—— África Central – República Democrática do Congo —–

https://elpais.com/especiales/2021/planeta-futuro/los-pulmones-de-la-tierra

Por Jacopo Ottaviani e Isacco Chiaf

Abril de 2021

No coração verde da África, no interior da província de Kivu, localizada a leste da República Democrática do Congo e a poucos quilômetros de Ruanda e Uganda, está o Parque Nacional de Virunga. Seus 8.000 quilômetros quadrados compreendem virgens, vulcões, lagos e extensões de savana, tudo em uma combinação absolutamente única de habitats naturais. O parque, que abriga inúmeras espécies de plantas e animais, fica na única região do mundo onde os gorilas das montanhas podem ser vistos em estado selvagem. Foi fundado em 1925, quando o Congo estava sob domínio colonial belga, é reconhecido como o parque nacional mais antigo da África e a Unesco incluiu-o na lista de Sítios do Patrimônio Mundial. Junto com a Amazônia e Bornéu, uma das florestas tropicais mais extensas do mundo cresce lá.

Parque Nacional de Virunga

O Parque Nacional de Virunga, um Patrimônio Mundial da UNESCO, está localizado no leste da República Democrática do Congo. Foi estabelecido em abril de 1925 como o primeiro parque nacional da África e tornou-se famoso por sua combinação única de habitats naturais e vida selvagem. O parque está ameaçado pela instabilidade política, bem como pela pressão de grupos rebeldes e do crescimento populacional da região.

Localização: Kivu do Norte, República Democrática do Congo

Tamanho: 7.800 km²

População ao redor do parque: 4 milhões de pessoas

O Parque Nacional de Virunga é um delicado ecossistema localizado em uma região muito complexa. Ao longo de seus limites e em cidades vizinhas, como Goma e Beni, vivem cerca de quatro milhões de pessoas, muitas delas na pobreza e em crise de saúde. A pobreza é agravada pela violência. Dezenas de grupos armados continuamente atacam a área em um conflito que começou em 2004 e que, até agora, já causou pelo menos 12.000 vítimas, 1,4 milhão de deslocados internos e um aumento extraordinário na mortalidade da população civil por causas indiretas.

Todos os dias, mais de 700 guardas florestais do Instituto Congolês de Conservação da Natureza trabalham em condições extremamente difíceis, arriscando suas vidas para monitorar a tranquilidade do parque e evitar o desmatamento e a caça ilegal. Os guardas também protegem os gorilas das montanhas e outras espécies ameaçadas de extinção, e escoltam e orientam os turistas que visitam a reserva. Esse esforço de conservação valeu a pena e, recentemente, a população de gorilas da montanha ultrapassou 1.000.

Ser guarda florestal no Parque Nacional de Virunga é um trabalho perigoso. Desde 2006, mais de 150 morreram no cumprimento do dever. Em junho de 2020, um grupo de rebeldes emboscou um comboio perto da cidade de Rumangabo. Eles mataram 12 guardas florestais , um motorista e quatro civis em um dos ataques mais violentos dos últimos anos. De acordo com o Barômetro de Segurança Kivu , um projeto conjunto do Congo Study Group e Human Rights Watch, entre 2017 e 2021, mais de 3.750 incidentes foram registrados na área, incluindo mortes violentas, desaparecimentos e sequestros em troca de resgate. Entre eles, em 22 de fevereiro de 2021, o embaixador italiano na República Democrática do Congo, Luca Attanasio, seu escolta, Vittorio Iacovacci, e o motorista, Mustapha Milambo, foram mortos em um ataque a um comboio do Programa Mundial de Alimentos. na estrada entre Goma e Rutshuru.

No entanto, as atividades do pessoal não se limitam à proteção. Entre eles está também o fortalecimento do tecido econômico das comunidades que vivem ao longo dos limites do recinto. A ideia é que, com o fortalecimento da economia local, a exploração ilegal dos recursos do parque, como a extração de madeira para lavoura ou produção de carvão, perderá o atrativo e a reserva será mais sustentável.

Para os cerca de quatro milhões de habitantes das áreas limítrofes do parque, a falta de energia elétrica é um dos principais problemas que impedem o desenvolvimento sustentável. Sem eletricidade, os alimentos não podem ser processados, armazenados ou processados, não é possível abrir um negócio ou melhorar setores-chave como saúde ou educação. Muitos habitantes são obrigados a cultivar a terra e a produzir e vender carvão para sua própria sobrevivência, às vezes sob pressão dos grupos armados que proliferam na área.

Pobreza, guerra e falta de infraestrutura não são os únicos problemas que a província do parque enfrenta. A estes devem ser acrescentadas doenças como o sarampo e o ebola. Entre 2018 e 2020, cerca de 3.000 pessoas morreram em Kivu no que foi considerado o segundo surto de ebola mais grave já registrado no mundo. Os esforços das autoridades congolesas e de organismos internacionais, com a colaboração do Parque Nacional de Virunga, conseguiram conter a epidemia, e em junho de 2020 foi declarada encerrada.

