AGROTÓXICO

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Veneno Agrícola

https://www.inca.gov.br/exposicao-no-trabalho-e-no-ambiente/agrotoxicos

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER – MINISTÉRIO DA SAÚDE

 28/04/2022

Agrotóxicos são produtos químicos sintéticos usados para matar insetos, larvas, fungos, carrapatos sob a justificativa de controlar as doenças provocadas por esses vetores e de regular o crescimento da vegetação, tanto no ambiente rural quanto urbano (, 2002; INCA, 2021).

Estes produtos tem seu uso tanto em atividades agrícolas como não agrícolas. As agrícolas são relacionadas ao setor de produção, seja na limpeza do terreno e preparação do solo, na etapa de acompanhamento da lavoura, no deposito e no beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens e nas plantadas. O uso não agrícola é feito em florestas nativas ou outros ecossistemas, como lagos e açudes, por exemplo.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) afirma que os agrotóxicos causam 70 mil intoxicações agudas e crônicas por ano e que evoluem para óbito, em países em desenvolvimento. Outros mais de sete milhões de casos de doenças agudas e crônicas não fatais também são registrados. O Brasil vem sendo o país com maior consumo destes produtos desde 2008 , decorrente do desenvolvimento do no setor econômico, havendo sérios problemas quanto ao uso de agrotóxicos no país: permissão de agrotóxicos já banidos em outros países e venda ilegal de agrotóxico que já foram proibidos (CARNEIRO et al., 2015).

A exposição aos agrotóxicos pode causar uma série de doenças, dependendo do produto que foi utilizado, do tempo de exposição e quantidade de produto absorvido pelo organismo.

É importante considerar:

  • Toda a população está suscetível a exposições múltiplas a agrotóxicos, por meio de consumo de alimentos e água contaminados (CDC, 2009).
  • Gestantes, crianças e adolescentes também são considerados um grupo de risco devido às alterações metabólicas, imunológicas ou hormonais presentes nesse ciclo de vida (SARPA, 2010).

Formas de exposição

No trabalho:

  • Através da inalação, contato dérmico ou oral durante a manipulação, aplicação e preparo do aditivo químico (CDC, 2009).
  • Destacam-se os trabalhadores da e , de empresas desinsetizadoras, de transporte e comércio de agrotóxicos e de indústrias de formulação destes produtos (LONDRES, 2012).

No ambiente:

  • Através da pulverizações aéreas que ocasionam a dispersão dessas substâncias pelo meio ambiente contaminando as áreas e atingindo a população.
  • Consumo de alimentos e água contaminados.
  • Outra forma é o contato com roupas dos trabalhadores com o agrotóxico.

Principais efeitos à saúde

Efeitos Agudos

São aqueles de aparecimento rápido. Podem surgir os seguintes sintomas (KLAASSEN, 2013):

  • Através da pele – Irritação na pele, ardência, desidratação, alergias
  • Através da respiração -Ardência do nariz e boca, tosse, coriza, dor no peito, dificuldade de respirar
  • Através da boca – Irritação da boca e garganta, dor de estômago, náuseas, vômitos, diarreia

Outros sintomas inespecíficos também podem ocorrer, tais como: dor de cabeça, transpiração anormal, fraqueza, câimbras, tremores, irritabilidade.

Efeitos crônicos

São aqueles aparecem após exposições repetidas a pequenas quantidades de agrotóxicos por um período prolongado). Podem-se relatar os seguintes sintomas (, 2018):

  • Dificuldade para dormir, esquecimento, aborto, impotência, depressão, problemas respiratórios graves, alteração do funcionamento do fígado e dos rins, anormalidade da produção de hormônios da tireoide, dos ovários e da próstata, incapacidade de gerar filhos, malformação e problemas no desenvolvimento intelectual e físico das crianças. Estudos apontam grupos de agrotóxicos como prováveis e possíveis carcinogênicos (ANVISA, 2018).
  • A associação entre exposição a agrotóxicos e desenvolvimento de ainda gera polêmicas, principalmente porque os indivíduos estão expostos a diversas substâncias, sem contar outros fatores genéticos. Porém, é importante salientar que estudos vêm mostrando o potencial de desenvolvimento de câncer relacionado a diversos agrotóxicos, justificando a recomendação de precaução para com o uso e contato.
Ao surgimento de quaisquer sintomas após manipulação de agrotóxicos, recomenda-se a procura por ajuda médica

Classificação:

