Seca em São Paulo comprova crise ambiental mundial.

Este foi o ano em que a terra da garoa, literalmente, secou. Além da mais severa estiagem que o estado de São Paulo já enfrentou nos últimos 80 anos, diversos fenômenos influenciados pelo aquecimento global também causaram impactos significativos em outras áreas do planeta. É o caso, por exemplo, da Califórnia – que lida com a maior seca do milênio -, das ondas de calor em pleno inverno no Alasca e das tempestades em países da Europa, como a Itália e a Grã-Bretanha.

 

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De acordo com relatório do Painel Intergovernamental sobre (IPCC) das Nações Unidas, as concentrações de gases estufas na atmosfera alcançaram o maior nível em 800 anos.

Ainda segundo o documento, lançado em novembro, a estimativa é de que 2014 seja o ano mais quente da terra desde 1850, quando foi realizada a primeira medição. “A influência humana no sistema climático é clara: quanto mais perturbamos nosso clima, mais riscos temos de impactos graves, amplos e irreversíveis”, disse o diretor do IPCC, Rajendra Pachauri, durante o lançamento do relatório. A cidade mais rica do Brasil se tornou um exemplo de como as alterações climáticas podem impor dificuldades à sociedade.

Abalada por uma estiagem que começou ainda em 2013, a região metropolitana de São Paulo logo viu suas represas secarem. Pela primeira vez, medidas emergenciais polêmicas permitiram o uso do chamado volume morto, que são as águas que estão abaixo das comportas, retiradas por meio de bombas.

Já no hemisfério norte, a seca também atingiu o estado mais poderoso dos EUA. Na pior estiagem dos últimos mil anos, a Califórnia sofreu perdas de mais de U$ 2,5 bilhões. Setor importante para a economia local, a agricultura fechou 20 mil vagas de trabalho.

De acordo com o biólogo Marcos Buckeridge, um dos redatores do capítulo do IPCC sobre a América Latina, alterações climáticas agudas farão com que o continente possa sofrer mais frequentemente com esses problemas. “Haverá eventos extremos de seca e de chuva ou o descongelamento dos Andes. Esses fenômenos causariam grandes alagamentos e o branqueamento de corais, prejudicando de forma significativa a biodiversidade marinha”, disse Buckeridge, que atua no Instituto de Biociências da USP.

Com esses dados alarmantes, em 2014 a ONU reforçou o seu discurso sobre a importância de um acordo mundial para limitar o aquecimento global a no máximo 2ºC até o final deste século. A proposta, porém, vem sendo postergada por conta de divergências econômicas entre os países ricos e em desenvolvimento. Nos dois maiores eventos ambientais realizados em 2014 – a Cúpula do Clima, em Nova York, e a Cúpula da Mudança Climática, realizada em Lima -, acordos foram tramados e propostas, divulgadas.

Realizada em apenas um dia no final de setembro, em Nova York, a Cúpula do Clima, no embalo da Assembleia da ONU, reuniu milhares de pessoas nas ruas da “Big Apple” e cerca de 120 líderes mundiais nos debates, público inédito para eventos do tipo. Sem a assinatura do Brasil, que reclamou por não ter sido chamado ao encontro, o evento lançou a “Declaração de Nova York sobre Florestas”, que propõe zerar os desmatamentos até 2030.

Em discursos eloquentes, representantes de países em desenvolvimento, como o Brasil, defenderam os chamados círculos concêntricos, proposta que coloca às nações ricas maior responsabilidade no controle das emissões.

A ideia, porém, desagradou às grandes potências. “As nações desenvolvidas devem liderar o processo de redução de emissões de gases estufa, mas isso não significa que os países em desenvolvimento possam produzir CO2 à vontade”, declarou o secretário norte-americano de Estado, John Kerry.

Apesar de menos badalado que o encontro em Nova York, o evento na capital peruana tinha intenções mais significativas. A principal delas era resolver a equação entre emissão de gases e crescimento econômico.

Mas os 11 dias de trabalho não foram suficientes para a COP 20 chegar a um consenso. O acordo final, batizado de “Ação de Lima”, foi escrito com um dia de atraso. Ele estabeleceu o compromisso dos países em apresentar à ONU planos efetivos e ambiciosos para a redução de gases do efeito estufa até outubro do ano que vem, semanas antes da próxima COP, que será em Paris.

“Talvez seja cedo para ver esse impacto do aquecimento global na comunidade internacional. O relatório acabou de ser publicado e é necessário esperar para ver quais serão as consequências”, explicou Buckeridge. “Mas precisamos atingir as metas e diminuir as emissões de gases. Ou teremos graves dificuldades pela frente.”

(Fonte: Terra)