No entanto, a alegria não durou muito: enquanto a Organização Mundial da Saúde confirmava que a epidemia havia terminado em Kivu, a pandemia de Covid-19 começou a se espalhar pelo mundo e foi adicionada à nova epidemia de ebola na província de Equateur, no noroeste da República Democrática do Congo, onde durou até novembro de 2020. Segundo a OMS, os sistemas de saúde e logística do país sofreram enorme pressão.

Previsão de desmatamento

De acordo com uma simulação científica conduzida pelo Grupo de Pesquisa de Geoinformática da Universidade de Aalborg em Copenhague, a expansão agrícola e o desenvolvimento urbano podem reduzir significativamente a floresta de Virunga e as áreas de terra aberta entre 2020 e 2030. Fonte : Sustentabilidade, MDPI, 2020

De acordo com o Global Forest Watch, um observatório quase em tempo real das florestas do mundo criado pelo World Resources Institute, a perda de florestas virgens na República Democrática do Congo se deve principalmente à agricultura familiar, já que a população queima lotes de terra de selva para ganhar terras agrícolas. Em menor escala, mas ainda significativa, a deterioração também é consequência de novas iniciativas comerciais vinculadas ao setor agrícola ou de mineração que colocam em risco os habitats naturais.

Para se proteger de tudo isso, o parque criou uma parceria público-privada chamada Alianza por Virunga. O objetivo do plano, lançado em 2013, é promover o desenvolvimento econômico sustentável do entorno do parque, por meio da geração de empregos e da produção de energia limpa para uso doméstico e comercial. Segundo Emmanuel de Merode, diretor do Parque Nacional de Virunga desde 2008, só assim é possível promover a paz e garantir a proteção da reserva.

“Não é fácil definir metas precisas para 2030, pois há fatores imprevisíveis, como a pandemia do coronavírus, que ninguém poderia prever no início de 2020”, explica De Merode. “No entanto, temos a ambição de criar 100 mil novos empregos nos próximos anos. No final de 2019 já havíamos assistido à criação de cerca de 900 pequenas e médias empresas que operam graças à energia elétrica fornecida pelas hidrelétricas do parque”.

Até agora, a população não teve a oportunidade de obter benefício econômico com a conservação do parque, e a Aliança para Virunga foi fundada com o intuito de mudar essa tendência. “Com a geração de empregos, retiramos novos trabalhadores dos grupos armados. Estimamos que 11% dos empregos gerados pelo parque nacional sejam ocupados por ex-integrantes das milícias armadas locais”, observa De Merode.

Outros especialistas compartilham sua opinião. Num estudo publicado pelo grupo de pesquisa geoinformática da Universidade de Aalborg em Copenhagen, Mads Christensen e Jamal Jokar Arsanjani explicam que, na área de Virunga, a eletricidade teria “um papel importante na redução da pobreza e na melhoria da educação e da saúde pública”. Além disso, segundo os pesquisadores, se houvesse eletricidade, não haveria motivos para produzir carvão, uma das principais causas do desmatamento na área, e seria possível um desenvolvimento mais compatível com a conservação do parque.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), entre 1990 e 2020 nosso planeta perdeu cerca de 178 milhões de hectares de floresta, uma área aproximadamente equivalente à superfície da Líbia. Cálculos do Global Forest Watch indicam que, em 2019, uma área de floresta do tamanho de um campo de futebol desaparecia a cada seis segundos. E embora a taxa anual global de desmatamento tenha diminuído consideravelmente de 1990 a 2020, de 7,8 para 4,7 milhões de hectares de floresta perdida a cada ano, na África a tendência é inversa: nas últimas décadas, a taxa aumentou de 3,3 milhões de hectares por ano em 1990 a 3,9 em 2020.

Mudança anual na área florestal entre 1990 e 2020, no mundo

Fonte: FAO Global Forest Resources Assessment 2020

A floresta tropical do Congo é a segunda maior floresta tropical do mundo. Abrange seis países da África Central e, junto com a Amazônia e Bornéu, é considerada um dos pulmões do nosso planeta. A Bacia do Congo também abriga o maior complexo de turfeiras tropicais do planeta. Conforme explicado pela equipe do projeto CongoPeat (nt.: Turfeiras do Congo), liderada por Simon Lewis da Universidade de Leeds, a turfa cobre cerca de 145.000 quilômetros quadrados, que é uma área maior do que a Inglaterra, e retém cerca de 30 bilhões de toneladas de carbono, o equivalente a três anos de emissões de gases de efeito estufa pela queima de combustíveis fósseis em todo o mundo.

A Bacia do Congo desempenha um papel fundamental na luta contra o aquecimento global. No entanto, como outras florestas tropicais, a sua também está ameaçada por atividades humanas, como a agricultura. De acordo com um recente estudo de satélite da área, 165.000 hectares de floresta foram perdidos entre 2000 e 2014, uma área igual ao dobro da Austrália. Os pesquisadores da Universidade de Maryland que lideraram a pesquisa dizem que, se a tendência não for revertida, há o risco de que em 2100 a floresta tropical do Congo não exista mais.

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, abril de 2021.