A classificação dos agrotóxicos utilizada para fins de registro e reavaliação pela ANVISA é baseada no grau de toxicidade destas substâncias

 CATEGORIA 1CATEGORIA 2CATEGORIA 3CATEGORIA 4CATEGORIA 5NÃO CLASSIFICADO
 EXTREMAMENTE TÓXICOALTAMENTE TÓXICOMODERADAMENTE TÓXICOPOUCO TÓXICOIMPROVÁVEL CAUSAR DANO AGUDONÃO CLASSIFICADO
PICTOGRAMA
 
  PALAVRA DE ADVERTÊNCIA
PERIGOPERIGOPERIGOCUIDADOSem símbolo
CUIDADO
Sem símbolo
Sem advertência
CLASSE DE PERIGO
ORALFatal se ingeridoFatal se ingeridoTóxico se ingeridoNocivo se ingeridoPode ser perigoso se ingerido
DÉRMICAFatal em contato com a peleFatal em contato com a peleTóxico em contato com a peleNocivo em contato com a pelePode ser perigoso em contato com a pele
INALATÓRIAFatal se inaladoFatal se inaladoTóxico se inaladoNocivo se inaladoPode ser perigoso se inalado
COR DA FAIXAVERMELHOVERMELHOAMARELOAZULAZULVERDE

Fonte: Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, 2019

Considerando o tipo de ação, os agrotóxicos podem ser classificados como inseticidas, fungicidas, herbicidas, raticidas, acaricidas, desfolhantes, entre outros.


Lista de ingredientes ativos de grande consumo no Brasil com autorização da Anvisa:

NOME
CAS Nº
GRUPOCLASSIFICAÇÃO TOXICOLÓGICA (ANVISA)CLASSIFICAÇÃO DA CARCINOGENICIDADE
RELAÇÃO COM CÂNCER
IARCUSEPA
 IARC 
2,4-D
94-75-7
Classe I
Extremamente tóxico
Grupo 2B: Possivelmente carcinogênico para HumanosPele, Cavidade nasal, sinonasal, nasofaringe, orofaringe, laringe
ACEFATO
30560-19-1
InseticidaClasse III
Medianamente Tóxico
NDPossível carcinogênico para humanosLeucemias, Linfomas não Hodgkin, pâncreas
ATRAZINA
1912-24-9
HerbicidaClasse III
Medianamente tóxico
Grupo 3: Não é classificável para carcinogenicidade em humanosLinfomas não Hodgkin
CLORPIRIFÓS
2921-88-2
InseticidaClasse II
Altamente Tóxico
NDAusência de carcinogenicidade para seres humanos.Leucemias, Linfomas não Hodgkin, pâncreas
DIAZINONA
333-41-5
InseticidaClasse II
Altamente Tóxico
Grupo 2A: Provavelmente carcinogênico para HumanosLeucemias, Linfomas não Hodgkin, câncer de pulmão
DIURON
330-54-1
HerbicidaClasse III
Medianamente Tóxico
NDProvavelmente carcinogênico para HumanosNeoplasia (sem localização definida)
GLIFOSATO
1071-83-6
HerbicidaClasse IV
Pouco tóxico
Grupo 2A: Provavelmente carcinogênico para HumanosLinfomas não Hodgkin
MALATIONA
121-75-5
InseticidaClasse III
Medianamente Tóxico
Grupo 2A: Provavelmente carcinogênico para HumanosLinfomas não Hodgkin, câncer de próstata.
MANCOZEBE
8018-01-7
FungicidaClasse IIIGrupo 3: Não é classificável para carcinogenicidade em humanosLinfomas não Hodgkin
METOMIL
16752-77-5
InseticidaClasse I
Extremamente Tóxico
NDAusência de carcinogenicidade para seres humanos

Fontes: Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2019; International Agency for Research on Cancer, c2018; United States Environmental Protection Agency, 2019. 

[NOTA DO WEBSITE: sugerimos que este quadro seja acompanhado no material original do IARC já que houve uma desconfiguração ao se transportá-la para cá]

A Anvisa disponibiliza monografias (abre em outra janela) nas quais constam resultados de avaliações e reavaliações toxicológicas dos ingredientes ativos destinados ao uso agrícola, domissanitário, não agrícola, ambientes aquáticos e preservante de madeira no endereço


Lista de ingredientes ativos de agrotóxicos com autorização banida pela Anvisa:

NOMEPRINCIPAL USO
CAS Nº
SITUAÇÃOJUSTIFICATIVA
ALDRIMInseticida
309-00-2
BANIDOAlta persistência ambiental e/ou periculosidade
BHC (HCH)Fungicida
Inseticida
118-74-1
BANIDOAlta persistência ambiental e/ou periculosidade
CARBOFURANOInseticida
1563-66-2
BANIDOAlta toxicidade aguda; alta persistência ambiental e/ou periculosidade, teratogenicidade e neutotoxicidade
DDTInseticida
50-29-3
BANIDOAlta persistência ambiental e/ou periculosidade, carcinogenicidade, distúrbios hormonais
ENDOSULFANFungicida
Inseticida
115-29-7
BANIDOAlta persistência ambiental e/ou periculosidade; distúrbios hormonais; câncer
LINDANOInseticida
58-89-9
BANIDOAlta persistência ambiental e/ou periculosidade; neurotoxicidade
METAMIDOFOSInseticida
10265-92-6
BANIDOAlta toxicidade aguda e neurotoxicidade
PARATIONInseticida
56-38-2
BANIDONeurotoxicidade, câncer, Causa danos ao sistema reprodutor
PARATIONA METILICAInseticida
298-00-0
BANIDOMutagênico; Causa danos ao sistema reprodutor; distúrbios hormonais
PENTACLOROFENOLFungicida
Inseticida
Moluscicida
87-86-5
BANIDOHepatotoxicidade, nefrotoxicidade, distúrbios hormonais

Você pode consultar a lista da Anvisa de monografias onde consta a relação de ingredientes ativos de agrotóxicos que não possuem autorização (abre em outra janela) de uso no Brasil.


Existem alternativas?

A agroecologia deve ser compreendida como Ciência e prática interdisciplinar que considera não só o conhecimento científico advindo das Ciências Agrárias, da Saúde, Humanas e Sociais, mas principalmente as técnicas e saberes populares (dos povos tradicionais) que incorporam princípios ecológicos e tradições culturais às práticas agrícolas gerando uma agricultura sustentável e promovendo a saúde e a vida digna. Tem como princípios fundamentais a solidariedade, , preservação da , equidade, social e ambiental, soberania e segurança alimentar e nutricional.

Para mais informações, visite a nossa página sobre alimentação de origem vegetal (abre em outra aba).


Referências Bibliográficas

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (Brasil). Monografias autorizadas. Brasília, DF: ANVISA, 2018.

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (Brasil). Regulamenta­ção. Anvisa aprova novo marco regulatório para agrotóxicos. Brasília, DF: ANVISA, 2019.

BRASIL. Decreto nº 4.074, de 4 de janeiro de 2002. Regulamenta a Lei no 7.802, de 11 de julho de 1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, […] e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, ano 139, n. 5, p. 1-12, 8 jan. 2002.

CARNEIRO, F. F. et al. Segurança Alimentar e nutricional e saúde. Parte 1. In CARNEIRO, Fernando Ferreira et al. (org.) Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Rio de Janeiro: EPSJV; São Paulo: Expressão Popular, 2015. Disponível em: Acesso: 15 ago. 2017.

CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Fourth national report on human exposure to environmental chemicals. Atlanta, GA: Centers for Disease Control and Prevention, 2009.

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. Exposição no trabalho e no ambiente. Agrotóxico. Rio de Janeiro: INCA, 2019.

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. Ambiente, trabalho e câncer: aspectos epidemiológicos, toxicológicos e regulatórios / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. – Rio de Janeiro: INCA, 2021.

INTERNATIONAL AGENCY FOR RESEARCH ON CANCER. List of classifications, volumes 1-123. Lyon, France: IARC, c2018.

KLAASSEN, C. D. (ed.). Casarett and Doull's toxicology: the basic science of poisons. 8th ed. New york: McGraw-Hill Education, 2013.

LONDRES, F. Agrotóxicos no Brasil: um guia para ação em defesa da vida. 2. ed. Rio de Janeiro: Rede Brasileira de Justiça Ambiental; Articulação Nacional de Agroecologia, 2012.

SARPA, M. et al. Postnatal development and fertility of offspring from mice exposed to Triphenyltin (Fentin) Hydroxide during pregnancy and lactation. Journal of Toxicology and Environmental Health: part A, v. 73, n. 13/14, p. 965-971, Jun. 2010.

UNITED STATES. Environmental Protection Agengy. Integrated Risk In­formation System: IRIS. Washington, DC: Environmental Protection Agen­gy, c2019.

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