Agronegócio: uma burrice insustentável. Artigo de Egydio Schwade.

“O é insustentável porque começa depredando a e as fontes da ciência, depende da máquina que compacta o solo e não respeita os meandros da natureza, envenena e contamina os produtos da terra, que não visam o bem viver do povo, mas o dinheiro de uns poucos”, escreve Egydio Schwade, um dos fundadores do Cimi e primeiro secretário executivo da entidade, em 1972. Hoje é colaborador dessa instituição, residindo em Presidente Figueiredo, AM.

 

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/519336-agronegocio-uma-burrice-insustentavel-artigo-de-egydio-schwade

 

Eis o artigo.

Há muito estou intrigado com os altos investimentos do Governo ao agronegócio através do Ministério da . Pois em primeiro lugar nem agricultura é. Quem se dedica ao agronegócio não se dedica necessariamente a fazer ciência na terra, ou seja, agricultura. Apenas obedece a um programa pré-fabricado nos laboratórios urbanos.

O agronegócio ao se instalar destrói a biodiversidade, fonte da ciência, para produzir em seu lugar o que interessa apenas a quem quer fazer negócio para alimentar de dinheiro os seus mandantes, o mercado como fim em si mesmo e o Estado, ficções criadas pelo homem que não comem nem riem, não sofrem e nem choram. Pouco lhes importa trabalhar com o equilíbrio dinâmico da natureza para o futuro da humanidade.

Quando vim fixar residência com a família aqui nas margens da BR-174 comprei um pedacinho de terra que fizera parte de um agronegócio. Aproximadamente 16% de um hectare, mais precisamente, de um campo de gado desapropriado pela Prefeitura para a instalação da cidade de Presidente Figueiredo, ainda inexistente, quando saiu o decreto que criou o município.

16% de um hectare é algo invisível ou irrisório para um agronegociante. Para começar, num sistema de criação de gado na , os 16% de hectare sustentavam talvez o rabo, ou uma perna de uma vaca, alguns canarinhos e formigas que não faltavam quando começamos a arrancar o capim. Para criar um só bovino nestas bandas necessita-se nada menos que um hectare e meio, ou seja, dez vezes mais.

Mas para um agricultor este pedacinho de chão é algo importante. Hoje cultivamos neste terreno, 32 espécies de frutas, 8 espécies de tubérculos e raízes comestíveis, 5 espécies de abelhas sem-ferrão, além de hortaliças.

Além disso, a família instalou ainda naquele pedacinho de terra a sua residência, a Casa da Cultura do Urubuí e uma lojinha para a venda dos frutos excedentes produzidos no quintal e em sítio mais afastado.

O agronegócio é insustentável porque começa depredando a biodiversidade e as fontes da ciência, depende da máquina que compacta o solo e não respeita os meandros da natureza, envenena e contamina os produtos da terra, que não visam o bem viver do povo, mas o dinheiro de uns poucos. Dentro do agronegócio tudo está programado contra a vida e não há mais nada para inventar ou criar a favor dela a não ser o seu fim.

Questione os governos e a mídia que continuam dando incentivo a essa burrice iniqua!

Algumas espécies cultivadas nesse quintal

Frutas: Abacate (Persea americana), Abiu (Pouteria oblanceolata), Açaí (Euterpe oleratia), Acerola (Malpighia emarginata), Amora (Morus alba L.), Araçá-boi (Eugenia stipitata Mc Vaugh.), Araçá-do-brejo (Posoqueria calantha), Bacuri (Platonia insignis Mart.), Banana (Musa spp.), Biribá (Rolinia), Cacau (Theobroma cacau), Café (Coffeaarabica), Cajá-manga (spondeas dulcis),  Carambola (averrhoa carambola), Coco (Cocus nucifera), Cubiu (Solanum),  Cupuaçu (Theobroma), Figueira (fícus pohliana), Fruta-pão (artocarpus incisa), Goiaba (Psidium guaiava), Graviola (Annonamuricata), Jambo (Eugenia),  Limão (citrus limonum), Limão-Caiana, Mamão (Caricapapaya), Maracujá (Passiflora edulis), Marmeladinha, None, Pitangueira (eugenia uniflora), Pitombeira (talisia esculenta), Pupunha (Bactrisgasipaes), Puruí, Tamarindo (tamarindos indica).

Tubérculos: macaxeira (manihot utilissima), cará branco e roxo (deste temos diversas variedades), cará-inhame (colocasia antiquorum)  (7  variedades), gengibre ou mangarataia (zingiber zingiber) (2 variedades), ariá, araruta, (maranta arundinacea), araruta Manoki, batata doce, taioba, (xanthosoma violaceum), batata doce (Ipomea) e açafrão,(crocus sativus L).

Há ainda uma variedade grande de plantas medicinais, hortaliças, flores como o amor agarradinho: Z(antiginum leptopus), importante fonte de alimento das abelhas. E temos ainda uma pequena criação de galinha caipira e garnizé.

Abelhas: Melípona fulva, moça-branca, raiz, jati e mosquitinho.

Pássaros que frequentam o quintal: Assanhaçu, pipira, xexeu ou corruíra, aracuã, um passarinho pequeno amarelinho, beija flor (pelo menos 3 espécies), pica-pau-do-topete-vermelho, sabiá, papagaio, tucano, arara-amarela, maracanã, rolinha, coruja, entre outros.