Zach Bush: a Saúde do Solo e seus Efeitos sobre a Saúde Humana

Microvida

A microvida do solo como proteção da vida humana. Dr. Zach Bush e sua percepção da interconexão dos seres vivos.

https://mercola.fileburst.com/PDF/ExpertInterviewTranscripts/Interview-ZachBush-SoilHealthIntercellularCommunicatiOnAndTheirEffects.pdf

JM: Dr. Joseph Mercola

ZB: Dr. Zach Bush

JM: A saúde de nossa vida está profundamente determinada pela saúde do solo. Sei que isso pode parecer um pouco estonteante para muitos que ouvem isso, mas agora vamos mergulhar fundo no que quer dizer isso.

Alô, aqui é o Dr. Mercola, auxiliando que cada um de nós se aproprie de sua própria saúde. Hoje vamos ter o privilégio de entrevistar o Dr. Zach Bush que é, em minha visão pessoal, o médico mais competente que jamais conheci (nt.: destaque dado pela tradução pelos conteúdos que esta longa entrevista nos traz, como consumidores e cidadãos comuns), brilhante em assuntos ligados aos esteroides, especialmente. Tem tripla pós graduação: endocrinologia, medicina interna e atendimento intensivista. Fez pesquisas incríveis, pioneiras, incrivelmente inovadoras. Estamos muito felizes em tê-lo aqui conosco. Uma coisa posso assegurar com grande grau de confiança, todos amarão esta nossa conversa. Bem vindo e grato por vir compartilhar conosco hoje, Zach.

ZB: Dr. Mercola, sou muito grato por estarmos juntos.

JM: Ok. Você vem tendo uma interessante jornada de vida. Foi um pesquisador convencional sobre o câncer, financiado pelos National Institutes of Health/NIH (nt.: Institutos Federais de Saúde, algo como o Ministério da Saúde no Brasil) até 2009, e estava praticamente incorporado ao modelo de medicina convencional tradicional. Talvez fosse 2008, mas de qualquer maneira, seu financiamento foi suspenso porque em razão do colapso financeiro do setor secundário da indústria das negociações imobiliárias nos EUA quando os NIH reestruturaram seus recursos. Por que não discute esta sua transição? Penso e que este é um processo realmente importante e como isso acabou lhe levando a desenvolver algumas de suas atuais concepções.

ZB: Com certeza. Fui, realmente formado na visão da medicina alopatia, desde o início da minha formação, na Faculdade de Medicina da Universidade do Colorado. Depois deste tempo, fui para a Universidade da Virgínia (UVA) para minha formação na pós-graduação e nas subespecialidades de medicina interna e endocrinologia metabólica. Durante a bolsa de estudos na minha pós-graduação em endocrinologia, fiz muitas pesquisas em biologia celular, observando os novos mecanismos pelos quais as células do câncer praticam sua auto-eliminação (nt.: tecnicamente chamada de apoptose). Isto era novo, pelo menos, naquele tempo. Agora, isso tornou-se o suporte de como nós pensamos sobre o futuro da administração do câncer.

Nós sempre vimos tudo isso como um tipo de batalha entre o sistema imunológico e as células do câncer. Pode o sistema imunológico encontrar o câncer e combatê-lo? Se houver suficiente comunicação célula a célula, as cancerosas poderiam reconhecer suas dificuldades de se manterem e se auto eliminariam. Chamamos este processo de auto-eliminação como apoptose que é um tipo de suicídio celular programado que acontece quando uma vez ela alcança um estado de dano que não pode ser reparada. Estava, neste tempo, vivendo como que dividido entre as duas metades do meu cérebro, se assim posso dizer. Quando sob o ritmo de pesquisa no microscópio: estava super, mas super mesmo, conectado com o meu lado esquerdo do cérebro; altamente analítico, estudando quase que enredado em todos estes tipos de vias metabólicas das proteínas quanto à sinalização das células. Ao mesmo tempo, na clínica, estava eu lidando com o problema macro de uma das mais extraordinárias explosões de doenças que este planeta humano jamais havia visto. Estávamos assistindo este irromper de diabetes tipo 2, obesidade, colapso metabólico, doenças cardiovasculares e, é claro, câncer. O ambiente da clínica era muitíssimo diferente e realmente mais cérebro direito, com necessidades, tentando-se solucionar problemas todo o tempo.

No fim foram os pacientes que modelaram este tipo de mudança em meus 17 anos de treinamento acadêmico em biologia celular. Eu comecei realmente a pensar: sabe de uma coisa, deve haver um mecanismo melhor pelo qual se faz isso. Muito disso tudo faz parte da jornada de qualquer médico. Entramos com tanta emoção em nosso treinamento. Temos tantas expectativas e crenças altruístas que iremos realmente auxiliar os seres humanos a serem saudáveis, a curarem doenças. Estamos municiados com todas estas incríveis ferramentas farmacêuticas, inacreditáveis inovações tecnológicas além de habilidades e tecnologias de imagens e diagnósticos nos dão suporte. Estamos tão empoderados, tão poderosos.

Especialmente quando eu estava em treinamento nos anos 90, pensávamos que era só passar a próxima curva para estarmos na medicina personalizada, onde nós somente com um fio de cabelo ou um pouco de saliva num cotonete, teríamos condições de desvelar seu genoma e conhecermos exatamente quais doenças provavelmente teríamos e quais drogas trabalharíamos para tratá-las. Foi um tempo muito inebriante. Infelizmente, aí está o começo do fim da medicina ocidental. E eu não tinha ideia disso.

O que estava acontecendo na clínica era que agora estávamos vendo esta imensa epidemia. Aqui, eu era endocrinologista, um especialista em desordens metabólicas como diabetes e afins. Estava usando mais e mais drogas farmacêuticas num tipo de enfrentamento deste problema. Qualquer médico que esteja equipado com estas grandes ferramentas poderosas e então as aplica, não demorará para começar a perceber que há muitas desvantagens nesta abordagem farmacêutica. Existem muitas limitações para nossa eficácia. Há ai uma enorme toxicidade.

E esta foi realmente a jornada de descobrir que meus pacientes estava muito melhores nos prontuários – o açúcar no sangue poderia estar caindo – do que na realidade. Estavam cada vez piores clinicamente. Mais edemas, mais ganho de peso, mais fadiga, mais depressão. Cada grama de insulina que lhes dava, ficavam mais enfermos. Isso era um disparate. Foram os meus pacientes que começaram a me auxiliar a sair desta armadilha ou caixinha, já que estava, como uma pessoa humana, a me tornar cada vez mais deprimido. Realmente foram estes questionamentos tão radicais que meus pacientes me mostravam que me fez sentir incrivelmente incapaz de responder.

Acabei me tornando chefe residente, situação elevada no treinamento de profissionais na universidade. Pensava que conhecia tudo, nas minucias, daquilo que se possa saber sobre diabetes. Fui treinado no terceiro melhor programa do mundo. Meus deus, eu estava no topo. No entanto, quando vinham e me perguntavam: “por que tenho diabetes tipo 2?” Podia ir à descrição detalhada da esteatose hepática (gordura no fígado) e da resistência à insulina. E então eles poderiam dizer: “não, não, não. Por que eu tenho diabetes tipo 2?” (nt.: importante observação pelo que virá depois. A Ressalva é que ambas tenham a ver com a deficiência de insulina, mas a tipo 1 é autoimune e a tipo 2, mesmo que pode ter algumas de origem genética, a maioria é derivada da obesidade e da alimentação inadequada ou ‘moderna’).

Estes eram os tipos de questões que eu não poderia responder porque neste tempo eu sabia que não era genético. Haviam algumas predisposições para esta doença, já que sabíamos que não poderia haver uma epidemia de doença genética. É impossível. Sabíamos que havia fatores ambientais e eu não sabia porquê. Eles começavam a perguntar estas complicadas questões básicas, de raiz, como: “por que eu?”.

JM: Sim, de fato. Você mencionou a preocupação com a apoptose como um dos mecanismos de sinalização para o câncer. Isso me fez lembrar que esta é uma das razões porque você também se tornou renomado e ser o motivo de estar ouvido bastante a seu respeito. Não tem nenhuma de suas declarações que eu descorde. Estamos totalmente sincronizado nisso.

A apoptose é realmente regulada pela saúde mitocondrial. Muito do que vocês está discutindo está focado na saúde mitocondrial. Mas ficaria grato se você explicasse sobre como esta frustração com todos estes anos, muitos dos quais com trabalho educacional altamente qualificado, se relaciona à falha em responder a simples questões de seus pacientes. Qual foi o próximo passo neste processo de conversão?

ZB: O próximo? Posso dizer que as fissuras no telhado de vidro do meu mundo começaram a trincar quando eles vinham a mim com estas complicadas questões. Na verdade, eles tiveram um conhecimento intuitivo de que a nutrição do que comiam, de que a comida deveria ter alguma coisa a ver com aquilo. Eu permanecia encaminhando-os aos nutricionistas ligados à diabetes que lhes receitava uma dieta com baixo carboidrato (nt.: em inglês – low carb).

JM: Pelo menos não estavam se alimentando com um dieta com baixa gordura (nt.: em inglês – low fat).

ZB: Certo. Bem, devia dizer que não foi. Com certeza. Vai baixa gordura, vai baixo carboidrato, e o que leva a isso? Proteína, que, como resultado, é o mais ácido.

JM: Provavelmente mais tóxico do que ambos eles.

ZB: Mais tóxico que ambos eles.

JM: Em excesso.

ZB: Em excesso, exatamente. E estava consumindo, certamente, isso em excesso. Algumas das bandeiras vermelhas que foram levantadas foram meus pacientes chegarem e dizerem: “fui ver os nutricionistas da diabetes. Estou 100 % compatibilizado com a dieta diabética”. Uau. Cem por cento compatibilizado com a dieta. Estes eram pacientes que estavam no programa ‘Medicaid‘, quarta geração da pobreza aqui na Virgínia Central. E estavam completamente integrados com esta dieta. E eu disse: “uau. Explica-me como isso é possível.” Eles retiravam seus pacotes e havia uma lista de fontes aceitáveis de proteínas. E aí acontece que cachorro quente estava na lista.

Tinha pacientes que estavam se alimentando, ao desjejum, almoço e jantar, cachorro quente sem pães. E pensavam que estavam comendo uma dieta saudável porque estavam com ela sem carboidratos. Talvez esta tenha sido a primeira bandeira vermelha quando disse: “meu deus. Que literatura estávamos usando na nutrição diabética?” Cachorro quente estar efetivamente na lista de alimentos nutritivos é algo espantoso. Ser interpretado como o único alimento que eles poderiam ingerir, era algo verdadeiramente incrível.

