Para cada célula humana intrínseca ao nosso corpo existem cerca de 10 micróbios, que desempenham papel fundamental na saúde.
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por Redação do The New York Times
O sequenciamento do microbioma humano deu origem à ideia de que indivíduos não são apenas uma coleção de genes humanos, mas um superorganismo com centenas de espécies de micróbios, que desempenham um papel fundamental na saúde humana. Mais de 100 trilhões de bactérias vivem na superfície da pele, na língua e principalmente nas dobras do intestino, lar da maior contingência de bactérias essenciais à vida. Os micróbios de cada indivíduo pesam entre 0,5 e um quilo, formando um território vastamente desconhecido que os cientistas só agora começaram a mapear. Chegou o momento de pensar em si mesmo na segunda pessoa do plural.
Em números absolutos, os micróbios e seus genes nos dominam. Cada indivíduo é apenas 10% humano. Para cada célula humana intrínseca ao nosso corpo existem cerca de 10 micróbios residentes – incluindo alguns aproveitadores inofensivos, espécies benéficas e, em apenas um pequeno número de casos, agentes patogênicos.
Na medida em que seres humanos são uma coleção de informações genéticas, mais de 99% do nosso “código” é microbiano. E parece cada vez mais provável que este “segundo genoma”, como às vezes é chamado, exerce uma influência tão grande ou possivelmente maior sobre a nossa saúde do que os genes que herdamos de nossos pais. Mas, enquanto seus genes herdados são mais ou menos fixos, pode ser possível remodelar ou até mesmo cultivar o segundo genoma.
Justin Sonnenburg, um microbiólogo da Universidade de Stanford, sugere que as pessoas fariam bem em pensar no corpo humano como “uma embarcação elaborada e otimizada para o crescimento e a disseminação dos nossos habitantes microbianos”. Esta nova forma de pensar sobre nós mesmos tem grandes implicações para a saúde humana e microbiana, que são indissociáveis. Distúrbios em nosso ecossistema interno — uma perda de diversidade microbiana, por exemplo, ou a proliferação de tipos “errados” de micróbios — podem nos predispor à obesidade e uma série de doenças crônicas, bem como algumas infecções.
O pobre microbioma ‘ocidentalizado’
Cientistas descobriram há alguns anos que ratos obesos transplantados com as bactérias intestinais de ratos magros perdem peso, e vice-versa (Eles ainda não sabem o porquê). Um experimento semelhante foi realizado recentemente em humanos por pesquisadores da Holanda: quando o conteúdo da microbiota de um doador magro foi transferido para as entranhas de pacientes com síndrome metabólica, os pesquisadores descobriram melhorias notáveis na sensibilidade dos receptores de insulina, um importante marcador da saúde metabólica. De alguma forma, micróbios do intestino influenciaram o metabolismo dos pacientes.
Nossos micróbios residentes também parecem desempenhar um papel fundamental na formação e manutenção do nosso sistema imunológico, ajudando-o a distinguir com precisão entre células amigas e inimigas. Alguns pesquisadores acreditam que o aumento alarmante de doenças autoimunes no Ocidente pode estar associado a uma ruptura no relacionamento entre nossos corpos e seus micróbios.
Tal mudança de paradigma chega em boa hora porque a civilização humana passou a maior parte do último século fazendo o possível para destruir a microbiota e suas bactérias com uma dieta especialmente prejudicial ao bem-estar. Pesquisadores agora fazem referência ao “pobre microbioma ocidentalizado” e questionam se chegou o momento de embarcar em um projeto de “restauração da ecologia” do intestino humano.
* Publicado originalmente no jornal The New York Times e retirado do site Opinião e Notícia.