Diante da preocupação com a perda de eficiência de fungicidas para o combate dos fungos que causam a Ferrugem Asiática em lavouras de soja no Brasil, a Comissão de Defesa Sanitária Vegetal de Mato Grosso realizou reunião no dia 27, em Cuiabá (MT). A finalidade foi construir um documento com sugestões baseadas em constatações de técnicos e pesquisadores sobre a necessidade de preservação dos fungicidas que já existem e apresentá-lo ao governo do estado, demonstrando a preocupação com o cultivo de soja sobre soja ou “soja safrinha” (Nota do site: a maior tragédia não é a ‘perda’ dos fungicidas, mas sim a falta de percepção dos ‘técnicos’ é que a monocultura e o o uso dos ‘insumos modernos’ é que são os grandes vilões e não a ‘doença’ que é só um bioindicador da ‘modernização da agricultura‘ do pós guerra!).
http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2015/01/30/112535-comissao-entregara-sugestoes-ao-governo-para-resguardar-fungicidas.html
Para a ocasião, foram convocados representantes de instituições de pesquisa, do Ministério da Agricultura, de associações que representam os produtores rurais e produtores de sementes. Foram convidados para a discussão o presidente do Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso (Indea-MT), Guilherme Nolasco, e o secretário adjunto de agricultura, Alexandre Possebon.
A pesquisadora da Embrapa Soja, Cláudia Godoy, explica que quando se faz um número elevado de aplicações no cultivo de soja sobre soja, começa-se a safra fazendo de duas a quatro aplicações, partindo para uma situação de seis a oito aplicações. O fungo, então, migra de uma área para outra e esse alto número de aplicações favorece a pressão de seleção para resistência. “Então toda a discussão é em função desse aumento do aparecimento de isolados resistentes, em função do excesso de aplicações que são feitas nessa soja, e na soja subsequente também”, diz.
Ela destaca que dois grupos de fungicidas, os triazóis e as estrobilurinas, já mostraram uma queda na eficiência. O objetivo é tentar evitar a perda do último modo de ação que existe hoje no mercado para o controle da Ferrugem. A pesquisadora alerta que pode-se chegar a um cenário de não haver produtos para controle da doença. “É uma das doenças mais agressivas da cultura. E pode reduzir até 100% de produtividade. Então, temos que tentar manter esses produtos para que consigamos manter os patamares atuais de produtividade de soja”, ressalta.
Na opinião do fitopatologista José Tadashi, uma das formas de se diminuir a incidência de Ferrugem pode ser a concentração da semeadura. Sendo assim, considera acertado o término do vazio sanitário no dia 30 de setembro, como é atualmente, pois quem semeia em setembro, quando não está chovendo em Mato Grosso, tem que irrigar a lavoura no início do cultivo. Isso multiplica a Ferrugem antecipadamente, prejudicando a grande maioria das lavouras que serão semeadas a partir do momento que chover, em outubro.
“Se todo mundo puder plantar a partir do momento que começar a chover, nós vamos conseguir aplicar fungicida mais ou menos na mesma época e vamos dificultar a sobrevivência de uma eventual raça nova tolerante ao fungicida”, opina.
Segundo o presidente da Comissão, Wanderlei Dias Guerra, para preservar os fungicidas que já existem, não pode ser cultivado soja sobre soja. “Tem que ter um limite de plantio em sequência, mesmo para a produção de sementes”, afirma.
Ele informa que, na última reunião da comissão do ano passado, em outubro, a comissão já havia considerado ideal que o período do vazio sanitário fosse de 15 de abril a 15 de setembro para proibir tal prática. “Mas agora a decisão cabe ao governo estadual analisar qual será a medida tomada para se proteger a produção de soja no estado e se a data do vazio sanitário será alterada”, comenta.
O período do vazio sanitário vigente para a cultura da soja em Mato Grosso foi estabelecido pela Instrução Normativa conjunta Sedraf/Indea-MT nº 011/2014, publicada no dia 30 de dezembro no Diário Oficial do estado. A partir de então, o novo período passou a ser de 1º de junho a 30 de setembro, totalizando 122 dias, o que permite o cultivo de soja safrinha tanto comercialmente quanto para produção de sementes.
Para o presidente da Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat), Carlos Augustin, a preocupação com a perda de eficiência dos fungicidas deve ser maior do que com a produção de sementes durante a safrinha. “A cultura da soja em Mato Grosso está em risco porque os fungicidas podem perder eficiência e, sem soja, não há semente de soja. Um representante da Andef [Associação Nacional de Defesa Vegetal] esteve na reunião e disse que para os próximos cinco anos não há perspectiva de que surjam novos fungicidas”, analisa.
O produtor e presidente do Sindicato Rural de Sinop, Antônio Galvan, que também participou da reunião, acredita que deve ser vista com preocupação a perda de eficiência dos fungicidas e a resistência dos fungos que causam a Ferrugem Asiática. No entanto, em sua opinião, a cadeia produtiva de soja deveria ser discutida como um todo pela comissão. “Temos resistência a ervas, no caso dos herbicidas; temos um problema muito grave hoje quanto ao controle de mosca branca, que são os inseticidas; lagartas que não eram problema para nossa atividade agrícola até quatro, cinco anos atrás e hoje está sendo um problema seríssimo”, ressalta.
Com relação à soja safrinha, Galvan diz que as questões agronômicas têm que ser levadas em conta, mas também deve-se considerar a experiência dos produtores. “Eu mesmo, com relação à soja comercial de safrinha, sou contra; já testamos, já fizemos, não é viável. Agora, para o produtor salvar sua própria semente, ela é extremamente viável”, afirma.
Na opinião do presidente da Comissão, Wanderlei Dias Guerra, a tendência é que se chegue a um consenso sobre a restrição da soja sobre soja, cujo cultivo pode agravar a perda de eficiência dos fungicidas pelo seu uso excessivo no campo. “Se quisermos preservar a lavoura principal, aquela que vai de setembro até março, nós temos que limitar o plantio de soja sobre soja. Isso é fundamental, porque nós não temos ferramentas para fazer frente a uma segunda produção, nós não temos tecnologia”, destaca. (Fonte: G1)