Estas foram algumas das fissuras fundamentais. Mas, eu me sentia profundamente despreparado para começar a entrar num diálogo sobre este tipo de dieta e nutrição porque não tinha sido treinado neste tema. Dezessete anos de alta formação em ciência médica e outros aspectos, e eu tive só meio semestre de classes de nutrição no meu primeiro ou segundo ano da faculdade de medicina e que ninguém assistia porque era muito fácil passar de ano por ter somente um teste. Não precisa ir às aulas. Fui pobremente informado. Posso até dizer que foi assim com a vasta maioria dos nós os médicos. Nossa educação é tão afastada do estilo de vida e tão pobremente direcionada à esta administração farmacêutica das doenças crônicas. Então, realmente, as vendas que me tapavam os olhos, caíram.

Se você vier com a questão: “quais foram o passo a passo no processo que fez com que Zach saísse de uma trincheira numa toca de coelho para uma visão da verdade panorâmica de mais de 10 mil metros?”, pois este foi o grande momento, o clímax.

O que estava acontecendo enquanto estudava estas células de câncer no microscópio, estava atrasado para a clínica e corrigindo estas coisas, e consertei-as, ao mesmo tempo, estava conectado a estas células cancerígenas, invadindo o tecido normal. E pode-se ver a incrível interface ente o tecido normal e este câncer ali invadindo e penetrando através destas vias do tecido normal.

Pulei fora do microscópio, corri pelo estacionamento, enfiei o jaleco branco, estetoscópio, e subitamente estava no meu modelo médico, sentado na escrivaninha e perguntando ao paciente; “como está?” E o homem diz: “doutor, tenho esta enorme úlcera no meu tornozelo.” Era uma úlcera diabética. Tirou sua bota e aí estava um tipo fedorento e apodrecido de úlcera. Abaixei-me e por mais de uma hora fiquei ali decodificando profundamente todo este tecido morto e tudo mais. De repente, de um segundo para o outro, brota algo assim: “meu deus. Mas isso aqui é igual ao processo que estava agora mesmo observando no microscópio.”

E assim, o que cegava, cai e eu digo: “puxa vida. Não há alguma coisa como úlceras diabéticas. Nem mada como câncer. E mesmo algo como doença. Existe somente a perda de comunicação célula a célula (nt.: conforme se vai apreendendo no decorrer da fala, há uma ruptura nesta ‘tela’ formada pelo que chama de comunicação célula a célula, e assim permite que a doença se instale no que chama acima ‘invasão nos tecidos normais‘). Existe então, somente uma perda, um isolamento e uma solidão que leva a esta quebra do estado de reparação.” Este, penso eu, foi o momento de imensa transformação para mim para chegar a dizer: “não existe alguma coisa como doença. Há somente uma falta de saúde.” A falta de saúde tem algo a ver com este ambiente de comunicação célula a célula.

JUNÇÕES APERTADAS. A tradução resolveu agregar ao texto esta imagem para que possamos, os leitores leigos, saber como esta ideia de comunicação célula-célula, bem como ela se mantém como por um processo como se fosse um ‘velcro’. As junções chamam-se em inglês como ‘tight junction’ e o ‘velcro’ são estas três conexões, aparecendo uma rompida e outra saudável.

JM: Sim. É um tipo de analogia que eu aprecio e mencionei no passado: “não se pode ter luz e escuridão no mesmo lugar.” Se acendermos uma luz na escuridão, ela desaparece. A luz é a saúde. Se tivermos saúde, não iremos ficar enfermos.

ZB: Dr. Mercola, é por isso que você é quem é. Todo o palavreado anterior que usei, cai por terra. Você foi preciso em suas palavras. E isso foi lindo.

JM: Sim. É uma poderosa ilustração que auxilia as pessoas a entenderem tudo isso. Estou gratificado. Foi uma interessante epifania que você teve, esta falta de comunicação intercelular. Comecei a entrevista falando da conexão com o solo, e quero voltar a isso num momento, mas antes quero conhecer os fundamentos básicos de sua experiência para que as pessoas possam ter um apoio para esta sua mudança de percepção.

Então, em algum momento lá atrás, parece que alguém, em sua clínica ou sua associação, trouxe um panfleto informacional ou um mini-livro de 50 a 70 páginas. Acredito que você pensou que não havia muita coisa escrita na história do mundo sobre agricultura. Foi ai então que você fez a conexão neste material. Qual foi o próximo passo?

ZB: Sim. Foi bem intenso. Em 2010, larguei o ambiente acadêmico. Você está certo, o financiamento para minha pesquisa secou quando os NIH/National Institutes of Health (nt.: agência governamental dos EUA ligada à pesquisa de saúde pública) entrou em colapso e a Universidade da Virgínia perdeu os financiamentos para seu centro de pesquisa clínica geral onde toda minha pesquisa está lotada. A Academia estava num tipo de queda livre durante aquele tempo de recessão. Assim pulei fora deste ambiente, para o meu medo e terror. Estava com receio de que nunca mais iria ensinar novamente. Da mesma forma de que nunca mais faria ciência básica de novo. Pensei que realmente este era o fim de 17 anos de minha carreira acadêmica. Mas, sabia de uma coisa, tinha necessidade de me inserir neste mundo da nutrição.

Comecei esta clínica de nutrição. Queria fazer com base vegetal, um tipo de clínica vegana. Realmente assumi a missão de curar os EUA a partir de suas raízes. Não tive interesse em ir para Santa Bárbara, Califórnia e lá transformar os californianos ali residentes. Ali não ia curar o mundo. Em vez disso, fui para a comunidade mais pobre do estado da Virgínia e comecei esta clínica de nutrição. Imaginei que se pudesse fazer este trabalho na quinta geração de pobreza, funcionaria em qualquer lugar do mundo. Podemos ter a chance de mudar a maré de saúde pública. Comecei lá e pelos dois anos seguintes, fiz suco verde com couve, e persisti em meus pobres pacientes com mais nutrientes que penso que ninguém teve. Tendo a ir aos extremos onde eu vou.

JM: Qualquer um de nós vai.

ZB: Estava fornecendo a meus pacientes, fortemente, os melhores nutrientes que pudesse encontrar na horta e auxiliando-os a aprenderem a plantar seus alimentos e tudo o mais. Muito frustrante que uns bons 40 a 50% deles responderam na direção adequada.

Aconteceu este incrível milagre se mostrando nos 40% deles onde suas condições, por décadas, estavam se dissolvendo sob a força da nutrição. Mas ainda havia esta imensa percentagem que não importava quanto de nutrição tentávamos levar ao seu prato, permaneciam ficando piores, e não melhores. Quando tentávamos alimentá-los com couve, ficavam mais inchados, mais inflamados. Mais antibióticos e não menos.

A grande questão em nossa clínica começou a ser: “estamos com a ciência errada?” Estávamos aplicando a ciência dos anos 70 e 80 quanto a nutrientes e seu impacto em tudo, de antioxidantes a metabolismo mitocondrial. É possível que tenhamos agindo com a ciência errada?

Como você disse antes, sim, foi William Vitalis, meu colega que apelidamos de “unicórnio” – foi a pessoa que trouxe a magia –. Foi através de um artigo técnico de 90 páginas sobre a ciência do solo. Como mencionou acima, foi bastante surpreendente que alguém escrevesse 90 páginas sobre a terra, sobre húmus. Estava folheando rapidamente este artigo, com até pacientes me esperando na clínica, quando por volta da página 40, está lá uma grande figura de uma molécula plasmada que me impediu de seguir adiante.

Eu provavelmente poderia ter passado por cima, e folhear até por mil vezes, mas este foi mais uma daquelas ‘pauladas’ da vida, para abrir a cabeça, em que o universo diz: “Pare. Veja isso.” A escuridão se ilumina por um momento e digo para mim mesmo: “meu Deus. Isso se parece tanto com a quimioterapia que eu costumava aplicar. Mas, o que isso está fazendo no solo?” Foi nesse instante que realmente começamos a ativar nossa atenção para a possibilidade de que haja inteligência no solo.

JM: Sim. Talvez possamos explicar isso porque um dos principais desafios que enfrentamos, junto com a cultura, é o fato de estarmos incorporando e adotando na agricultura industrial,
práticas por quase um século, usando os fertilizantes sintéticos. Isso é realmente devastador e dizima o solo. A estimativa é que dentro de uma ou duas gerações, não teremos praticamente nenhum solo superior se esta prática agrícola continuar. Eu espero que isso não vá acontecer. Penso que as pessoas vão acordar antes que seja tarde demais. Mas ainda temos que fazer grandes alertas. A agricultura regenerativa é um processo necessário.

Pode ser que se possa expandir quanto a esta conexão aqui com o que está acontecendo com os solos agrícolas. Obviamente, se não tivermos um solo saudável, não podemos inventar. Daí, os micronutrientes não estão no solo. Por isso não podem ser carreados para os cultivos, assim todos seremos deficientes em micronutrientes mesmo se estivermos comendo supostamente os mais saudáveis que forem ofertados.

ZB: Você está absolutamente certo. O contexto que podemos resgatar é exatamente este –
voltemos ao tempo da II Guerra Mundial. Em minhas palestras, normalmente parto deste tempo e até anterior. Proponho em minhas palestras começar a compreender por aí. Pensemos, por um segundo, no tempo da década de 30 nos EUA, no tempo em que ocorreu o chamado Dust Bowl (nt.: ‘Bola de Poeira’, relembrando bolas de boliche, quando nas grandes planícies do centro oeste norte americano, com a destruição da cobertura vegetal dos solos, a erosão provocou tempestades de poeira com a formação de bolas com as palhas secas). Tudo começa no final do século XIX, quando mudamos as práticas agrícolas. A agricultura passou a desrespeitar as práticas tradicionais de rotação cultural (nt.: diferente inclusive de hoje nas monoculturas do agronegócio. Nunca se plantava sucessivamente o mesmo cultivo na mesma área), abandonou-se a compostagem (nt.: processo onde se recompõe a fertilidade e a vida do solo com matéria orgânica ativada, naturalmente, com microrganismos), aeração do sol e todas outras atividades de reintegração da vida do solo. Iniciamos aí a matar a vida das camadas superiores do solo no Meio Oeste norte americano através de uma ideologia que dominou, a partir daí, a agricultura da América do Norte.

JM: O Meio Oeste dos EUA não só tinha uma as melhores camadas superficiais do solo, mas o mais profundo do mundo.

