Algumas pessoas lavam dinheiro. Outras pessoas lavam o gado.

‘Darkcow’ = vaca camuflada.

https://www.vox.com/science-and-health/2022/10/19/23403330/amazon-rainforest-deforestation-cattle-laundering

Benji Jones 

19 de outubro de 2022

A indústria da carne bovina está arrazando a Amazônia, mesmo quando as empresas dizem que não.

No papel, a Amazônia brasileira é um dos ecossistemas mais protegidos do planeta. São milhares de áreas protegidas, além de regras que resguardam florestas em terras privadas.

Mais importante ainda, grandes frigoríficos que compram gado – o maior fator de desmatamento, de longe, na Amazônia – se comprometeram há mais de uma década a comprar apenas gado de terras sem perda de floresta. Este compromisso deveria evitar quaisquer perdas adicionais.

No entanto, ano após ano, os satélites que monitoram as mudanças na cobertura florestal constatam a mesma coisa: a Amazônia está encolhendo. Entre 1º de agosto de 2018 e 31 de julho de 2021, mais de 34.000 quilômetros quadrados (8,4 milhões de acres) desapareceram da Amazônia brasileira. Essa é uma área maior do que toda a nação da Bélgica e um aumento de 52% em comparação com os três anos anteriores.

Não faz sentido. Assumindo que os satélites não mentem, alguém está escondendo o desmatamento.

Na última década, cientistas e defensores do meio ambiente começaram a descobrir esses hectares perdidos, e suas pesquisas apontam para uma prática preocupante na indústria da carne bovina: a “lavagem de gado”.

Em um esquema de lavagem de gado, os fazendeiros transferem o gado de fazendas “sujas”, que contribuem para o desmatamento, para fazendas “limpas”, sem perda florestal recente. No momento em que o gado chega aos matadouros, o caminho percorrido está obscurecido, assim como os estragos que causaram.

Gado em uma fazenda em Xinguara, estado do Pará, Brasil, uma das regiões mais desmatadas da Amazônia brasileira (nt.: observem como o solo está parcialmente descoberto. Isso demonstra que ele está realmente morto. Não há organismo do solo que suporte a intensidade do sol e da chuva amazônicas estando desnudo como está).

Esse desmatamento geralmente é invisível para as empresas de carne, mas cada vez mais os pesquisadores podem vê-lo. Apenas nesta semana, um novo estudo descobriu que milhões de bovinos comprados por matadouros foram pelo menos parcialmente criados em áreas protegidas na Amazônia – indiscutivelmente, algumas das regiões naturais mais importantes da Terra, muitas das quais abrigam comunidades indígenas.

O que é surpreendente é que grande parte dessa lavagem está acontecendo abertamente; as investigações dependem em grande parte de registros públicos no Brasil, e suas descobertas têm circulado por anos. A carne de vacas lavadas é quase certamente vendida em todo o mundo. E assim, a Amazônia continua caindo.

Mas há uma maneira de limpar a indústria, de salvar o que resta da floresta amazônica. Começa com a compreensão da jornada de uma vaca.

A carne bovina está consumindo a Amazônia

Todos os tipos de produtos dos quais dependemos ajudaram a erodir as florestas tropicais, como óleo de palma e madeira. Mas a principal causa do desmatamento global é, sem dúvida, a pecuária. Isso é especialmente verdade no Brasil, o maior exportador mundial de carne bovina. Até 90 por cento de toda a floresta que foi desmatada na Amazônia brasileira agora é coberta por pastagens, a maioria das quais é para gado.

Não há nada inerente à Amazônia que a torne um bom lugar para criar vacas, embora seja uma maneira fácil de ganhar dinheiro, disse Amintas Brandão Jr., pesquisador de pós-doutorado da Universidade de Wisconsin-Madison. Freqüentemente, os agricultores ou empresas primeiro cortam árvores de alto valor e as vendem como madeira e depois limpam a vegetação restante com fogo. Depois, trazem o gado e vendem a propriedade, ou criam as vacas para o abate.

