Os países africanos costumam se voltar para a comunidade internacional quando uma crise alimentar atinge o continente. Contudo, a solução para enfrentarem o problema sozinhos pode ser uma árvore de rápido crescimento, resistente à seca, com folhas extremamente nutritivas.
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27/01/2012
por Kristin Palitza, da IPS
Cidade do Cabo, África do Sul, 27/1/2012 – Uma plantação de 15 hectares da “árvore do milagre”, a Moringa oleifera, ou apenas moringa, já começou a ter efeito positivo na aldeia de Tooseng, localizada em Limpopo, uma das províncias mais pobres da África do Sul.
Suas folhas são consideradas um “superalimento”, pois os cientistas descobriram que contêm o cálcio de quatro copos de leite, a vitamina C de sete laranjas, potássio de três bananas, três vezes mais ferro do que o espinafre, quatro vezes mais vitamina A do que uma cenoura e o dobro da proteína do leite. É como um supermercado em uma árvore.
Mavis Mathabatha, ex-professora de Tooseng, trabalha há três anos em uma plantação de moringa, cuja produção de folhas será suficiente para marcar a diferença em sua comunidade e além dela. “Quero fazer diferença em minha região, na província e em todo o país com este projeto”, explicou. Em 2009, começou a colher, secar e moer as folhas de moringa das primeiras árvores plantadas para misturar à comida oferecida às cerca de 400 crianças pobres do Centro Sedikong sa Lerato (círculo do amor, em sesotho).
O centro alimenta meninos e meninas de famílias com renda abaixo de US$ 250 por mês, e isto significa que atende quase todos os menores de Tooseng, uma comunidade afetada por desemprego, pobreza, insegurança alimentar e pouca diversidade alimentar, desnutrição e infecções com o vírus HIV, causador da aids. “Os resultados foram visíveis quase imediatamente. A saúde das crianças melhorou em pouco tempo”, informou Elizabeth Serogole, diretora do Centro, que trabalha em estreita colaboração com Mathabatha.
Muitas crianças começavam a dar mostras de desnutrição, como úlceras na pele, que começaram a cicatrizar pouco depois de comerem o pó das folhas. Complementar os alimentos com moringa também aumentou claramente a capacidade dos menores para prevenir doenças e infecções e estimulou seu desenvolvimento intelectual. “A maioria se concentra mais nas aulas”, afirmou Serogole. É necessária apenas uma colher das de chá de pó de moringa por dia.
“É uma planta fantástica, pois cada parte tem seus benefícios”, destacou Samson Tesfay, que realiza sua pós-graduação no Departamento de Ciências de Horticultura, na Universidade de KwaZulu-Natal. “Tem usos práticos, medicinais, terapêuticos e nutritivos. É extremamente efetivo no combate à desnutrição”, afirmou Tesfay. Além disso, a vagem verde da moringa está cheia de aminoácidos, e suas folhas também são usadas com fins medicinais, para tratar infecções cutâneas, pressão baixa, açúcar no sangue, reduzir o inchaço, curar úlcera gástrica e acalmar o sistema nervoso, acrescentou Tesfay.
A planta, originária do norte da Índia, é utilizada na antiga medicina hindu, a ayuverda, há séculos, e lhe atribuem a capacidade de prevenir cerca de 300 doenças. Além disso, suas sementes pode ser usadas para purificar a água de zonas rurais, onde é difícil encontrar reservas potáveis, o que costuma ser causa de doenças. “São efetivas em 98% na redução de impurezas e micróbios da água contaminada”, explicou o cientista.
A espigada árvore de galhos caídos não é invasiva, precisa de pouca água e cresce rápido, alcançando três metros de altura em um ano. O ritmo de crescimento é constante em Tooseng, nordeste da África do Sul, uma zona árida que nos últimos anos registra poucas chuvas. “A árvore pode sobreviver em condições relativamente desfavoráveis e não requer métodos de cultivo sofisticados nem caros, bem como insumos”, destacou Tesfay.
A moringa pode se converter em uma forma eficaz de prevenção da fome em todas as partes, segundo especialistas, pois pode crescer em regiões subtropicais, onde prevalece a seca e a desnutrição, isto é, a maior parte de África, América do Sul e Central, Oriente Médio e sudeste de Ásia Pacífico.
Mathabatha ampliou seu cultivo de moringa aos poucos, a partir de 2009. Após conhecer os múltiplos benefícios da árvore, pediu um empréstimo na agência regional Southern Africa Trust (SAT), com o qual começou seu projeto.
Atualmente, é a feliz proprietária de 13 mil árvores. Contudo, isso não foi tudo. A ex-professora desejava compartilhar sua descoberta dos benefícios nutritivos da moringa com outras pessoas, e distribuiu mais de seis mil mudas para famílias pobres de várias comunidades dos arredores de Tooseng, além de fazer uma campanha de educação sobre seus efeitos positivos.
“Plantar e distribuir moringa representa um enfoque holístico da luta conta a insegurança alimentar”, disse Ashley Green-Thompson, que dirige o projeto de empréstimos, ao explicar por que o SAT aprovou o financiamento. “O grau de insegurança alimentar das famílias é um dos principais indicadores de pobreza, e é muito alto nesta região”, disse.
Mathabatha produz e embala cerca de dez mil toneladas de pó de folha de moringa por ano, que são distribuídas não só na África do Sul, como também em Botsuana, Suazilândia e Lesoto. “Espero ampliar o mercado nos próximos anos. Há um grande interesse em meu produto”, afirmou. Entretanto, foi o desejo de ajudar os demais, mais do que fazer dinheiro, o que motivou Mathabatha a expandir seu negócio. Vendendo a 60 centavos os 40 gramas de pó de folha usados por uma pessoa durante um mês, a empresária de 52 anos fez prevalecer a disponibilidade diante da ganância.
(IPS)