O ex-vice-presidente norte-americano, Al Gore, e o ex-banqueiro de investimento da Goldman Sachs, David Blood, atuais sócios da Generation Investment Managament, lançaram recentemente o documento Um Manifesto para o Capitalismo Sustentável.
http://envolverde.com.br/economia/empresas/um-pensamento-sustentavel-para-as-empresas/?utm_source=CRM&utm_medium=cpc&utm_campaign=20-[2012-03-20-08%3A30%3A42]
por Sérgio Mindlin*
Nesse manifesto, publicado originalmente no Wall Street Journal, Gore e Blood defendem pensar a economia a longo prazo, dando especial atenção aos danos que a busca pelo lucro imediatista a qualquer custo pode acarretar para o meio ambiente e para a sociedade.
Como poderemos verificar no decorrer deste comentário, trata-se de uma proposta absolutamente coerente com a Plataforma por uma Economia Inclusiva, Verde e Responsável, com a qual o Instituto Ethos vem trabalhando desde 2010. Nessa plataforma, lança-se justamente a ideia de que não é sustentável um mundo cujo foco é o retorno imediato do investimento e no qual pelo lucro vale qualquer atitude e ação. Precisamos pôr em prática um modelo de economia que promova a inclusão social e o equilíbrio ambiental e atue de maneira transparente, baseando-se na ética em todos os seus encaminhamentos.
Como se vê, Al Gore, que ganhou um Oscar pelo documentário Uma Verdade Inconveniente (pioneiro na revelação das consequências do aquecimento global), e David Blood estão pensando na mesma direção e publicam o seu manifesto no veículo por excelência do mercado financeiro – o Wall Street Journal.
Introduzem a ideia de pensamento econômico de longo prazo, citando Omar Bradley, general norte-americano da Segunda Guerra. Ele disse naquela época: “É tempo de sermos guiados pelas estrelas, e não pelas luzes de cada navio que passa”. Com esta frase, Gore e Blood começam a falar sobre a importância de se abandonar o pensamento econômico de curto prazo como primeira atitude para lançar as bases do capitalismo sustentável.
Os autores lembram que desde antes da crise eles e outras pessoas vêm alertando o mundo em favor de uma forma mais responsável de capitalismo, o capitalismo “sustentável”, entendido como um framework que busca maximizar o valor da economia de longo prazo por meio da reforma dos mercados e da integração do social, do ambiental e da governança.
Eles chamam atenção para o fato de que, no atual momento da economia mundial, é preciso parar e fazer uma avaliação de quais atitudes devem ser adotadas de agora em diante, quais os impactos que elas acarretarão à sociedade e ao meio ambiente e, se forem grandes, como minimizá-los.
Para eles, é imprescindível minimizar esses impactos por meio do abandono do pensamento nos lucros imediatos e o engajamento numa maneira de atuar focada no longo prazo, para poder pensar a sustentabilidade de maneira clara e prioritária.
Os sinais de que o planeta está em seu limite, e que a busca incessante pelo imediato está causando problemas, são mostrados a todo momento nos noticiários: mudanças climáticas, escassez de água, doenças, crescente desigualdade de renda, pobreza, volatilidade econômica e muitos outros.
A empresa não pode fazer o trabalho do governo ou da sociedade, mas tem o importante papel de repensar suas atividades e mobilizar o capital necessário para superar os desafios que estão à nossa frente. O que é preciso é uma reforma na maneira de encarar os mercados, de modo que atendam as reais necessidades da sociedade, integrando as métricas ambientais, sociais e de governança em todo o processo.
Na verdade, o capitalismo sustentável, que se aplica a toda a cadeia de valor de investimento e a toda atividade existente nela, deve transcender fronteiras e classes. O manifesto mostra ainda que as empresas que defendem essa forma de capitalismo agregam valor a sua imagem, pois estão diminuindo os danos causados ao meio ambiente e à sociedade. Além disso, as empresas e os investidores que incorporam o capitalismo sustentável aos seus negócios aumentam a lucratividade no longo prazo.
No manifesto são citados quatro importantes benefícios às empresas:
– o mercado e os consumidores estão atentos a comportamentos sustentáveis e isto faz com que uma empresa que desenvolva produtos e serviços sustentáveis fique em vantagem em relação às demais;
– o capitalismo sustentável também auxilia as empresas a poupar dinheiro, uma vez que reduz o desperdício;
– as empresas, ao pensar nas métricas ambientais, sociais e de governança, acabam tendo maior adesão às normas e gerenciam melhor seus riscos;
– o desenvolvimento sustentável acarreta maiores lucros financeiros, pois esse pensamento afeta a imagem e o valor das empresas a longo prazo.
O manifesto termina citando cinco ações que as empresas devem adotar para incorporar esse novo modelo econômico para o crescimento mundial, com a crença de que o capitalismo sustentável vai criar oportunidades e recompensas, mas também significará desafiar a ortodoxia perniciosa do curto prazo.
São elas:
– identificar e incorporar os riscos àquele patrimônio cujo valor mudaria drasticamente, positiva ou negativamente, se ocorressem grandes externalidades;
– tornar obrigatórios os relatórios integrados;
– acabar com os relatórios trimestrais de orientação de investimento;
– alinhar estruturas de remuneração com desempenho sustentável de longo prazo;
– incentivar o investimento de longo prazo.
São sugestões controversas, algumas, mas dentro do espírito de discussão que já deveria estar mais espalhado pela sociedade, dada a proximidade da Rio+20. A questão do pensamento de longo prazo e suas decorrências serão muito discutidos na conferência da Organização das Nações Unidas. Serão também um dos assuntos da Conferência Ethos 2012, que terá como tema central “A Empresa e a Nova Economia: o Que Muda com a Rio+20”, e será realizada um pouco antes da Rio+20, entre 11 e 13 de junho, em São Paulo.
* Sérgio Mindlin é presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos.
** Publicado originalmente no site Instituto Ethos.