Esse caminho de desmatamento existe há décadas, mas em 2009, o Greenpeace publicou uma investigação de grande sucesso expondo como a estava devorando a Amazônia. Parecia um ponto de virada. Após a denúncia, alguns dos maiores frigoríficos do mundo, incluindo JBS, Marfrig e Minerva, assinaram acordos juridicamente vinculativos com as autoridades – e um acordo voluntário separado com o Greenpeace – que os proibia de comprar gado em terras com desmatamento recente.

Uma instalação de propriedade da gigante da carne JBS em Tucumã, estado do Pará, Brasil.

Superficialmente, esses acordos parecem estar funcionando: a maioria dos grandes frigoríficos e matadouros – que influenciam toda a cadeia de abastecimento de carne bovina – examinam o gado que compram para o desmatamento. Os pecuaristas que vendem para eles, conhecidos como fornecedores diretos, fornecem a localização de suas fazendas. E os frigoríficos contratam consultores para verificarem nesses locais se há alguma perda florestal recente, usando dados coletados por satélites.

Mas esse processo de triagem perde muito – talvez até mesmo a maior parte do desmatamento na cadeia de abastecimento de carne bovina – minando a integridade de suas promessas de desmatamento zero.

Como lavar uma vaca

Assim, de acordo com acordos de uma década, os grandes frigoríficos do Brasil só podem comprar gado limpo: vacas que vêm de terras sem desmatamento recente. O problema é que existem várias maneiras de fazer o gado parecer limpo, mesmo quando não está.

A forma mais comum é bem simples e aproveita a complexa cadeia de abastecimento da carne bovina. Uma única vaca pode viajar por até 10 fazendas antes de ser morta; pode nascer em um, criado em outro e engordado em um terceiro, tudo antes de chegar ao matadouro.

O desmatamento pode acontecer em qualquer uma dessas etapas, mas os matadouros tendem a avaliar apenas seus fornecedores diretos, a última parada na jornada da vaca. Isso significa que os fazendeiros podem cortar ilegalmente uma faixa da floresta amazônica para criar gado e, desde que esses animais sejam transferidos para uma fazenda sem desmatamento antes do abate, eles parecerão limpos e os frigoríficos parecem honrar seus compromissos.

Alguns proprietários de gado se esforçam mais para lavar seus animais. As investigações descobriram que alguns fazendeiros parecem ter editado os limites de sua fazenda – que estão registrados em um banco de dados do governo – para que pareçam livres de qualquer destruição.

“Esses são os limites que eles enviarão para o matadouro”, disse Chris Moye, investigador florestal da Global Witness. E como o matadouro ou frigorífico não verá nenhuma perda florestal na fazenda, disse ele, eles comprarão os animais.

Gado ‘branqueado’ que desmatou grandes áreas da floresta amazônica – mesmo em áreas protegidas

Não se trata apenas de algumas vacas sujas em uma cadeia de suprimentos limpa. A lavagem de gado é generalizada e ajuda explicar por que as promessas corporativas fizeram tão pouco para proteger a floresta amazônica.

Um relatório recente descobriu que apenas em um estado da Amazônia brasileira, mais de 90.000 cabeças de gado foram criadas em terras adquiridas ilegalmente, ou “griladas”, entre 2018 e 2021. A grilagem de terras geralmente resulta em desmatamento.

É importante ressaltar que o relatório revelou que a maioria desses bovinos foi enviada para fazendas legais antes de chegar aos matadouros, sugerindo que eles podem ter sido lavados, de acordo com a investigação, publicada pela agência de reportagem investigativa OCCRP/Organized Crime and Corruption Reporting Project e pela revista brasileira Piauí, com análise de dados fornecida pelo Center for Climate Crime Analysis.

Pelo menos alguns desses abatedouros eram de propriedade da JBS e da Marfrig, duas das maiores empresas de carnes do mundo, segundo a investigação. Ambas as empresas, que faturaram bilhões de dólares no ano passado, se comprometeram a fornecer apenas gado limpo. A JBS e a Marfrig disseram em comunicado ao Vox que têm tolerância zero com o desmatamento ilegal e param imediatamente de comprar de qualquer fazenda que viole suas políticas. (A JBS forneceu à Vox uma resposta mais aprofundada à investigação do OCCRP, que você pode encontrar aqui.)

