Substituir espécie exótica por vegetação nativa em ambiente de cursos d’água. A espécie ‘Pinus spp‘ tem sido muito usada em todas as áreas no Brasil e hoje invade espaços alagados, interferindo na recuperação ambiental.
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Por Ana Carolina Brunelli e Alícia Nascimento Aguiar, da Assessoria de Comunicação da Esalq
No Brasil, é comum se deparar com o Pinus elliotti, espécie de pinheiro muito presente no Estado de São Paulo e no Sul do País, em áreas de reflorestamento. No entanto, a presença dessa árvore, principalmente próxima às zonas ripárias, que se integram ao curso d’água dos rios, pode provocar prejuízos ambientais. Na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, pesquisa da bióloga Marli Ramos demonstra o impacto da espécie em áreas de preservação permanente e recomenda a substituição por vegetação nativa nas áreas ripárias (áreas de inundação) ao longo de toda a extensão dos cursos d’água.
A pesquisadora iniciou sua dissertação com o seguinte questionamento: É necessário eliminar o Pinus elliottii de zonas ripárias? A partir desse ponto, Marli dedicou-se a descobrir a existência de alguma relação entre os atributos físicos e químicos em áreas ripárias com a disseminação e presença da espécie e quais seriam as vantagens e desvantagens para o meio ambiente. A bióloga atua, hoje, como analista ambiental, funcionária do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e trabalha na Floresta Nacional de Capão Bonito.
“Essas zonas são extremamente importantes como geradoras de serviços ecossistêmicos essenciais como: estabilidade térmica e dos solos, mitigação de carreamento de sedimentos e nutrientes para os cursos d’água, corredores ecológicos para fauna e flora, qualidade e quantidade de água, regularização dos regimes hídricos e ciclagem de nutrientes”, ressalta a pesquisadora. A pesquisa, destinada a auxiliar o manejo do pinheiro para a restauração das áreas ribeirinhas, foi orientada pela professora Teresa Cristina Magro, do Departamento de Ciências Florestais da Esalq e realizada na Floresta Nacional de Capão Bonito.
Dispersão e invasão
Na região, a bióloga notou uma visível degradação das áreas ripárias pela dispersão e invasão causadas pela espécie exótica Pinus elliottii. “Apesar das vantagens dos plantios dos pinheiros, outras espécies de Pinus se tornaram um sério risco aos problemas relacionados à invasão biótica, ocasionando perdas econômicas e ambientais”, conta Marli. A pós-graduanda verificou a dispersão de Pinus elliotti, dentro de diferentes níveis de distância e sua correlação com os atributos físicos e químicos: densidade, área basal, umidade, cobertura de copa, cobertura e altura de solo, e ainda, pH; independente de níveis de distância, como contribuição à restauração ambiental.
De acordo com a bióloga, a pesquisa apresentou resultados de que a espécie causa representativo impacto em áreas de preservação permanente. “Há expressiva densidade de Pinus elliottii que ocupa o espaço da vegetação nativa florestal e não-florestal, causando a descaracterização da área”, descreve.
Outro fator relevante foi o processo de invasão ser contínuo com recrutamento de novos indivíduos, pela chegada de sementes. Segundo a pesquisadora, essa situação pode, certamente, acarretar a contínua substituição da vegetação nativa pela espécie, principalmente nas áreas abertas de campo úmido da unidade e, na área florestal, que sofre impacto natural ou morte de árvores nativas, com abertura de clareiras. “Torna-se essencial realizar ações para o manejo e restauração ecológica desses ambientes contaminados por Pinus elliottii”, recomenda.
“Outra solução é a substituição dos plantios de Pinus elliottii por vegetação nativa num nível em que a cobertura vegetal seja considerada predominantemente nativa conforme estabelecido na legislação do Sistema Nacional de Unidades Conservação – SNUC, pois enquanto houver talhões de Pinus, o processo de invasão continuará”, afirma Marli. Ela diz ainda que a vegetação nativa deverá ser restaurada nas áreas ripárias em toda a extensão dos cursos d’água, com eliminação de espécies invasoras e, em tal largura, que o arranjo estrutural possa preservar as espécies de fauna e flora, com atenção para as ameaças de extinção.
Foto: Divulgação / Esalq