Sustentabilidade: Amazônia é mais destruída pelo consumo nacional do que pelas exportações

A floresta amazônica é chave no equilíbrio climático, conservação da biodiversidade e de culturas e povos tradicionais, mas segue sob franco desmatamento. Imagem: Credit: ESA/Alexander Gerst/Creative Commons

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Aldem Bourscheit · 

19 de julho de 2024

[NOTA DO WEBSITE: Parece que fomos desnudados! Antes tínhamos o cacoete de nos isentarmos e acusarmos outros pelo que vemos de destruição nos patrimônios do norte. Mas agora está evidente que somos tão e mais responsáveis que todos os países que famintos, nos sugam. No entanto, a realidade é outra. Nós é que somos os Fantasmas Famintos da Roda da Vida budista, além de sermos diretamente os que incrementam os Erisíctons que, como no mito da Grécia Antiga, já estamos todos, no processo definitivo da autofagia. Já comemos muitas partes de nosso corpo Brasil e agora estamos talvez comendo o coração e alma do País. Então somos, os urbanos, sudestinos e sulistas, os que estão praticando a doutrina do autoextermínio de nós mesmos. E mesmo assim como foi com a costa atlântica, nossa voracidade parece jamais tem fim. E mais triste, morreremos ainda insaciáveis e, pasmem, malnutridos!].

Consumo e economias das grandes cidades do centro-sul são o principal acelerador do desmatamento da floresta equatorial.

A destruição direta da floresta amazônica brasileira foi contida novamente pelo governo, mas segue acima dos menores níveis atingidos em meados dos anos 2000. Ao mesmo tempo, garimpo, corte seletivo de árvores, ataques a populações indígenas e tradicionais e outros crimes seguem firmes e fortes.

Tais pressões são alimentadas mais por demandas brasileiras do que de exportações, no caso agropecuárias. É o que evidencia um estudo publicado na revista científica Nature Sustainability por cientistas das universidades de São Paulo (USP), Federal de Juiz de Fora (UFJF) e World Resources Institute.

A investigação mostrou que 83,17% do desmate é provocado por consumo fora da Amazônia e apenas 16,83% por demandas da região. E dos 83,17%, 59,68% abasteceram o restante do Brasil e 23,49% o comércio internacional, detalha Eduardo Haddad, um dos autores do estudo e professor do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da USP.

Essa destruição amazônica alimenta especialmente economias no centro-sul, região com as maiores cidades do país. Esse recorte é estratégico para o desenho de melhores políticas e ações de conservação e restauração de ambientes naturais e de enfrentamento da crise climática.

Segundo Haddad (USP), os resultados foram possíveis mudando a lógica tradicional de avaliação do desmate, comumente pensado a partir da oferta, de quais setores promovem a substituição das florestas por outros usos da terra, como agricultura, pecuária e mineração. 

“A metodologia que adotamos permite ver o fenômeno do desmatamento também a partir da perspectiva da demanda, identificando as fontes de estímulos econômicos para que os setores produtivos se envolvam no desmatamento”, explica Haddad.

A Amazônia se espraia por nove estados e mais de 5 milhões de quilômetros quadrados (km2), cobrindo cerca de 60% do território nacional. Quase ¼ dela já foi desmatado e mais de 1 milhão de km2 estão degradados, aproximando o bioma do “ponto de não retorno”, quando pode colapsar e liberar bilhões de toneladas de carbono na atmosfera planetária.