Saúde: Estudo aponta que floresta amazônica bem preservada em terras indígenas pode proteger pessoas de doenças

Um pescador caminha até seu barco em Santa Rosa, Perú, uma ilha do Rio Amazonas, 17 de agosto de 2025. Foto AP/Ivan Valencia, arquivo

MELINA WALLING

11 set 2025

[Nota do Website: Mais uma demonstração de que o supremacismo branco eurocêntrico centrado do capital e não nos humanos e não-humanos, está, há séculos, com sua postura colonialista, devastadora e excludente, gerando um futuro que já se mostra desastroso. No entanto, nós do Brasil, que ainda temos esse manancial de riqueza humana e ambiental, precisamos com urgência abandonar definitivamente a doutrina da colonialidade e nos voltarmos para nós mesmos. É imperativo e humanista].

Toda vez que os humanos desmatam a floresta amazônica, queimam ou destroem partes dela, eles deixam as pessoas doentes.

É uma ideia que os povos indígenas defendem há milhares de anos. Agora, um novo estudo publicado na revista Communications Earth & Environment reforça as evidências científicas que a sustentam, ao constatar que os casos de diversas doenças foram reduzidos em áreas onde a floresta foi reservada para povos indígenas que a mantiveram adequadamente.

Com a cúpula do clima das Nações Unidas marcada para novembro no Brasil, os autores do estudo e especialistas externos afirmaram que o trabalho destaca os desafios para as pessoas em todo o mundo enquanto os negociadores tentam lidar com as mudanças climáticas. Belém, a cidade que sedia a conferência, é conhecida como a porta de entrada para a Amazônia, e muitos dos participantes, de ativistas a delegados, acreditam que o papel das comunidades indígenas na ação climática e na conservação será destacado de forma distinta.

“O ‘homem da floresta’, ‘silvícola’ ou ‘homem-floresta’, segundo a perspectiva indígena, sempre esteve ligado à reciprocidade entre a saúde humana e o ambiente natural onde se vive”, disse Francisco Hernández Cayetano, presidente da Federação das Comunidades Ticuna e Yagua do Baixo Amazonas, ou FECOTYBA, na Amazônia peruana. “Se cada Estado não garantir os direitos e territórios dos povos indígenas, estaremos inevitavelmente prejudicando sua saúde, suas vidas e o próprio ecossistema.”

Esses danos podem se manifestar como doenças respiratórias, como asma, causada pela poluição tóxica do ar após incêndios, ou doenças que se espalham de animais para humanos, como a malária, disse Paula Prist, coordenadora sênior do programa da Unidade de Florestas e Pastagens da União Internacional para a Conservação da Natureza e uma das autoras do estudo.

Os pesquisadores compilaram e analisaram dados sobre qualidade da floresta, reconhecimento legal de territórios indígenas e incidência de doenças nos países que fazem fronteira com a Amazônia e a incluem.

Especialistas externos opinam

O trabalho foi “impressionante” para Kristie Ebi, cientista de saúde e clima da Universidade de Washington. Ela disse que o trabalho destacou a complexidade dos fatores que afetam a saúde humana e a importância de compreender o papel que as comunidades indígenas desempenham em sua formação. “Usando esses métodos, outros poderiam estudar outras partes do mundo”, disse ela.

Os pesquisadores encontraram maneiras criativas de levar em conta outras variáveis ​​que podem afetar a disseminação de doenças, como o acesso a cuidados de saúde em uma determinada área, disse Magdalena Hurtado, professora de antropologia e saúde global na Universidade Estadual do Arizona e membro da Academia Americana de Artes e Ciências, que não participou do estudo. No entanto, ela expressou preocupação com o fato de as descobertas terem sido apresentadas com uma precisão que pode não ser justificada, visto que se basearam em correlações e utilizam dados de observações que podem ser difíceis de mensurar.

“Eles alegam que os territórios indígenas só protegem a saúde quando a cobertura florestal está acima de 40%. E então a sensação é: por que 40%? Por que não 35%? Ou por que não uma faixa?”, questionou ela. “Isso não significa que o estudo esteja errado, mas significa que precisamos ser cautelosos, porque os padrões podem mudar se métodos diferentes e mais precisos forem usados.”

Ainda assim, ela acredita que este é um ponto de partida que pode abrir portas para pesquisas futuras. “Eles estão, na verdade, fazendo algo muito bonito”, conectando empiricamente o reconhecimento legal de terras indígenas aos resultados em saúde humana, disse ela.

Hernández, da FECOTYBA, disse que isso é importante para os formuladores de políticas globais que estão vindo ao Brasil.

“Da minha perspectiva indígena, acredito que esse tipo de estudo tornaria nosso conhecimento ancestral mais visível e preciso”, disse ele.

Há um forte conjunto de evidências mostrando que a posse de terras indígenas ajuda a manter florestas intactas, mas o artigo mostra que é importante manter as florestas fora das áreas administradas por indígenas também, disse James MacCarthy, gerente de pesquisa de incêndios florestais da equipe Global Forest Watch do World Resources Institute, que trabalhou em um novo relatório sobre incêndios florestais extremos e o papel das comunidades indígenas em lidar com eles, e que não estava envolvido no estudo.

Paisagens que produzem benefícios e não prejudicam a saúde humana

Prist disse que o objetivo do estudo era entender como as paisagens podem ser saudáveis ​​para as pessoas, mas que seria ingênuo sugerir que todas as paisagens florestais permaneçam exatamente como estão, especialmente com as necessidades de terra para a produção agrícola e pecuária.

O mundo precisa de paisagens que forneçam serviços econômicos, mas também serviços que protejam a saúde das pessoas, disse ela.

Para Julia Barreto, ecologista e cientista de dados que também trabalhou no estudo, foi especial fazer parte de uma equipe de cientistas de diferentes nações trabalhando para tornar as informações acessíveis ao público e chamar a atenção para a Amazônia.

“Não é apenas um país, o mundo inteiro depende disso de alguma forma”, disse ela.

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, setembro de 2025

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *