Bisfenol A CHRISTIAN BELLAVIA/DIVERGENCE
29.julho.2023
[NOTA DO WEBSITE 1: no ano de 2014, já se noticiava de que esses recibos que recebemos em todas as nossas transações da máquina de cartão de crédito, da registradora do supermercado, da loja, do extrato do banco etc. têm como um dos componentes, o disruptor endócrino BPA/Bisfenol A. E a ironia é essa, enquanto em 2008, se fez um grande estardalhaço sobre sua presença em mamadeiras, garrafas d’água pessoais de plástico e um série de outros produtos de consumo que comprávamos no mercado em que foram tiradas o BPA, ao comprarmos um produto ‘BPA free”, o recibo do comércio tinha e tem o tal do BPA. A canalhice corporativa permanece inabalada e inabalável. O crime permanece incólume porque “ninguém havia feito um estardalhaço sobre os recibos, então por que tirar?” Mas agora, NA FRANÇA, NUNCA NO BRASIL, os recibos foram ‘desmascarados’. Mas mesmo assim sua proibição vem sendo ‘empurrada com a barriga’ desde o início do ano, mas parece que agora em agosto, enfim será eliminada! Vamos ver… E uma última questão: e o resto do mundo, principalmente as populações que sabem sobre isso, o que estão fazendo?].
[NOTA DO WERBSITE 2: O paradoxo. Os argumentos para a impressão ou não de todos os recibos que são emitidos por nossas compras, consultas bancárias e pagamentos com cartões de crédito, estão lançados. Mas será que não será melhor trocar o químico que se usa para a termoimpressão ou o método de impressão que dispensaria essa substância tóxica?].
A partir de 1º de agosto, a entrega do pequeno papel resumindo os detalhes de suas compras não será mais sistemática. Uma desmaterialização que está a abalar os hábitos de consumo.
Uma medida anti-desperdício
A lei deveria entrar em vigor em 1º de janeiro, mas foi adiada para 1º de abril por causa da inflação, antes de ser adiada novamente. Desta vez, é a acertada, o fim da impressão automática dos recibos em papel entrará em vigor em 01 de agosto. A partir de agora, o cliente terá de solicitar expressamente um recibo, impresso ou desmaterializado. Esta medida emblemática da lei anti-resíduos para uma economia circular, adotada em janeiro de 2020, visa combater o desperdício dos 30 mil milhões de recibos impressos todos os anos, ou seja, mais de 10.000 rolos de papel por hipermercado, o equivalente a um ida de Paris a Montpellier – 750 quilômetros (nt.: cidade que fica na fronteira entre a França e a Espanha, no sudoeste francês).
Outro motivo apresentado, preocupações com a saúde pública, apesar de uma proibição decretada em 2015. Segundo um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Granada em 2019 em uma centena de recibos recolhidos no Brasil, Espanha e França, metade dos ingressos franceses contém Bisfenol A/BPA, um disruptor endócrino que pode causar infertilidade, malformações geniturinárias, obesidade e câncer…
Uma desmaterialização paradoxal
A legislação dá um primeiro passo para a generalização dos bilhetes desmaterializados. Os clientes poderão obter um bilhete por e-mail, SMS, código QR ou diretamente na sua aplicação bancária. A partir de 2021, várias redes de supermercados apostaram, como os grupos Système U e Carrefour. No entanto, segundo o grupo de especialistas em sobriedade energética Green IT, um único bilhete desmaterializado reduziria o consumo de água em apenas 2 centilitros face a um bilhete de papel, mas libertaria mais 2 gramas de CO2. De acordo com a Agência de Gestão Ambiental e Energética, 2,5% da pegada de carbono na França foi relacionada à tecnologia digital em 2020 – em comparação com 2% ao desperdício.
Um objeto de controle de preço
Desde a criação da caixa registradora pelo americano James Ritty em 1879, depois da National Cash Register em 1885, a impressão de um recibo – para o comerciante, depois para o cliente – tornou-se uma questão importante, corrente. “A exibição de preços e recibos permite que o consumidor se inscreva no controle de preços” , observa Franck Cochoy, sociólogo da Universidade de Toulouse. O consumidor pode assim acompanhar as suas compras e proteger-se de eventuais erros.
Em abril de 2022, várias associações de consumidores sublinharam que “o talão é um instrumento de gestão do orçamento familiar” e temiam que amanhã o consumidor não pudesse comprovar as suas compras. A lei prevê, no entanto, que sejam automaticamente impressos os bilhetes relativos à compra de bens ditos “duráveis”, onde seja mencionada a existência e duração da garantia legal de conformidade.
Uma resistência dos mais velhos
Enquanto 73% dos franceses são a favor da retirada do recibo em papel, o mesmo estudo revela que 9 em cada 10 franceses verificam regularmente os detalhes de suas compras no recibo ao sair da loja. E que 76% dos franceses dizem que pedirão a impressão de um tíquete para a compra de alimentos. Essa taxa sobe para 91% para uma compra de eletrodomésticos.
Este estudo revela uma divisão geracional: apenas 45% dos jovens de 25 a 34 anos pedirão a impressão de um ingresso – em comparação com 62% para o entrevistado médio. O que fazer, de fato, se você não tem endereço de e-mail nem smartphone? De acordo com um estudo de 2018 dos Petits Frères des Pauvres, um quarto das pessoas com mais de 60 anos e 59% das pessoas com mais de 85 anos nunca usam a Internet. A prova de que o pedacinho de papel não disse a última palavra.
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, julho de 2023.