
29 set 2025
[Nota do Website: Cada dia vai se confirmando o absurdo de termos, inconsequente e irresponsavelmente, distribuído por toda a Terra, mesmo nas maiores profundezas abissais dos oceanos, como nos picos mais altos das montanhas, a presença de micro e nanoplásticos. Assim, é lógico e evidente que os corpos de todos os seres vivos, também foram sendo agredidos e envolvidos pelas mesmas plásticas que jamais se degradarão, ou seja, chegarão aos elementos básicos como ocorre com todas as moléculas naturais. E então, a pergunta que se projeta desta realidade é: o que faremos com todo o plástico que está ‘democraticamente’, espalhado por todo o nosso Planeta? Essa é a herança que a nossa geração, cruel e terrivelmente, está legando para todo o sempre para o futuro!].
Resumo
- Microplásticos foram detectados em fluidos reprodutivos masculinos e femininos, confirmando que essas partículas sintéticas estão atingindo as áreas mais sensíveis do corpo humano.
- Pesquisadores encontraram nove tipos diferentes de microplásticos, incluindo materiais de fibras de roupas, utensílios de cozinha, embalagens e produtos domésticos.
- Essas partículas entram no seu corpo através do ar que você respira, da água que você bebe, dos alimentos que você come e do contato com a pele, tornando a exposição quase inevitável sem mudanças direcionadas.
- Certos aglutinantes naturais, probióticos e compostos de suporte ao fígado estão sendo estudados por sua capacidade de capturar e remover microplásticos antes que causem mais danos.
- Melhorias simples no estilo de vida — como mudar para tecidos naturais, melhorar a filtragem do ar e da água, não usar recipientes de plástico para armazenar alimentos e substituir utensílios de cozinha de plástico — reduzem a ingestão diária de microplásticos e protegem a saúde reprodutiva.
A poluição plástica migrou do meio ambiente para as partes mais íntimas do corpo humano. Evidências agora mostram que partículas sintéticas microscópicas estão rompendo as defesas naturais e se instalando no sistema reprodutivo, um local onde até mesmo pequenas perturbações têm consequências graves para a fertilidade e a saúde a longo prazo.1
Essas partículas são eliminadas dos produtos que você usa e dos materiais com os quais convive diariamente — fibras de roupas, embalagens de alimentos, superfícies de cozinha e inúmeros utensílios domésticos. Elas entram pelo ar que você respira, pela água que você bebe e pelos alimentos que você ingere e, uma vez lá dentro, viajam pela corrente sanguínea até tecidos que não foram projetados para hospedá-las.
Essa exposição é mais do que um problema de poluição. Os microplásticos carregam substâncias químicas que desregulam os hormônios (nt.: são os terríveis disruptores endócrinos), alimentam inflamações e alteram o ambiente delicado de que os espermatozoides e os óvulos necessitam para funcionarem adequadamente. Mesmo antes dos problemas de fertilidade serem diagnosticados, essas mudanças corroem silenciosamente a saúde reprodutiva.
As pesquisas mais recentes vão além da especulação, fornecendo uma visão clara dos tipos de microplásticos que chegam a esses fluidos sensíveis e com que frequência são encontrados, oferecendo uma base importante para entender a verdadeira extensão do problema.
Microplásticos encontrados nas profundezas do sistema reprodutor humano
Em um estudo publicado na Human Reproduction, cientistas da Next Fertility Murcia, na Espanha, examinaram fluidos reprodutivos — especificamente, fluido folicular de 25 mulheres submetidas à coleta de óvulos e sêmen de 18 homens submetidos a avaliações de fertilidade — para determinarem se havia microplásticos presentes.2
Esses fluidos foram coletados em recipientes de vidro estéreis para evitar contaminação, tratados para decompor a matéria orgânica e, então, analisados para identificar diretamente os tipos e quantidades de microplásticos dentro desses ambientes biológicos.
•Os participantes apresentaram altas taxas de presença de microplásticos — Os resultados foram impressionantes — 69% das amostras de fluido folicular de mulheres e 55% das amostras de sêmen de homens continham microplásticos mensuráveis.3
Isso significa que mais da metade de todos os indivíduos testados continham partículas sintéticas nos fluidos diretamente envolvidos na reprodução. O fluido folicular, que envolve e nutre os óvulos antes da ovulação, apresentou uma concentração maior do que o sêmen, sugerindo que o ambiente reprodutivo feminino é mais exposto ou mais propenso a acumular essas partículas.
