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15/03/2022
Pesquisa da USP confirmou os malefícios dos alimentos industrializados e aditivados para jovens. Aqueles que comem ultraprocessados em ao menos metade de suas refeições têm 63% mais chance de acumular gordura visceral – a que faz mal ao coração
Jovens que comem muitos alimentos ultraprocessados têm mais risco de ficarem obesos, constatou pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) com base em dados de 3.587 brasileiros com idades entre 12 e 19 anos. Segundo matéria da agência Fapesp, os adolescentes foram divididos em três grupos: aqueles que consomem até 29% dos gramas totais de sua dieta em ultraprocessados, os que comem entre 29% e 47% e, em terceiro, os cuja alimentação é constituída por mais de 48% desses alimentos. Os do último grupo tinham 45% mais chance de chegar à obesidade, 52% de acumular gordura abdominal e, mais preocupante, 63% de acumular gordura entre os órgãos – a chamada gordura visceral, mais perigosa e relacionada com doenças como hipertensão e maior risco de mortalidade (nt.: ver essa matéria de uma reunião de 1999, que demonstra como as corporações que lidam com alimentos -ultraprocessados/junk food- já sabiam dessa situação e nada mudaram. É ou não é um crime corporativo?).
Alimentos e bebidas ultraprocessadas são aquelas que recebem aditivos químicos para ficar mais atraentes à visão, paladar e olfato – mas que se tratam mais de uma formulação alimentícia do que com algo parecido com comida de verdade. Vão desde o tabletinho do caldo de carne até o requeijão, do refrigerante ao pão de forma, do macarrãozinho que fica pronto em três minutos à bolacha industrializada de aveia e mel. Açúcar, farinha, queijos e pães artesanais são os processados. Leite, carne, frutas e verduras são chamados de alimentos in natura – os mais saudáveis e que constituem 53% da dieta dos brasileiros em geral.
Essa classificação de alimentos foi uma criação da ciência brasileira. Um grupo de pesquisadores do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da Faculdade de Saúde Pública da USP, liderado por Carlos Augusto Monteiro, percebeu e associou as mudanças no processamento das comidas e sua relação com doenças crônicas não-transmissíveis. Sua pesquisa foi base para a criação do Guia Alimentar para a População Brasileira, lançado em 2014, que é referência mundial. Desde então, pesquisas vêm provando continuamente que o alto consumo de ultraprocessados faz muito mal à saúde.
A pesquisa feita com adolescentes brasileiros mostrou resultados muito semelhantes a outras feitas em países como Argentina, Austrália, Chile, Colômbia, México, Estados Unidos e Reino Unido. Em todos os países, a correlação do maior consumo de ultraprocessados com obesidade foi confirmada. Mas há grande dessemelhança entre as nações em relação à dieta: enquanto no Brasil a participação média desses alimentos industriais é de 27% e na Colômbia de 19%, a alimentação no Norte global é muito pior. Britânicos comem 68% de ultraprocessados em suas refeições, norte-americanos, 66%. A comida brasileira ainda é motivo de orgulho. Mas a volta da fome ao país e a desregulação dos mercados estão invertendo essa tendência – especialmente entre os mais pobres.