Pesquisadores analisam a água de cidades nas cinco regiões do país e encontram um poderoso indicador dos chamados poluentes emergentes. A água que chega às casas de moradores de 15 capitais brasileiras está contaminada com um poderoso indicador da presença de dejetos industriais, agrotóxicos e remédios: a cafeína.
http://veja.abril.com.br/noticia/saude/ameaca-invisivel?fb_action_ids=10151829671124669&fb_action_types=og.recommends&fb_source=other_multiline&action_object_map={%2210151829671124669%22%3A10150999908942356}&action_type_map={%2210151829671124669%22%3A%22og.recommends%22}&action_ref_map=[]
Represa Billings: a água fornecida na cidade de São Paulo teve a maior porcentagem de cafeína, indício de contaminação por esgoto. (PROAM/Divulgação)
A água que chega às casas de moradores de 15 capitais brasileiras está contaminada com um poderoso indicador da presença de dejetos industriais, agrotóxicos e remédios: a cafeína. É o que revela uma pesquisa do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA), sediado no Instituto de Química da Unicamp, feita com amostras recolhidas diretamente da rede de distribuição — a mesma água que sai de nossas torneiras e é considerada potável pela legislação atual.
A cafeína é uma das substâncias mais consumidas no mundo e presença constante no esgoto humano. Não faz – necessariamente – mal à saúde, mas, por semelhanças químicas, sua presença na água sinaliza a existência de outros contaminantes, em particular os chamados poluentes emergentes, resíduos cada vez mais presentes nas águas do mundo e que só agora começam a despertar a atenção dos órgãos de saneamento. Entre essas substâncias, está a fenolftaleína, que tem seu uso como laxante proibido pela Anvisa, e o triclosan, um antisséptico usado em medicamentos, cremes dentais e desodorantes. Sua proliferação em rios e reservatórios é resultado do crescimento das cidades e de novos processos industriais.
“Nós estamos bebendo água que tem resíduos de indústrias farmacêuticas, polímeros e petróleo”, resume Valdinete Lins da Silva, coordenadora do Laboratório de Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e participante do estudo. Além da Unicamp e da UFPE, também colaboraram pesquisadores das universidades federais do Paraná (UFPR) e Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF).
Nem tão inofensiva assim — Os pesquisadores analisaram 49 amostras de água em 16 capitais (confira o resultado no infográfico abaixo). Todas as amostras foram colhidas seguindo o mesmo procedimento: coletadas no cano de entrada das casas e enviadas à Unicamp, onde foram analisadas.
A cafeína apareceu em todas as amostras analisadas nas regiões Sul e Norte. No Sudeste, 94% das amostras tinham a substância. O Centro-Oeste apresentou 67% de contaminação, e o Nordeste, 42%. A capital que apresentou maior concentração foi São Paulo. A única cidade em que não se detectou a presença de cafeína na água foi Fortaleza.
“Nos níveis detectados, a cafeína não faz mal ao ser humano. No entanto, ela indica a presença de outros compostos emergentes que, consumidos ao longo de 40, 60 anos, podem ter efeito crônico no organismo”, diz Marco Grassi, professor de química ambiental da UFPR, e integrante da equipe.
Danos à saúde — As pesquisas mais avançadas sobre os efeitos dos poluentes emergentes não foram feitas com humanos, mas outros animais. “Entre os peixes, por exemplo, temos visto maior incidência de mutações, com animais de duas cabeças e hermafroditas”, diz Valdinete Lins da Silva.
Um exemplo desses compostos que já foi estudado é a atrasina, um herbicida bastante usado nas lavouras brasileiras. Ela já é controlada pelo Ministério da Saúde, mas foi encontrada na água analisada pelos pesquisadores do INCTAA. Em, 2010 a revista Proceedings of the National Academy of Sciences publicou um estudo mostrando que a exposição à substância podia levar sapos machos a trocar de sexo. Estudos anteriores já haviam demonstrado que a substância podia aumentar a quantidade de indivíduos hermafroditas entre pássaros, peixes e ratos.
Com humanos, as pesquisas ainda estão engatinhando. Os cientistas ainda não podem bater o martelo sobre qual a quantidade segura de cada uma dessas substâncias na água. “Não se conhecem seus efeitos na saúde humana e nem sua dinâmica no ambiente. Para piorar, eles estão todos juntos na água e não sabemos qual pode ser o resultado disso”, afirma Marco Grassi.