•Nove tipos diferentes de microplásticos identificados — A equipe detectou nove tipos distintos de microplásticos, que vão do náilon ao cloreto de polivinila/PVC (nt.: o famigerado clorado que usamos para embrulhar, na forma de filme, nos alimentos, o corpo da Barbie, cortina do chuveiro, a bota preta ou branca que chamamos de ‘de borracha’, o forro o piso de hospitais e clínica médicas e assim por diante). Esses materiais são encontrados em itens do dia a dia, como fibras de roupas, espumas para móveis, embalagens, panelas antiaderentes, garrafas de bebidas, canos e até mesmo em produtos impressos em 3D.
•A carga média de partículas foi pequena, mas consistente — na maioria das amostras, os cientistas encontraram apenas uma ou duas partículas microplásticas, mas algumas continham até cinco.4 Embora os números absolutos pareçam baixos, o fato dessas partículas terem contornado as defesas do corpo e entrado nos fluidos reprodutivos é significativo. Mesmo um pequeno número pode conter aditivos químicos ou desencadear respostas imunológicas que interferem nos processos reprodutivos.
•As vias de entrada no corpo humano são bem conhecidas — os microplásticos entram no seu corpo por três vias principais: inalação de fibras e poeira transportadas pelo ar, ingestão de alimentos e água contaminados e contato da pele com certos produtos. Uma vez lá dentro, eles passam para a corrente sanguínea e são distribuídos para os tecidos por todo o corpo. Essas vias tornam a exposição quase inevitável em ambientes modernos, o que explica a presença generalizada encontrada no estudo.
A composição química das partículas microplásticas acrescenta outra camada de risco
Muitos dos plásticos encontrados são fabricados com aditivos, estabilizantes e plastificantes, conhecidos como disruptores endócrinos. Esses produtos químicos vazam do plástico para os tecidos circundantes. No sistema reprodutor, onde o equilíbrio hormonal é essencial para a ovulação, a produção de espermatozoides e a implantação, esses disruptores têm efeitos descomunais.
•Mecanismo de transporte para os fluidos reprodutivos — Uma vez inaladas ou ingeridas, as partículas de microplástico são absorvidas pela corrente sanguínea através dos pulmões ou do trato digestivo. De lá, elas circulam até se alojarem em vários tecidos.
O ambiente folicular ovariano tem um rico suprimento sanguíneo, especialmente durante a estimulação para recuperação de óvulos, criando um caminho fácil para o acúmulo de partículas.5 Da mesma forma, os testículos recebem fluxo sanguíneo contínuo, permitindo que microplásticos circulantes entrem nas estruturas onde os espermatozoides se desenvolvem.
•Pesquisadores pedem investigações maiores e mais detalhadas — Embora este estudo confirme a presença de microplásticos em fluidos reprodutivos, mais trabalho é necessário para determinar os efeitos na saúde.
Pesquisas futuras se concentrarão em determinar se essas partículas prejudicam a qualidade do óvulo ou do esperma, influenciam as taxas de fertilização ou contribuem para a infertilidade. Os pesquisadores também planejam coletar dados sobre os hábitos de vida dos participantes para verificarem se certas exposições, como dieta, ambiente de trabalho ou escolhas de vestuário, estão relacionadas a contagens mais altas de partículas.6
Estratégias naturais para eliminar microplásticos estão sendo exploradas
Estudos estão atualmente buscando estratégias para ajudar o corpo humano a filtrar, capturar e eliminar microplásticos antes que eles se espalhem por outros sistemas. Esses métodos oferecem uma abordagem multifacetada para ajudarem a reduzir a carga plástica interna e promoverem a saúde geral. Recentemente, escrevi um artigo discutindo esses métodos em detalhes e, embora ainda esteja sob revisão por pares, apresento as principais conclusões abaixo.
•Psílio reticulado pode ajudar a eliminar microplásticos — Um sistema fundamental que desempenha um papel na remoção de microplásticos do seu corpo é o seu intestino. Um estudo de 2024 mostrou que o psyllium reticulado com acrilamida (PLP-AM) removeu mais de 92% dos tipos comuns de plástico, como poliestireno, PVC e tereftalato de polietileno (PET) da água.
Devido à sua alta capacidade de intumescimento e textura pegajosa e gelatinosa, o psyllium reticulado pode ser adaptado para atuar no intestino, onde pode reter partículas de plástico antes que sejam absorvidas pelo corpo. Embora o estudo tenha sido conduzido em um ambiente de tratamento de água, os resultados também são promissores para a saúde humana.7
•A quitosana, uma fibra natural derivada de mariscos, também se mostra promissora na eliminação de microplásticos do corpo. Um estudo recente com animais publicado na Scientific Reports descobriu que ratos que receberam uma dieta enriquecida com quitosana conseguiram eliminar cerca de 115% dos microplásticos de polietileno que consumiram, em comparação com apenas 84% no grupo de controle.
