
(5 segundos/iStockphoto)
29 abr 2025
[NOTA DO WEBSITE: Novamente a reafirmação, no concreto, daquilo que há décadas já se sabia. Só que quando começou a se falar sobre estes plastificantes, era dito que eles iriam interferir na saúde da população. Mas, a sociedade além da ciência convencional, e claro fortemente incrementado pelas corporações agropetroquímicas, não se deu ouvidos às pesquisas que hoje se constata como algo sem solução. No entanto, agora o que era uma previsão, torna-se realidade. E em cima do quê? Exatamente da sociedade que, como consumidora, não só é afetada diretamente por essas moléculas mas a disseminadora das mesmas em todo o planeta. E se perguntadas sobre essa situação, as corporações dirão que só produzem o que produzem porque a sociedade ‘exige’! Cinismo?].
Um conjunto de produtos químicos encontrados em embalagens de alimentos, plásticos, loções e xampus foi associado a centenas de milhares de mortes por doenças cardíacas, de acordo com um estudo publicado terça-feira no periódico eBioMedicine.
Pesquisadores descobriram que esses produtos químicos, conhecidos como ftalatos, foram responsáveis por mais de 350.000 mortes em todo o mundo em 2018. Cerca de 75% das mortes ocorreram na Ásia, Oriente Médio e Pacífico — refletindo a crescente preocupação com a quantidade de plástico que prolifera nos países em desenvolvimento.
“Consideramos os plásticos um problema em países de alta renda”, disse Leonardo Trasande, professor da Escola de Medicina Grossman da Universidade de Nova York e um dos autores do artigo. “Mas o que estamos observando no padrão geográfico é preocupante.”
Embora os pesquisadores reconheçam que a exposição a ftalatos coincide com outros fatores de risco — como obesidade e distúrbios metabólicos — as descobertas se somam às crescentes evidências de que os produtos químicos usados em plásticos apresentam sérios riscos à saúde (nt.: sempre lembrar que o filme plástico que usamos em ‘frios’ gordurosos como presuntos e queijos, consta que 60% do produto de consumo é ftalato e ‘só’ 40% é do cancerígeno PVC. Imagina-se nossas crianças consumindo esses produtos impregnados de ftalatos!)
Ftalatos são um conjunto de substâncias químicas adicionadas ao plástico para torná-lo mais elástico, macio ou flexível. Em loções, xampus e perfumes, os ftalatos podem ser usados para reter aromas. Mas essas substâncias químicas — tão comuns que alguns pesquisadores as chamam de “substâncias químicas onipresentes” — têm despertado grande preocupação entre os cientistas.
Em estudos epidemiológicos, os ftalatos têm sido associados a problemas de fertilidade masculina, doenças cardíacas, obesidade e TDAH. Os Estados Unidos permitem o uso de nove tipos de ftalatos em embalagens de alimentos. Eles são um exemplo do que os cientistas chamam de “químicos disruptores endócrinos“, que podem alterar os hormônios do corpo, causando diversos problemas de saúde.
“Já sabemos que os ftalatos são substâncias químicas tóxicas”, disse Tracey Woodruff, professora de obstetrícia, ginecologia e saúde reprodutiva da Universidade da Califórnia em São Francisco, que não participou do estudo. Nos últimos anos, ela ressaltou, cientistas e organizações ambientais têm pressionado legisladores a eliminar os ftalatos das embalagens de alimentos e outros plásticos. “Isso só mostra por que essa é uma boa ideia”, acrescentou Woodruff.
Kevin Ott, diretor executivo da Flexible Vinyl Alliance, que representa os fabricantes de cloreto de polivinila (nt.: ou polivinil cloreto ou PVC e mesmo em inglês -vinyl- dos discos), afirmou em um e-mail que muitos estudos sobre os riscos à saúde dos ftalatos não atendem aos mais altos padrões de evidência (nt.: seria muito estranho que o lobby do PVC/Vinyl dissesse algo em contrário!). A Food and Drug Administration (FDA) confirmou, em 2018, que os ftalatos não estão claramente associados a quaisquer efeitos à saúde, acrescentou Ott (nt.: se já não dizia que era danoso antes do Trump, imagina-se agora).
O novo estudo baseou-se em pesquisas realizadas em todo o mundo que avaliaram a exposição a um tipo específico de ftalato presente em embalagens de alimentos, por meio de amostras de urina. Os pesquisadores então compararam a exposição à substância química ao aumento do risco de morte cardiovascular.
Eles descobriram que os ftalatos contribuíram para 13% de todas as mortes por doenças cardíacas em pessoas entre 55 e 64 anos em todo o mundo. Nos Estados Unidos, esse número foi de cerca de 10%. As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo: em 2021, estima-se que 20 milhões de pessoas morreram por causa de doenças cardíacas.
Trasande afirma que, embora 13% possa parecer um número alto, a exposição aos ftalatos pode se sobrepor e exacerbar outros riscos. Acredita-se que os ftalatos causem inflamação excessiva no corpo e estão associados a outras condições que aumentam a mortalidade por doenças cardíacas, como obesidade e pressão alta. Parte do aumento do risco de doenças cardíacas devido à obesidade, por exemplo, pode ser devido aos ftalatos. Esses produtos químicos também são encontrados com mais frequência em alimentos altamente processados, outro fator de risco para morte por doenças cardíacas.
Cientistas estimam que a poluição do ar, que contém pequenas partículas de plástico, está ligada a 20% de todas as mortes cardiovasculares no mundo.
Pesquisas recentes — embora com uma amostra pequena — também descobriram que a presença de microplásticos ou nanoplásticos na artéria carótida aumenta o risco de ataque cardíaco, derrame ou morte. Pesquisadores estão tentando entender até que ponto esses minúsculos plásticos podem transportar substâncias químicas como ftalatos.
Mas pessoas com mais ftalatos no corpo provavelmente estão mais expostas aos plásticos e, portanto, também aos microplásticos e nanoplásticos, disse Trasande.
“Podem ser os produtos químicos que estão sendo entregues, ou podem ser os micro e nanoplásticos”, disse Trasande. “E é aí que a área precisa realmente se concentrar cientificamente.”
Outras pesquisas que analisaram mortes por ftalatos chegaram a resultados semelhantes. Um estudo publicado no final do ano passado constatou que os ftalatos foram responsáveis por cerca de 164.000 mortes em todo o mundo em 2015, a maioria devido a doenças cardíacas e hipertensão. Esse estudo analisou apenas 40 países, enquanto o novo estudo analisou cerca de 190.
Embora estudos em animais também tenham encontrado conexões entre ftalatos e doenças cardíacas, alguns pesquisadores afirmam que mais estudos em humanos ajudariam a consolidar a ligação. “Seria importante que alguém realizasse uma revisão sistemática sobre ftalatos e eventos cardiovasculares”, disse Woodruff. “Mas é apenas uma área nova.”
Por enquanto, os cientistas continuam a pressionar por um maior monitoramento dos produtos químicos presentes no plástico. Na maioria dos países do mundo, as empresas não são obrigadas a revelar a presença de aditivos químicos nos plásticos, incluindo substâncias como ftalatos, BPA e retardantes de chama. Muitos desses plásticos acabam em países de baixa renda, juntamente com montanhas de resíduos plásticos para reciclagem ou descarte.
“Eles são os receptores de todo o lixo plástico exportado por países ricos”, disse Woodruff. “E os ftalatos também estarão lá.”
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, abril de 2025