19 de dezembro de 2023
[NOTA DO WEBSITE: Estudo profundo e inquestionável que só vem corroborar o que a própria e emérita Dra. Theo Colborn, falecida em 2014, bem como Ana Soto e Shanna Shawn, além de outros pesquisadores, já vem clamando desde os anos 90. A esterilidade masculina está aumentando vertiginosamente. E o mundo vem fazendo ouvidos de mercador e as fertilizações in vitro crescendo exponencialmente].
Dieta inadequada, estresse, tabagismo e obesidade são fatores conhecidos que prejudicam a saúde do esperma, mas não retratam o quadro completo.
No ano passado, uma equipe de investigadores internacionais publicou uma análise global que revelou que as concentrações de espermatozoides têm diminuído livremente nos últimos 50 anos. De 1973 a 2018, o número de espermatozoides diminuiu a uma taxa de 1,2% até 2000, acelerando para 2,6% anualmente a partir de então.
A descoberta final foi surpreendente: a contagem de espermatozoides caiu pela metade, de uma média de 99 milhões de espermatozoides por mililitro para apenas 47 milhões (nt.: na verdade o número que era considerado normal nas décadas anteriores aos anos 70 e 80, era de 150 milhões por mililitro de acordo com o documentário ‘Agressão ao homem‘). Esta diminuição indica que um número crescente de homens pode enfrentar dificuldades em conceber no espaço de um ano .
O esperma está em declínio. Mas por que?
Dieta inadequada, estresse, consumo excessivo de álcool, tabagismo e obesidade são fatores conhecidos que prejudicam a saúde do espermatozoide, mas não retratam o quadro completo. Uma pesquisa recente iluminou a ligação entre certas exposições químicas e a infertilidade, sugerindo que um conjunto mais amplo e complexo de fatores influencia a nossa capacidade de ter filhos.
Quais são essas exposições químicas e o que pode ser feito para limitar o seu impacto na saúde do espermatozoide?
Exposição a plásticos
No ano passado, um estudo liderado por Andreas Kortenkamp, professor de toxicologia humana na Universidade de Brunel, ofereceu uma avaliação inédita do impacto dos químicos encontrados nos plásticos de uso diário na concentração e contagem de espermatozoides.
Esta pesquisa investigou o “coquetel químico” presente nos plásticos (que pode conter mais de 13.000 produtos químicos diferentes, cujas implicações para a saúde permanecem não examinadas), emergindo com uma classificação dos principais infratores conhecidos: o bisfenol A e seus substitutos, que são encontrados em muitos tipos de recipientes plásticos para alimentos e em revestimentos de latas; ftalatos, outro aditivo, e dioxinas policloradas, um tipo de “produto químico para sempre” produzido pela queima de plástico (nt.: DESTAQUE EM NEGRITO PELA TRADUÇÃO PARA MOSTRAR PORQUE SEMPRE FOMOS CONTRA OS PLÁSTICOS COMO SÃO APRESENTADOS PARA OS CONSUMIDORES. As corporações petroquímicas, com seus gestores, acionistas e cientistas corporativos são verdadeiramente criminosas, principalmente depois que souberam que esses plastificantes e outras moléculas sintéticas eram letais).
Os investigadores determinaram que os produtos comuns e a contaminação ambiental expõem os seres humanos a estes produtos químicos em níveis até 100 vezes superiores aos considerados seguros, colocando-nos em risco de perturbações endócrinas e problemas relacionados com a saúde reprodutiva, o metabolismo e a função imunitária.
Estas descobertas, publicadas na revista Environment International, têm implicações para as grávidas, uma vez que fases críticas do desenvolvimento reprodutivo acontecem durante a gravidez (nt.: ver o documentário canadense ‘Homens em extinção‘ legendado ou dublado).
O que podemos fazer sobre isso? É possível reduzir a exposição a estes produtos químicos evitando artigos de consumo de plástico, especialmente alimentos embalados em plástico e roupas à base de plástico, uma vez que a investigação demonstrou que os produtos químicos podem infiltrar-se nos produtos alimentares e ser absorvidos pela nossa pele.
Mas Kortenkamp está relutante em atribuir a responsabilidade de evitar estes produtos químicos aos indivíduos. “O problema é que a poluição com esses produtos químicos é tão generalizada que é praticamente impossível, evitando-se individualmente, reduzir a exposição”, diz ele, ressaltando que o BPA, que perturba o sistema endócrino porque imita o hormônio sexual estrogênio, está presente em alimentos de uso diário, como laticínios comerciais.
“É necessária ação regulatória” para conter o BPA na fonte, diz Kortenkamp. Para esse efeito, a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos recomendou uma redução de 20.000 vezes no nível “seguro” de BPA na União Europeia (nt.: ENQUANTO A CIÊNCIA NÃO MUDAR O PARADIGMA CONSEERVADOR DA TOXICOLOGIA = DOSE E EFEITOS, PARA A DOSE FISIOLÓGICA, SEMPRE VAI SE FICAR QUERENDO DIMINUIR A DOSE QUANDO ISSO É INEFICAZ. Por que? Porque ao imitar hormônios a atuação sobre a fisiologia dos corpos se dará em doses infinitesimais como fazem os hormônios naturais. Esquecer a toxicologia, agora é só fisiologia).
