“Temos a solução”, afirma liderança indígena responsável por dossiê que denuncia garimpo ilegal

Garimpo Com Solução

Área de garimpo com dezenas de barracões às margens do rio Uraricoera, na TI Yanomami, que foi alvo da operação Korekorema II, em 2014 – Bruno Kelly/Amazônia Real

https://www.brasildefato.com.br/2023/04/04/temos-a-solucao-afirma-lideranca-indigena-responsavel-por-dossie-que-denuncia-garimpo-ilegal

Redação Brasil de Fato

04 de Abril de 2023

Maial Kayapó comenta sobre documento Terra Rasgada, resultado da união dos povos Yanomami, Munduruku e Kayapó.

Formada pelos três povos mais atingidos pelo garimpo ilegal dentro de Terras Indígenas (Yanomami, Munduruku e Kayapó), a articulação Aliança em Defesa dos Territórios lançou um documento que detalha o mecanismo da extração ilegal de ouro nas TI’s e também soluções para conter os crimes.

dossiê Terra Rasgada traz no nome o efeito sentido na prática pelas comunidades tradicionais. “O garimpo rasga a nossa terra e afeta toda população”, explica, em entrevista ao Bem Viver desta terça-feira (4), Maial Kayapó, liderança indígena que participou da produção do relatório e fundação da Aliança. 

Dados recentes do MapBiomas revelaram a área destinada à exploração garimpeira na Amazônia. No ranking aparecem a TI Kayapó, com 11.542 hectares, a TI Munduruku, com 4.744 ha, e a TI Yanomami, com 1.557 há — respectivamente a primeira, a segunda e a terceira Terra
Indígena mais impactada pelo garimpo em todo o território nacional.

Com apoio do ISA (Instituto Socioambiental) e o Greenpeace, o documento foca em dois pontos: denunciar como o garimpo afeta de múltiplas formas a vida da população e também como a população indígena tem a resposta para combater os crimes.

“Tivemos uma equipe técnica formada por vários especialistas no monitoramento de satélites e outros sistemas geradores de dados e informações pertinentes. A elaboração do dossiê teve objetivo principal de mostrar ao governo e a demais setores que temos uma solução para o garimpo ilegal”, explica Maial Kayapó.

Soluções

O terceiro capítulo do dossiê se intitula “Medidas fundamentais para enfrentar o garimpo ilegal”. Nele, o documento aponta duas diretrizes: proteção integral das terras indígenas e controle da cadeia de produção e comercialização do ouro.

Para o primeiro ponto são citadas 10 ações objetivas, como, por exemplo, identificar, nos municípios localizados nas áreas de influência dos garimpos, o que compõe as cadeias de suprimento; monitorar estradas, rios e identificar e destruir pistas de pouso clandestinas no interior das terras indígenas; interromper o fornecimento de internet para garimpos no interior de terras indígenas, identificando as empresas que fornecem o serviço e garantindo, dentro das devidas medidas legais, o bloqueio definitivo do fornecimento.

Já para o controle da cadeia de produção do ouro, o documento cita ações para Agência Nacional de Mineração, Receita Federal, Banco Central, Estado do Pará, Órgãos do Sisnama, Polícia Federal, COAF, Serviço Geológico Brasileiro e o Congresso Nacional.

“Essa pauta precisa ser transversal entre os ministério. Precisamos responsabilizar os demais órgãos por toda essa questão. Não se trata só do Ministério dos Povos Indígenas e do Meio Ambiente. O ministério de Minas e Energia, Casa Civil e tantos outros também têm responsabilidade sobre isso”, cobra Maial Kayapó 

Em relação à Agência Nacional de Mineração, é indicado o cruzamento das informações de produção do Relatório Anual de Lavras com os respectivos dados de recolhimento da Compensação Financeira por Exploração Minerária.

Para a Receita Federal, implementação da Nota Fiscal de Aquisição de Ouro na modalidade eletrônica.

E ao Serviço Geológico Brasileiro, é indicado a criação de um mecanismo de rastreabilidade do ouro, desde a origem até o vendedor final.

Novos tempos

“Não queremos mais a polícia e o Ibama fazendo ações e depois indo embora. Queremos que seja permanente, que as ações sejam concretas para que isso não se repita”, reitera Maial Kayapó.

A liderança lamenta que cresceu “vendo meu pai fazendo isso [lutando contra o garimpo] e agora sou eu dando continuidade. Não quero que meus filhos façam isso. Eu quero que eles vivam a solução.”

“A gente pode também desenvolver o nosso trabalho com a floresta em pé. Nos últimos quatro anos de governo se criou uma narrativa que o garimpo gerava renda para os municípios, isso é mentira. Não existem renda e desenvolvimento em municípios que não têm saúde, educação. Essa economia vai para onde?”, questiona a liderança.

Esperança

O dossiê Terra Rasgada começa dando esperança. A primeira fase já anuncia “há uma transformação em curso no modo como se encara o garimpo ilegal em Terras Indígenas (TI) no Brasil”

A abertura faz referência ao início do governo Lula que logo nos primeiros dias começando atuando em Roraima, declarando estado de emergência junto com uma série de ações para socorrer a população que vive dentro do território Yanomami e também conter a invasão garimpeira.

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