Adubando a morte dos mares

A chamada modernização da que iria acabar com a fome no mundo, está acabando com a vida no mundo!

 

https://www.boell.de/en/2017/05/30/fertilizer-dead-zones?dimension1=ds_meeresatlas

 

Cada verão, 20.000 quilômetros quadrados de ‘zonas mortas’ são formadas no Golfo do México. A causa desta água sem vida, morta, não está no próprio mar, mas sim em terra seca, lá no rio acima, a 2.000 quilômetros de distância.

 

Zona Morta Golfo Do México

                
 Lá, muito longe, a sudoeste dos Grandes Lagos, está o afamado ‘Corn Belt‘ (nt.: o Cinturão do Milho, região das imensas monoculturas dos EUA), onde a maior parte da soja e do milho norte americanos são plantados. Quantidades inacreditáveis de fertilizantes solúveis e de bosta de porco são utilizados para adubar esta agricultura comercial. Nesta região está também o coração da produção suína do país (nt.: qualquer semelhança com a região de Chapecó e todo o oeste de Santa Catarina é mera coincidência), com as imensas fazendas industriais de criação de porcos. Toda esta agricultura industrializada produz quantidade absurdas de subprodutos, incluindo nitratos e fosfatos (nt.: pelo uso abusivo e violento de ureia sintética e fosfato solúvel na soja e milho, além do que vem da bosta dos porcos, torna-se impossível tanto plantas como ecossistemas digerirem esta orgia). Contaminam os lençóis freáticos e as águas subterrâneas, que fluindo então, atingem a quarta maior bacia hidrográfica do planeta, o sistema Mississípi-Missouri, que deságua no Golfo do México ao sul de New Orleans. E exatamente aí que super fertilizam o oceano, causando a formação de imensas áreas com ausência de oxigênio sufocando a vida marinha.

Existem muitas zonas desprovidas de oxigênio nos oceanos do mundo. Algumas das maiores ocorrem naturalmente. Estão nas regiões tropicais, como aquelas que estão nas costas marítimas do Peru, Namíbia e na Península Arábica. Somente poucos organismos são adaptados como bactérias, que vivem ali. As  zonas mortas perto dos deltas dos rios, no entanto, são normalmente produtos de ação humana – e estão crescendo. Estas áreas deveriam abrigar peixes, mexilhões, moluscos como também campos com grama marinha e florestas de algas do mar. Mas estes organismos precisam de oxigênio para viver – oxigênio que está agora nestas zonas, em níveis de suprimento criticamente baixos.

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Muito antes de ter sido possível identificar a causa, os pescadores já chamavam tais áreas de zonas mortas. Embora eles não tivessem condições de saber sobre a falta de oxigênio, era facilmente perceptível de que algo estava errado quando eles puxavam as redes vazias em águas que deviam estar abundantes de vida como na região de Nebraska. Os animais que puderam evadir destas áreas mortas, como peixes e mariscos, assim o fizeram. E aqueles que não puderam, 69.000 espécimens como moluscos e ostras, morreram – há 150 anos.

Uma das causas foi o crescimento das cidades. À medida que elas cresciam, cada vez mais águas servidas fluíam para os rios e às bacias hídricas. Hoje em dia, existem estações de tratamento para tratar estes esgotos, mas desde meados do século passado, um fator ainda maior surge: passamos a utilizar tanto fertilizante solúvel nesta agricultura comercial que os plantios não conseguem mais absorver e metabolizar todo este volume de adubos sintetizados, fazendo assim com que ele flua para os oceanos. Uma vez ali, este material completa sua ação muito eficazmente ao estimular o crescimento de plânctons e algas. Quando estes organismos morrem, afundam para o leito do oceano onde bactérias os consomem – e neste processo, usam o pouco de oxigênio restante ainda existente. Para muitas espécies não há nenhuma chance de escapar. Morrem.

Os efeitos da super fertilização das águas dos mares – chamada de eutrofização – podem ser observados em muitos locais em torno do mundo, como o Pearl River Delta no sul do Mar da China ou na Índia, onde o rio Ganges deságua na Baía de Bengala. Uma das maiores zonas mortas está localizada no Mar Báltico. Ali aconteceu uma impressionante redução na concentração de oxigênio desde os anos 50 e 60. Como nos deltas dos rios do mundo, ali as mudanças são consequência da agricultura industrializada. O efeito está sendo exacerbado pelo do fato de que o Mar Báltico é um mar interno sem declividades com pouca movimentação de suas águas para ocorrerem as trocas com o mar aberto.

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De 1900 até os anos 80 os níveis de nitrato aumentaram quatro vezes enquanto os de fosfato foram de oito vezes. O aumento quanto aos fertilizantes detectado no Báltico, foi especialmente elevado nos anos 60 e 80. Os valores permaneceram firmemente neste alto nível nos anos seguintes. Em 2009 a Helsinki Commission/HELCOM conduziu o primeiro estudo abrangente do Báltico, examinando 189 áreas. O chocante resultado: somente 11 estavam em boas condições ecológicas.

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Tudo era o mesmo: mas algo está sendo feito. O Plano de Ação do Mar Báltico que foi ratificado por todos os países que têm limites com o mar, estabelece objetivos concretos para redução do fluxo de fertilizantes. As emissões de fósforo foram reduzidas em 15.250 toneladas por ano enquanto as de nitrogênio foram de 135.000 toneladas por ano. O objetivo é de tornar o Báltico livre da eutrofização.

O plano não é uma declaração de intenções não vinculativa. Um exemplo se deu com a Alemanha. Teve que comparecer perante a Corte Europeia em setembro de 2016 ao ter violado os termos do acordo. A país excedeu o limite quanto a nitrato na água do subsolo em torno de um terço. Este resultado foi a presença de muito esterco de porco nas águas subterrâneas. O governo alemão enfrenta agora multas de seis dígitos – por dia – enquanto as emissões continuarem excedendo o limite.

Eutrofização é um problema que não pode ser resolvido sem tais acordos a nível internacional – os regulamentos nacionais só são eficazes se os países lindeiros respeitarem as mesmas regras. As águas costeiras são parte da responsabilidade compartilhada de estados vizinhos. Repleto de peixes, mexilhões e camarões, os mares são mais produtivos lá. Ao mesmo tempo, é também aí que eles enfrentam o maior estresse. A amarga ironia é que a produção agrícola de alimentos está colocando em risco um recurso que precisamos urgentemente para o suprimento mundial de alimentos (nt.: e com isso não gerarmos desnecessariamente a fome no mundo!) .

» You can download the entire Ocean Atlas here.

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, maio de 2018.

1 comentário

  1. Quando a comida era só adubada com bosta, a expectativa de vida era menor e havia mais doenças!

    Realmente, os avanços tecnológicos são os grandes responsáveis pela longevidade de peçonhentos que os militares não conseguiram exterminar!