ZB: Em todo o mundo. É exato. Tínhamos o mais rico bioma, de alguma maneira, para que pudéssemos associar nas práticas agrícolas. Havia a presença incrivelmente rica de fungos, bactérias, sendo que este ecossistema poderia rivalizar com a riqueza dos corais de recifes ou mesmo a biodiversidade da floresta costarriquenha. E mesmo esta massiva eco diversidade estava presente nas camadas de profundidade de um, dois, quatro metros do solo que havia neste grande ambiente do interior do país, neste tempo histórico.

Ao desrespeitarmos estas prática tradicionais citadas acima, o solo começou a morrer. Assim, acabamos gerando as “dust bowls“. Acabamos trocando este costumeiro solo vivo que era rico e integrado com fibras, por este solo morto que então flutuava pela atmosfera e acabava cobrindo todas as cidades com estas partículas de terra erodida. E tudo ficou como se fosse a cidade italiana de Pompéia (nt.: conhecida por ter sido coberta pela poeira vulcânica da erupção do Vesúvio, em 79 dc). E, é claro que estávamos em pleno tempo da Grande Depressão (nt.: grande crise econômica de 1929). Tudo ressentia desespero.

Quando a II Grande Guerra começa, surge o grande acordo nacional feito por Franklin D. Roosevelt (FDR) e todos os fatos que se vivenciou na época. Este tipo de rejuvenescimento da economia pela imensa indústria do petróleo que foi alavancada, além da enorme engrenagem mecanizada de obtenção das máquinas de guerra, se aceleraram. Centros urbanos como a cidade de Pennsylvania se expande. Pittsburgh torna-se a capital do aço. Tudo era só expansão, expensão, expansão urbana. Mas não havia nada a ver com a produção de alimentos. Não havia nada relacionado com a recuperação de nutrientes para os nossos solos.

E então a II Guerra Mundial se encerra. No final deste momento histórico, tudo era fascinante. Foi provavelmente um instante no tempo dos mais importantes que tínhamos como consumidores para nos dirigirmos ao discurso da grande indústria que agora envolvia a agricultura ao dizer: “vocês estão errados”. Ao continuarem a defender suas práticas agrícolas, afirmam: “nós podemos alimentar o mundo se utilizarmos esta agricultura química”. Deveríamos permanecer dizendo: “não. Nós alimentaremos perfeitamente o mundo com o que produzirmos em nossas hortas da vitória de nossos quintais que tanto Franklin D. Roosevelt como Eleonor Roosevelt trouxeram para todos nós e as criarmos durante o período da guerra”.

Exatamente neste tempo, nós tirávamos 45 % da cadeia alimentar dos norte americanos daquilo que vinha de nossos quintais. Quarenta e cinco por cento da cadeia alimentar dos EUA!. Agora? Cultivamos menos do que 1/1000 porcento, sendo isso que vem das hortas de nossos quintais.

JM: Isso aqui nos EUA. Mas globalmente, acredito que 70% das propriedade rurais são de pequenos produtores (nt.: no Brasil o alimento que vem para a mesa dos brasileiros, de 70 a 75% vem da agricultura familiar). Isso significa, literalmente, uma em duas pessoas.

ZB: Sim, exatamente. E estas práticas que os pequenos agricultores empregam foi-lhes legado pelos avós de seus avós e assim sucessivamente. Há uma linhagem nestas práticas. Existe uma completa e incrível história que realmente está embutida nelas. Toda esta realidade é ainda um profundo ambiente para que possamos retornar. Precisamos realmente nos afastar da crença de que devemos nos submeter a todas estas megas indústrias agroquímicas e toda sua parafernália para que possamos nos alimentar.

Depois, surgem, é claro, os transgênicos. Entraremos mais tarde na história destes organismos geneticamente modificados. Mas vamos dar uma olhada na saúde das plantas porque ela está correlacionada e é totalmente correlata à saúde humana.

Em 1945, o mundo retornando da Guerra Mundial, há esta imensa abundância de petróleo. E com seu excesso, logo fomos colocados dentro de jeeps, carros, tanques e tudo o mais, e assim tudo fica barato. As indústrias precisando de novas vias de escoamento para esta realidade, criam então os fertilizantes nitrogenados (nt.: conhecidos popularmente como ureia) originários do petróleo.

Assim, em vez de dizer: “ei, precisamos voltar a respeitar o solo, principiando pelo respeito a seu bioma, trazendo a vida bacteriana de volta”. No entanto, nós falamos: “oh. Isso é impressionante. Nós acabamos de extrair petróleo de cem milhões ou cem bilhões de anos e então estamos aspergindo sobre nossos campos cultivados e assim teremos grãos e colheitas”. Tudo bem, terás grãos e colheitas porque há abundância de nitrogênio e fósforo ali, mas não vamos ter nenhum selênio, manganês e quaisquer outros micro nutriente no solo. Não estarás sendo respeitoso e estimulador para que o bioma desperte e se mobilize para frente. Isso foi o que acabou instaurando a doença entre as nossas plantas.

É muito interessante isso quando você tem uma planta no seu pátio ou mesmo numa mega fazenda, se ela, no seu desenvolvimento, começar a ter falta de nutrientes, a primeira coisa que acontece é o aparecimento de ‘pestes’ (nt.: nosso website faz questão de ressaltar aqui – pestes entre aspas – porque os organismos estão no mundo/ecossistemas e nunca serão ‘pestes’ a não ser se há um processo onde a vida -esta planta- deve ser eliminada porque a reprodução dela poderia ferir a estabilidade natural de sua descendência pela fragilidade de qualquer ordem que apresenta neste momento). Estas pestes podem vir na forma de parasitas, nas formas de fungos, vírus e fermentos, podendo matar as plantas atacadas. De repente, nós temos esta imensa demanda por substâncias químicas (nt.: maioria artificiais, sintetizadas pelas mesmas indústrias agroquímicas. Se for agricultura chamada natural, o agricultor procurará ‘curar’ o solo onde a planta está e não só terá como foco nutrir ou cuidar diretamente da planta como se fosse o indivíduo e não o ambiente, o responsável por esta situação de saúde do cultivo) ou mesmo antibióticos, basicamente, para a especificidade vegetal de nossa planta. Daí começa-se a aspergir, aspergir e aspergir, cada vez mais. É claro que estamos vendo uma situação paralela na realidade da saúde humana. E quanto mais antibióticos usarmos, mais resistência às drogas os organismos apresentam, bem como a perda dos ecossistemas, há uma piora na doença.

Então o avozinho de todas as substâncias agroquímicas desta linha, veio em 1976. Para colocar isso em contexto de gravidade, faremos num minuto. Mas, antes espero que possamos convencer rapidamente a todos os que ouvem (nt.: ou leem) que não há nada que compita (nt.: dentre todos os químicos sintéticos) com este único químico que chegou no ano de 1976. Ele é o glifosato.

Glifosato é o princípio ativo em uma vasta quantidade de produtos comerciais de um tipo de herbicidas, o mata-matos, agora no mercado. Antes de 2007 quando caiu a patente, este produto era realmente conhecido mundialmente pela marca comercial ‘Roundup’. Este produto comercial chega no mercado direto ao consumidor, nos anos 80. É uma substância química muito potente de matar vegetais. Normalmente não há o interesse de eliminar a maioria das plantas, mas ele é chamado de mata mato porque, na realidade, quaisquer plantas que se aspirja, morrerão.

Importantíssimo se saber por que este veneno mata plantas. Não é como o álcool que simplesmente é um oxidante potente e as mata. É bastante complicado o processo e, na verdade, muito assustadora a maneira como mata uma planta. O que o glifosato faz, é bloquear uma via enzimática na planta ou num vegetal como bactéria, chamada via chiquimato. As enzimas originadas por estas vias, são responsáveis por produzirem alguns dos compostos mais importantes nos alimentos. Algumas destas estruturas de carbono são a espinha dorsal dos hormônios, como o triptofano.

Se tirarmos o triptofano da cadeia de uma planta de do reino vegetal ao se eliminar esta via metabólica, incluiremos não só plantas superiores como bactérias e outros vegetais, estes organismos não poderão gerar estas moléculas essenciais de sinalização além de outras situações. Este processo aniquila, na verdade, em torno de quatro ou seis amino-ácidos essenciais que são os blocos construtores de todas as proteínas de nossos organismos que podem ser inclusive enzimas. E estes amino ácidos podem estar fazendo proteínas e todo o tipo de moléculas necessárias do organismo. E com este produto, são eliminados amino-ácidos que iram construir os blocos para as proteínas de nossos corpos. Assim, tiramos de nós mesmos de quatro a seis deles, meu deus do céu, quando perdemos exatamente uma alta percentagem de nossa fisiologia neste momento. E começa precisamente aí o problema que estávamos falando sobre nutrição.

Esta é, realmente acredito, a resposta do porque estávamos fornecendo todos esses alimentos saudáveis para nossos pacientes na clínica e não vendo os benefícios às suas saúdes. Há uma família de compostos chamados alcaloides. Se você nunca ouviu falar dos alcaloides, vale a pena uma pesquisa no Google. Basta procurar por eles. Ao tomar conhecimento deles, vai imaginar então o que aconteceria se os removêssemos de nossos alimentos. O que se constataria seria exatamente a explosão de doença que estamos observando em muitos sistemas orgânicos em nossos corpos.

Entre os alcaloides, há uma família que age como antiparasitários. Temos uma extremamente grande explosão de doença de Lyme na minha área no estado da Virginia, obviamente na maior parte do país e em grandes partes do mundo. Esta enfermidade vem de um parasita que vem sendo bastante manifesto. Além disso, os alcaloides são antidiabéticos, anticancerígenos, anti-hipertensivo, controladores de humor, além de funcionarem com estabilizadores de humor, antidepressivos e assim por diante nesta listagem. Tem um tipo de compostos anti-asma e anti-eczemas.

Ao se examinar a listagem de alcaloides, podemos logo pensar: “oh meu Deus. Se adicionamos substâncias químicas sintéticas, à nossa cadeia alimentar que acabam eliminando toda a produção dos alcaloides em nossos alimentos, teríamos então perdido a qualidade medicinal de nossos alimentos que existiam por milhares e milhares de anos?” É uma história surpreendente de quase…

JM: Os alcaloides são uma classe de substâncias.

ZB: Classe de compostos.

JM: Os polifenóis caem nesta mesma classe? Dos alcaloides?

ZB: Desculpe, qual foi a questão?

JM: Se os polifenóis se incluem nesta classe?