Isso sugere que a quitosana não só ajuda a ligar e eliminar novas partículas de plástico, como também pode ajudar a remover algumas que já foram absorvidas. No entanto, embora seja geralmente considerada segura e já utilizada em suplementos, recomenda-se que pessoas com alergia a frutos do mar evitem seu uso.8
O psyllium e a quitosana atuam por adsorção física, onde forças hidrofóbicas (que repelem a água) e eletrostáticas aderem partículas microplásticas à fibra, impedindo sua absorção. No entanto, uma desvantagem desses aglutinantes é que eles também podem absorver nutrientes se não forem administrados com cuidado. Portanto, eles precisam ser usados estrategicamente para proporcionar o máximo benefício, como ingeri-los com alimentos processados ou embalados, que são mais propensos a conter plástico.
•Certas cepas de bactérias benéficas podem ajudar a eliminar microplásticos do intestino — Um estudo com animais realizado em 2025 descobriu que duas cepas específicas, Lacticaseibacillus paracasei DT66 e Lactiplantibacillus plantarum DT88, foram capazes de se ligar e eliminar pequenas partículas de poliestireno em testes de laboratório. Esses probióticos atuam formando biofilmes protetores que retêm partículas de plástico, facilitando sua eliminação.9
Quando combinado com fibras alimentares como psyllium e quitosana, o resultado pode ser uma maneira mais eficaz e natural de eliminar microplásticos do intestino antes que eles sejam absorvidos.
•O fígado também desempenha um papel essencial na eliminação de microplásticos da corrente sanguínea — células imunológicas especializadas no fígado, conhecidas como células de Kupffer, ajudam a capturar essas partículas estranhas e encaminhá-las para a bile para eliminação pelos intestinos. No entanto, embora esse método possa funcionar em plásticos menores, os maiores podem permanecer e se acumular, especialmente se a função hepática estiver comprometida.
Para dar suporte a esse caminho natural de desintoxicação, os pesquisadores estão estudando o uso de compostos como o ácido ursodesoxicólico (UDCA) e sua variante, o ácido tauroursodesoxicólico (TUDCA), que estimulam a produção de bile e melhoram o fluxo de partículas para fora do fígado.
•Pesquisadores também estão buscando estratégias para aprimorar a autofagia e eliminar microplásticos — a autofagia é o sistema natural de reciclagem celular do corpo. Pesquisadores estão buscando compostos que possam ajudar a promover esse sistema, principalmente rapamicina e espermidina.
A rapamicina atua inibindo a via mTOR, um mecanismo de detecção de nutrientes que normalmente suprime a autofagia. Quando o mTOR é desativado, as células intensificam seus esforços de limpeza, formando membranas que podem coletar e isolar partículas plásticas para degradação ou remoção. A espermidina, uma poliamina natural encontrada em alimentos, aumenta a resiliência celular e auxilia na eliminação de substâncias tóxicas.
Em estudos de laboratório e em animais, a combinação de espermidina e rapamicina ajudou a reverter a disfunção mitocondrial e reduzir o estresse oxidativo causado por microplásticos.
A tabela abaixo resume essas novas estratégias para eliminar microplásticos, incluindo seus mecanismos de ação, a quantidade de testes realizados e importantes considerações de segurança. Ela mostra que, embora diversas abordagens possam ser necessárias, eliminar o plástico do seu corpo naturalmente é possível. É claro que reduzir sua exposição ainda é a medida preliminar ideal.

Passos práticos para reduzir sua exposição diária ao microplástico
Os microplásticos não são apenas um problema ambiental — eles estão presentes nas partes mais delicadas do sistema reprodutor humano. A boa notícia é que você pode fazer mudanças que reduzem diretamente o número de partículas que entram no seu corpo todos os dias. Essas medidas visam as maiores fontes de exposição a microplásticos para que você possa proteger sua saúde reprodutiva e seu bem-estar geral.
1.Melhore a filtragem do ar e da água — Seus pulmões e sistema digestivo trabalham duro o suficiente — não os sobrecarregue com poeira e partículas plásticas invisíveis na água da torneira. Use um purificador de ar de partículas de alta eficiência (HEPA) no seu quarto e na sua sala de estar.
Elas representam uma grande preocupação para a qualidade do ar, pois seu pequeno tamanho permite que sejam inaladas profundamente pelos pulmões e entrem na corrente sanguínea. Para beber e cozinhar, instale um filtro de água capaz de remover partículas de até µm.
2.Troque tecidos sintéticos por fibras naturais sempre que possível — Se a maior parte do seu guarda-roupa for de poliéster, náilon ou acrílico, você respira fibras sempre que se movimenta. Escolha algodão orgânico, lã, linho ou cânhamo para roupas, roupas de cama e toalhas.
Se você é pai ou mãe, fibras naturais orgânicas são especialmente importantes para crianças, pois seus pulmões menores são mais vulneráveis. Para itens sintéticos que você já possui, lave-os com menos frequência, seque-os no varal e use um saco de microfibra para roupas sujas para evitar que as fibras escapem para o ar da sua casa ou para os cursos d’água locais.
3.Pare de aquecer e armazenar alimentos em recipientes de plástico — Cada vez que você esquenta sobras de comida em um recipiente de plástico ou toma café quente em um copo de plástico, você libera mais microplásticos nos alimentos. Transfira suas refeições para recipientes de vidro ou aço inoxidável antes de reaquecer. Armazene os alimentos nesses recipientes mais seguros desde o início, para não precisar procurar alternativas de última hora.
4.Aspire e tire o pó de forma a reter as partículas em vez de espalhá-las — aspiradores de pó comuns sopram o pó fino — e os microplásticos nele contidos — de volta para o ar. Escolha um aspirador selado com filtro HEPA. Aspire carpetes, tapetes e áreas de animais de estimação com frequência, pois as fibras se desprendem tanto de roupas sintéticas quanto de tecidos para casa. Ao tirar o pó, evite o pano seco. Use um pano de microfibra úmido para capturar e segurar as partículas, evitando que sejam agitadas e inaladas.
5.Reavalie seus utensílios e superfícies de cozinha — Tábuas de corte de plástico se desprendem diretamente na comida a cada passada de faca. Substitua-as por madeira ou vidro, que são mais duráveis e muito menos propensos a lascar. Se você ainda usa utensílios de cozinha de plástico, troque-os por aço inoxidável ou madeira. Mesmo essas pequenas melhorias reduzem a exposição constante ao microplástico em suas refeições diárias.
Perguntas frequentes sobre microplásticos em fluidos reprodutivos
P: O que o novo estudo revelou sobre microplásticos em fluidos reprodutivos humanos?
R: Um estudo publicado na Human Reproduction encontrou microplásticos em 69% das amostras de fluido folicular de mulheres e 55% das amostras de sêmen de homens.10 Os pesquisadores detectaram nove tipos diferentes, incluindo náilon, poliuretano e PVC, todos comuns em itens do dia a dia, como roupas, embalagens, utensílios de cozinha e móveis.
P: Como os microplásticos entram no meu sistema reprodutor?
R: Os microplásticos entram no seu corpo por inalação, ingestão e contato com a pele. Uma vez lá dentro, eles passam para a corrente sanguínea, que os transporta para os tecidos de todo o corpo — incluindo os ovários e os testículos. O aumento do fluxo sanguíneo durante certos processos reprodutivos, como a estimulação ovariana para a coleta de óvulos, aumenta as concentrações no fluido folicular.
P: Por que essa descoberta é importante para a fertilidade e a saúde reprodutiva?
R: Mesmo em pequenas quantidades, os microplásticos carregam substâncias químicas que desregulam os hormônios, desencadeiam inflamações e interferem na função dos espermatozoides e dos óvulos. Como os fluidos reprodutivos são ambientes altamente sensíveis, qualquer alteração química ou física tem o potencial de afetar a concepção e os resultados da gravidez.
P: Existem maneiras naturais de ajudar a remover microplásticos do meu corpo?
R: Pesquisas emergentes estão explorando ligantes naturais como psyllium reticulado e quitosana, que retêm microplásticos no intestino, bem como cepas probióticas que se ligam a partículas plásticas. Outras abordagens visam aprimorar os sistemas de depuração do próprio corpo, incluindo a desintoxicação hepática e a autofagia.
P: Que medidas posso tomar agora para reduzir a exposição diária ao microplástico?
R: As principais ações incluem a melhoria da filtragem do ar e da água, a adoção de tecidos naturais, a prevenção do aquecimento ou armazenamento de alimentos em plástico, o uso de aspiradores com filtro HEPA e métodos de limpeza com pó úmido, além da substituição de utensílios de cozinha de plástico, como tábuas de corte e utensílios, por madeira, vidro ou aço inoxidável. Essas mudanças reduzem a quantidade de plástico que entra no seu corpo diariamente, ajudando a proteger a saúde reprodutiva a longo prazo.
Referências
- 1, 2, 10 Human Reproduction July 2025, 40
- 3, 4, 5, 6 CNN July 1, 2025
- 7 ChemistrySelect June 2024, 9(21)
- 8 Sci Rep. 2025 Apr 23;15:14041
- 9 Front Microbiol. 2025 Jan 10;15:15
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, outubro de 2025