Arqueólogos descobrem cidades de civilização pré-hispânica na Amazônia

Arqueologia Amazônica

Capturas de tela de uma animação 3D do sítio arqueológico Cotoca na Amazônia (Foto: Heiko Prümers / DAI)

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REDAÇÃO GALILEU

26 MAI 2022

Perto da aldeia de Casarabe, na Bolíviaarqueólogos investigaram dois montes usando lasers e descobriram cidades de uma civilização pré-hispânica perdida na Amazônia. Os assentamentos foram alvo de um estudo publicado nesta quarta-feira (25) na revista Nature.

As escavações começaram há mais de dois anos nas Planícies de Moxos, na região sudoeste amazônica. A área inundava vários meses por ano no período chuvoso, o que não incentivava o povoamento permanente. Porém, ainda há muitos vestígios da presença humana no local no início do século 16, como calçadas e canais que se estendem por quilômetros.

Pesquisadores do Instituto Arqueológico Alemão, da Universidade de Bonn, na Alemanha, e da Universidade de Exeter, no Reino Unido, usaram pela primeira vez na Amazônia a tecnologia de laser aerotransportado LIDAR (Light Detection and Ranging). A equipe averiguou o terreno com um scanner acoplado em um helicóptero, transmitindo cerca de 1,5 milhão de pulsos de laser por segundo.

Para aprimorar a análise, a vegetação foi removida com um modelo digital em uma imagem 3D. Ao todo, foram mapeados 200 km² de uma área que acredita-se ter pertencido à cultura Casarabe, sendo detectados dois locais de 147 hectares e 315 hectares. “Nosso objetivo era realizar pesquisas básicas e rastrear os assentamentos e a vida lá”, diz Heiko Prümers, líder da pesquisa, em comunicado.

Imagem do sítio arqueológico Cotoca captada com tecnologia de radar LIDAR (Foto: Heiko Prümers / DAI)

Estudos anteriores indicaram que a cultura Casarabe, que recebe o nome de uma vila vizinha, existiu entre 500 e 1400 d.C., ocupando uma região de cerca de 16 mil km². O novo levantamento revelou uma área central em terraços, uma parede de vala envolvendo o local e canais.

Ficou evidente que alguns dos assentamentos pré-hispânicos eram enormes em tamanho, mas os pesquisadores não sabem com certeza quantas pessoas moravam lá. Acredita-se que tenham sido muitas, devido ao layout do local, que sugere que várias mãos trabalhavam por lá.

Duas imagens exatamente da mesma área do sítio Salvatierra (Foto: Heiko Prümers / DAI)

O pesquisador conta ainda que uma série de modificações nos assentamentos, como a expansão do sistema de valas de muralhas, indicam um aumento razoável da população. Havia caminhos e canais semelhantes a calçadas conectando áreas, sendo que um assentamento estava dentro de 5 km de distância do outro. “Toda a região foi densamente povoada, um padrão que derruba todas as ideias anteriores”, avalia Carla James Betancourt, pesquisadora que participou do estudo.

O mapa revelou inclusive o que os especialistas dizem ser o sítio Cotoca, o maior assentamento da cultura Casarabe que se conhece até agora. Nele havia praças, plataformas com estruturas em forma de U e pirâmides cônicas de até 22 metros de altura. Em outras partes do mundo foram encontradas outras cidades agrárias parecidas, só que com baixas densidades populacionais.

Na pesquisa, os especialistas afirmam que seu trabalho está apenas começando e querem entender no futuro como funcionavam esses grandes centros regionais. “O tempo está se esgotando porque a expansão da agricultura mecânica está destruindo uma estrutura pré-colombiana todos os meses na região das Planícies de Moxos, incluindo montes, canais e calçadas”, alerta Betancourt, que destaca a importância do LIDAR na preservação do patrimônio cultural.