ZB: Os polifenóis? Sim. Eles poderiam ser um exemplo de um dos fragmentos da família destes compostos. São compostos extremamente ativos. Na escala, estão bem em cima com moléculas ‘redox’ das quais poderemos, talvez, falar sobre elas noutro segmento. São muito rápidos em seus mecanismos de sinalização.

É interessante, a Universidade Johns Hopkins acaba de publicar um artigo de revisão muito bom sobre a asma, dirigido ao público leigo. Pela primeira vez, temos essa enorme instituição acadêmica, respeitada, dizendo que a asma não é uma doença do pulmão. O quê? Isso arregalar os olhos dos médicos, se não dos consumidores.

Não é uma doença do pulmão. É uma doença do intestino delgado. Por quê? Porque tão logo há aí a falta de bactérias, começa a haver permeabilidade do intestino e haverá a falta destes alcaloides provenientes do bioma bacteriano. Agora se estará induzindo a asma a partir desta inflamação do intestino. Nós poderíamos escolher todas as doenças. Câncer, doença cardíaca e outras, todas estas doenças estão realmente centradas nesta situação. Oh meu Deus! Roubamos tanto do solo como da planta suas capacidades de gerarem estas qualidades medicinais essenciais.

JM: Você mencionou que no glifosato, um de seus mecanismos primários de ação – ele têm múltiplos, é claro – é que ele bloqueia a via metabólica chamada chiquimato. A Monsanto (nt.: até a queda da patente era, por ser a criadora do glifosato, a única que fabricava o veneno) e agora as outras fabricantes que podem produzir este , têm nos informado que isso só acontece com bactérias. Sendo assim não há problemas para nós porque somos um espécie eucariótica (nt.: ser uma espécie eucariótica quer dizer: suas células possuem um núcleo envolto por uma membrana, tendo então citoplasma e núcleo. Os outros são os procariontes, ou seja, não tem núcleo envolto com membrana como são as bactérias). Por que você não elabora sobre este aspecto e explica a falsidade desta suposição?

ZB: Certo, certo. Você pode ver a equipe de marketing industrial se agarrando nesta suposição e afirmando: “grande. Ele é seguro porque em nós não há esta via metabólica – chiquimato – típica dos vegetais.” Exceto em menores detalhes, os humanos não podem fazer seus próprios alcaloides. Bem como os seres humanos não tem condições de produzirem seus próprios amino-ácidos essenciais. Precisam obtê-los das plantas que se alimentam das bactérias do solo.

De repente, percebemos e dizemos: espere um momento, este argumento de vocês é muito problemático. É da natureza essencial da idiotice que nós estejamos fazendo como espécie humana, quando afirmamos: “não podemos ferir os humanos.” O quanto egocêntrico é isso? Quão narcisista podemos ser como espécie ao dizermos: “desde que não machuquemos os seres humanos, temos que ir a frente.” Parece que não necessitamos daquelas 1,4 quadrilhões de bactérias (nt.: importantíssimo conhecermos o que é esta afirmação: é o nosso microbioma) que podem estar cuidando de nós e nos provendo todos os nutrientes. Não precisamos também das 14 quatrilhões de mitocôndrias que são totalmente responsáveis por coletar todo o alimento dos pratos e transformam-no na única molécula que a célula humana funciona, que é a ATP ou adenosina trifosfato.

Acabo rindo porque isso é muito triste. É tão patético que façamos isso conosco. Incrível a nossa miopia. E é irônico pensarmos: “somos à prova de bala e não podemos ferir os seres humanos, por isso devemos ser bons.”

JM: Bem, eu não seria tão rápido em criticar toda nossa espécie porque é um grupo muito pequeno de indivíduos corporativos gananciosos que realmente querem ganhar dinheiro e não se importam nada com o cuidado quanto à prejudicar a biologia de todo o ecossistema humano. Mas quero conectar alguns dos pontos porque você mencionou antes sobre a comunicação intercelular como estando no núcleo da raiz fundamental de todas as doenças. Realmente a doença é a perda da comunicação intercelular. Vamos então amarrar o glifosato a isso tudo e como ocorre a disfunção na comunicação intercelular.

ZB: Sim. Soou mal com os alcaloides, mas piora a partir daí. Aqui vai numa ladeira abaixo quanto às más notícias bioquímicas. Você está prestes a saber o porquê eu não ser convidado para nenhuma festa, a qualquer hora. Ninguém quer ouvir este tipo de informação.

Melhor esboçar mais uma imagem antes de pular para a comunicação célula-célula, para que possamos criar um pano de fundo já que não somos objetivamente treinados como consumidores e muito menos como médicos, para pensarmos, neste nível, sobre a comunicação célula-célula. Deixe-me primeiro criar este pano de fundo das bactérias.

Temos falado sobre nutrientes e a falta de nutrientes em nossas plantas. Vamos então voltar à II Guerra Mundial por um momento, e afirmar: “o que está acontecendo com nosso ecossistema ou com as bactérias que prosperaram sempre e historicamente em nossos solos?” Agora, temos a oportunidade tanto de sentir sua falta como por outro lado participar com eles.

Lá nos primórdios dos anos 40, descobrimos a penicilina. Se você lembrar, ela é derivada de um mofo do pão que é uma interessante história sobre ecossistemas, está certo? Se mofo mata bactérias o que se pode pensar que a bactéria poderia fazer ao mofo? Se o mofo elimina bactérias, o que poderia fazer a um parasita? De repente vemos de 40 mil a 100 mil espécies de bactérias, fungos, vírus e todos estes organismos atuando em conjunto, precisando então estar verificando mutuamente o crescimento de cada um. Vão precisar estar aptos a se equilibrarem e realizarem algo como se fosse a harmonia trazida pela tradição oriental, entre o Yin e o Yang (nt.: lembrar que a imagética é um círculo com duas gotas que se harmonizam onde cada uma tem uma cor, mas um ponto da cor de uma está num local da outra, demonstrando um equilíbrio entre estes seres diferentes).

A penicilina foi a primeira situação onde, de novo, nós deixamos passar a verdade profunda que aqui é esta: uau!, bactérias e fungos estão em relacionamento. Mas, nós dissemos: “olha só, que substância química incrível. Podemos extrai-la. Vamos transformá-la numa droga e fazermos bilhões de dólares”. Assim extraímos a meta droga penicilina que foi destinada preferencialmente para as tropas durante a II Guerra Mundial em razão de que não podíamos produzir muito e assim foi direcionada para a luta contra a gangrena e outras importantes enfermidades. Foi uma grande mudança do paradigma na eliminação de bactérias. Anteriormente era empregado o álcool. Eram os antissépticos e similares.

JM: Além do álcool, usava-se o mercúrio.

ZB: Sim, o mercúrio. Tenho certeza que você nunca fez tratar sobre metais pesados em suas entrevista, não?

Este é o pano de fundo. Começamos simplesmente a matar bactérias. Claro, terminada a II Guerra Mundial, começamos a ampliar nossa habilidade de produzir penicilina. Logo, logo, todos nós já tomávamos penicilina para qualquer coisa assim que chegávamos em um médico. Se tivesse tosse, injeção de penicilina. Se a dor fosse de cotovelo, injeção de penicilina. Tendo câncer, injeção de penicilina. Não tinha a menor importância. Estávamos injetando penicilina em todo mundo. Ficamos drogados de penicilina.

Avancemos agora para 2011 e 2012, é a última vez que tenho números concretos sobre o número de prescrições dadas nos Estados Unidos para antibióticos. A essa altura, e na verdade a linha da curva de consumo já estava bastante plana. O número de prescrições para 1.000 pessoas aqui no país tem sido bastante estável nos últimos 10 anos. Esse número é de cerca de 3,5 milhões de quilos de antibióticos prescritos para os norte americanos todos os anos. Isso é quilos, não prescrições. Isso equivale a mais de 800 prescrições para cada 1.000 pessoas. O quê? Sim. Teriam 80% da população visto antibióticos em um determinado ano? A resposta é sim.

A razão pela qual esta linha tem se mantido plana e não aumentarmos além disso é que, na verdade, você não pode obter prescrições de antibióticos suficientes nas mãos das pessoas para ultrapassar 83% da população inteira. Alguém estava realmente ocupado e fez algum trabalho ou algo parecido e por isso não foi ao médico para obter a receita. Daí termos maximizado nossa capacidade.

Agora vamos dar uma olhada para o que está acontecendo com a agricultura industrial (nt.: entendido aqui na percepção original do conceito norte americano de ‘agribusiness’, tanto as monoculturas como os criatórios vistos como indústrias agrícolas). Começa lá pelos anos 60 e, realmente, explode pelos anos 80 e 90. Começamos a administrar antibióticos nas rações para induzir estresse nos animais o que faz com que eles armazenem gordura e ganhassem peso mais rapidamente, indo então para o matadouro mais rápido. Este estresse induzido por antibióticos vem sendo usado há muito tempo na produção de carne. Não surpreende que os EUA sejam considerados mundialmente como o maior produtor de carne, por quilos de peso. Isso é muito grave.

Lá por 2011, 2012, detectávamos 300 miligramas para cada quilo de carne. Um terço do peso de um boi é prescrito em antibióticos. Deplorável. Isso equivale a quase 14 mil toneladas. Três mil e quinhentas toneladas para consumo humano e 14 mil para consumo bovino. Agora vamos nos dirigir ao glifosato. Atualmente, estamos usando mais de 2 milhões de toneladas de glifosato em todo o mundo, neste exato momento.

JM: Isso anualmente, não é?

ZB: Anualmente. O número dobraram a cada seis anos, durante os últimos 25 anos. E esta substância é um antibiótico. Esta funcionando para matar bactérias no solo.

JM: Na verdade, esta foi a patente original da substância. Ela foi como de um antibiótico.

ZB: Foi patenteado como um anti-parasita. Também patenteado como antimalárico. E assim vai continuando. É o reconhecimento dos donos da patente que isso aí mata vida mesmo. Neste momento o desastre que temos, claramente, é que estamos despejando 2 milhões de toneladas deste produto em nossos solos ou em todas as terras. Significa que todo este solo agora não pode mais produzir alcaloides. Com também não pode produzir nenhum dos aminoácidos indispensáveis ou proteínas críticas.

Rapidamente, tudo fica numa situação bastante grave. O aspecto devastador do glifosato, quando comparado com o mercúrio, mencionado anteriormente, é que a maioria dos metais pesados e outras substâncias tóxicas que estão em nosso ambiente, são bastante lipofílicos. Ou seja, preferem ambientes ricos em gordura. Esta sua característica os mantêm, na verdade, relativamente sequestrados em nosso ecossistema. Vocês não encontra muito mercúrio no ar, por exemplo. Estarão aprisionados em nossos sistemas. Alguns serão encontrados na água, mas não será difícil transitar para as nuvens.

