PFAS: Exposição a poluentes eternos associada a alterações placentárias

Durante uma manifestação em Oullins-Pierre-Bénite (Rhône) contra o uso de PFAS, 26 de maio de 2024. JEAN-PHILIPPE KSIAZEK/AFP

https://www.lemonde.fr/planete/article/2025/02/19/pfas-l-exposition-aux-polluants-eternels-associee-a-des-alterations-du-placenta_6554596_3244.html

Sylvie Burnouf

22 fev 2025

[NOTA DO WEBSITE: É nisso que resulta a conivência dos órgão públicos e as corporações petroagroquímicas no momento em que não barram definitivamente essas moléculas que geram miríades de problemas de saúde pública. E aqui se vê muitíssimo mais sobre aqueles que ainda nem nasceram. Como podemos todos nós, dos CEOs da corporações aos gestores públicos e nós mesmos que optamos nos virar de costas para todas essas informações científicas que mostram o que essa família de ‘químicos eternos/forever chemicals’, sermos tão omissos e irresponsáveis sobre esses efeitos que causam a todos nós. Seremos todos, os que sabem e os que se negam de saber, condenados como criminosos, pela sociedade no futuro].

Um estudo epidemiológico conduzido em uma coorte francesa de mulheres grávidas destaca uma associação entre a presença de certos PFAS no sangue e a degradação da placenta, que desempenha um papel importante no desenvolvimento do feto.

Um peso reduzido e uma placenta menos vascularizada são os riscos para as mulheres grávidas mais expostas às substâncias perfluoroalquiladas e polifluoroalquiladas (PFAS), de acordo com um estudo publicado no final de janeiro por Sadia Khan (Universidade Grenoble-Alpes) e seus colegas na revista Environment International. Embora os parlamentares franceses tenham aprovado definitivamente, na quinta-feira, 20 de fevereiro, uma legislação “pioneira” que proíbe essas substâncias em três categorias de produtos de uso diário (cosméticos, têxteis e cera de esqui) e institui um imposto baseado no princípio do “poluidor-pagador”, este trabalho lança nova luz sobre o impacto desses compostos na saúde.

Altamente valorizados pelos fabricantes devido às suas propriedades antiaderentes e impermeabilizantes, bem como à sua resistência a temperaturas muito altas, os PFAS estão presentes em muitos objetos do cotidiano. “Estamos começando a acumular muitas evidências sobre o efeito de um certo número de PFAS na saúde“, lembra Xavier Coumoul, professor de toxicologia e bioquímica na Universidade Paris Cité e diretor da equipe MetaTox no Instituto Nacional Francês de Saúde e Pesquisa Médica (INSERM/Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale), que não estava envolvido no estudo. Dois desses compostos, PFOA e PFOS, foram classificados como “certamente cancerígenos para humanos” (grupo 1) e “possivelmente cancerígenos” (grupo 2B), respectivamente, em 2023, pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer – IARC/OMS.

Ao estudar o impacto do PFAS na saúde da placenta, os pesquisadores se concentraram em um “período de grande vulnerabilidade” e em um “órgão absolutamente essencial para o desenvolvimento da criança”, sublinha o toxicologista, estimando que os resultados “levantam questões sobre a vascularização dos órgãos em desenvolvimento do feto”.

“Quando iniciamos nosso estudo, tínhamos dados em animais sugerindo que a exposição a certos PFAS estava associada a uma variação no peso da placenta e levava a anormalidades morfológicas, mas muito pouco havia sido feito em humanos“, explica Claire Philippat, pesquisadora do INSERM no Instituto de Biociências Avançadas de Grenoble e coordenadora do estudo.

Trocas feto-maternas cruciais

Este trabalho, realizado com a coorte Grenoble Sepages, baseia-se na análise da concentração de 26 PFAS no sangue de 367 gestantes e do peso da placenta no momento do parto, bem como no estudo da vascularização da placenta e do seu envelhecimento.

Os pesquisadores descobriram que a exposição a vários PFAS – PFHxA (ácidos perfluorohexanóicos), PFHpA (ácidos perfluoroheptanóicos) e PFTrDA (ácidos perfluorotridecanóicos) – estava associada a alterações nas vilosidades placentárias, estruturas que garantem as trocas feto-maternas. “Essas trocas são cruciais para o desenvolvimento adequado do feto; elas permitem tanto o fornecimento de oxigênio e nutrientes da mãe para o feto quanto a eliminação de resíduos do feto para a mãe”, lembra Claire Philippat. As alterações observadas sugerem pior irrigação placentária em mulheres expostas a um desses PFAS em comparação àquelas nas quais esses compostos não foram detectados.

Os pesquisadores também descobriram que o peso da placenta era menor em mulheres com os níveis mais altos de PFAS no sangue. No entanto, eles ressaltam que a diminuição do peso da placenta pode refletir uma alteração em suas funções e constituir um elemento central na vulnerabilidade dos recém-nascidos a futuras doenças.

Regular as fontes de exposição

Como podemos limitar o contato com as substâncias identificadas? “É muito difícil, a nível individual, identificar fontes de exposição aos PFAS na vida quotidiana e eliminá-las”, responde Claire Philippat. A família PFAS é amplamente utilizada na indústria devido à sua capacidade química de repelir água e gordura, por isso é encontrada em tudo, desde recipientes de alimentos até certas roupas técnicas, tintas, espumas de combate a incêndio, cosméticos, etc.

“Na minha opinião, proteger as populações hoje envolve, portanto, regular as fontes de exposição“, continua ela. Nosso estudo destaca o espectro bastante amplo de potenciais efeitos dos PFAS na saúde, com efeitos na placenta — que é um órgão essencial para o progresso adequado da gravidez — e também mostra que vários PFAS podem ter efeito no mesmo parâmetro, o que respalda a regulação por famílias de substâncias em vez de compostos individuais. »

Os pesquisadores, por sua vez, esperam replicar seu trabalho em uma coorte nacional maior, o que lhes permitiria estudar eventos de saúde mais raros, especialmente em crianças, e estender a pesquisa a outros produtos químicos, como bisfenóis e ftalatos, e seus efeitos cumulativos.

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, fevereiro de 2025

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *