TRANSGÊNICOS-Ajustando a Precisão do Registro sobre os OGMs.

A história contada por Michael Specter no periódico The New Yorker sobre o trabalho da Dra. Vandana Shiva para proteger a dos efeitos dos (Genetically Modified Organisms/GMOs), acabou distorcendo os fatos e ficando aquém dos altos padrões de justiça usuais da revista.

 

http://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2015/01/06/setting-the-record-straight-on-gmos.aspx

 

By Navdanya International (http://www.navdanya.org/Vandana Shiva)

GMO Corn Field

Em uma peça publicada na edição de 20 de agosto de 2014 do periódico ‘The New Yorker’ (e no subsequente arquivo de áudio digital -podcast- de seu website), Specter deixa bem claro de que ele não abordou este tema simplesmente como um jornalista, mas também como um forte crente nos transgênicos. Não faz segredo sobre o fato de que considera uma oposição a eles como algo sem fundamento.

Mas Specter faz seu o caso ao ignorar uma considerável quantidade de evidências que contradizem diretamente suas opiniões. Ao desconsiderar estes fatos e questões importantes – científicas, econômicas e jurídicas – ele permite que seus preconceitos pessoais minem o equilíbrio jornalístico. O produto final é uma história que espelha os falsos mitos perpetuados pela transnacional  em seu website e presta um verdadeiro desserviço aos leitores da revista New Yorker.

Em vez e permitir que os leitores pesassem ambos os lados do argumento e decidissem por eles mesmos, Specter faz isso por eles. Ele apaga um lado do debate a fim de inclinar a balança em favor dos transgênicos. Os leitores do texto “Seeds of Doubt” (nt.: ver artigo – http://www.newyorker.com/magazine/2014/08/25/seeds-of-doubt e resposta da entrevistada “Seeds of true” -http:// permaculturenews.org/2014/09/02/seeds-truth-vandana-shiva-responds-new-yorker/) poderiam facilmente ficar com a impressão de que o debate a respeito da utilidade e segurança dos OGMs está definida. Nada está mais longe da verdade.

Os perigos colocados pelos transgênicos é a preocupação principal (mainstream concern) e o debate sobre sua segurança e valor para a sociedade está longe de finalizado. A falha de Specter em reconhecer isso, solapa seu argumento em apoiar os transgênicos/OGMs e prejudica a reputação de jornalismo com qualidade da New Yorker.

Specter fundamenta suas críticas à Dra. Shiva em mitos facilmente desmentidos que são comumente repetidos pela indústrias da biotecnologia, a Monsanto Company e outros produtores de transgênicos/OGM (GMO) (Monsanto et al.) além de seus apoiadores.

Abaixo, nós iluminamos seus maiores erros e omissões, fornecendo links que apoiam pesquisas e artigos que os refugam. Encorajamos aqueles que tomaram algum tempo para verem o artigo de Specter que dediquem igual tempo aos fatos e vozes que ele escolheu ignorar completamente.

Erro #1: Distorção da Relação entre oGMs e a Fome

Specter baseia seu ataque ao ativismo da dra. Shiva a respeito do mito comumente repetido pela indústria sobre a relação entre os transgênicos e a fome. Exatamente como a Monsanto que, há alguns anos, vem clamando de que, sem o agrotóxico (nt.: organoclorado) carcinogênico DDT, poderia o planeta ser invadido pela morte e pelas pragas/insetos (overrun by death and bugs)(nt.: ver abaixo sobre a oposição desta empresa à Rachel Carson, em 1962, pela publicação do livro ‘Primavera Silenciosa’). Agora a indústria dos transgênicos/OGMs clama novamente de que a oposição aos OGMs deve nos levar à fome. Ao repisar esta linha de racioncínio, Specter especificamente invoca a Fome da Índia em Bengala no ano de 1943.

No entanto, como qualquer um que estuda a fome, sabe que o que aconteceu em Bengala não foi resultado da escassez de alimentos. Com o trabalho do economista de Harvard e ganhador do prêmio Nobel, Amartya Sen e outros, fica esclarecido que a fome de Bengala – como muitas outras – tive lugar quando o país tinha adequada produção de alimentos. “A fome muitas vezes tem lugar em situações  onde a disponibilidade de alimentos é de moderada a boa sem qualquer declínio do suprimento alimentar por cabeça” escreveu o Dr. Sen em seu trabalho Ingredients of Famine Analysis: Availability and Entitlements.

