Reino Unido pode estar promovendo, no Brasil, comércio e uso de agrotóxicos proibidos

Produtor brasileiro pulverizando um campo de soja em Goiás, no Brasil, neste mês de fevereiro. Fotografia: Agência Anadolu/Getty Images

https://www.theguardian.com/environment/2022/feb/23/uk-trade-could-promote-use-of-banned-pesticides-in-brazil-new-report-warns

Helena Horton

 23 de fevereiro de 2022

Ativistas temem que ações comerciais possam prejudicar o meio ambiente no exterior e acabar enfraquecendo os regulamentos no Reino Unido

O Reino Unido está exportando sua pegada de agrotóxicos para outros países, dizem ambientalistas. Um novo relatório, da Pesticide Action Network UK, descobriu que o aumento do comércio com o Brasil poderia financiar o uso de produtos nocivos que são proibidos na Grã-Bretanha.

O governo brasileiro está atualmente promovendo um projeto de lei que reduziria as leis para protegerem a saúde humana e ambiental dos venenos agrícolas. Mesmo sem esse novo pacote de leis, os agricultores brasileiros podem usar quase o dobro de agrotróxicos perigosos que os do Reino Unido, incluindo o herbicida letal Paraquat, que causou dezenas de milhares de mortes em todo o mundo por envenenamento agudo, além dos neonicotinóides , que são tóxicos para as abelhas.

Ativistas disseram que a dependência do aumento do comércio com o Brasil após o Brexit poderia incentivar o uso desses venenos e degradar o meio ambiente naquele país.

Vicki Hird, coordenadora da campanha de agricultura sustentável da Sustain, disse: “A maioria dos consumidores do Reino Unido não tem ideia de que parte da carne que estão comendo foi alimentada com soja cultivada com produtos químicos altamente tóxicos. No momento, o governo do Reino Unido está falando de um bom jogo para reduzir os danos dos agrotóxicos no Reino Unido, mas parece não ter problemas em exportar nossas pegadas ambientais e de saúde humana para o Brasil.”

O relatório também alerta que o vínculo comercial mais forte pode acabar enfraquecendo as regulamentações de agrotóxicos no Reino Unido. Ele diz que, como um grande exportador agrícola, o Brasil teria muito a ganhar com uma queda nos padrões do Reino Unido, que excluem as exportações de alimentos contendo venenos em quantidades que excedem os limites de segurança do Reino Unido.

O governo do Reino Unido propôs um projeto de lei que afetará as empresas que têm desmatamento em suas cadeias de suprimentos, incluindo agricultores na Amazônia que desmatam a floresta tropical. No entanto, ainda não existe uma lei que se refira a agrotóxicos.

Josie Cohen, chefe de políticas e campanhas da Pesticide Action Network UK , disse: “O secretário de comércio do Reino Unido está promovendo o comércio com o Brasil como ‘oportunidades reais para avançar no comércio verde’. Enquanto isso, o uso excessivo de agrotóxicos altamente tóxicos no Brasil está contribuindo para a destruição da Amazônia e de outros ecossistemas de importância crucial, contaminando a água e envenenando trabalhadores rurais e comunidades. E, no entanto, o governo não forneceu detalhes sobre como garantirá que os alimentos brasileiros vendidos nas prateleiras do Reino Unido não contribuam para a crise global do clima e da natureza.”

Outro relatório, divulgado na terça-feira, descobriu que em 2020 empresas químicas sediadas no Reino Unido notificaram a exportação de vários agrotóxicos perigosos proibidos de uso em fazendas e campos britânicos.

Um cartaz em São Paulo mostra os deputados do Brasil que votaram para derrubar leis para proteger a saúde humana e ambiental dos agrotóxicos. Fotografia: Carla Carneel/Reuters

A investigação da Unearthed, ala de jornalismo do Greenpeace, descobriu que empresas do Reino Unido exportaram sete agroquímicos proibidos para o exterior naquele ano. Eles incluíam herbicidas contendo Paraquat; inseticidas contendo imidaclopride, um neonicotinóide proibido no Reino Unido por causa dos graves danos que pode causar às populações de abelhas; e um fungicida chamado Propiconazol, banido depois que se descobriu que era capaz de prejudicar bebês no útero.

O cientista-chefe do Greenpeace UK, Doug Parr, disse: “Ao permitir que empresas sediadas no Reino Unido exportem produtos químicos nocivos proibidos para uso em nossas fazendas, o governo do Reino Unido está se comportando como um barão das drogas com o lema ‘não fique chapado com seu próprio suprimento’. Esses padrões duplos são profundamente cínicos e moralmente indefensáveis.

“Longe de agir como um líder ambiental, o governo do Reino Unido não está conseguindo acompanhar a Comissão Europeia, que se comprometeu, com razão, de acabar com a exportação desses produtos químicos proibidos. Os ministros devem considerar os danos que esse comércio tóxico está causando às pessoas e à vida selvagem e devem proibi-lo imediatamente”.

Um porta-voz do Departamento de Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais disse: “Este governo está unido em seu compromisso de defender seus padrões mundiais de proteção ambiental, bem-estar animal e alimentos em nossos acordos comerciais. No caso de neonicotinoides e outros produtos químicos, o Reino Unido supera o padrão internacional, exigindo que as empresas exportadoras confirmem com os países que aceitaram quaisquer importações antes de serem enviadas.

“Estamos comprometidos em basear as decisões sobre o uso de agrotóxicos em avaliações científicas robustas e não autorizaremos os que possam trazer riscos inaceitáveis ​​para as pessoas ou o meio ambiente. Todos os produtos agroalimentares importados para o Reino Unido sob acordos e parcerias comerciais existentes ou futuros terão, como agora, que cumprir nossos requisitos”.

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, março de 2022.