Já é conhecido, no entanto, o fato de inúmeros desses fármacos e polímeros industriais interferirem em nosso sistema endócrino. Entre os compostos que mais preocupam os cientistas estão os hormônios, cuja presença na água pode afetar diretamente o desenvolvimento de nosso corpo. Pesquisas anteriores já haviam encontrado hormônios como estrona, progesterona e estradiol na água brasileira. Alguns cientistas sugerem que o consumo dessas substâncias está ligado à infertilidade masculina e ao fato de as meninas menstruarem cada vez mais cedo.
Nova legislação — Os métodos para retirar a maioria desses poluidores emergentes da água já existem. Os mais conhecidos são chamados de processos oxidativos avançados, que usam substâncias químicas como a água oxigenada e o ozônio para fragmentar esses compostos em pequenas moléculas inorgânicas. No entanto, para que as estações de tratamento sejam obrigadas a usar esses métodos, é necessário que esses poluentes emergentes passem a ser regulados no país.
No Brasil, os critérios de potabilidade da água são estipulados pela portaria 2.914 do Ministério da Saúde, publicada no ano passado. A regulação, que é atualizada a cada 5 anos, estabelece diversas normas que as empresas distribuidoras de água têm de seguir, como padrões de acidez e radioatividade. Além disso, define quantidades limites de algumas substâncias, desde bactérias, como os coliformes fecais, até químicos inorgânicos como o cobre, o chumbo e o mercúrio.
Na última atualização da lei, cientistas chamaram atenção para a necessidade de controlar alguns dos poluentes emergentes. “Os pesquisadores sempre insistem para que a portaria traga novos parâmetros, enquanto as distribuidoras de água puxam para o outro lado”, diz a engenheira Cassilda Teixeira, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES). A portaria acabou ficando no meio do caminho: o Ministério considerou que são necessários mais estudos antes que se possam apontar quantidades limites dessas substâncias.
No início — Na Europa e nos EUA, a discussão está mais avançada. No começo do ano, a Federação Europeia das Associações Nacionais de Serviços de Água e Esgoto passou a regular a quantidade de alguns produtos farmacêuticos na água, como o hormônio etinilestradiol e o antiinflamatório diclofenaco, e defendeu novos estudos para estabelecer os limites de outras substâncias. Nos Estados Unidos, a Agência de Proteção Ambiental também deu início a pesquisas para estipular limites legais para esses poluentes. “No Brasil, a discussão ainda está no início”, diz Marco Grassi, pesquisador da UFPR.
De fato, o Ministério da Saúde está começando a atentar para a questão dos poluentes emergentes. Segundo Daniela Buosi, coordenadora-geral de Vigilância e Saúde Ambiental, no ano passado a pasta lançou editais para que pesquisadores estudem melhor substâncias que ficaram de fora da portaria anterior, entre elas alguns poluentes emergentes. “Conforme o resultado, a portaria pode ser mudada a qualquer momento”, diz.
Os pesquisadores do INCTAA também anunciaram que começarão uma segunda fase do estudo, em que vão analisar a água distribuída em mais capitais. Com o avanço das pesquisas, pode ser que a água potável de hoje seja considerada água suja amanhã.
CONHEÇA A PESQUISA
Título: Cafeína na água para consumo humano distribuída no Brasil: Perspectivas de uma nova abordagem para o monitoramento de contaminantes emergentes no ambiente
Onde foi divulgada: VI Encontro Nacional de Química Ambiental
Quem fez: Wilson F. Jardim, Maria C. Canela
Instituição: Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA)
Dados de amostragem: Foram analisadas 49 amostras de água de 16 capitais brasileiras.
Resultado: Em 92% das amostras foi detectado cafeína. A única capital em que a substância não foi encontrada foi Fortaleza. Além da cafeína, os pesquisadores também encontraram indícios de triclosan, fenolftaleína e atrasina.