Nos EUA, uma coligação de grupos ambientais e de saúde pública está solicitando à Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA/Food anda Drugs Administration) que reforce os limites para o bisfenol A e seus substitutos em plásticos que entram em contato com os alimentos.
No entanto, a indústria química e outros fabricantes, apoiados pela FDA, sustentam que os atuais regulamentos sobre o BPA são adequados e que a probabilidade de o BPA causar problemas de saúde é mínima (nt.: são ou não criminosos?).
Os indivíduos podem apresentar uma “Petição de Cidadão” à FDA pedindo-lhes que reforcem as regulamentações do BPA, mas estas podem ficar sem resposta durante anos. Uma via mais imediata é contactar representantes políticos, uma vez que o Congresso tem autoridade de supervisão sobre agências reguladoras como a FDA. Os cidadãos podem manter pressão sobre os seus representantes para criarem mudanças, bem como fazerem petições online para se divulgar informações sobre os perigos associados aos bisfenóis e outros produtos químicos nocivos transportados pelos plásticos.
Exposição ao paracetamol
O acetaminofeno, também conhecido como paracetamol na Europa e comumente vendido sob as marcas Tylenol e Panadol, é amplamente considerado o analgésico mais seguro para tomar durante a gravidez; a droga é tão comum que muitos “nem pensam nela como um remédio”, diz Kortenkamp.
Mas a pesquisa de Kortenkamp avaliou cinco estudos separados, todos os quais encontraram “uma maior probabilidade de um bebê nascer com testículos não descendentes”, uma predição de má qualidade do sêmen, se a pessoa grávida tomasse paracetamol no final do primeiro trimestre e o início do segundo trimestre (nt.: importante se saber que é nesse período da gestação em que há a definição do sexo fisiológico e pela maturação fetal dos testículos de realizar as transformações do feto bipotencial em masculino, pela produção de testosterona, o hormônio masculinizante).
O que podemos fazer sobre isso? Kortenkamp diz que o momento é importante; os efeitos observados não ocorrem “se as grávidas tomam paracetamol muito cedo na gravidez, nem acontece mais tarde na gravidez”.
Exposição a agrotóxicos
Um artigo publicado por pesquisadores da George Mason University (GMU) em novembro deste ano analisou cinco décadas de estudos revisados por pares para concluir definitivamente que a exposição a agrotóxicos organofosforados e a outros à base de carbamato se correlaciona com a diminuição da concentração de espermatozoides em diversos contextos e circunstâncias.
Sabemos agora, sem sombra de dúvida, que as associações entre a exposição a agrotóxicos e a saúde do espermatozoide são “duradouros e intensos”, diz a Dra. Melissa Perry, reitora da faculdade de saúde pública da GMU.
Além da exposição ocupacional – situações em que uma pessoa trabalharia diretamente com venenos agrícolas – os alimentos são a principal forma de exposição a estes produtos químicos, diz Perry.
O que podemos fazer sobre isso? Desde 1995, o Grupo de Trabalho Ambiental (EWG/Environmental Working Group) oferece um guia do consumidor atualizado anualmente para evitar a “dúzia suja”; produtos como morangos, espinafre, peras e couve que apresentam alto índice de resíduos de agrotóxicos e devem ser cuidadosamente limpos com bicarbonato de sódio e água corrente, escaldados ou, quando possível, descascados para reduzir contaminantes (nt.: sabendo que nem sempre essa solução paliativa resolve… na maioria das vezes os agrotóxicos não são de contato e sim sistêmicos, ou seja, passam a fazer parte da fisiologia dos tecidos e órgãos das plantas).
Dado que os agrotóxicos se bioacumulam, ou se acumulam ao longo da cadeia alimentar, os produtos de origem animal também os contêm em níveis elevados; na verdade, a investigação descobriu que aqueles que consomem carne e ovos ingerem mais agrotóxicos do que os vegetarianos, tornando o vegetarianismo ou o veganismo boas opções dietéticas para aqueles que procuram limitar a sua exposição a produtos químicos que são, afinal, “fabricados intencionalmente para matar coisas”, como Perry coloca isso.
As exposições ambientais de agrotóxicos aplicados em campos de golfe, pátios escolares, em torno de edifícios públicos e até mesmo nos nossos próprios jardins também representam um risco cumulativo considerável para a saúde do espermatozoide, diz Perry.
Tal como acontece com os produtos químicos do plástico, é difícil evitar completamente essas toxinas em nível individual.
Perry espera que as evidências robustas do estudo da GMU ajudem a galvanizar os políticos para que criem mudanças legislativas em torno da questão pública do declínio da saúde reprodutiva. Além disso, poderia fazer com que as pessoas falassem e dissipassem o estigma que pode fazer com que esta crise de saúde pareça uma falha pessoal para os indivíduos que lutam contra a infertilidade, quando, na verdade, a intervenção a nível social é extremamente importante para nos proteger a todos de produtos químicos nocivos.
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, janeiro de 2024.