“Subnutrição, inanição e fome são influenciadas pela atividade global da economia e da sociedade – não somente a produção de alimentos e outras atividades agrícolas”, observou o Dr. Sen em Famines and Other Crises. “Pessoas sofrem fome quando não podem estabelecer seu direito sobre uma quantidade adequada de alimentos”.

No livro Churchill’s Secret War (nt.: considerado entre muitos como uma bomba já que mostra o lado negro do estadista britânico, visto como um grande herói por muitos), Madhusree Mukerjee documenta como o desprezo, bem documentado de Winston Churchill pelo povo indiano, resultou numa insensível indiferença levando à fome em Bengala. Mukerjee, ex-editora do periódico Scientific American e agraciada com um bolsa  de estudos da fundação Guggenheim, levou a análise de Sen a um passo adiante, arguindo que Churchill permitiu que a fome (allowed the famine) fosse usada como parte de uma estratégia para a manutenção do controle do Rajá inglês sobre a Índia.

Não há nenhuma questão de que Churchill, que considerou os indianos como sendo “pessoas bestiais (beastly people) e uma religião bestial” e que se referia a Mahatma Gandhi como um “fanático subversivo maligno”, ignorou repetidamente os apelos para enfrentar a fome. Em vez disso, os ingleses exportavam grãos da Índia enquanto milhões de indianos morriam de fome.

O comportamento inescrupuloso de Churchill gerou uma reprimenda de Lord Wavell, vice-rei britânico da Índia, que chamou-o de “negligente, hostil e desprezível”.

A Fome de Bengala de 1943, pode-se observar que não foi a primeira a se desdobrar enquanto a Índia esteve sob o domínio do Império Britânico. Como Mike Davis documentou em seu livro Late Victorian Holocausts: El Nino Famines and the Making of The Third World (nt.: publicado na Inglaterra em dezembro de 2000. Trata das grandes fomes em função de questões climáticas, relacionando também com o colonialismo e o surgimento do capitalismo), a Grã-Bretanha teve por longo tempo a prática de exportar alimentos (exporting food) enquanto milhões de indianos passavam fome. Escreve Davis:

“Entre 1875–1900 —um período que incluiu a pior fome na história indiana—a exportação anual aumentou de 3 a 10 milhões de toneladas”.

Ao ignorar completamente as causas da Fome de Bengala, Specter ilude os leitores com esta referência. Em muitos casos, incluindo o caso que ele cita, a fome ocorreu apesar da produção abundante de alimentos. O problema era porque uma força indiferente dominante controlava o suprimento de alimentos e deixou de agir no melhor interesse do povo.

Da mesma forma como os ingleses exportavam arroz e impunham taxas exorbitantes enquanto o povo de Bengala sofria,  a Monsanto et al. hoje em dia impõem aos pobres agricultores altas taxas excedentes de royalties por suas sementes. Isso força-os mais profundamente em direção à pobreza e torna para eles, muito pesado alimentar suas famílias.

Se a Monsanto quisesse reduzir a fome, ela não estaria fazendo tanto para impor a pobreza profunda aos agricultores através de seu esquema monopolista supervalorizado de sementes que perpetua uma insustentável dependência. A assertiva de Specter de que estas corporações, ávidas por lucros, são o antídoto à fome, deixa tudo com um sentido nulo para aqueles que vem estudando a fome.

Além disso, a afirmativa de Specter parece estar baseada no mito desmascarado de que as sementes geneticamente modificadas aumentam as colheitas agrícolas. Um estudo feito pela Union of Concerned Scientists – “Failure to Yield” (nt.: Fracasso na colheita)– detectou que tais afirmações são exageradas. Em vez disso, de acordo com o relato, ele está baseado em análises de revisão aos pares da literatura científica.

“A maior parte dos ganhos são devidos a reprodução tradicional ou por melhoria de outras práticas culturais”. Mesmo nos EUA, cultivos não transgênicos têm mostrado melhores progressos nas colheitas do que os transgênicos, de acordo com pesquisa (research) conduzida pelo US Department of Agriculture e a Universidade de Wisconsin.

Este relato e outros (and others) mostram que quando os produtos geneticamente modificados são confrontados com outros métodos e tecnologias agrícolas, eles são somente um contribuinte menor para a produtividade. Outros métodos são mais importantes.

