaldo dos Santos Barro / Universidade Federal do Pará / Aldeia Teko Haw / Flavia Pedroza Lima / Planetário do Rio de Janeiro / Diones Charles Costa de Araújo (DF) / Melissa Oliveira (antropóloga) / blog aikewára
Especial constelações indígenas (parte 12)
Nesse décimo-segundo episódio vamos conhecer a forma que os índios (Bororo) viam algunsobjetos celestes, principalmente os planetas.
Bika Jóku – Marte
Bíka, anu-branco; ji, (d)ele; óku, olho [olho de anubranco]. Designação: 1. do olho de anu-branco; 2. do planeta Marte, vermelho como olho de anubranco.
Ikóro – estrela ou planeta da madrugada
Qualquer estrela ou planeta que, segundo as estações, costuma aparecer de madrugada no horizonte.
Ikúie – estrela
Há uma lenda que narra que os corpos celestes não são nada mais do que rostos de meninos bororo que subiram ao céu por meio de um cordel. Ikuiéje (rosto dos possuidores do fio).
Ári – Lua
Ári Reaíwu – acompanhante da Lua
Qualquer estrela ou planeta que aparentemente acompanha a Lua. Ári, lua; reaíwu, aquilo que vem depois [astro que costuma acompanhar a Lua]. Conforme as estações e o horário, pode ser Vênus, Júpiter ou outro planeta.
Barógwa Tabówu – astro da madrugada
Qualquer estrela ou planeta que, segundo as estações, costuma brilhar de madrugada no horizonte. Barógwa, madrugada; tu, ela; abo, com; wu, aquele [aquele astro que aparece de madrugada].
Ikuiéje Kuriréu – Vênus
Ikuiéje, estrela; kuriréu, o grande [grande estrela].
Ikuiéje Ukigaréu – cometa
Designação genérica de qualquer cometa. Ikuiéje, estrela; u, ela; kigaréu, o cornudo [estrela cornuda].
Kuiéje – Astro
Qualquer objeto celeste, exceto o Sol e a Lua.
Méri – Sol
Okóge Jóku – Aldebarã
Okóge, peixe dourado; ji, (d)ele; óku, olho [astro bonito como olho de dourado].
Tuwagóu – Designação de certa estrela
Segundo o autor do estudo, Diones Charles Costa de Araújo, “não foi possível identificar o astro”.
Ikuiéje-doge Erugúdu – Galáxia (Via-Láctea)
Ikuiéje, estrelas; doge, suf. Pl.; e, (d)elas; rugúdu, cinza [cinza de estrelas i.e. cinza formada de estrelas].
Fonte: Cuabamorandu / Germano Bruno Afonso / Observatórios Virtuais / Vitae / Melissa Oliveira (antropóloga) / Aikewara.blogspot / ISSUU / Planetário UFSC (etnoastronomia) / pib.socioambiental.org / Osvaldo dos Santos Barro / Universidade Federal do Pará / Aldeia Teko Haw / Flavia Pedroza Lima / Planetário do Rio de Janeiro / Diones Charles Costa de Araújo (DF) / Melissa Oliveira (antropóloga) / blog aikewára
Especial constelações indígenas (parte 13)
Nesse décimo-terceiro episódio vamos conhecer a arte rupestre astronômica deixada pelos antigos nativos, e que estão espalhadas em diversas regiões do Brasil. E qual é a importância dessas pinturas e desenhos tão antigos?
Pinturas rupestres no Parque Nacional da Serra da Capivara, Brasil. Créditos: Wikimedia Commons Clique na imagem para ampliar |
A arte rupestre é formada por pinturas ou gravuras deixadas pelo homem pré-histórico sobre superfícies de rochas, grutas, canyons, etc… A arte que chamamos de “rupestre” é conhecida como Itacoatiara em tupi-guarani, e significa pedra pintada.
Através de estudos e pesquisas da arte rupestre, podemos conhecer o nosso passado, entendendo como outras culturas e povos antigos viam o céu, seu meio-ambiente, sua cultura, seu dia a dia e sua realidade. O mundo todo conhece a arte rupestre dos aborígenes australianos, dos africanos, mas infelizmente, a arte rupestre deixada pelos antigos índios da América do Sul não são amplamente divulgadas ou estudadas, principalmente a arte rupestre astronômica, já que são mais difíceis de serem interpretadas.
Alguns desenhos antigos podem ter semelhanças surpreendentes com outras pinturas feitas em continentes e regiões distantes, como é o caso de uma gravura com um círculo no centro e uma circunferência em volta e repleta de raias ao seu redor, encontrada em Boa Esperança, no Paraná. Em Carschenna, nos Alpes Suíços, por exemplo, existe um desenho muito parecido, que os arqueólogos estrangeiros estudaram e concluíram que trata-se de uma representação solar, assim como aquela encontrada no Brasil.