Infelizmente, o glifosato é um organofosforado (nt.: situação que se discute porque os organofosforado típicos como agrotóxicos tipo malation, afetam o sistema nervoso central, o que não acontece com este. Por isso muitos o classificam como fosfonato). E nem havia mencionado seus aspecto estruturai quando estávamos falando sobre aminoácidos. Ele é chamado glifosato porque sua espinha dorsal é a glicina, um dos aminoácidos mais fundamentais, sendo extremamente rico em nossa matriz extracelular, para o qual voltaremos em alguns minutos. Mas nossa matriz extracelular, nossos neurônios e muitos, muitos tecidos dependem da glicina como um aminoácido estrutural. O glifosato é glicina com uma fosfato marcado no final de sua fórmula e uma amina. Toda a família que tem o elemento fósforo nesta formulação, é chamada de organofosfatos. As moléculas de fosfonato são uma toxina, tragicamente solúvel em água.

Provavelmente, para um bioquímico, isso lhe dará arrepios. Isso é o inferno de Dante se abrindo à sua frente. Porque se temos um tóxico solúvel em água teremos então 2 milhões de toneladas no ambiente por ano, sabendo-se que este produto está agora se infiltrando em cada um dos estágios do ciclo da água. Isso é exatamente o que estamos descobrindo. Estudos recentes feitos no sul dos EUA, 75% da chuva, 75% das amostras do ar atmosférico, estão contaminadas com glifosato.

Nós o jogamos no nosso solo, entra nas águas subterrâneas, nos lençóis freáticos que correm para os nossos rios, alguns deles se imiscuem em nossos aquíferos fósseis profundos, limpos por bilhões de anos e que agora estão sendo contaminados (nt.: sempre lembrar as riquezas dos aquíferos que estão nos subsolos profundos do Brasil, exemplos: Guarani, no sul e Alter do Chão, na Amazônia). Acabamos tendo toda esta contaminação debaixo de nós. E o ciclo das águas sempre se movimentando, havendo então a natural evaporação. Assim, formam-se as nuvens. E, em decorrência temos a chova. E em todas as partes deste ciclo, ali há glifosato. É a história devastadora sobre nossa cadeia alimentar novamente, é claro.

Como consumidores, temos que nos acordar para esta realidade. Temos por isso que consumir produtos orgânicos. Estes produtos químicos devem ser tirados de nossa dieta. Nós podemos estar comendo comida orgânica. Podemos fazer toda esta mudança até no supermercado. No entanto, se choveu onde produziu o que iremos comer desta colheita, terá glifosato. Mas obviamente, será em muito menor quantidade do que aquela onde o produtor pulverizou o veneno antes de colher (nt.: temos que saber que, inclusive com recomendação da pesquisa brasileira, aplica-se este herbicida em muitos cultivos para matá-los e assim tornar a colheita mecanizada mais parelha). No entanto, temos todo um ecossistema contaminado com um único produto químico que é, originariamente, um antibiótico.

Estamos aniquilando o ecossistema ao nosso redor e nossa saúde por esta linda Mãe Natureza em que vivemos. Acho que é por sua intenção, certo? Não é um erro que estávamos confiando no resto do ecossistema para nossa saúde. Como isso fazia com que, se começássemos a nos comportar mal, começássemos a desrespeitar o meio ambiente, nossa saúde diminuiria.

Estamos aniquilando o ecossistema em torno de nós, além de nossa saúde dada pelo equilíbrio de Mãe Natureza, onde estamos imersos. Acredito que esta é sua intenção, não é mesmo? Não é um erro estarmos confiando nos ecossistemas para termos nossa saúde. Porque pode-se estar seguros de que se começarmos a ter comportamentos malévolos, desrespeitando nosso ambiente, haverá diminuição de nossa saúde.

Ela agora está minguando a ponto de podermos interromper nossa capacidade de reproduzir. Nós vamos ver um achatamento e um colapso da população humana se não mudarmos de direção muito rapidamente com a maneira como desrespeitamos nosso ecossistema (nt.: aqui vale a pena acessar o nosso website que traz materiais mostrando que, desde o início dos anos oitenta, a agressão progressiva principalmente aos machos, entre eles os homens, gerada pela violência da poluição sobre sua produção de espermatozoides e mesmo a formação da genitália masculina).

JM: Sim. Você pode comentar sobre a concentração que existe, em termos médios, e quanto as pessoas levam de glifosato em seus corpos? Eu acho que existem dois subgrupos: os indivíduos que têm uma vida convencional e os que são mais cuidadosos, procurando evitar qualquer substância deletéria, buscando alimentos orgânicos.

ZB: Sim. Você definitivamente verá uma enorme, mas enorme mesmo, variedade deste tipo de contaminação. Sendo este herbicida solúvel em água, significando que é muito difícil medir a cada momento qual a quantidade deste veneno seu corpo leva. Irá depender muito de qual parte do corpo você verifica. Pode-se verificar o nível sanguíneo quanto a glifosato e isso não reflete necessariamente o que está no nível intercelular. Ao mesmo tempo, pode não refletir o que o rim está mostrando e nem na urina, e assim por diante. Depende então de onde se faz a verificação.

Mas podemos nos dirigir diretamente ao fabricante para obtermos estas informações, basicamente porque ele está dizendo a única coisa que todos dizem. Ou seja: “o produto não tem uma via metabólica nos seres humanos, por isso deve ser seguro.” Vamos provar que isso não é verdade. Há outras formas de toxicidade direta sobre os humanos que nós vamos falar. Mas há uma história muito maior do que esta situação, ocorrida anteriormente, quanto ao princípio ativo e a natureza do glifosato bem como de seus metabólitos e ingredientes dos produtos comerciais. A Monsanto (nt.: só quem conhece as atitudes pregressas desta corporação transnacional quanto aos seus crimes corporativos em todo o mundo, por isso falta-lhe credibilidade para qualquer sentença) está dizendo que o herbicida nunca bio-acumula, sendo uma importante peça dos dados de segurança: de que o corpo não armazena estas substâncias.

Esta afirmativa foi suficiente para tranquilizar a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) e para o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) e outras áreas. Mas se você analisasse os dados das agroquímicas, diriam eles: “observe, a mesma proporção que você ingere estes produtos, já vai ser excretada pela urina.” Se você medir o quanto estiver nos alimentos, verá mais na urina.

Se dermos uma olhada, neste momento, na cadeia alimentar é corriqueira a exposição em qualquer lugar a uma parte por milhão (nt.: 01 ppm, ou seja, seis zeros depois da vírgula) até a 40 partes por milhão (nt.: 40 ppm) de glifosato em uma dieta típica. Pode-se afirmar com confiança de que o corpo humano terá de uma a 40 partes por milhão de glifosato em seu ambiente aquoso. Apesar de agora haver exceções a isso. Uma realidade desesperadamente triste foi desnuda por uma organização sem fins lucrativos, que trago abaixo.

Zen Honeycutt é uma das heroínas nas relações com a indústria de consumo. Ela dirige a Moms Across America, organização sem fins lucrativos baseada em missões de educação e qualificação do consumidor, que vai além do estado do Colorado. Uma bela mulher imbuída em uma organização tanto com sua paixão como por sua mensagem, realmente grandes. Elas pedem (nt.: como mulheres e mães) à Environmental Protection Agency/EPA, há décadas, para façam um estudo da presença do glifosato no leite materno (nt.: na visão do nosso website, uma possível agressão a seres indefesos, que recém nasceram!).

Em 2014, estas mulheres finalmente arrecadaram dinheiro suficiente para realizarem ensaios sobre esta possível contaminação. Os trabalhos contaram com mulheres que estavam tentando ficar longe da influência do herbicida ‘Roundup‘ (nt.: marca comercial da Monsanto), ficando assim longe da contaminação com glifosato, com o objetivo de submeterem amostras de seus leites materno ao estudo. Eram 10, estas mulheres. Penso que cinco delas tinham níveis detectáveis de glifosato, três tinham níveis mais altos de todos os trabalhos onde já se fez medições no corpo humano antes. Infelizmente, estávamos analisando de 760 a 1.600 vezes a quantidade de glifosato permitida nos sistemas de água europeus e estavam ali, presentes no leite materno daquelas mães.

Esta é uma história devastadora para a vida neonatal, pois aqui você tem um bebê que acabou de nascer. Infelizmente, nos Estados Unidos, existe uma chance de 47% das crianças nascerem de cesariana. Isso significa que este nenê nunca vivenciou o ecossistema do canal vaginal da mãe. Assim, nascendo como normalmente, estéril (nt.: importante ressaltar de que a flora da vagina materna dois meses antes do nascimento, e altera para acolher toda a vida microbiano que o nenê irá contactar depois de nascido) e por este desvio no nascimento, já que é tirado da mãe e levado à maternidade, imediatamente adotará a flora hospitalar e não a flora da mãe (nt.: hoje se sabe que o feto ao passar pelo canal vaginal e ser contaminado com toda a vida que existirá fora do útero, precisa desta passagem e do contato imediato com o corpo da mãe e do pai, para ser ‘fertilizado’ com o flora dos pais e assim ter um microbioma saudável e compatível com o ambiente onde passará a viver no pós parto). E nascendo de parto não vaginal o nenê terá um microbioma muito estreito, e já deficiente na rede de comunicação bacteriana que iremos falar. Então você coloca no seio da mãe (nt.: de onde deveria ser sugado o chamado ‘colostro’, leite especial que tem todos os antibióticos – naturais – para que o nenê possa enfrentar a vida fora do útero) e no processo de desenvolvimento imediato e explosivo, há a presença deste veneno – glifosato (nt.: como eliminador de vegetais, irá liquidar tanto a flora intestinal como o microbioma que deverá envolver o nenê). Quanto? Setecentos e sessenta mg por litro. Ou seja, 1.600 vezes a quantidade que você veria na água potável em uma cidade europeia (nt.: o limite da presença de glifosato na Europa é 0,0001 mg por litro. No Brasil? A Anvisa determinou ser, na atualização de 2019, 0,5 por litro… EXATAMENTE! 0,5 mg!). Isso é apenas uma história devastadora (nt.: e na visão do nosso website, criminosa!).

Agora sim, eu imagino, podemos entrar na história do que é a toxicidade efetiva sobre os seres humanos que está presente neste veneno, o glifosato. Mas será que acabei deixando algo pendente do que falamos anteriormente?

JM: Não. Está ótimo. Só acho que todo o mundo está com a respiração suspensa aguardando o próximo capítulo.