Se não houvesse nada, os transgênicos e as monoculturas podem, na verdade, aumentar o risco (increase the risk) de fome e o ecocídio, já que eles geram disfunções de nosso sistema natural de alimentos de formas sem precedentes, violando o Princípio de Precaução (Precautionary Principle). De um recente relato publicado pela Escola de Engenharia em sua Iniciativa de Risco Extremo da New York University (NYU):

Invocar o risco da fome como uma alternativa para os transgênicos é uma estratégia enganadora, não é diferente do que encorajar pessoas a fazerem a roleta russa para saírem da pobreza. Ao alegar a fome também impede o pensamento claro não exatamente sobre os transgênicos em si, mas também sobre a fome global. A ideia de que os transgênicos podem auxiliar a evitar a fome, é desconhecer a evidência de que o problema da fome global é devido às políticas agrícola e da economia para os pobres. Aqueles que se preocupam com o suprimento dos alimentos, poderiam advogar por um imediato impacto sobre o problema com a redução da quantidade de milho usado para produzir etanol (ethanol) nos EUA. É a queima de alimento como combustível, consumindo mais de 40% do cultivo dos Estados Unidos que poderia prover alimento suficiente para alimentar 2/3 de um bilhão de pessoas”.

Notavelmente, a Monsanto é o maior produtor de milho OGM projetado para simplificar a conversão de um alimento básico em etanol (ethanol) (em vez de ser para aliviar a fome no mundo). Conclusão: Specter ter abraçado o discurso de fome no mundo, propalado pela indústria dos transgênicos/OGMs, mostra que pretere a pesquisa do economista, ganhador do prêmio Nobel, quanto às raízes da Fome de Bengala bem como de outras situações de fome no mundo.

Em adição, a assertiva de que os OGMs aumentam os rendimentos dos cultivos (e daí os suprimentos alimentares) é exagerada. Em particular, ele desconhece a disponibilidade de outros métodos, como o melhoramento convencional dos cultivos que têm mais sucesso quanto ao aumento da produtividade. Finalmente, como o trabalho do NYU indica, contribui para monoculturas de alguns cultivos que não são usados prioritariamente para alimento, muito menos para ser comida que auxiliasse as pessoas desnutridas, aumentando provavelmente – em vez de diminuir a insegurança alimentar. Este argumento muito bem fundamentado é completamente ignorado. Além disso, deve-se observar que o público europeu tem rejeitado amplamente os alimentos transgênicos quando cria sociedades com menos insegurança alimentar do que os Estados Unidos.

“Objetamos veementemente com a imagem de que pobre e fome de nossos países estejam seja usada pelas corporações gigantes multinacionais para empurrarem uma tecnologia que não é nem segura nem ambientalmente corretas além de muito menos economicamente benéfica para nós. Acreditamos que isso irá destruir a diversidade, o conhecimento local e os sistemas agrícolas sustentáveis que nossos fazendeiros desenvolveram por séculos e que poderá então prejudicar nossa capacidade de nos alimentarmos nós mesmo”. – Declaração da Food and Agriculture Organization (FAO) das Nações Unidas pela representação de África do Sul, em 1998.

Erro #2: Obscurece a Vasta Diferença entre o transgênico/oGM e o Natural

Specter também repete a falsa reivindicação de que companhias de transgênicos como a Monsanto estão fazendo ao nosso alimento e plantas não é fundamentalmente diferente do que vem sendo feito por séculos. Ele escreve: “Praticamente todas as plantas e cultivares que plantamos – milho, trigo, arroz, roseiras, árvores de Natal – vêm sendo geneticamente modificados [sic] através do melhoramento para durarem mais tempo, terem melhor aspecto, serem mais doces ou crescerem mais vigorosamente em solos áridos”.

Mas as vastas diferenças entre melhores métodos que empregam processos que comumente ocorrem na natureza e aqueles utilizados pelos laboratórios das corporações dos transgênicos, são substanciais. Por um lado, muitas vezes são introduzidas nos transgênicos proteínas que previamente não existiam nos suprimentos alimentares, como nossa comida. As proteínas provenientes de organismos, tais como bactérias, que normalmente não podem colocar seus genes em nossas culturas alimentares, mas que acabam entrando em nossos corpos quando consumimos esses alimentos transgênicos. Nós não entendemos completamente seus efeitos sobre a saúde humanaIsto é especialmente verdadeiro porque os sistemas regulatórios não testam exaustivamente quanto à sua segurança. Nos EUA, são as próprias empresas interessadas que querem comercializar estes produtos que realizam a maior parte desses testes.

“Não há comparação entre remendar a criação seletiva de componentes genéticos de organismos que tenham sido previamente objeto de extensas histórias de seleção e de um processo de engenharia top-down de tomar um gene de um peixe e colocá-lo em um tomate“, diz o autor do trabalho da Universidade de Nova York Extreme Risk Initiative (paper). “Dizer que tal produto é natural, é esquecer o processo de seleção natural pela qual as coisas tornam-se verdadeiramente ‘naturais'”.

Dr. George Wald, ganhador do prêmio Nobel em Fisiologia e Medicina em 1967, deu o alarme sobre estas preocupações muito antes dos consumidores tornarem-se conscientes delas:

“A tecnologia de DNA recombinante [engenharia genética] confronta nossa sociedade com problemas sem precedentes não somente na história da ciência, mas também em relação à Vida na Terra… Até agora os organismos vivos vêm se desenvolvendo muito lentamente e novas formas tiveram tempo de sobra para se aquerenciar no planeta. Agora proteínas completas serão transportadas de supetão, inteiramente, para novas associações completas, com consequências que ninguém pode prever, tanto para o organismo hospedeiro como seus vizinhos. É tudo muito grande e está acontecendo muito rápido. E isso, o problema central, permanece quase impensado. Isso representa, provavelmente, o maior problema ético que a ciência já teve que enfrentar”.

Estas questões irrespondíveis e os problemas éticos acabaram resultando uma ampla preocupação pública quanto aos transgênicos. Mais do 90% dos norte americanos acreditam que os transgênicos deveriam estar rotulados e a maioria diz que evitariam sua compra se eles fossem identificados. Como resultado, a Monsanto et al. têm gasto milhões de dólares para matar as proposições (kill proposals) para se rotular os transgênicos. A Monsanto et al. não tiveram sucesso na Europa. Não obstante milhões de toneladas de alimento animal sejam vendidos para a Europa (sold to Europe) a cada ano, leis sobre rotulagem associadas com revisões científicas baseadas no Princípio da Precaução, em conjunto com o ceticismo quanto aos produtos transgênicos, têm tornado quase impossível a venda de produtos transgênicos por lá.

A recusa dos cidadãos europeus de servirem de rato de laboratório para os experimentos da Monsanto, tem impedido (hampered) os esforços da companhia de se expandir por lá. Efetivamente, não são os ativistas que têm expressado preocupação legítima quanto aos transgênicos. Governos e cientistas percebem também claramente a diferença entre os produtos naturais e os transgênicos, tomando medidas para se protegerem contra danos potenciais.

No entanto, Specter ignorou completamente este problema, fazendo uma comparação simplista para equiparar essencialmente o transgênico com produtos naturais e acabar com uma das principais preocupações dos oponentes a elecom uma frase inteligente. Mas de acordo com a Organização Mundial de Saúde (World Health Organization), organismos geneticamente modificados (OGM) podem ser definidos como organismos (ou seja, plantas, animais ou microrganismos) em que o material genético (DNA) foi alterado de uma forma que não ocorre naturalmente por meio de cruzamentos e/ou recombinação natural“. Em um podcast que acompanha a peça de Specter no site da New Yorker, ele vai tão longe, a ponto de negar que os alimentos orgânicos são mais saudáveis do que alimentos transgênicos. Esta alegação é contestada por muitos estudos revisados por especialistas (peer-reviewed studies).

Conclusão: A comparação de Specter entre a moderna engenharia biotecnológica e outros tipos de cruzamento ou hibridização está completamente equivocada. Muitos especialistas, incluindo o ganhador do prêmio Nobel (Nobel Prize winner), têm verbalizado por que os transgênicos não são normalmente encontrados na natureza e representam um território científico desconhecido. A super simplificação de Specter das diferenças entre os produtos naturais e os transgênicos gera uma desinformação para os leitores.

