10 de novembro de 2022
A exposição a produtos químicos tóxicos PFAS (nt.: chamados como ‘forever chemicals’ -químicos para sempre) durante a gravidez pode afetar a saúde reprodutiva de crianças do sexo masculino depois que atingem a maturidade, relataram pesquisadores no mês passado.
Em um estudo que incluiu mais de 800 homens jovens dinamarqueses, os pesquisadores encontraram associações entre a menor qualidade do espermatozoides quando os homens atingiram a idade adulta e os níveis de PFAS (nt.: também genericamente chamados de compostos perfluorados/PFCs) no plasma de suas mães durante o início da gravidez.
As descobertas, publicadas em 5 de outubro na revista Environmental Health Perspectives, sugeriram que a exposição materna combinada a sete desses “produtos químicos eternos/forever chemicals” tóxicos foi associada a filhos do sexo masculino que cresceram para ter concentrações de espermatozoides mais baixas, contagens totais mais baixas e maiores proporções de espermatozoides que não têm condições normais de motilidade, ou seja capacidade de lançar-se para realização da fertilização ou mesmo totalmente paralisados.
Os cientistas identificaram um PFAS em particular, o ácido perfluoroheptanóico (PFHpA), como o principal contribuinte para todos os três efeitos na qualidade do espermatozoide, embora alertem que mais pesquisas são necessárias para confirmarem se o produto químico realmente tem um efeito descomunal.
“Isso pode significar que o PFHpA é muito potente ou tem uma transferência placentária maior do que outro PFAS”, disse Sandra Søgaard Tøttenborg, professora da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, e autora do estudo. “Também pode ser um achado casual, considerando as múltiplas comparações que fizemos e as baixas concentrações de PFHpA. Antes de termos outros estudos para compararmos e mais evidências sobre os mecanismos, não colocamos muita ênfase nessa descoberta”.
Declínio global da fertilidade
A contagem e a qualidade do espermatozoide masculino geralmente estão em declínio. Uma análise de 2017 mostrou um declínio de 50-60% nas concentrações de espermatozoides em homens de todo o mundo de 1973 a 2011, enquanto um estudo de 2019 descobriu que a proporção de homens em dois países com um número normal de espermatozoides com motilidade caiu cerca de 10% de 2002 a 2017.
Pheruza Tarapore, pesquisadora de ciências ambientais e de saúde pública da Universidade de Cincinnati, que não participou do estudo, acredita que os disruptores endócrinos, incluindo bisfenol A (BPA), bisfenol S (BPS) e PFAS, podem ajudar a explicar esse fenômeno preocupante.
“Acho que a exposição a todos esses produtos químicos provavelmente contribui para a diminuição da fertilidade que estamos vendo”, disse ela.
Mas, embora a exposição ao PFAS tenha sido associada ao aumento do risco de câncer, bem como a vários outros impactos à saúde, e estudos anteriores descobriram que esses produtos químicos interferem no sistema reprodutor feminino. No entanto, ainda não está claro se o PFAS afeta a função reprodutiva masculina.
Tøttenborg observou que estudos anteriores que examinaram a exposição fetal ao PFAS e a fertilidade da prole observaram apenas o impacto de dois dos milhares de produtos químicos PFAS, PFOA e PFOS, e examinaram a exposição mais tarde na gravidez.
PFAS e qualidade do espermatozoide
Para investigar os efeitos de uma amostra maior de produtos químicos PFAS, Tøttenborg e seus colegas analisaram a qualidade do espermatozoide de 864 homens dinamarqueses de 18 a 21 anos de uma coorte estabelecida entre 2017 e 2019. Os pesquisadores recuperaram amostras de plasma retiradas das mães dos homens durante principalmente o primeiro trimestre de gravidez, que foram armazenados no Biobanco Nacional Dinamarquês. Quando mediram os níveis de 15 PFAS nas amostras, encontraram sete com níveis detectáveis em mais de 80% das amostras e os incluíram na análise.
Tøttenborg e seus colegas descobriram que cada aumento de uma unidade na exposição materna a esses sete PFAS combinados durante a gravidez estava associado a uma redução de 8% na concentração de espermatozoide quando a prole masculina atingiu a idade adulta, bem como a uma redução de 10% na sua contagem e uma proporção 5% maior de espermatozoides incapazes de motilidade normal.
No entanto, os pesquisadores não encontraram uma associação clara entre a exposição materna ao PFAS durante a gravidez e o volume testicular ou hormônios reprodutivos.
“Levamos em consideração muitos fatores que podem confundir/embaralhar os resultados, como o tabagismo materno”, disse Tøttenborg. “Usamos técnicas de ponta para analisar o PFAS e a qualidade do sêmen e, por design, temos uma longa separação temporal entre a exposição e o resultado”.
Tøttenborg observou que o estudo se concentrou principalmente nos PFAS de cadeia longa, que estão sendo eliminados e substituídos por PFAS de cadeia curta. Embora esses produtos químicos de última geração tenham sido anunciados pela indústria como alternativas mais seguras, pesquisas descobriram que eles também são bastante tóxicos.
“Precisamos de mais estudos sobre os PFAS de cadeia curta para dizer algo sobre eles”, disse Tøttenborg. “Com base no que descobrimos – e no que vimos em outros estudos – acredito que haja um bom motivo para preocupação.”
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, novembro de 2022.
