O presidente da Bolívia destacou que a nacionalização dos hidrocarbonetos (nota do site: a nacionalização do petróleo e seus derivados), entre outros setores, permitiu ao Estado controlar 34% da economia. Os acertos do seu governo constituem seu melhor spot de campanha.
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A reportagem é de Sebastián Ochoa e publicada no jornal argentino Página/12, 23-01-20014. A tradução é de André Langer.
O presidente Evo Morales apresentou as conquistas da sua gestão, que nesta quarta-feira, dia 22, completou oito anos. Falou sobre os bons resultados dos indicadores econômicos e anunciou que o país começará a desenvolver energia atômica, com a colaboração de cientistas da Argentina e da França. “Agora temos pátria, recuperamos a pátria que antes estava nas mãos dos estrangeiros”, disse o líder aimara em referência à influência política que o governo dos Estados Unidos exerceu durante décadas sobre o país.
Em outubro deste ano, haverá eleições presidenciais na Bolívia. Prevê-se que Morales consiga ao menos 50% dos votos para garantir no primeiro turno seu terceiro mandato consecutivo. Os acertos econômicos do seu governo, iniciado em 2006, constituem o seu melhor spot de campanha. Para dimensionar os resultados, comparou os números do atual governo com os anteriores à sua chegada ao Palácio Quemado.
“O PIB per capita era de 1.010 dólares em 2005. No ano passado, chegamos a 2.794 dólares, o que é uma mudança significativa”, destacou o presidente na Assembleia Legislativa Plurinacional em seu discurso de quatro horas.
Segundo Morales, o PIB da Bolívia hoje é de 30,8 bilhões de dólares. São 21,3 bilhões a mais que em 2005, quando chegava a apenas 9,5 bilhões de dólares. O presidente destacou que a nacionalização dos hidrocarbonetos, entre outros setores, permitiu ao Estado controlar 34% da economia do País, frente aos 20% em 2005.
Estes resultados se devem a um “novo modelo econômico-social, comunitário, produtivo, que estabelece uma maior participação do Estado na economia, desestimulando a economia de livre mercado”, disse Morales.
Neste sentido, indicou que em 2014 o investimento estatal será de 6,4 bilhões de dólares, mais de 10 vezes os 629 milhões de dólares utilizados em 2005. Morales ressaltou que os depósitos da população nos bancos são, atualmente, de 15 bilhões de dólares. São algumas notas a mais que os 14,4 bilhões de dólares que há nas reservas internacionais do Banco Central. Em sua mensagem, o presidente comentou que agora alguns países se aproximam da Bolívia para pedir dinheiro emprestado, o contrário do que tradicionalmente acontecia. No final de dezembro passado, a Bolívia lançou no espaço o seu primeiro satélite, o Tupak Katari, que no futuro próximo permitirá reduzir os custos das chamadas telefônicas e melhorará a conexão da internet. “O governo decidiu que a partir de 1º de abril do presente ano a tarifa da Entel para o pré-pago baixará 20%, de 1,50 para 1,20 boliviano o minuto. Rebaixaremos também os custos da internet domiciliar, de 230 bolivianos para 195 bolivianos”, explicou.
O presidente também referiu-se à luta contra a produção de drogas, especialmente a cocaína, feita à base da folha de coca, uma planta sagrada para os indígenas locais e cujo uso é tão popular como o mate na Argentina.
“Até 2008, com a participação da DEA (agência supostamente antidroga dos Estados Unidos), 5,4 mil hectares de coca foram erradicados. No ano passado, 11,4 mil hectares (foram erradicados) sem a participação da DEA”, exemplificou Morales. O governo calcula que a produção destas terras era dirigida exclusivamente à elaboração do narcótico.
“Essa é a coragem, o compromisso não somente com a região, mas também com o povo boliviano. Felizmente, agora já não somos acusados pela comunidade internacional como zona vermelha; isso acabou”, assegurou o presidente.
E anunciou que o país começará este ano a desenvolver energia nuclear. “A Bolívia não pode ficar à margem deste conhecimento que é patrimônio de toda a humanidade. Por isso, tomamos a decisão de criar o programa nuclear boliviano com fins pacíficos. Sabemos que será um longo caminho; calculamos 10 anos para ver os primeiros resultados”, advertiu.