Error #3: negação do Debate sObre os perigos para a saúde gerados pelos transgênicos

O trabalho de Specter aceita como fato, o falso argumento de que os transgênicos não trazem perigos tanto à segurança como à saúde pública. Ele ignora pesquisa séria e questionamentos indiscutíveis sobre os riscos colocados à saúde pelos transgênicos.

Por exemplo, em 2013, um grupo de quase 300 cientistas da European Network of Scientists for Social and Environmental Responsibility (ENSEER) assinaram uma declaração pública convidando (signed a public statement calling) as corporações dos transgênicos, os comentaristas e os jornalistas a pararem de repetir a falsa reivindicação de que há um “consenso científico” que considera os transgênicos seguros.

Sentimo-nos compelidos a emitir esta declaração, porque o reivindicado consenso sobre a segurança dos transgênicos não existe“, escreveram eles. “A alegação de que ela existe é enganosa e deturpa as evidências científicas atualmente disponíveis e da ampla diversidade de opiniões entre os cientistas sobre esta questão. Além disso, a alegação incentiva um clima de complacência, que poderia levar a uma falta de rigor científico e regulamentar e cuidado adequado, potencialmente colocando em risco a saúde das pessoas, animais e meio ambiente“.

O Center for Food Safety tem feito um excelente trabalho de destacar o potencial dos riscos dos transgênicos (risks of GMOs) sobre a saúde humana, incluindo toxicidade, reações alérgicas, resistência a antibióticos, imunossupressão, câncer e perda de nutrição. A Monsanto et al. bem como os apoiadores normalmente negam quaisquer conexão entre os transgênicos/OGMs e os efeitos negativos à saúde, dizendo não haver evidências científicas para provarem isso.

No entanto, como o Centro de Segurança Alimentar aponta, “o [FDA] também não requer qualquer teste de segurança pré-mercado de alimentos transgênicos. A falha da agência de exigir testes ou rotulagem de alimentos transgênicos transforma milhões de consumidores em cobaias, sem saber, ao não realizar testes quanto à segurança de dezenas de produtos alimentares geneticamente alterado”.

Specter levanta a alegação comum de que ninguém foi prejudicado por consumir alimentos geneticamente modificados, apesar de todos estes anos de uso generalizado nos EUA. Mas como acontece com outros possíveis riscos à saúde, danos de longo prazo à ela só podem ser determinados ao se fazer estudos epidemiológicos, como tem sido feito para inúmeros outros possíveis riscos à saúde. No entanto, esses estudos nunca têm sido feitos para os alimentos geneticamente modificados.

O trabalho sobre transgênicos publicado pelo Extreme Risk Initiative junto à Escola de Engenharia da Universidade de Nova York cutuca nas falhas da ideia de que, porque nós não entendemos completamente os riscos dos OGM, eles não devem existir: “A falta de observação de danos explícitos não demonstra ausência de risco escondido Para expor um sistema inteiro para algo cujo dano potencial não é entendido em função de que os modelos existentes não preveem um resultado negativo não é justificável; as variáveis relevantes podem não ter sido devidamente identificadas“.

Agregando a possíveis perigos colocados pelos transgênicos devidos à substituição genética natural, há um risco adicional dos agrotóxicos. Como levantado pela mídia, New York Times, Reuters, Forbes e muitas outras, que vêm confirmando de que os cultivos de transgênicos resultou num aumento no uso (increased use) de agrotóxicos em geral, destacando os herbicidas.

Para a Reuters: “As culturas geneticamente modificadas têm levado a um aumento geral no uso de agrotóxicos, em 202 mil toneladas desde o tempo em que foram introduzidos até 2011, de acordo com o relatório de Charles Benbrook, professor e pesquisador junto ao Sustaining Agriculture and Natural Resources da Universidade do Estado de Washington”. O trabalho do Dr. Benbrook pode ser encontrado aqui (here).

Este crescimento no emprego de toxinas perigosas nos cultivos, coloca riscos conhecidos à saúde humana. Estudos altamente confiáveis têm conectado exposição aos agrotóxicos  a um aumento de uma série de importantes enfermidades humanas (illnesses), incluindo muitos cânceres, disfunção endócrina, danos à reprodução e mesmo ao autismo (autism).

Pesquisa (research) recente da Universidade da Califórnia em Davis, detectou que “mães que viviam dentro de aproximadamente meio quilômetro de onde foi aplicado agrotóxico, tinham 60% maiores riscos de terem uma criança com qualquer espectro de desordens autistas, como a síndrome de Asperger”, de acordo com Sacramento Bee.

