Com a taxa de adoção das variedades transgênicas atingindo mais de três quartos das lavouras de milho nas safras de verão e inverno no país, a indústria de biotecnologia mira agora as áreas cultivadas com sementes convencionais distribuídas aos agricultores familiares pelos governos estaduais e pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). A nova fronteira é estimada em 2,6 milhões de hectares pela consultoria Céleres em estudo elaborado para a Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem).
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A reportagem é de Sérgio Ruck e publicada pelo jornal Valor, 21-01-2013.
Pelas estimativas da Céleres, o milho transgênico cobrirá 12,2 milhões de hectares no ciclo 2012/13, o equivalente a 76,1% da área total do grão prevista pela consultoria para o período. Já em relação à projeção de área da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que é de 14,7 milhões de hectares, o cereal geneticamente modificado representaria 82,3% das lavouras.
Segundo o sócio-diretor da Céleres, Anderson Galvão, o “grande desafio” do setor é romper o “viés ideológico” dos governos que afasta os agricultores familiares e boa parte da área plantada com milho (entre 17,7% e 23,9%) do uso da biotecnologia. Para ele, essas políticas governamentais são “equivocadas”, “mal elaboradas” e criam um “apartheid tecnológico” no campo.
Conforme Galvão, isso contribui para manter os baixos níveis de rendimento, na faixa de 2 mil quilos por hectare, entre os pequenos agricultores dependentes dos programas de distribuição de sementes, enquanto produtores de grande porte que usam biotecnologia alcançam até 11 mil quilos por hectare. Mesmo numa pequena lavoura, de 50 hectares, o estudo da consultoria aponta que o benefício econômico acumulado da safra 2008/09 até 2011/12 soma US$ 100,4 mil.
Deste valor, 90% referem-se ao ganho de produtividade e o restante divide-se entre a redução de custos com insumos e defensivos e a remuneração da indústria sementeira. E, mantidas as premissas atuais de aumento de eficiência, o benefício econômico pode alcançar US$ 324,1 mil no acumulado de 2011/12 a 2021/22 na mesma plantação de 50 hectares, afirma o analista.
Galvão diz ainda que o aumento da produtividade do grão transgênico, que passaria de 20% em relação ao milho convencional cultivado com nível elevado de tecnologia, e a simplificação do manejo das plantações compensam o preço 40% a 45% mais elevado das sementes modificadas, de até R$ 480 por saca. Como cada saca semeia um hectare, os 2,6 milhões de hectares supridos atualmente por sementes oficiais representariam um mercado de até R$ 1,2 bilhão por ano para a indústria de biotecnologia.
“A indústria tem disposição e interesse [em fornecer sementes transgênicas para os programas governamentais], mas há resistência dos executores das políticas públicas”, acrescenta Galvão. Segundo ele, os programas de distribuição mais importantes são os do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e de vários Estados do Nordeste.
Só no Rio Grande do Sul, a distribuição de sementes de milho para a agricultura familiar chega a 400 mil sacas por safra, o suficiente para plantar 400 mil hectares, ou 40% da área total de milho no Estado, explica o presidente da Abrasem, Narciso Barison Neto. Para a analista Paula Carneiro, da Céleres, o receio em distribuir material geneticamente modificado é fruto de “desconhecimento” dos benefícios da tecnologia.