Em entrevista à Folha de domingo (05/04/2015), o presidente da Embrapa enfatizou acreditar que o modelo de vendas de semente melhorada garante acesso fácil de agricultores e que sua empresa vai investir em código aberto, ou seja, vender aos agricultores sem cobrar royalties.
http://www.ecodebate.com.br/2015/04/13/tecnologia-terminator-as-sementes-suicidas-e-assassinas-artigo-de-nagib-nassar/
É um pensamento e atitude muito louváveis do senhor presidente que contribuirá nas melhorias das condições dos agricultores no país. Mas, infelizmente, ele contrariou completamente sua própria chefa, a ministra da Agricultura senadora Kátia Abreu, que apresentou ao Congresso Nacional projeto de lei para liberar tipos de sementes proibidos em todo mundo. São as sementes terminatorou sementes suicidas; são sementes estéreis que obrigam a compra anual por parte do agricultor e o transformam em escravo das multinacionais. Além de suicidas, as sementes terminator danificam o meio ambiente e acabam com espécies nativas que se tornam, por sua vez, suicidas!!!
O fato levantou no ar uma questão: até que ponto um político, um deputado ou senador fica livre de valores morais científicos e sociais definidos pelos especialistas que trabalham na área?
As sementes suicidas são o mais novo lance de empresas transgênicas para patentear e vender estes tipos de sementes.
Em vista desta estratégia, o agricultor passa a ser obrigado a comprar das empresas todos os anos as sementes de que precisar para nova safra, pois as sementes produzidas com gene terminator nunca germinarão.
Esse tipo de variedade é proibido pela Convenção sobre Biodiversidade das Nações Unidas; pois o gene terminator, ao contaminar as variedades nativas ou as espécies silvestres, destrói suas reservas genéticas e todos os conjuntos genéticos das populações nativas e silvestres, sobrando apenas a variedade com o gene terminator.
É o último lance satânico das empresas de transgênicos para proporcionar riquezas para seus acionistas sem atenção alguma ao atual interesse humano e das futuras gerações.
O fato mais grave é que as empresas pressionam alguns países manipulando políticos para aprovar esse tipo de patente e permitir sua comercialização. Não conseguiram em qualquer país da Europa, da Ásia, da África ou da América do Sul.
Algumas das culturas brasileiras mais importantes, como o milho e algodão, são altamente ou parcialmente alógamas, isto é, se polinizam e cruzam com facilidade com outras plantas de diferentes variedades, inclusive as suicidas. Ambas as culturas têm suas variedades nativas e indígenas e contém a maior riqueza da biodiversidade conhecida em nossas plantas.
A introdução de variedades com gene terminator dessas culturas no Brasil significa contaminar suas linhagens indígenas e nativas, tornando-as estéreis sem que se propaguem. E assim, perdemos para sempre a maior reserva genética conhecida no mundo.
A tentativa de liberar sementes suicidas significa que o Brasil, quebrando uma moratória assinada por 193 países e ferindo seu compromisso com a comunidade mundial, passa a oferecer o maior presente para multinacionais. Acreditamos que a população brasileira é capaz de frear e esvaziar este atentado ao nosso patrimônio e patrimônio da humanidade e colocar fim para um rumo no país que, forjando um novo cenário agrícola, perde sua riqueza genética para sempre.
Ironicamente, as sementes suicidas são produzidas pelas empresas produtoras de transgênicos como uma maneira para que as sementes modificadas sejam vendidas por elas sem prestar atenção na destruição do patrimônio genético brasileiro, pois o Brasil é origem e reserva genética do maior número de culturas que a humanidade conhece.
Ainda há um risco maior: que todas as sementes destas culturas serão controladas pelas corporações, substituindo as variedades nativas. As empresas multinacionais, no aguardo por uma fresta para empurrar a porta, entrarão para tomarem conta de toda casa. Será que a senhora senadora sabe e está ciente disso?
Nagib Nassar é Professor Emérito da Universidade de Brasília (UnB). www.geneconserve.pro.br
Artigo socializado pelo Jornal da Ciência / SBPC.