“O volume de evidências está começando a sugerir que a exposição materna durante a gravidez pode desempenhar um papel no desenvolvimento de desordens no espectro do autismo”, diz Kim Harley, diretora associada do Centro para Pesquisa Ambiental e Saúde da Criança da Universidade da Califórnia, em Berkeley.

O estudo de Davis da Universidade da Califórnia foi o mais recente trabalho que estabeleceu uma possível conexão entre a exposição a agrotóxico e autismo. Claramente, questões sérias têm sido levantadas e mais pesquisas a serem feitas. No entanto, Specter falha ao omitir quaisquer destas questões.

Conclusão: Mais uma vez, Specter omite ou ignora importante pesquisa que levanta questões sobre saúde e segurança quanto aos transgênicos. Ao fazer isso, ele obscurece o fato sobre as preocupações da Dra. Shiva e de outros, quando se expressam quanto aos perigos dos transgênicos, estarem fundamentadas em pesquisa confiável e em investigação legítima científica. A confiança de Specter sobre a clássica falácia do “straw man” (nt.: é a falácia do espantalho onde o argumento usado, ignora a posição do adverso e a substitui por uma visão distorcida, representando de forma errada aquela posiçãoé o que se espera de polemistas que escrevem na Fox News ou Breitbart News, mas é preocupante para um jornalista que escreve em uma publicação respeitável.

Error #4: apagando a conexão entre as sementes da Monsanto e o suicídio dos plantadores de algodão na índia.

Specter nega qualquer conexão entre a Monsanto e a epidemia de suicídio de agricultores na Índia, atribuindo suas mortes principalmente a estresse financeiro do plantio. Sua explanação espelha a explanação que a Monsanto postou numa seção de seu website dedicada a negar qualquer ligação sua aos suicídios dos agricultores. E exatamente como a Monsanto, Specter ignora a questão chave: o papel da Monsanto na criação do endividamento e do estresse financeiro que levaram muitos agricultores ao suicídio.

Os cotonicultores estão em uma crise profunda desde a mudança para o algodão transgênico Bt (nt.: esta variedade transgênica abriga em si a capacidade de produzir a toxina do Bacillus thuringiensis/Bt em cada célula de seu organismo, inclusive aquelas que ingerimos e colocamos sobre o corpo). A torrente de suicídios de agricultores em 2011-12 tem sido particularmente severa entre os cotonicultores que usam o algodão Bt”Memorando do Ministro indiano, citado (quoted) no periódico Hindustan Times.

O marketing das sementes transgênicas na Índia resultou de que, amplamente, os agricultores aderiram ao plantio delas sem a adequada informação sobre seu uso e valor. Specter exagera enormemente os efeitos das sementes transgênicas sobre o rendimento dos cultivos quando autoridades atribuíram os maiores ganhos de produtividade a outras tecnologias (other technologies), tal como aumento da irrigação.

Estas sementes são extremamente caras se comparadas às normais, mas elas vêm com a promessa de resultados irreais. Quando estas promessas provam ser falsas, um alarmante número destes agricultores  – afogando-se em dívidas piorado significativamente pelo regime de preços da Monsanto – terminou suas vidas bebendo agrotóxicos. Como o irmão de uma vítima de suicídio em Maharashtra, coração da região do plantio de algodão na Índia, contou ao premiado repórter Andrew Malone em 2008:

“Ele foi estrangulado por estas sementes mágicas. Eles nos vendem as sementes, dizendo que elas não necessitarão de agrotóxicos caros, mas na verdade, precisam. Temos que comprar as mesmas sementes da mesma companhia, todos os anos. Estas companhias estão nos matando. Por favor, diga ao mundo o que está acontecendo aqui”.

A Monsanto aprisiona os agricultores indianos em um regime monopolista de sementes dispendiosas, elevando seus níveis de endividamento. Specter e outros tentaram transferir a culpa destes suicídios para o tal “endividamento”, não levando em conta o papel da Monsanto em auxiliar para a criação deste realidade. Assim, a companhia não pode ser absorvida desta responsabilidade.

Para atacar a defesa da Dra. Shiva quanto a estes agricultores, Specter seleciona com cuidado os dados no sentido de negar por completo a epidemia de suicídios. Mais flagrantemente, ele usa a média nacional de suicídios da Índia para argumentar sobre a noção de que o número de suicídios aumentou. No entanto, como a Dra. Shiva observa em sua refutação (rebuttal) a Specter, a epidemia de suicídio está entrada nas regiões onde se planta o algodão, que é Vidarbha, no estado de Maharashtra – após o algodão dispendioso Bt da Monsanto (uma cepa de transgênico) ter criadou raízes.

De uma história de julho de 2014 (story), publicado no jornal The Hindu:

“Com o maior número de suicídios de agricultores registrados no ano de 2013, Maharashtra continua a pintar um quadro sombrio da frente agrícola com mais de 3.000 agricultores que tiraram suas vidas. De acordo com um relatório recente do National Crime Records Bureau (NCRB), um total de 3.146 agricultores se mataram no estado no ano de 2013. Maharashtra repete este mesmo desempenho apesar do estado ter registrando 640 suicídios de agricultores a menos do que em 2012.”

De um trabalho (paper) publicado no periódico Indian Journal of Psychiatry em 2008:

“[A] maioria dos casos de suicídios vêm das áreas com plantio de algodão. Os cotonicultores na Índia pagam maiores preços dos insumos tipo sementes, agrotóxicos, fertilizantes, eletricidade, água e trabalho ao passo que o preço do algodão caiu junto com o decréscimo da produtividade”.

A falha de Specter de reconhecer o fato de que a epidemia de suicídio dos agricultores está centrada nesta região de algodão, onde as sementes de algodão transgênicos Bt da Monsanto, significativamente mais caras e que agora dominam, é uma omissão reveladora. Os preços aumentaram exponencialmente desde a introdução destas sementes da Monsanto. Como o Ministério da da Índia colocou: “Os produtores de algodão estão em uma profunda crise desde a mudança para este transgênico. A onda de suicídios de agricultores em 2011-12 foi particularmente severa entre os produtores de algodão Bt“.

Além de elevar a dívida do agricultor por fazerem o custo da semente significativamente mais alto, as sementes do algodão  transgênico da Monsanto aumentou a pressão sobre os produtores em razão deste cultivo necessitar mais irrigação para poder crescer. Em regiões secas onde a água é escassa, esta mescla de preços de sementes aumentados e crescimento da dependência da irrigação, pode ter devastado os agricultores. Com foi reportado (reported) em setembro pelo periódico Times of India, os especialistas em agricultura indiana estimulam os agricultores a abandonarem as sementes transgênicas e retornarem ao algodão natural que é mais acessível e mesmos dependente de irrigação.
 
Ao contrário de Specter, o governo indiano e outras organizações de imprensa respeitáveis fizeram a conexão, seriamente, da Monsanto à epidemia de suicídios de agricultores. Transferir a culpa para o endividamento”, no mínimo, não absolve Monsanto. Em vez disso, Specter repete o uso de uma tática bem específica simplificação excessiva -, ou seja, desqualificar as preocupações que contradizem sua opinião.   

O documentário premiado de Micha Peled sobre o assunto, Bitter Seeds (nt.: além deste link do texto pode-se acessar o website – http://itvs.org/films/bitter-seeds) é mencionado por Specter, de passagem. Encorajamos as pessoas a verem este filme no sentido ouvirem dos próprios agricultores indianos, com suas próprias palavras, e assim entenderem suas perspectivas sobre a epidemia de suicídios e suas causas profundas.

Conclusão: Mais uma vez, Specter ignora os fatos e evidências que contradizem sua opinião para ridicularizar as preocupações sérias expressadas por observadores confiáveis, incluindo o governo indiano e que tornam evidente sua falta de equilíbrio jornalístico e sua objetividade.

Como Conclusão final: Monsanto vs. Dra. Shiva

O trabalho de Michael Specter no New Yorker parece claramente intencionado a se contrapor aos motivos e à pessoa da Dra. Shiva. Como demonstramos nos argumentos precedentes, ele sistematicamente extirpa importantes fatos, estudos e relatos jornalísticos dando a falsa impressão de que as preocupações quanto às práticas monopolísticas de negócios da Monsanto e os seus produtos transgênicos, são infundadas. No entanto, o oposto é verdadeiro.

