O cacique Raoni arrecadou cerca de 18 mil (R$ 48,4 mil), com uma campanha publicitária veiculada em países europeus, para construir uma nova aldeia na fronteira entre Mato Grosso e Pará. A ideia é que ela fique próxima do local onde vive sua tribo e sirva como uma espécie de posto de fronteira para protegê-la. Assim, os índios ocupariam a área que, segundo eles, estaria ameaçada.
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A reportagem é de Jamil Chade e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 11-12-2012.
Ontem, Raoni esteve na Organização das Nações Unidas (ONU), e lideranças da entidade afirmaram sua preocupação em relação ao impacto de obras de infraestrutura na Amazônia.
A campanha e a declaração da ONU ocorrem às vésperas do encontro entre Dilma Rousseff e François Hollande, presidente da França, previsto para hoje, em Paris. Hollande recebeu Raoni há poucos dias e prometeu que falará com Dilma.
A nova aldeia, na região de Kapot-Nhinore, deve custar quase 18,5 mil. Segundo os organizadores, quase toda a quantia foi arrecadada com uma campanha que apelou à população europeia para ajudar o cacique.
“Praticamente o dinheiro que era necessário para a aldeia já foi arrecadado”, indicou ao Estado Gert-Peter Bruch, presidente da ONG francesa Planète Amazone e um dos líderes do projeto. “Esse é o lugar onde meu pai está enterrado”, afirmou Raoni.
O local que servirá de base para a nova aldeia tem sido alvo de conflitos intensos. Para a liderança dos caiapós, só a criação de uma aldeia na região frearia invasões por parte, principalmente, de fazendeiros e turistas que vão em busca da pesca.
Em maio, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a União foram obrigadas a concluir o procedimento de identificação e delimitação da terra indígena – o Tribunal Regional Federal acatou parecer do Ministério Público Federal. A Funai apelou, argumentando que a delimitação já vem ocorrendo e, para a conclusão, restam uma pesquisa de campo e a coleta de novos dados.
Para a Funai, é a falta de controle sobre quem ocupa a área no entorno, e não a demarcação, que causa o conflito. Procurada, não se pronunciou sobre a criação da nova aldeia.
A arrecadação foi a alternativa encontrada pelos indígenas para financiar a construção de um território próprio e, assim, deixar clara a posse. “Esse é um local tradicional para meu povo e os brancos não estão respeitando”, disse Raoni, ontem, em Genebra.
O spot publicitário, dirigido por Jan Kounen (de Coco Chanel & Igor Stravinsky), mostra imagens de desmatamento, da exportação de carne, soja e madeiras e tem a participação do ator francês Vincent Cassel (estrela de filmes como Irreversível e Cisne Negro), que apela ao público que “ajude Raoni”.
Bruch diz que o dinheiro veio de “doações privadas” e nenhuma instituição bancou o projeto. Segundo ele, o custo necessário para erguer a aldeia foi calculado pelo Instituto Raoni.
Pressão
Além de dinheiro, Raoni está em busca de apoio diplomático. Ontem, ele foi recebido pela número 1 da ONU para Direitos Humanos, Navi Pillay, e fez acusações contra as obras de Belo Monte, pedindo que a entidade tome uma posição de defesa de seus interesses.
A resposta, segundo as ONGs envolvidas, foi positiva. Pillay teria se mostrado preocupada com o impacto de grandes obras realizadas sem o acordo das comunidades locais e, segundo participantes da reunião, indicou que cobraria o governo brasileiro.
Outra preocupação da ONU é a Portaria 303 da Advocacia-Geral da União, que liberaria a mineração e outras atividades nas reservas indígenas. Raoni saiu do encontro confiante de que a ONU pressionará o governo.
Em novembro, Raoni foi recebido por Hollande e entregou a ele um documento escrito por lideranças indígenas solicitando que seus direitos sejam respeitados. O documento havia sido preparado durante a Rio+20, mas Raoni teria sido impedido de entregá-lo a Dilma. “Houve uma forte pressão diplomática por parte do Brasil para que Hollande não recebesse Raoni antes da visita de Dilma“, revelou Bruch