ILUSTRAÇÕES DE NATHALIE LEES PARA A REVISTA SUNDAY TIMES
https://www.thetimes.co.uk/article/menopause-brain-is-real-heres-how-to-deal-with-it-gzqpvsl3t
Lisa Mosconi
17 de março de 2024
[NOTA DO WEBSITE: Dentro do entendimento do nosso site, quanto mais tivermos conhecimentos de como nosso corpo se comporta, já temos uma ciência ocidental que tem essa tendência de esmiuçar toda a natureza, melhor. Ficamos assim com o lado maravilhoso e extraordinário dessa ciência ocidental, podendo escolher aqueles temas que consideramos que melhoram tanto nosso presente como nosso futuro. Sabemos que temos, por ignorância, tido pouco acolhimento com as mulheres que estão, por exemplo, na menopausa. Agora com esse lindo esclarecimento dessa médica, poderemos todos, mulheres e homens, ter mais empatia e amorosidade com essa fase de passagem das mulheres para o patamar das mulheres sábias].
Forças neurológicas poderosas atingem as mulheres à medida que envelhecem, diz a neurocientista Lisa Mosconi – mas não entre em pânico.
Quando meu marido completou 40 anos, o Facebook o cumprimentou com um anúncio para a compra de um carro novo. Quando chegou a minha vez, abri minhas mensagens com um anúncio de Botox. Como sociedade, somos levados a pensar que, quando os homens envelhecem, o fazem como um bom vinho. Quando as mulheres envelhecem, o ponto de vista muda. Nosso vinho em maturação é frequentemente visto como vinagre.
A maioria das pessoas sabe que a menopausa marca o fim do ciclo menstrual da mulher e, portanto, da sua capacidade de ter filhos. Mas quando os ovários fecham, o processo tem efeitos muito mais amplos e profundos do que aqueles associados à fertilidade. Na verdade, os sintomas da menopausa – as ondas de calor, a ansiedade e a depressão, as noites sem dormir, a confusão mental, os lapsos de memória – são sintomas neurológicos decorrentes das formas como a menopausa altera o cérebro.
A idade média de início da perimenopausa é aos 47 anos, com o início da menopausa por volta dos 51 ou 52 anos. A transição geralmente dura de quatro a sete anos, mas pode durar até 14 anos. Historicamente, a menopausa tem sido tratada como uma condição pré-morte, mas como neurocientista e especialista em saúde cerebral feminina, quero dissipar o mito de que significa um fim (incluindo o fim da libido: estudos recentes revelam que algumas mulheres na menopausa experimentam um desejo renovado, normalmente durante a fase pós-menopausa tardia, após os 60 a 65 anos de idade).
As coisas estão melhorando. Agora temos terapia de reposição hormonal (TRH) e outras opções hormonais e não hormonais, e sabemos que mudanças no estilo de vida podem ajudar a superar alguns dos desafios. Aqui está o que sabemos sobre o cérebro na menopausa – e o que você pode fazer a respeito.
Como o cérebro muda
A menopausa desempenha um papel fundamental na forma como o cérebro da mulher envelhece. Estudos demonstraram que a menopausa é um processo neurologicamente ativo que altera o cérebro de maneiras bastante singulares. Por exemplo, exames PET/Positron Emission Tomography (nt.: tomografia que se realiza com escaners por meio de pósitrons) – que podem medir os níveis de energia no cérebro – mostraram que o metabolismo da glicose no cérebro em mulheres pós-menopáusicas diminui até 30 por cento, enquanto os homens da mesma idade não apresentam estas alterações.
Essas mudanças no cérebro feminino podem afetar a temperatura corporal, o humor, o sono, os níveis de estresse e o desempenho cognitivo. As descobertas são evidências científicas do que muitas mulheres sempre disseram: a menopausa altera o cérebro.
A disparidade de gênero
Os cérebros das mulheres não são iguais aos dos homens: são hormonal e quimicamente diferentes, até certo ponto. Embora estas diferenças não tenham efeitos determinísticos na inteligência ou no comportamento e nunca devam ser utilizadas para reforçar estereótipos de gênero, são cruciais para apoiar a saúde do cérebro e compreender as necessidades das mulheres durante a menopausa.
As mulheres têm duas vezes mais probabilidades que os homens de serem diagnosticadas com perturbação de ansiedade ou depressão, duas vezes mais probabilidades de desenvolverem a doença de Alzheimer, quatro vezes mais probabilidades de sofrerem de dores de cabeça e enxaquecas, mais probabilidades de desenvolverem certos tipos de tumores cerebrais e mais probabilidades de serem mortas por um derrame.
A prevalência destas doenças cerebrais muda de praticamente igual entre mulheres e homens antes da menopausa para uma proporção de mulheres para homens de 2:1 ou superior após a menopausa. Uma mulher na faixa dos cinquenta anos tem duas vezes mais probabilidade de desenvolver ansiedade, depressão ou mesmo demência ao longo da vida do que desenvolver câncer da mama. No entanto, o câncer da mama é claramente reconhecido como um problema de saúde das mulheres, ao passo que nenhuma destas doenças cerebrais o é.