Para o relatório do OCCRP, os investigadores se basearam em dados públicos mostrando a movimentação de gado entre as fazendas. Os agricultores no Brasil são obrigados a registrar a localização de suas propriedades e a movimentação de gado, embora em bancos de dados governamentais separados. Vários anos atrás, pesquisadores da Universidade de Wisconsin Madison (que não são afiliados à investigação do OCCRP) descobriram como conectar essas duas informações para desembaraçar as cadeias de suprimentos. Desde então, seu método tem sido usado por cientistas e grupos como o OCCRP para expor o desmatamento em vários estágios da cadeia de abastecimento de carne bovina.

Vista aérea dos rios de Igarapé Miri, no Amazonas do Pará, em 1º de outubro de 2022.

A lavagem de gado não está apenas impulsionando o desmatamento na floresta amazônica, mas também dentro de suas áreas formalmente protegidas – terras públicas reservadas explicitamente para a conservação dos recursos naturais e, em muitos casos, dos povos indígenas. (Algumas áreas protegidas permitem o uso sustentável de recursos.)

Entre 2013 e 2018, frigoríficos abateram 60,5 milhões de bovinos nos estados amazônicos de Mato Grosso, Pará e Rondônia. Mais de 3 milhões deles, ou cerca de 5%, provavelmente foram pelo menos parcialmente criados em áreas protegidas, de acordo com um estudo publicado esta semana na revista Conservation Letters. Mais da metade das fazendas que produziam esse gado tiveram desmatamento recente, segundo o estudo, que também se baseou em dados públicos.

Criticamente, do gado criado em terras protegidas, 2,2 milhões deles passaram por fazendas fora das áreas protegidas antes de chegar aos matadouros, o que poderia, novamente, indicar lavagem. (Em alguns casos raros, os fazendeiros podem criar gado legalmente em áreas protegidas. Também é difícil declarar, definitivamente, que uma fazenda lavou seu gado, pois implica uma intenção de fraudar matadouros ou o governo.)

Na maioria das vezes, é ilegal para esses frigoríficos comprarem gado de áreas protegidas, especialmente se houver desmatamento nessas terras. Notavelmente, muitos matadouros também parecem ter comprado gado diretamente de fazendas em áreas protegidas, o que seus processos de triagem padrão, por mais inadequados que sejam, deveriam sinalizar.

O que é ainda mais alarmante é que esses números provavelmente estão subestimados, de acordo com Holly Gibbs, professora da Universidade de Wisconsin Madison e uma das autoras do estudo. Novamente, esta pesquisa é baseada em informações publicamente disponíveis fornecidas por fazendeiros, o que significa que eles estão registrando a localização de fazendas ilegais em bancos de dados do governo. “Há um monte de outras propriedades que não estamos vendo”, disse Gibbs, sugerindo que nem todos os fazendeiros estão documentando suas atividades ilegais.

A pedido de Vox, Brandão, pesquisador do laboratório de Gibbs, compartilhou outros dados (que não foram incluídos no estudo acima) que apontam para a lavagem de gado em grande escala. Entre junho de 2020 e janeiro de 2022, por exemplo, 350 propriedades cadastradas por pecuaristas no estado do Pará venderam gado, mas não tinham pasto visível, segundo imagens de satélite. Isso pode indicar que os fazendeiros estão adulterando a papelada para fazer parecer que o gado vem de uma fazenda diferente – presumivelmente, uma que não derrubou a floresta.

Outros dados compartilhados por Brandão indicam que muitas fazendas “sujas” e “limpas” pertencem à mesma pessoa. Gibbs suspeita que, em alguns casos, esses fazendeiros podem estar lavando vacas por meio de suas próprias propriedades. “É muito fácil para eles manterem uma propriedade limpa enquanto continuam o desmatamento nas outras propriedades”, disse Gibbs.

Uma conclusão importante da pesquisa de Gibbs é que a maior parte do desmatamento na cadeia de abastecimento de carne bovina ocorre antes que as vacas cheguem à sua última parada em sua jornada e, portanto, os matadouros têm dificuldade em vê-lo. “Atualmente, os frigoríficos estão perdendo cerca de 60% do desmatamento em suas cadeias de suprimentos por não considerar fornecedores indiretos”, disse Gibbs. “Eles estão realmente perdendo o que está acontecendo.”

Onde entra o seu cheeseburger

É difícil exagerar as consequências de derrubar a Amazônia em nome da carne bovina. O desmatamento não apenas coloca a vida selvagem em risco – a Amazônia abriga o conjunto mais diversificado de plantas e animais do planeta – mas também alimenta as mudanças climáticas.

A queima de árvores produz emissões de gases de efeito estufa e, ao mesmo tempo, prejudica a capacidade da floresta de absorver carbono. Isso leva a floresta a um perigoso ponto de inflexão, em que partes da Amazônia podem secar, fazendo com que mais florestas morram sem fogo ou motosserras. Enquanto isso, o gado em pastagem arrota metano, um potente gás de efeito estufa.

Macacos barrigudos na Amazônia brasileira.

Mais preocupante ainda é que muita carne bovina consumida em todo o mundo pode na verdade vir de gado que substituiu a floresta amazônica. Isso ocorre porque muitas das grandes empresas frigoríficas têm pegadas verdadeiramente globais: uma vez que o gado entra em suas cadeias de abastecimento, é difícil saber onde a carne vai parar.

Os Estados Unidos, por exemplo, estão entre os maiores compradores de carne bovina brasileira, e a gigante frigorífica JBS é sua maior fornecedora, segundo reportagem recente do Washington Post. As marcas da JBS venderam carne para várias grandes redes de supermercados americanas, incluindo Kroger e a empresa proprietária da Safeway, Jewel-Osco e Vons, revelou o relatório.(Vários relatórios implicaram a JBS no desmatamento, incluindo a história do Post e uma investigação da Global Witness em 2022. Você pode ler a declaração completa da empresa para a Vox aqui.)

Grandes frigoríficos, incluindo JBS e Marfrig, também têm uma longa história de fornecimento de carne bovina para cadeias de fast food como McDonald’s e Burger King, de acordo com a organização de pesquisa e jornalismo Repórter Brasil.

Para os consumidores, não é fácil rastrear a origem da carne que compram. Mas eles não deveriam ter que fazer isso, disse Moye, da Global Witness. “A responsabilidade final recai sobre os atores da cadeia de suprimentos e os governos que os regulam”, disse ele.

O que nos leva a uma grande questão: como esses atores, incluindo os grandes frigoríficos, ainda estão se safando disso?

Frigoríficos estão ficando mais limpos, mas têm trabalho pela frente

Se pequenas equipes de pesquisadores externos podem identificar a origem da perda florestal ao longo das cadeias de abastecimento, parece que corporações gigantes também deveriam ser capazes. Lembre-se, já se passaram mais de 10 anos desde que eles se comprometeram a fornecer gado limpo.

Embora alguns especialistas culpem os frigoríficos por não fazerem mais, erradicar a perda florestal entre os fornecedores indiretos é, na verdade, um grande desafio. Pesquisadores da Universidade de Wisconsin, que primeiro descobriram como fazer isso, passaram anos desenvolvendo programas de computador para baixar registros armazenados em sistemas governamentais desajeitados. Eles então precisam limpá-los, vincular os principais bits de dados e executar a análise.

Esses registros não são projetados para tornar as cadeias de suprimentos de gado rastreáveis, eles simplesmente servem a essa função se você souber o que está fazendo. “Exige muita experiência computacional”, disse Brandão. Não é como se os frigoríficos estivessem simplesmente ignorando o desmatamento bem na frente de seus olhos.

Gado em uma fazenda no estado do Pará, Brasil, em 6 de outubro de 2021.

O governo brasileiro também dificultou o acesso a dados para essas análises nos últimos anos. Em 2019, quando o presidente de direita Jair Bolsonaro chegou ao poder, o governo restringiu o acesso público a fazendas e registros de gado em grande parte da Amazônia. Esses documentos necessários para a análise agora estão trancados em sites do governo.

Enquanto isso, não há um grande incentivo para que os frigoríficos resolvam esse problema, dizem alguns especialistas. Se optarem por não comprar de nenhuma fazenda ligada ao desmatamento, terão uma oferta muito menor, disse Moye.

“Há tanto desmatamento e problemas nos fornecedores indiretos que, se eles os monitorassem efetivamente, o volume de gado que eles recebem diminuiria drasticamente”, disse Moye. “Eles não seriam capazes de abater os volumes de que precisam.”

A JBS contestou essa alegação. É do interesse do frigorífico, disse a empresa, ter uma cadeia de suprimentos transparente e sustentável, em parte porque ajuda a manter o mercado da carne bovina brasileira. Dados governamentais inacessíveis “não são benéficos para a JBS ou para o setor como um todo”, acrescentou a empresa.

A Marfrig também discordou da noção de que há valor em obscurecer as transações na cadeia de fornecimento de carne bovina, reiterando seu “compromisso inegociável com a rastreabilidade total de sua cadeia de fornecimento”.

Resolvendo o problema do gado

Sim, as coisas parecem sombrias. O desmatamento da Amazônia ainda é desenfreado na cadeia de fornecimento de carne bovina e há obstáculos para que as empresas o erradiquem. E agora?

Os consumidores têm algum poder; eles podem trocar a carne bovina por alternativas à base de plantas. Obviamente, nem toda carne bovina vem da floresta amazônica ou está ligada ao desmatamento, mas tem uma grande pegada ambiental de qualquer  maneira .

Mas as soluções mais imediatas estão nas mãos das empresas de carne, começando por desvendar suas próprias cadeias de suprimentos.

Pesquisadores e defensores do meio ambiente estão tentando ajudar. Há alguns anos, o laboratório de Gibbs na Universidade de Wisconsin e a National Wildlife Federation (NWF) lançaram um software chamado Visipec, projetado para ajudar os frigoríficos a monitorar seus fornecedores indiretos. Usando a mesma fonte de dados do governo da pesquisa mencionada nesta história, o Visipec é essencialmente um complemento aos sistemas de monitoramento corporativo existentes.

“Ele não fornece uma imagem perfeita de tudo o que está acontecendo – ainda é possível lavar”, disse Gibbs. “Mas é um longo caminho para fechar algumas dessas brechas e criar mais pressão para todo o setor.”

O Visipec enfrenta os mesmos problemas em relação à acessibilidade de dados, como qualquer ferramenta, mas é um grande passo acima do que a maioria das empresas faz atualmente. Além disso, essas empresas têm muito poder no Brasil e podem pressionar o governo a tornar os dados do gado mais acessíveis, dizem os especialistas.

Marfrig e Minerva, outro grande frigorífico do Brasil, começaram a usar o Visipec, confirmaram as empresas ao Vox. Algumas grandes empresas, incluindo a JBS, também usam outros sistemas para monitorar fornecedores indiretos, mas normalmente são baseados em informações voluntárias fornecidas pelas fazendas que vendem diretamente para elas. (A Marfrig também possui um sistema próprio de monitoramento voluntário, além do Visipec.)

Fumaça de incêndios florestais no sul do estado do Amazonas, Brasil, em 21 de setembro de 2022.

Uma vaca pasta em Manicoré, estado do Amazonas, Brasil, em 22 de setembro de 2022, com fumaça de incêndios visíveis ao fundo.

Há vários anos, a NWF também trabalha com empresas de carnes para estabelecer “boas práticas” para monitorar fornecedores indiretos. A ideia é viabilizar esse nível de monitoramento para as empresas e, ao mesmo tempo, eliminar mais de 90% do desmatamento em suas cadeias de abastecimento, de acordo com Nathalie Walker, diretora sênior de florestas tropicais e agricultura da NWF.

Há também uma legislação em andamento na União Européia e nos EUA que proibiria as empresas de importar produtos agrícolas, incluindo carne bovina, que estão ligados ao desmatamento. Esses projetos de lei não fornecerão necessariamente as ferramentas para aumentar a transparência, mas sim um incentivo maior para fazê-lo. “Se esses regulamentos entrarem em vigor, eles podem apoiar e incentivar o monitoramento e a rastreabilidade de fornecedores indiretos”, disse Walker.

Em última análise, para acabar com a lavagem de gado, as empresas de carne precisariam monitorar o movimento de cada vaca, disse Gibbs. “Se quiséssemos acabar com a lavagem, precisaríamos de rastreabilidade em nível animal”, disse Gibbs. “Até acompanharmos os animais individualmente, algum nível de lavagem continuará acontecendo.”

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, janeiro de 2023.