
Costa de Heuqueville (Seine-Maritime), 25 de agosto de 2025. LOU BENOIST / AFP
15 out 2025
[Nota do Website: Como sempre estamos reafirmando em nosso trabalho de que devemos estar total e completamente atentos a TODAS as moléculas artificiais. Elas não são somente agrotóxicos, plastificantes, conservantes e outras, mas destacadamente, são também MEDICAMENTOS. Aqui se contata como os tais ‘medicamentos’ de uso constante, como se inócuos fossem, presentes longe de onde foram usados. Estão no mar e nos animais marinhos que inclusive empregamos como alimento. Entendem o coquetel, enlouquecido, que vivemos? Nossos alimentos estão sendo contaminados não só porque aplicamos os produtos sobre eles, mas também, por não serem degradados como são os produtos naturais, chegando, no final, aos nossos alimentos mesmo nas profundezas dos oceanos].
De 2021 a 2024, cientistas do Ifremer/Institut Français de Recherche pour l’Exploitation de la Mer e do laboratório EPOC/Environnements et Paléoenvironnements
Océaniques et Continentaux, vinculado ao CNRS/Centre National de la Recherche Scientifique, entre outros, pesquisaram a presença de cerca de cem contaminantes na água do mar e nos moluscos.
Os produtos químicos utilizados pelos humanos são encontrados em todo o ciclo da água: nuvens, águas subterrâneas, rios e o mar, o reservatório da água fluvial. O relatório Emergent’Sea, publicado online na quarta-feira, 15 de outubro, pelo Instituto Francês de Pesquisa para a Exploração do Mar (Ifremer) e pelo laboratório de Ambientes Oceânicos e Continentais e Paleoambientes, afiliado ao CNRS, entre outros, destaca a extensão da contaminação das costas da França metropolitana.
De 2021 a 2024, cientistas pesquisaram na água do mar e nos moluscos a presença de cerca de cem contaminantes, principalmente agrotóxicos, mas também substâncias farmacêuticas e produtos antiincrustantes usados para limitar a proliferação de algas e crustáceos nos cascos dos barcos.
Os dados coletados em cerca de trinta locais demonstram a detecção em larga escala dessas substâncias orgânicas de “interesse emergente“, que não são regulamentadas no ambiente marinho e cujos efeitos ainda são pouco compreendidos. “Estamos encontrando substâncias de interesse emergente em todos os nossos pontos de monitoramento, localizados ao longo de toda a costa metropolitana“, observa Isabelle Amouroux, chefe da unidade dedicada à contaminação química de ecossistemas marinhos do Ifremer, que liderou o projeto. Em média, 15 substâncias são quantificadas na água do mar por local de monitoramento. Três quartos das 66 substâncias procuradas na água do mar aparecem pelo menos uma vez.
Entre os produtos mais detectados estão os herbicidas (nt.: destaque em negrito dado pela tradução para demonstrar a onipresença de agrotóxicos como os herbicidas na água). Vários correspondem a moléculas proibidas, como a atrazina (nt.: destaque em negrito dado pela tradução para demonstrar como somos permissivos no Brasil e muito usado em milho e cana de açúcar=contaminação do milho e do açúcar que comemos!), usada até 2003 para o cultivo de milho, que ainda é encontrada em grandes quantidades nas águas subterrâneas francesas. É um dos sete herbicidas, assim como seu produto de degradação, a 2-hidroxi atrazina, presente e medido em mais de 70% das análises de água do mar. O mesmo vale para o metolacloro (nt.: também permitido no Brasil), proibido nos campos franceses em 2023, e seus metabólitos. Também é identificado em moluscos, onde se acumulam os produtos mais hidrofóbicos.
Antiepiléptico, ansiolítico
Os sete medicamentos testados na água do mar também foram encontrados em águas costeiras. Os mais comuns são paracetamol (nt.: destaque da tradução), carbamazepina (nt.: destaque da tradução), usada principalmente como antiepiléptico, e oxazepam (nt.: destaque da tradução), um ansiolítico. Esses três compostos foram quantificados em mais de 80% dos pontos de monitoramento.
“Esses dados demonstram nossa capacidade, com as técnicas atuais, de destacar a contaminação do ambiente marinho“, enfatiza Isabelle Amouroux. Isso é, por vários motivos, complexo de caracterizar. Existem restrições técnicas: na água do mar, os poluentes podem ser diluídos – eles atingem concentrações da ordem de nanogramas por litro nos locais de monitoramento da Emergent’Sea, sendo que estes últimos “não são necessariamente representativos da qualidade média das águas onde são encontrados“, alerta a Sra. Amouroux. “Escolhemos locais expostos a aportes de poluentes, que muitas vezes estão localizados em estuários” , acrescenta.
Mathilde Monperrus, coordenadora do projeto de pesquisa Micropolit, que examinou poluentes emergentes na área costeira do sul da Aquitânia, elogia o trabalho como “em grande escala, dado o número de amostras e substâncias visadas“. Embora esteja longe de ser exaustivo — não inclui certas substâncias, como aquelas contidas em produtos de higiene ou substâncias perfluoroalquiladas e polifluoroalquiladas (PFAS), monitoradas em outro projeto do Ifremer — este relatório “destaca moléculas que surgem com frequência e que podem representar um problema“, acrescenta esta pesquisadora da Universidade de Pau e Pays de l’Adour, que não esteve envolvida no estudo.
Efeito “coquetel” dessas substâncias
Por enquanto, as potenciais consequências das concentrações de poluentes na biodiversidade marinha e nos seres humanos são difíceis de avaliar. “Ainda não temos limites robustos para isso” , afirma a Sra. Amouroux. Há também a questão do efeito “coquetel” de todas essas substâncias. “Ainda estamos longe de compreender os efeitos combinados de todas essas moléculas“, conclui Mathilde Monperrus.
“Esta campanha terá demonstrado um impacto real do ambiente continental nas águas costeiras em termos de qualidade química. No entanto, o monitoramento atual apresenta lacunas“, acrescenta Pierre-François Staub, gerente de projetos de poluição de ecossistemas e metrologia do Escritório Francês para a Biodiversidade, que financiou o projeto.
As regulamentações europeias exigem que os estados complementem a lista de cerca de quarenta substâncias (e famílias de substâncias ) que já são obrigados a monitorar com poluentes “específicos” de suas bacias hidrográficas . No entanto, por enquanto, a França definiu a clordecona (nt.: proibido no Brasil, pela ratificação da Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes)– um inseticida altamente tóxico – como tal apenas para ambientes costeiros na Martinica e em Guadalupe.
O Emergent’Sea propõe uma lista de substâncias a serem monitoradas prioritariamente entre as estudadas. Suas conclusões foram apresentadas ao Ministério e às agências de recursos hídricos. “Se este trabalho resultar na integração desses poluentes emergentes no monitoramento costeiro, será uma grande vitória“, espera Marc Valmassoni, coordenador de recursos hídricos e saúde da Fundação Surfrider Europe. Ele defende uma melhor compreensão das substâncias presentes no ambiente marinho, também com o objetivo de prevenir qualquer impacto na saúde humana.
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, outubro de 2025