Sentindo o calor
Os afrontamentos – uma onda súbita e intensa de calor na parte superior do corpo, especialmente no rosto, pescoço e peito – são considerados a característica fundamental da menopausa, vividos por até 85 por cento das mulheres. Muitas mulheres pensam que são um sinal de que há algo errado com a sua pele, mas na verdade são um sintoma neurológico.
Como? Tudo começa com um hormônio chamado estradiol, um tipo de estrogênio necessário para o desenvolvimento reprodutivo. Quando o suprimento de estradiol de uma mulher diminui após a menopausa, isso afeta o hipotálamo – uma parte do cérebro que controla a temperatura corporal. Os cientistas acreditam que os afrontamentos são, pelo menos em parte, resultado da loucura do hipotálamo.
Os afrontamentos podem ser debilitantes e as evidências sugerem que as mulheres que sofrem de afrontamentos mais cedo na vida podem correr maior risco de doenças cardíacas.
NATHALIE LEES PARA A REVISTA SUNDAY TIMES
Confusão mental
Mais de 60 por cento das mulheres na perimenopausa e na pós-menopausa lutam contra a confusão mental. Você pode acabar fazendo coisas cada vez mais distraída, como entrar em uma sala apenas para se perguntar o que a levou a ir até ali. Os pertences podem ser perdidos, com recipientes de leite entrando nos armários e caixas de cereais acabando na geladeira. A comunicação também pode se tornar um desafio: você pode ter dificuldade para recuperar aquela palavra que está na ponta da língua ou perder a linha de pensamento.
Muitas temem que este seja um declínio cognitivo permanente, mas experimentar confusão mental ou esquecimento na menopausa não significa que alguém esteja necessariamente desenvolvendo demência – há uma grande diferença entre perceber um declínio na capacidade cerebral e estar clinicamente prejudicado. Demência não é esquecer onde você deixou as chaves; demência é esquecer para que servem as chaves.
O mini exame do estado mental é um teste curto comumente usado para medir o desempenho cognitivo. As perguntas verificam se há deficiências no pensamento, comunicação, compreensão e memória. A pontuação máxima é 30. Uma pontuação igual ou superior a 25 reflete o desempenho cognitivo normal. Uma pontuação de 24 ou menos indica possível comprometimento cognitivo. Quanto menor a pontuação, maior a probabilidade de uma pessoa ter demência.
Digamos que, antes da “menopausa”, você tivesse uma pontuação de 30. À medida que você começa a passar pela transição, esse 30 pode se tornar 29 ou 28. Embora seja uma pequena mudança, percebe-se: faltam compromissos e chaves são extraviadas, perdidas. Ainda assim, embora o seu desempenho tenha diminuído em relação à sua linha de base, esta mudança não a coloca na faixa “prejudicada” e, portanto, não indica um déficit cognitivo.
Embora a confusão mental da menopausa não tenha sido objeto de muitas pesquisas, há evidências de que normalmente é uma mudança temporária para muitas mulheres e que a acuidade mental se estabiliza ou se recupera após a menopausa.
Treinamento cerebral
A menopausa, entretanto, traz uma atualização ao sistema operacional do cérebro. À medida que você passa pela mudança, a amígdala – a parte do cérebro que processa as emoções (nt.: emoções ligadas ao sistema nervoso simpático, ou seja, lutar ou fugir=medo, raiva) – torna-se menos reativa à estimulação emocional negativa. Quando você apresenta imagens negativas e positivas para mulheres na pós-menopausa e na pré-menopausa, a amígdala pós-menopausa responde menos a informações emocionalmente desagradáveis. Ao mesmo tempo, as mulheres na pós-menopausa tendem a ativar o córtex pré-frontal – a parte do cérebro que governa o pensamento racional – mais do que as mulheres na pré-menopausa. Isto reforça a ideia de que, após a menopausa, as mulheres têm melhor controle das suas emoções, particularmente das suas reações a circunstâncias tristes ou perturbadoras.
A TRH ajuda?
No momento em que uma mulher começa a navegar na menopausa, a terapia hormnal como TRH/thyrotropin-releasing hormone sem dúvida já passou pelo seu radar. Mas muitas mulheres desistem devido aos avisos sobre o aumento dos riscos de câncer, doenças cardíacas e acidentes vasculares cerebrais.
Os riscos e benefícios da TRH variam com base em muitos fatores. A TRH é aprovada para alívio de afrontamentos ou fogachos, distúrbios do sono (especialmente devido a afrontamentos), sintomas geniturinários como atrofia vaginal, sintomas depressivos leves e para prevenção da osteoporose. Embora sejam necessárias pesquisas mais rigorosas, pesquisas emergentes sugerem que a TRH pode ajudar no combate à confusão mental e ao esquecimento, além de proteger contra o declínio cognitivo, pelo menos para algumas mulheres.
Felicidade
Uma das coisas mais surpreendentes que aprendi é que as mulheres pós-menopáusicas relatam ser geralmente mais felizes do que as mais jovens – e geralmente mais felizes do que elas próprias eram antes da menopausa. De acordo com vários estudos, algumas das vantagens mais notáveis e negligenciadas da menopausa giram em torno de uma melhor saúde mental e de um maior contentamento com a vida.
© Lisa Mosconi 2024. Extraído de The Menopause Brain (Allen & Unwin £ 16,99). Para solicitar uma cópia, acesse timesbookshop.co.uk. Desconto disponível para membros do Times.
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, maio de 2024.