Diferenças que podem ser fisiológicas e/ou culturais. Quais podem gerar harmonia e quais conflito? Só o tempo poderá informar.
Sexo e cérebros
Uma nova técnica desenhou diagramas da fiação dos cérebros dos dois sexos. O contraste entre eles é esclarecedor.
Homens e mulheres não pensam da mesma maneira. Alguns poderão discordar disso.E a ciência mostrou algumas destas diferenças. Homens, já está bem estabelecido, têm melhores habilidades motor e espacial do que as mulheres e padrões monomaníacos de pensamento. As mulheres desfrutam de melhor memória, são mais sociáveis e sabem lidar melhor com várias coisas ao mesmo tempo. Há muita sobreposição, obviamente. Mas em média estes observações são verdadeiras.
Sugerir por que elas sejam verdadeiras em termos evolucionários é um jogo que qualquer um pode jogar. Uma ideia óbvia é que, naqueles dias de caça e coleta, os homens passavam mais tempo vagando longe nos campos e seus cérebros precisavam ser adaptados para encontrarem o caminho de volta. Eles também passaram mais tempo rastreando, lutando e matando, fossem eles animais ou vizinhos intrusos. As mulheres, ao contrário, interagiam entre si e criaram os filhos, precisando então estarem adaptadas para puderem manipular as emoções de cada um e de seus filhos para terem sucesso em seu mundo.
Descobrir por que as diferenças sexuais são verdadeiras em termos neurológicos – em outras palavras, como o cérebro se conecta para criá-las – é outra questão. Para jogar este jogo você tem que ter um grande conjunto de equipamentos muito caro e não apenas uma cadeira confortável para ficar filosofando. E é exatamente isso que Ragini Verma, da Universidade da Pensilvânia, e seus colegas têm. Como resultado, conforme eles descrevem no periódico Proceedings of National Academy of Sciences, eles foram capazes de mapear as diferenças nas maneiras como os cérebros masculino e feminino são cabeados e combiná-los, pelo menos para sua própria satisfação, com os estereótipos amados tanto da folclore como da psicologia.
Açúcar e especiarias ou rolinho de canela?
A neurologia foi revolucionária ao longo das últimas duas décadas por uma série de técnicas que podem escanear cérebros vivos. A técnica de escolha da Dra. Verma é a imagem de tensor de difusão. Isso segue as moléculas de água ao redor do cérebro. Como as fibras que conectam as células nervosas possuem bainhas gordurosas, a água nelas pode se difundir apenas ao longo de uma fibra, não através da bainha. Assim, a imagem de tensor de difusão é capaz de detectar feixes de tais fibras e ver onde eles estão indo.
A Dra.Verma e sua equipe aplicaram esta técnica a 428 homens e meninos, bem como em 521 mulheres e meninas. Os resultados estão sumarizado nos dois diagramas acima e mostram a média das tendências de conexão a partir da soma dos cérebros dos participantes.
As duas partes principais de um cérebro humano são os córtex ou lóbulos -frontal, parietal e temporal -, acima e em direção à frente, onde está o pensamento, e o cerebelo, abaixo e em direção ao dorso, que está ligado ao movimento. Cada um é dividido em hemisférios direito e esquerdo. Como os diagramas mostram, nos homens (a figura da esquerda) as conexões dominantes no cérebro são aquelas marcadas em azul, dentro dos hemisférios. Nas mulheres, são aquelas marcadas em laranja entre os hemisférios. No cerebelo (não visível porque está sob o cérebro), se dá o contrário.
Os cérebros são: à esquerda o masculino e à direita o feminino.
O que isto significa está aberto à interpretação, mas a opinião da Dra. Verma é que as diferenças de fiação fundamentam algumas das variações nas habilidades cognitivas masculinas e femininas. Acredita-se que os lados esquerdo e direito do cérebro, em particular, sejam especializados para o pensamento lógico e intuitivo, respectivamente. Em seu ponto de vista, a conversa cruzada entre os dois lados nas mulheres, sugerida pelos diagramas de fiação, ajuda a explicar suas melhores capacidades de memórias, aptidão social e habilidades de multitarefas, tudo isso se beneficiando pela colaboração dos hemisférios. Nos homens, em contraste, as conexões dentro do hemisfério permitem que eles se concentrem em coisas que não necessitam de insumos complexos de ambos os hemisférios. Por isso, a monomania.
Quando se trata do cerebelo, as conexões cruzadas extras entre os hemisférios nos homens servem para coordenar a atividade de todo o sub-órgão. Isso é importante porque cada metade controla, por si só, apenas uma metade do corpo. Portanto, os homens têm melhores habilidades motoras – ou, em termos leigos, são mais coordenados do que as mulheres.
Outra constatação importante da Dra. Verma é que a maioria dessas diferenças não é congênita. Em vez disso, elas se desenvolvem com a idade. Seus voluntários variavam de 8 a 22 anos de idade. Os cérebros de meninos e meninas de 8 a 13 anos demonstraram apenas algumas diferenças, embora todos fossem do tipo que mais tarde se tornaram pronunciados. Adolescentes, com idades entre 13 e 17 anos, mostraram mais diferenças. E os jovens adultos, com mais de 17 anos, ainda mais. Diferenças de sexo nos cérebros – aquelas visíveis a essa técnica, pelo menos – se manifestam principalmente quando o próprio sexo começa a importar.
O trabalho da Dra. Verma é importante não só pelo que demonstrou, mas também como uma demonstração do poder da imagem de tensor de difusão. Estudar o cérebro, particularmente o cérebro vivo, é um problema científico excepcionalmente difícil. O governo americano prometeu recentemente gastar quantias consideráveis de recursos com a iniciativa com a alcunha de BRAIN – o inevitável acrônimo inventado que supostamente significa Brain Research por meio das Advancing Innovative Neurotechnologies.
Como o nome sugere, os avanços na pesquisa em assuntos relacionados ao cérebro dependem do desenvolvimento de melhores meios de observar os cérebros enquanto estão vivos e ativos. E isso será difícil. Mas trabalhos como o da Dra. Verma mostra as recompensas em fazê-los.
Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, março de 2018.