De acordo com a datação e com a interpretação de um dos desenhos, por exemplo, podemos perceber que os índios observaram um grande cometa muito antes da chegada dos europeus. Atualmente, este local está submerso pelas águas da Usina de Salto Caxias. Provavelmente, assim como ocorria com outras culturas antigas, esse cometa pode ter amedrontado os nativos, e muitos rituais, danças e orações devem ter sido feitas em decorrência do grande cometa, que é um objeto único, diferente de tudo que vemos normalmente durantes as noites.
A professora Maria Beltrão, coordenadora do Projeto Central, na gruta do Cosmos, no município de Central, Bahia, observou um painel com pinturas rupestres astronômicas, e uma delas parecia retratar a queda de um meteorito. A maioria das pinturas dessa gruta são semelhantes às de Boa Esperança do Iguaçu, e de outras existentes em diversas partes do mundo.
Agora nós vamos conhecer um painel com algumas gravuras (réplicas) daquelas encontradas em morros, rochas e grutas espalhadas pelo Brasil. Com certeza, essas são apenas algumas de muitas que existem, mas que infelizmente não são muito exploradas.
Arte computacional de gravura rupestre representando o Sol (Boa esperança do Iguaçu – PR) |
Arte computacional de gravura rupestre representando um eclipse solar (Boa Esperança do Iguaçu – PR) |
Arte computacional de gravura rupestre representando a Lua (Boa Esperança do Iguaçu – PR) |
Arte computacional de gravura rupestre representando uma constelação (Boa Esperança do Iguaçu – PR) |
Arte computacional de gravura rupestre representando uma conjunção de planetas (Piraí do Sul – PR) |
Arte computacional de gravura rupestre representando um cometa (Boa Esperança do Iguaçu – PR) |
Arte computacional de gravura rupestre representando um meteoro ou a queda de um meteorito (Central – BA) |
Arte computacional de gravura rupestre, possivelmente representando o ciclo dia e noite (Central – BA) |
Arte computacional de gravura rupestre com uma circunferência e pequenos círculos, ainda sem possível interpretação. (Boa Esperança do Iguaçu – PR) |
Arte computacional de gravura rupestre representando um pequeno círculo e circunferências concêntricas, ainda sem possível interpretação. (Boa Esperança do Iguaçu – PR) |
A Rosa dos Ventos dos índios
Ainda segundo o físico, astrônomo e pesquisador da arqueoastronomia, Germano Bruno Afonso, os índios guaranis têm uma rosa dos ventos. Segundo relatos dos índios, no céu existiam palmeiras azuis representando os quatro deuses (os quatro pontos cardeais: norte, sul, leste e oeste), e suas quatro esposas (os pontos colaterais: nordeste, sudeste, sudoeste e noroeste) formando uma rosa dos ventos. Durante uma de suas explorações, encontraram um rosa dos ventos, em Itapejara D’Oeste, na beira do rio Chopim. Tratava-se exatamente de um círculo de palmeiras. Um teodolito (instrumento de precisão de ângulos) confirmou que as direções estavam corretas, com ângulos perfeitos e simétricos.
Através da Arqueoastronomia e da Etnoastronomia, podemos perceber a riqueza de sociedades antigas através de uma perspectiva única. Com isso, percebemos também a pluralidade cultural e a necessidade de respeitar essas diferenças. Quando as pessoas olham para o céu, elas não enxergam apenas agrupamentos de estrelas, mas sim histórias, imagens e símbolos que estão presentes em seu cotidiano. Essa exteriorização de sua cultura, estampada no firmamento celeste, em artefatos e desenhos, não só ajuda na conclusão de tarefas do dia a dia, mas também eterniza suas crenças, seus valores e costumes.
Fonte: Cuabamorandu / Germano Bruno Afonso / Observatórios Virtuais / Vitae / Melissa Oliveira (antropóloga) / Aikewara.blogspot / ISSUU / Planetário UFSC (etnoastronomia) / pib.socioambiental.org / Osvaldo dos Santos Barro / Universidade Federal do Pará / Aldeia Teko Haw / Flavia Pedroza Lima / Planetário do Rio de Janeiro / Diones Charles Costa de Araújo (DF) / Melissa Oliveira (antropóloga) / blog aikewára / http://staff.on.br/maia/AstroPoetas/Tuparetama/arqueoastronomia/arquivos/arqueo.html