Contaminantes emergentes encontrados na água
Triclosan (Nota do site: ver links sobre esta substância – http://nossofuturoroubado.com.br/?s=triclosan e http://www.google.com.br/cse?cx=partner-pub-6774779117956276%3A5p1kr4-jguw&ie=ISO-8859-1&q=triclosan&sa=Pesquisar&siteurl=nossofuturoroubado.com.br%2F&ref=&ss=1499j297201j9#gsc.tab=0&gsc.q=triclosan&gsc.page=1)
Antisséptico presente em produtos de higiene
Possíveis riscos: Suspeita-se que o triclosan atrapalhe o funcionamento do sistema endócrino, ao alterar o metabolismo dos hormônios da tireoide. Também pode estar ligada ao surgimento de alergias.
Fenolftaleína
Indicador de acidez, usado também como laxante
Possíveis riscos: No Brasil seu uso como medicamento foi proibido pela Anvisa, pois suspeita-se que seja cancerígeno.
Atrasina (Nota do site: ver links sobre esta substância – http://www.google.com.br/cse?cx=partner-pub-6774779117956276%3A5p1kr4-jguw&ie=ISO-8859-1&q=atrazina&sa=Pesquisar&siteurl=nossofuturoroubado.com.br%2F&ref=&ss=471j119501j3#gsc.tab=0&gsc.q=atrazina&gsc.page=1 e http://nossofuturoroubado.com.br/?s=atrazina
Herbicida usado em lavouras brasileiras.
Possíveis riscos: Um estudo de 2010 mostrou sua ligação com a mudança de sexo em rãs. Além disso, é conhecida por alterar o sistema endócrino e pesquisas mostraram sua ligação com o baixo nível de esperma em homens.
Saiba mais
SISTEMA ENDÓCRINO
Sistema que reúne glândulas que secretam diversos hormônios no sangue. Regula diversos processos do corpo, o metabolismo, o crescimento e até o humor.
PROCESSOS OXIDATIVOS AVANÇADOS
Um tratamento químico capaz de retirar impurezas orgânicas, como alguns derivados do petróleo, pesticidas e fármacos, da água. Ele se baseia na oxidação desses compostos usando água oxigenada ou ozônio. Como resultado da reação química, os poluentes ficam reduzidos a pequenas moléculas inorgânicas. Hoje em dia o processo ainda é considerado bastante caro, mas os cientistas esperam que ele fique mais barato com a adoção da tecnologia.
Gostaria de ver se esta minha mensagem será publicada: porque o Dr. Jardim não expõe o resultado da pesquuisa dele feita com a Dra. Umbuzeiro, e outros pesquisadores, com dinheiro da FAPESP mas só publicada em inglês numa revista estrangeira e cujo artigo tem que ser pago por quem queira ler? Por que ele não fala que não detectaram atividade estrogenica em águas finais? Por que não informa que uma das conclusões desse estudo é que não é possível correlacionar a presença dessas substâncias com efeitos, uma vez que elas têm que estar bioativas, vai depender de espécie para espécie, susceptibilidade, e vários fatores que fazem inclusive que não apenas a Portaria brasileira para água tratada e potável, mas do mundo todo, não tenham ainda definido padrões porque é leviano afirmar que isso é possível? Por que ele não fala que desde que os esgotos são lançados em corpos d’água, inclusive dejetos animais, existe na água de rios, efluentes e talvez outros, traços de hormônios? Ou seja, desde antes do século passado? Ah sim, e por que não se fala que se a água é um solvente universal, essas substâncias estarão sempre nela, mas porque estão vindo de várias fontes, através do solo e do ar, e que mais do que impedir que isso chegue até as pessoas através do esgoto ou da água potável (que o estudo que ele fez, artigo em inglês, comprovou que não tem nada de efeito) o problema permaneceria grave se for considerar que a dispersão é maior pelo ar, alimentos, poeira, etc? E que, ao contrário do que ele prega, não existe isso de retirar tudo através de um processo mesmo que múltiplo. O que se faz com o rejeito? E os subprodutos? Isso tudo é um absurdo, um representante da universidade falar apenas o que aparentemente interessa!
Maria Lúcia, não teríamos nenhuma razão de colocar ou não sua mensagem em nosso site. Parece-nos que ela está dirigida para quem não é o gerador da informação, não sendo então local mais apropriado como será se for enviada para a própria origem da informação, o site da veja.abril.com.br, para dai serem colocadas estas ponderações.
Grato pela mensagem, felicidades, Luiz.