JB: É bom que alguém queira ouvir o que tenho a dizer em algum lugar no mundo. Não é uma festa, nem uma recepção de gala, mas aqui no palco da vida do Dr. Mercola, este tema vai ser para aqueles que estiverem nas primeiras poltronas. De qualquer forma, grato.

Este tema era algo do qual eu não tinha a mínima noção. Matriz extracelular, toda a estrutura proteica fora das células, nada disso estava no meu alcance. Neste tempo estudava células com o mais alto nível de detalhe e todo preso dentro da célula humana. Isso só mudou quando saí da Universidade da Virgínia e me envolvi no ambiente da nutrição.

O ano de 2012 foi quando encontramos estas moléculas da comunicação bacteriana no solo (nt.: o Dr. Zach terá, com esta descoberta, feito a conexão da vida do solo com a saúde humana). O que acabamos descobrindo assim que começamos um estudo sobre os efeitos desta rede de comunicação no ambiente intestinal, intestino delgado e cólon, foi perceber que havia uma toxicidade direta do glifosato ligado intimamente à presença ou à ausência de bactérias. Isso estava começando a reunir, de repente, um monte de peças do um quebra-cabeça. O dano que estávamos vendo, já havia sido publicado por outras pessoas, mas estávamos constatando isso acontecer de uma maneira tão fascinante quando colocamos o glifosato dentro das conexões com as bactérias.

O que estamos vendo como um efeito de toxicidade direta do glifosato no ambiente humano é seu estrago direto a uma estrutura de proteínas no intestino e a qualquer outra membrana do corpo. Essa proteína (nt.: considerada como um complexo multiprotéico) é chamada de junções estreitas (nt.: estas junções também são chamadas de junções celulares do tipo apertadas). Possui, múltiplos constituintes, várias pequenas proteínas que compõem estas grandes proteínas semelhantes à união como um velcro, engatando uma célula microscópica à célula seguinte. No exemplo do intestino que começa, na verdade como já disse antes, nas seios nasais que vão até o reto, temos uma situação em que se tem realmente uma vasta quantidade de trilhões de células que compõem um tapete único coerente, uma mesma membrana ou até se pode ver como um escudo inteiriço interno que nos protege do mundo exterior.

JM: Idealmente.

ZB: Idealmente. Esta membrana que agora está imbricada a outras ligadas como num processo tipo Velcro é nossa linha de defesa de tudo o que entra no nosso corpo. Sob um microscópio, me dá arrepios diariamente quando observo, percebendo quanto é fino este véu que nos protege deste mundo tóxico externo em que vivemos. É uma camada única espessa de célula. São muitas, muitas e muitas frações da largura de um fio de cabelo. E é uma membrana minúscula de células únicas e não uma pilha de duas ou três, formando uma célula única toda como um adesivo. Esta membrana, quase invisível e etérea, mantida unida por este velcro, é a nossa linha de frente de defesa.

O velcro, ao que parece, é afrouxado adequadamente pela fisiologia do corpo para permitir que grandes macromoléculas entrem para depois apertar, fechando, bem atrás de si. Isso é gerenciado por uma pequena proteína que produzimos em nosso próprio corpo chamada zonulina. A zonulina é secretada pelo tecido epitelial dos intestinos para que haja passagem através da membrana. A zonulina terá a função de abrir as junções estreitas (nt.: também chamadas de junções apertadas). É como se fossem as portas ao lado da empresa ou algo parecido. Os grandes portões se abrem e uma pequena nave espacial entra e as portas se fecham por trás disso. É o que deveria estar nesta membrana intestinal inteligente. Abre, permite a passagem, fecha, e mantém todo o resto fora.

A zonulina é esse modulador crítico dessa permeabilidade da membrana intestinal. Se a zonulina começa a ser super produzida e você não pode interromper sua produção, ela se torna seu próprio problema. Começa a causar danos ao ‘velcro’ no epitélio intestinal. De repente, tudo começa a se abrir. Todos os portões se abrem e tudo o que deveria se manter fora é deixado entrar.

Nossos seios nasais – pensemos sobre isso. Estávamos todos nós, nos anos 20, 30 e 40, andando por aí com um spray nasal por estarem congestionados além de termos alergias sazonais? Não, ninguém. Agora ou nas Filipinas ou em países em desenvolvimento, não vemos pessoas com alergias sazonais crônicas ou qualquer outras destas síndromes. A razão é simples, se não respiramos glifosato, se não respiramos este produto químico que induz a zonulina e rompe o velcro, tudo funciona no sistema. Assim, podemos respirar pólen o dia inteiro se este sistema que chamo de velcro, estiver fechado, apertado. Com a produção desmedida de zonulina, o velcro se desfaz e, a partir daí, a cada respiração, estaremos afrontando nosso sistema imunológico com todas moléculas que deveriam ter sido mantidas fora do nosso sistema do funcionamento de nosso organismo.

Acontece que a zonulina é desencadeada de forma muito potente pelo glifosato. Que história triste, porque acabamos de mencionar que a Monsanto e outras empresas estão sempre nos dizendo: “olha. É seguro. Você ingere e ao urinar acaba saindo da mesma forma e proporção que entrou.” Puxa vida! São realmente péssimas estas informações. Agora não só se precisa atravessar a membrana intestinal, mas muito além, deve-se atravessar também a membrana do hepatócito, as células do fígado. E assim vai circulando da corrente sanguínea de um órgão para a de outro. Desta forma, temos que tratar de toda a complexidade do trajeto da corrente sanguínea pelo organismo. Temos que considerar que os vasos sanguíneos são imbricados entre si com junções apertadas.

Agora vamos lá para o cérebro, melhor, para a barreira hematoencefálica, que está também imbricada conjuntamente com junções apertadas. Mas, com a chegada de certas moléculas, ela começa a vazar. E assim, o cérebro começa a ficar exposto. Ali vamos para os rim, o órgão crítico para a desintoxicação. Da mesma forma estão presentes as junções apertadas.

Tudo começa a vazar. A partir deste momento não podemos mais criar gradientes para a eliminação das toxinas do corpo. De repente, estamos vazando pelos nossos portais e não podemos nos desintoxicar. Nosso corpo acaba de se tornar uma esponja para as moléculas tóxicas e passamos então a viver em um mundo tóxico. É assim que se construiu o processo para esta taxa de doenças como temos hoje.

JM: Essa é uma história bem importante. Mas antes de entrarmos para amarrar esta história com a comunicação intercelular, quero que você nos esclareça sobre as taxas de doenças porque quando assisti suas apresentações você menciona isso. Face ao que informou, penso assustador se não fizermos algum coisa quanto a isso. Não estamos aqui para pintar uma imagem de desgraça e tristeza, até porque existem soluções que podemos recorrer. Poderemos tocar nelas aqui. Quero dizer, poderíamos dispender duas a três horas nestas soluções, mas por que você não discute as taxas de doenças que estamos convivendo hoje?

ZB: Isso é muito sério. Não existem duas alternativa para tudo isto. É o que verdadeiramente nos mobiliza em nossa empresa. Ao acordamos todas manhãs e colocamos nossa energia em direção a mais descobertas, revirando os obstáculos e buscando mais e mais as questões básicas porque esta situação é, realmente, a possibilidade de extinção de nossa espécie como a entendemos hoje.

Vamos dar agora o exemplo do autismo, que é provavelmente o mais impressionante. Mas, na verdade, não é o mais prevalente. Mas sua prevalência e a mudança de sua prevalência são impressionantes. Em 1975, um ano antes da estreia do glifosato, tivemos uma taxa de 1 criança para 5.000, nascidas com autismo. No momento, temos uma taxa de cerca de 1 para 42 crianças nascidas com autismo. Uma para 5.000 e agora 1 para 42 em uma geração. Tecnicamente, são duas gerações, mas estou vivo desde então. Ou seja, na minha geração, eu vi esse tipo de explosão.

JM: Foi neste ano que comecei uma faculdade de medicina.

ZB: Sendo este o ano que você começou sua faculdade, em uma carreira de médico, você vê o autismo pular de 1 para cada 5 mil indo hoje de uma para cada 42. Pode-se, agora mesmo, ir ao website dos Centers for Disease Control and Prevention (CDC) ou acessar as informações dadas pela Dra. Stephanie Seneff (nt.: pesquisadora do MIT/Mussachusets Institute of Technology que afirmou que até 2050, em cada duas crianças, uma estaria dentro da Síndrome do Espectro do Autismo) e muitos outros do setor privado, onde todos apresentam a mesma relação. Mas indo a qualquer fonte e observar o que acontece com esta curva assintótica, sua trajetória vai para algum lugar entre o ano de 2030 e 2040 ou 2045 – dependendo do gráfico que se acessa – para uma possível taxa de autismo na faixa de 1 para cada 3 crianças. Esta é uma estatística que tornará impossível a produtividade de sobrevivência humana.

Trago uma história de uma tática empregada na guerra do Vietnã. Ela orientava a utilização de tiros com bala de pequeno calibre, para cumprir a seguinte estratégia: matar um soldado vietcongue não era tão útil do que debilitá-los. Assim, ao vez de matar, feriam, mutilavam aquele inimigo visado. E o que mostrou? Que desta estratégia complexa resultava o ‘aleijar-se’ uma nação. Daí seria mais rápido submetê-la porque para cada pessoa ferida, seriam necessárias duas pessoas para cuidá-la.

Transpondo para o autismo, se estivermos concluindo de que será 1 em cada 3 crianças com autismo, deveremos deslocar então duas pessoas para cuidar de cada um com a síndrome. Pelas estatísticas do Vietnã, esta tática acabou com qualquer possibilidade de deixar algum setor ainda produtivo. Se você olhar apenas do ponto de vista financeiro, não teremos solubilidade financeira como espécie, além dos anos de 2035 a 2045.

Na atual situação política do nosso país, vamos desperdiçar os próximos anos com o atual grupo de políticos, do presidente aos componentes do senado e todo o restante. Não há tempo para esperarmos por legislação adequada. É por isso que, Dr. Mercola, o que você faz é tão fundamentalmente vital e mobilizador. E isso é porque não tendo médicos disponíveis em todos os locais, da mesma forma cientistas comprometidos e nem ativistas como Zen Honeycutt, da ONG Moms Across America e seus grupos de consumidores conscientes, se não nos unirmos e nos apressarmos para divulgarmos este tipo de mensagem, devemos, sem dúvida, parar imediatamente com as pulverizações com glifosato. Caso contrário, estaremos condenados.

JM: Mas fica pior, ou ainda melhor ou pior, face ser esta uma imagem bastante sombria que você acaba de pintar. Mas isso não ocorre é só no estágio inicial da vida. Também temos os estágios finais. E peço que fale sobre isso para nós. Há o tsunami da doença de Alzheimer. Temo tudo isso com filhos autistas e pais ou avós que perderam suas memórias. Pode explicar isso?

ZB: Se tiverem os adultos de hoje sorte, viverão o suficiente para perderem sua memória com a demência. Infelizmente, isso parece irreal. Se você ouviu as notícias mais recentes, as mortes por Alzheimer tiveram realmente uma diminuição nos últimos anos. Por quê? Isso está sendo apresentado como algo interessante. “Olha só. Estas são as primeiras boas notícias que tivemos sobre a demência.” Infelizmente, o real motivo desta queda é porque todos estão morrendo antes de câncer do que da demência.

A demência sempre foi historicamente a doença de um sujeito saudável que viveu o suficiente para finalmente ter demência. Isso é exatamente o que estávamos vendo. No entanto, como contraponto, as taxas de câncer estão explodindo, não dando tempo para o envelhecimento.

Temos no nosso país o chamado ‘Beco do Câncer’. Ele se localiza nos últimos 90 quilômetros do rio Mississipi, no estado da Louisiana entre as cidades de Baton Rouge e Nova Orleans. Agora, se você olhar para todos os afluentes do rio Mississippi, contata-se que eles congregam literalmente entre 85 e 90% das moléculas de glifosato pulverizadas, que se consolidam no rio Mississipi, sendo despejadas no mar, em sua foz. Por isso se chama Beco do Câncer. Aí estão as maiores taxas de câncer de todo o mundo. Então, o que diabos estamos fazendo nesta área do país? E isso obviamente, está se passando em todo o país.

Um em cada dois homens nos EUA terão nos próximos tempos câncer antes de morrer, 1 em cada dois. Isso sem contar com o câncer de pele. Se incluirmos este tipo de câncer, os números são absolutamente astronômicos. Cinquenta por cento dos homens terão câncer antes de morrer. E as mulheres estão indo bem perto de nós, uma em cada três. Vivemos uma epidemia de câncer.

É claro que, infelizmente, na minha clínica, vejo isso agora praticamente todos os meses. Agora estamos vendo crianças entrarem com cânceres horríveis – sarcomas nos ossos ou câncer crônico da medula óssea. Todas estas coisas costumavam acontecer em pessoas de 70, 80 ou 90 anos. Hoje acontece com crianças de 5 e mesmo de 3 anos. Sem mencionar a epidemia de tumores cerebrais que estão ocorrendo entre elas.

Há uma tentativa de nos dizer que não há aumento de tumores cerebrais. Certo, levando-se em conta toda a população, estas estatísticas quase não são verdadeiras. Mas se pegarmos crianças com menos de 20 anos e observarmos quantas delas tinham glioblastoma/GBM (nt.: tumores malignos que afetam o cérebro ou a coluna vertebral) com menos de 20 anos em 1976 em comparação com agora, é como a escala do autismo. É uma explosão desta situação. Estamos vivendo um desastre de câncer. Agora, você pode reduzir tudo o mais no intervalo entre os primeiros momentos da vida, o primeiro ano e meio de vida com transtornos de déficit de atenção ou processamento sensorial, distúrbios do espectro do autismo, indo até o fim da vida com demência e câncer, e então tudo no meio.

Uma em cada dez crianças tem agora um transtorno de déficit de atenção. Infelizmente, 70% deles são medicalizadas. É apenas uma estatística fora do comum. E 1 em cada 4 crianças agora tem algum tipo de alergia ambiental ou de algum alimento. Uma em cada quatro tem eczema. E na Austrália, uma em cada quatro tem asma. A Austrália realmente está agora a frente dos EUA em taxas de asma. É assim vai se contando uma situação atrás da outra.

E, claro, quanto à saúde mental, agora estamos em 1 em 2. Um em cada 2 adultos terá algum tipo de depressão ou fenômeno do tipo bipolar durante a vida adulta. Isso contrasta com uma prevalência em 1900, quando era de 1 em 100 adultos. Agora é apenas um mundo diferente do que há 100 anos atrás. Tudo se correlaciona com exatamente o que começamos a falar, que é o alimento, alimento, alimento. Para onde vão os nutrientes? Para onde vai a qualidade medicinal de nossas plantas? Para onde foi o ecossistema?

O que descobrimos no ano de 2012 foi uma molécula que age na comunicação bacteriana. Há uma série de reações bioquímicas complexas em que podemos nos aprofundar, mas quero resumir tudo isso em poucas palavras. Vamos primeiro para a palavra “redox” (nt.: no Brasil também usamos corriqueiramente a expressão “oxirredução” para esta mesma reação bioquímica), significando redução e oxidação de uma substância dentro de processo bioquímico. O conceito simples do que se entende por esta ‘redução’ é: o ganho de um elétron de um elemento químico que faz parte de uma substância química. Já ‘oxidação’ representa o arrancar ou a remoção de um elétron. A oxidação mais comum que você costuma ver em um ambiente do dia a dia, quando não está sob um microscópio, é a ferrugem.

Se o pára-choques do seu carro começar a enferrujar ou algo assim, este processo é literalmente oxidante. A água do ambiente está arrancando elétrons desse aço e é por isso que oxida. Você pode ver o que acontece. Esta peça do carro torna-se ‘doente’, certo? Está tudo áspero e vão caindo os pedaços. É o início do desgaste da peça. Logo, é a ferrugem que se torna sua própria fonte de estresse oxidativo e vai destruindo o metal a uma taxa muito rápida.

A mesma coisa está acontecendo nas articulações. Osteoartrite, é a ‘ferrugem’ de uma articulação. Poderíamos continuar com doenças cardiovasculares, que é a ‘ferrugem’ da árvore vascular e todos estes diferentes sistemas. O que descobrimos em 2012 foi um potencial da molécula redox no solo produzida por bactérias. Isso foi devastador para o meu cérebro, porque todas as minhas pesquisas sobre câncer foram sobre mitocôndrias.

As mitocôndrias se parecem muito com bactérias, mas são cerca de 1.000 vezes menores. Elas vivem dentro de nossas células. Nossas células estão crescendo com a população destas mitocôndrias quando nascemos. Nossos neurônios podem ter 3.000 mitocôndrias em um único nervo. A média de todo o corpo é de cerca de 200 mitocôndrias por célula humana, 14 quadrilhões de mitocôndrias, este estrondoso número.

Estas mitocôndrias, quando digerem nosso alimento, emitem sinais de equilíbrio das moléculas de ‘redox’ ou oxirredução. E são estas moléculas -redox- que eu estava estudando quando disse: “uau. Podemos usar esta rede de comunicação para capacitar uma célula cancerosa a induzir apoptose ou programa de suicídio celular.” Este era o meu mundo de câncer. Eu fiquei tipo: “oh meu Deus. As mitocôndrias dominam o mundo da célula cancerígena se elas produzirem moléculas redox suficientes. Se elas conseguirem um estresse oxidativo alto o suficiente, no ambiente do câncer, a célula cancerígena praticará o suicídio, ou seja, fará a apoptose.”

Então, retornando rapidamente para 2012, subitamente vem, mas que molécula é esta no solo? Por que existiria potencial redox no solo? E então, claro estúpido, as bactérias não têm mitocôndrias. Somente organismos multicelulares, como os eucariotos que você mencionou, os humanos ou o mamífero multicelular ou o que quer que seja. Temos que ter mitocôndrias porque não podemos decompor os nutrientes dos alimentos sozinhos. Precisamos das mitocôndrias para fazer isso.

Organismos unicelulares, como nossas bactérias, não precisam de mitocôndrias. Elas podem aceitar tudo isso e fazem sua própria quebra metabólica ou fermentação do que quer que esteja em nosso ambiente. As bactérias não têm mitocôndrias. Portanto, elas não têm toda aquela seleção redox. Como diabos eles equilibrariam um ecossistema de 40.000 espécies se não conseguem ‘falar’? O momento arrepiante e emocionante de 2012 foi: “oh meu Deus. Elas estão conversando.” As bactérias estão falando juntas. Elas estão em comunicação. Elas sabem como é o equilíbrio. Eles sabem como mudar o sistema.

JM: Estou interrompendo, indiretamente, para ver se você pode associar isto ao glifosato e como atrapalha a comunicação intercelular.

ZB: Perfeito. Para nosso choque, espanto e alegria, estou tão feliz por poder dizer-lhe que tudo isso está acontecendo para terminar com uma boa nota ou pelo menos uma oportunidade para nós, humanos, termos cura aqui. Um coisa extraordinária se desenrolou – e eu tenho que trazer John Gildea (nt.: professor associado da Universidade da Virgínia/EUA e conselheiro científico da empresa do entrevistado) aqui. Ele é um dos mais brilhantes doutores no planeta. Tenho a alegria de trabalhar com ele regularmente. Ele é apenas um gênio em nosso ambiente de laboratório.

Ele literalmente, em um experimento mental, descobriu tudo o que já provamos nos últimos quatro anos. Ele descobriu que o maquinário da nossa rede de comunicação bacteriana que descobrimos seria o antídoto para o glifosato, especificamente neste problema de permeabilidade do velcro. Ele começou a atuar nisso imediatamente.

Fizemos isso no intestino delgado, no cólon e em todo o organismo. Isso explodiu em sua mente como nas nossas também. Isso mudou completamente a maneira como pensamos sobre a biologia, porque pela primeira vez estávamos estudando biologia humana no contexto de um sistema de comunicação bacteriana fluido, fluente e robusto. Nunca vimos células humanas naquele ambiente sob um microscópio. Mudou tudo o que acreditávamos sobre apoptose, bem como sobre a síntese proteica, genômica. E esta mudança em nós continua e agora.

Também estão sob novo enfoque tudo o que sabemos sobre a fisiologia humana. Eu não me importo se estamos falando sobre pesquisa do câncer, pesquisa cardiovascular, fisiologia do exercício ou nutrição humana. Foi estudado em uma placa de petri estéril, num laboratório (nt.: vale a ressalta de que a chamada ‘visão cientificista’ tem privilegiado esta forma de pesquisa e do conhecimento). Nós literalmente não sabemos quais são os mecanismos mais básicos de saúde que fazem parte no sistema humano, porque nunca o estudamos. Nunca levamos em conta a possibilidade de que um ecossistema de fungos e bactérias possa ditar o comportamento celular humano em termos de saúde.