Specter vai muito longe ao expressar simpatia pela Monsanto, escrevendo que “o abismo entre a verdade sobre os transgênicos e que as pessoas dizem sobre eles continua crescendo cada vez mais” e que a Monsanto não é simplesmente esta toda poderosa“. O que ele não menciona é que a Monsanto gastou dezenas de milhões de dólares para extinguir as leis que exigem que os alimentos transgênicos sejam rotulados (labeled ) nos supermercados norte-americanos. O poder da empresa para derrotar leis de senso comum que a maioria dos norte americanos, em princípio,  apoiame, assim, mantém as pessoas no escuro sobre a possibilidade de estarem ingerindo transgênicos – solapa o retrato que Specter faz da Monsanto como incompreendida e ineficaz.

Além de subestimar fatos desagradáveis sobre a Monsanto e os transgênicos, Specter também fez o seu melhor para minar as credenciais acadêmicas da Dra. Shiva. Na verdade, o editor do New Yorker, David Remnick, desculpou-se com ela após Specter escrever erroneamente que a Dra. Shiva só tinha um diploma de bacharel em física. Na verdade, ela tem um mestrado em Física e PhD em filosofia da ciência. Como tal, ela leva em conta os dados científicos contra os transgênicos e – ao contrário de Monsanto também pesa sobre as questões morais.

Histórias maliciosas sobre as pessoas que a indústria dos transgênicos considera ameaças, não são nada novo ou inesperado. A Monsanto tem uma longa história de atacar seus críticos. Em 1962, quando Rachel Carson publicou Silent SpringPrimavera Silenciosa – um livro de referência sobre os efeitos destrutivos dos agrotóxicos, muitas vezes identificado como o gerador do movimento ecológico (launching the environmental movement) – a Monsanto partiu para a ofensiva. A corporação publicou uma paródia ao prefácio do livro de Carson intitulado”The Desolate Year.” (nt.: ‘O ano desolado’ – ver http://enviroethics.org/2011/12/02/the-desolate-year-monsanto-magazine-1962/). Ridiculariza Carson, retratando a Terra como “um mundo faminto infestado de insetos praga” sem o DDT (um cenário que não conseguiu se plasmar mesmo depois do governo ter banido o DDT em 1972). Ainda agora, décadas depois de sua morte, defensores da Monsanto como Rush Limbaugh continuam atacando (continue to attack) Carson por ter despertado a consciência dos perigos do DDT.

Specter não é o primeiro jornalista a ir contra a Dra. Shiva nem será o último. Nosso objetivo de agregar essa resposta é destacar a maneira pela qual as empresas dos transgênicos e seus apoiadores rebaixam suas críticas por ignorarem os fatos, criarem argumentos do tipo falácia de “espantalho” e se engajarem em ataques pérfidos. Eles fingem ter o peso da verdade e da ciência ao seu lado, mas, como já vimos, ignoram muitos fatos e questões importantes.

Como o próprio Specter reconhece, a Dra. Shiva articula sérias preocupações que são compartilhadas por muitas pessoas ao redor do mundo. É por isso que os ataques a ela não terão sucesso. No final, a Dra. Shiva é simplesmente uma voz entre dezenas de milhões de outras que falam em defesa da natureza, da saúde e da justiça.

“Muito do que ela diz, ressoa com as muitas pessoas que sentem que as empresas, ávidas por lucros, detêm muito poder sobre os alimentos que a população consome. E dela vem um argumento que tem muito peso”, escreveu Specter.  

Tenha certeza de que o trabalho da Dra. Shiva vai continuar. As tentativas de ridicularizá-la ou silenciá-la não terão o efeito pretendido. Em vez disso, eles só vão aumentar a sua visibilidade e, assim, sua capacidade de falar com força em nome daqueles que lutam para sobreviverem aos monopólios capitalistas da Monsanto et al.

sobre A Autoria

Dr. Vandana Shiva preparou-se como física pela Universidade de Panjabi, e completou seu doutorado sobre as ‘variáveis ocultas e não-localidade em Teoria Quântica’ da Universidade de Western Ontário, no Canadá. Mais tarde, ela deslocou-se para a investigação interdisciplinar em ciência, tecnologia e política ambiental, que cursou no Instituto Indiano de Ciência e junto ao Instituto Indiano de Administração em Bangalore, na Índia.

Fontes e Referências

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, fevereiro de 2015.