
O estudo levanta novas questões sobre a segurança dos produtos químicos que milhões de americanos encontram todos os dias no ar, nos alimentos e na água. (Crédito da foto: iStock by Getty Images)
https://usrtk.org/healthwire/phthalates-breast-cancer/
05 set 2025
[Nota do Website: Um website que se denomina: ‘direito de saber dos EUA’. E nada mais importante do que se lê nessa matéria: o direito de sabermos aquilo que está escondido pelo simples interesse pelo dinheiro das corporações. Mais um crime corporativo e que atinge também os reguladores que preservam muito mais os interesses financeiros das corporações do que a população em geral. Esse é o capitalismo cruel, antiético e criminoso e por isso indigno e venal].
Pesquisa relaciona produtos químicos em cosméticos, embalagens e plásticos ao crescimento de tumores e à redução do sucesso do tratamento.
Produtos químicos comuns em plásticos, produtos de higiene pessoal e embalagens de alimentos podem causar o surgimento, o crescimento e a disseminação do câncer de mama, a segunda principal causa de mortes por câncer em mulheres, sugere uma nova pesquisa.
O câncer de mama é um dos cânceres mais comuns e mortais em todo o mundo, causando mais de 42.000 mortes nos EUA, com taxas particularmente altas entre mulheres negras. Apenas 5% a 10% são hereditários, o que significa que a maioria surge de fatores ambientais e de estilo de vida.
As descobertas, publicadas este mês [setembro de 2025] na Ecotoxicology and Environmental Safety , sugerem que os ftalatos sequestram os sistemas hormonais do corpo, ativam genes que promovem o câncer e tornam os tumores mais fáceis de formar e mais difíceis de tratar. O estudo levanta novas questões sobre a segurança dos produtos químicos que milhões de americanos encontram todos os dias no ar, nos alimentos e na água.
“Os ftalatos são substâncias tóxicas ambientais disseminadas que influenciam o início, a progressão e a metástase do câncer de mama”, disseram os cientistas, liderados pelo Dr. Michal Toborek da Faculdade de Medicina Leonard M. Miller da Universidade de Miami.
“À medida que um tumor de mama progride pelos estágios da doença — intensificados pelos efeitos da exposição ao ftalato na atividade hormonal, resistência a medicamentos, disfunção metabólica e células-tronco cancerígenas — o tumor e seu microambiente circundante se tornam mais agressivos, levando, em última análise, a resultados possivelmente fatais.”
A revisão também aponta para contrastes regulatórios gritantes: a UE restringiu diversos ftalatos em seu marco regulatório REACH. Enquanto isso, os EUA proibiram apenas alguns em brinquedos infantis e ainda permitem ftalatos na maioria das embalagens de alimentos e produtos de higiene pessoal. Os ftalatos também podem ser um componente não divulgado de fragrâncias artificiais (nt.: já é conhecido desde a denúncia da Dra. Theo Colborn, a quem homenageamos com nosso website, lá no início dos anos 90 quando formulou a expressão disruptores endócrinos o que eram os ftalatos. E no entanto ainda estão por aí. No casa das fragrâncias estaria sob a denominação genérica de ‘perfume/fragrância/scent’).
Alguns estados aprovaram ou introduziram leis — por exemplo, a Lei de Cosméticos Livres de Tóxicos em Washington e na Califórnia — restringindo ftalatos e outros produtos químicos nocivos em cosméticos e produtos de higiene pessoal. Vermont se tornou o primeiro estado em 2024 a proibir certos ftalatos em produtos menstruais no ano passado.
Como produtos do dia a dia podem aumentar o risco de câncer de mama
Os ftalatos — adicionados aos plásticos para torná-los mais flexíveis e duráveis (nt.: destacamos que o filme plástico que envolve todos os alimentos, até orgânicos, teria 60% de ftalato e somente 40% de PVC) — estão presentes em uma ampla gama de produtos de consumo e industriais, desde produtos para unhas e perfumes, desodorantes corporais e colônias até materiais de construção, produtos farmacêuticos (nt.: aqui destacamos seu emprego nas cápsulas, por exemplo) e embalagens de alimentos. O novo estudo destaca maneiras significativas pelas quais eles podem contribuir para o câncer de mama:
- Ativar vias de câncer: os ftalatos podem superestimular os sistemas de sinalização celular, permitindo que as células cancerígenas se expandam e se espalhem.
- Promova genes tumorais: os ftalatos estimulam genes que causam câncer, ao mesmo tempo em que bloqueiam o processo normal do corpo de limpar células danificadas.
- Agem como o estrogênio: ao imitar o hormônio, que é conhecido por causar muitos cânceres de mama, os ftalatos podem interromper os sinais celulares e desencadear uma divisão celular descontrolada.
- Tornam os tumores mais agressivos: eles desencadeiam alterações que ajudam as células cancerígenas a invadirem órgãos distantes (metástase), o que causa a maioria das mortes por câncer. Também estimulam a angiogênese — o crescimento de novos vasos sanguíneos que alimentam os tumores — tornando o câncer ainda mais difícil de controlar.
- Enfraquecer tratamentos contra o câncer: Estudos laboratoriais demonstraram que um plastificante comum, o DEHP, reduz a eficácia de medicamentos quimioterápicos, como paclitaxel, doxorrubicina e tamoxifeno.
- Interrompem o metabolismo: Níveis mais altos de ftalatos têm sido associados ao aumento do índice de massa corporal (IMC), sugerindo que esses produtos químicos interrompem o metabolismo e aumentam o risco de câncer de mama. Os ftalatos também podem amplificar as mudanças na forma como as células usam energia (o “efeito Warburg”), alimentando o crescimento de tumores.
- Estimula as células-tronco do câncer de mama: mesmo níveis baixos de ftalato podem fortalecer essas células agressivas, o que torna os tumores mais propensos a se espalhar, resistir à terapia e recorrer.
Exposição no mundo real sugere ligações com câncer
Embora em menor número do que em experimentos de laboratório, estudos em humanos corroboram algumas dessas descobertas. Um estudo descobriu que mulheres na Dinamarca com alta exposição ao dibutil ftalato (DBP) — usado em esmaltes, perfumes e sprays para cabelo — tinham quase o dobro do risco de desenvolver o tipo mais comum de câncer de mama (câncer de mama com receptor de estrogênio (ER) positivo).
Em outro estudo, mulheres que pararam de usar produtos de higiene pessoal contendo ftalatos por 28 dias apresentaram níveis urinários mais baixos desses produtos químicos. O estudo também mostrou uma reversão na atividade de genes relacionados ao câncer no tecido mamário.
Disruptores endócrinos como ftalatos, bisfenol A (BPA) e substâncias polifluoroalquílicas (PFAS, ou “químicos eternas/forever chemicals“) interferem nos sinais hormonais que regulam o corpo. Entre outros problemas graves de saúde, eles têm sido associados a desfechos adversos no parto, asma, doenças cardiovasculares, declínio cognitivo, obesidade e problemas de saúde reprodutiva.
O câncer de mama se desenvolve principalmente em mulheres de meia-idade e mais velhas. Mas, como o tecido mamário é altamente sensível a hormônios, mulheres mais jovens — especialmente aquelas entre 18 e 34 anos — são consideradas de maior risco devido ao uso mais intenso de produtos de higiene pessoal e capilares que contêm disruptores endócrinos, afirmam os pesquisadores. Centenas dessas substâncias químicas foram detectadas no tecido mamário, provenientes de diversas fontes ambientais.
Pesquisadores pedem estudos mais realistas e de longo prazo
Questões importantes permanecem, afirmam os autores do estudo. Muitos estudos de laboratório utilizam doses mais altas do que as exposições típicas da vida real, enquanto estudos em humanos frequentemente se baseiam em amostras de urina de curto prazo que não refletem o risco ao longo da vida. A maioria das pesquisas também depende de modelos animais e de duas linhagens celulares padrão de câncer de mama, que não conseguem capturar a diversidade de tumores reais.
E a exposição raramente ocorre de forma isolada: as pessoas também estão em contato com BPA, parabenos e outros disruptores hormonais que podem agir juntos de maneiras complexas.
Os autores defendem estudos maiores e de longo prazo que monitorem a exposição desde antes do nascimento até a idade adulta. Modelos tridimensionais de tecido mamário e o monitoramento de biomarcadores de atividade hormonal, estresse oxidativo e alterações genéticas também poderiam conectar melhor os resultados laboratoriais à saúde, afirmam.
“Compreender a carcinogenicidade causada por ftalatos e como mitigá-la é essencial para informar políticas de saúde pública, orientações clínicas e métodos individuais de redução de risco.”
Para ajudar a reduzir sua exposição aos ftalatos:
- Escolha recipientes de vidro ou aço inoxidável para alimentos e bebidas.
- Evite produtos feitos de vinil de cloreto de polivinila (PVC) ou rotulados com o símbolo de reciclagem nº 3 (nt.: que maravilha aqui estar o PVC sendo considerado o que sempre foi: um carcinogênico!).
- Não aqueça o plástico (por exemplo, no micro-ondas ou na máquina de lavar louça).
- Opte por alimentos frescos e integrais e evite alimentos ultraprocessados e embalados.
- Use produtos de higiene pessoal, produtos de limpeza doméstica e outros itens sem fragrância ou ftalato.
Fonte: Mount Sinai Institute for Exposomic Research
Referência
Tiburcio D, Parsell M, Shapiro H, et al. Endocrine disruption to metastasis: How phthalates promote breast carcinogenesis. Ecotoxicology and Environmental Safety. 2025;303:118874. doi:10.1016/j.ecoenv.2025.118874
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, setembro de 2025