Para se ter uma ideia de como o entendimento da contribuição destes mecanismos está fora de controle, é esta nova história do micro-RNA. Muitos de vocês estão familiarizados com a epigenética. Quando de repente, com surpresa, demo-nos conta, no final dos anos 90 e 2000, que havíamos decodificado o genoma humano. Mas a má notícia é que os genes estão ligando e desligando e produzindo muitas proteínas diferentes com base em seu ambiente e não seguindo o genoma.

Um único gene agora é reconhecido ser capaz de produzir 200 produtos proteicos diferentes, mas dependente do ambiente. Foi uma mudança total de paradigma e realmente uma notícia muito ruim para todos que estavam apostando em uma medicina personalizada. Porque agora significava que o genoma não significava quase nada. O ambiente é que era rei. O ambiente é que programa os genes para formar 200 corpos humanos diferentes. De fato, se você agora programa as possibilidades de um gene com 200 resultados e multiplica isso por 25.000 genes, está nos milhões e milhões e milhões de resultados possíveis para esse corpo humano, com base em seu ambiente.

Agora, vejamos a epigenética desta próxima geração e quem é este micro-RNA, citado acima. Em um movimento clássico da ciência, nós, como cientistas, demos uma olhada no genoma e dissemos: “Uau, só temos 25.000 genes. Por gene, quero dizer um segmento de DNA que fará uma proteína. Temos 25.000 deles, rapazes. Parece um número alto para você. É muito patético quando pensamos que estavam indo para 200.000”.

JM: Nós pensávamos que eram algumas centenas.

ZB: O que é isso?

JM: Achamos que seriam 200.000, mas o projeto do genoma humano entrou e
disse: “Não. São 25. “

ZB: Sim. Terminamos um pouco mais cedo este projeto. Na verdade, foi talvez o primeiro projeto na história humana que ficou antecipadamente feito. Pensávamos que estávamos procurando 200.000 genes ou mais, porque sabíamos que tínhamos 200.000 proteínas. Nós pensamos que era um gene codificado para uma proteína.

Eis que só temos 25.000 genes que codificam 200.000 proteínas. Este é um número bastante patético quando você leva em consideração uma mosca da fruta, que foi realmente o primeiro genoma que desembaraçamos. Ela possui apenas 13.000 genes. Somos um pouco menos que o dobro da complicada mosca da fruta quando se trata de genes. Isso é bastante lamentável em algum nível. Mas é uma boa desculpa. Se você está se sentindo um pouco irritado e saindo para almoçar hoje, diga: “Ei, olhe. Estou indo muito bem, considerando que tenho o dobro de genes que a mosca da fruta.” Esse é um bom mecanismo de enfrentamento para seus dias ruins.

Mas a impressionante realidade é que 90% do DNA não codifica um gene para codificar proteínas, ou sejam, mais de 90% do DNA. E com isso, acabamos chamando estes 90% de DNA lixo. Oh meu Deus! Seria o mesmo que chamássemos 90% da matéria do universo de matéria escura (nt.: sabe-se de sua existência por seus efeitos gravitacionais, mas não se sabe qual o seu papel no universo. E será que por não emitir luz, não tem valor?) Nós não sabemos o que são estes 90%. Pode até ser que seja apenas lixo, mas por não sabermos o que faz, chamaremos isso de DNA lixo. Bem, nos últimos cinco anos, tornou-se óbvio que este DNA lixo está fazendo algo.

Pois, não surpreendentemente, é exatamente este DNA lixo que está, na verdade, regulando os 25.000 genes que produzem uma proteína. Como isso acontece? Cada pequena faixa de DNA lixo produz um micro-RNA (nt.: elemento que o entrevistado já havia mencionado alguns parágrafos acima) que nunca codifica proteínas. Mas, ao vez disso, este micro-RNA funciona como um interruptor. Assim, sua função é entrar na corrente sanguínea e em determinadas células ativar e desativar o comportamento dos genes.

A realidade impressionante do nosso ecossistema e da nossa saúde humana é que 15% da ação do botão que liga e desliga e que está atuando na corrente sanguínea não é nossa (nt.: para o tradutor este momento da entrevista talvez seja o mais paradigmático porque rompe com todas as ‘crenças científicas’ ocidentais que geram na sociedade comportamentos e relacionamentos com relação à natureza). Elas são das bactérias no nosso intestino e das bactérias que nós inspiramos, do ambiente que nos circunda. E além disso, outros 15% são dos fungos do ambiente de nosso entorno. Ou seja, trinta por cento dos interruptores do liga/desliga que determinam qual gene vai codificar para qual proteína nem é controlada pelos seres humanos. Não há nenhuma fonte humana para essas informações.

O que isso significa toda esta realidade para nós como seres humanos?

Temos que voltar a entrar em contato com os nossos ecossistemas, com a natureza. Temos que recuperar ecossistema complexos e diversificados. Interromper agora a ingestão de antibióticos, com toda a certeza. Precisamos parar de comer e pulverizar antibióticos (nt.: assim como o glifosato foi patenteado como um antibiótico, o que o entrevistado diz aqui está relacionado a todas as substâncias que sejam anti-vida, contra-a-vida) em toda a nossa comida (nt.: aqui estão os resíduos dos sistemas criatórios confinados e industriais com animais envenenados com antibióticos) e solo (nt.: aqui estão todos os tipos de agrotóxicos). Temos que parar de desrespeitar esse equilíbrio natural e por isso normal dos ecossistemas. Precisamos começar a voltar para o mundo vivo lá fora.

Muitos de nós pulamos no carro pela manhã, equipado com ar condicionado, saltamos dele, andamos uns 40 passos num prédio climatizado com ar condicionado e assim passamos respirando um ar de baixa qualidade, todo o dia. Fotobiologia de baixa qualidade, certo? Todas as luzes são fluorescentes ou ‘led’. Tudo à nossa volta está se desmoronando (nt.: tudo tão belo, higiênico, estéril e… morto e assassino).

Ao final do dia, retornamos ao mesmo carro para a mesma casa. Na somatória de nosso dia, poderemos ter gasto talvez um total de 10 ou 15 minutos fora de um ambiente fechado. Isso durante todos os dias, numa vida inteira.

Temos que quebrar estes padrões. Devemos fazer com que nossos espaços de trabalho (nt.: e de vida cotidiana) tornem-se diferentes. Precisamos realmente levar as pessoas de volta à outra realidade e trazermos, todos nós, um ecossistema saudável de volta para o nosso dia a dia.

JM: Uau. Isso é tudo o que posso dizer. Suspeito ser esta uma reação muito menor ao ser comparada com a de muitas pessoas que nos acompanharam em toda esta entrevista. Agora o leitor e/ou ouvinte poderá entender por que afirmei no começo que o Dr. Zach é um dos médicos mais brilhantes que eu já conheci. Posso garantir, porque passo muito tempo com Zach pessoalmente, que isso tratado aqui é apenas uma fração de uma fração, da profundidade do que é o seu conhecimento. Isto é apenas alucinante. Adoro passar tempos em sua companhia porque aprendo cada vez mais. Obviamente, não podemos fornecer todos os detalhes aqui. Nós literalmente levaríamos dezenas de horas.

ZB: Demora 19 horas.

JM: Sim, 19 horas. Realmente. Mas, você escreveu ou está escrevendo um livro, não? Acho que ainda não terminou.

ZB: Ainda não terminei.

JM: Sim. E é chamado ‘Bioma Intestinal’, eu acredito?

ZB: Sim.

JM: Quando você espera ter isso disponível?

ZB: Esperamos que seja lançado no verão.

JM: Boa. Definitivamente, teremos outra entrevista antes disso e passaremos mais detalhes para ajudá-lo com o lançamento, porque é um tópico muito importante. Você tem muitas
informações para compartilhar. Eu acho que a chave é que você realmente está detalhando o escopo do problema além do que muitos de nós imaginamos que era, não apenas deixando as pessoas frustradas e torcendo suas mãos dizendo: “o que podemos fazer?”. Mas, você está oferecendo soluções específicas que podem transformar isso tudo que está aí mudar a maré. E pode nos parar, para que não venhamos a destruir toda a espécie humana, que é literalmente o rumo que estamos, a menos que algo sejam mudado.

ZB: Isso é absolutamente verdade. Absolutamente verdadeiro.

JM: Tudo certo.

ZB: Obrigado por divulgar a notícia do nosso livro. Reconhecemos que apreciamos muito, Dr. Mercola, o que você faz.

JM: Sim. Estamos fazendo parceria, com certeza, porque aprendi há muito tempo que você não pode fazer isso como um guardão solitário. Você precisa colaborar com outras pessoas que realmente têm as informações e fazendo as pesadas pesquisas nas trincheiras, como você. E o belo é que está obtendo resultados incríveis. Nós realmente não podemos entrar em todos detalhes neste momento. Mas há muito mais para compartilhar. É o que posso garantir com um alto grau de confiança. Sem dúvida, definitivamente teremos você de volta para o lançamento do seu livro no verão. Alguma palavra final que você gostaria de arrematar?

ZB: Eu acho que seus sentimentos finais estão postos. Passamos apenas uma hora falando sobre
comunicação celular e bactérias. Mas o que vemos na clínica é que, assim que você recoloca
esta comunicação de bactérias, estamos de volta ao jogo da vida. Algo dramático acontece com os seres humanos quando começamos a nos comunicar melhor. Você destacou a importância da colaboração e cooperação. Pois eu acho que todos os que nos ouviram e/ou leram sentem que, se não nos unirmos e fizer alguma coisa, ninguém mais fará isso por nós.

Viemos terceirizando nossa comida. Terceirizando nossa nutrição. E a Monsanto é o produto destas nossas opções. Penso que somos responsáveis, cada um de nós, em sua parte, pelo que a Monsanto e as empresas químicas se tornaram porque paramos de fazer isso sozinhos. Precisamos recuperar este controle. Quanta energia nos exigirá? Devemos nos capacitar minimamente como consumidores para dizer: “Oh meu Deus. Com um pouco de colaboração, com um pouco de discussão, podemos mudar tudo isso.” E é este passo que vamos dar.

JM: Exatamente. Obrigado por nos ajudar a entender que, mesmo que aqueles de nós que somos hipervigilantes e realmente nunca pensam em nos expormos intencionalmente a qualquer alimento contaminado com glifosato, acabamos sendo através da chuva. Além destas, existem outras intervenções específicas que precisamos discutir no futuro e que podem ser úteis aqui. Obrigado por tudo que você tem feito, está fazendo e fará. Você é um grande trunfo para toda a comunidade no sentido de ajudá-la a restaurar sua saúde e do mundo. Nós lhe honramos profundamente.

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, maio de 2020.