Pesquisadores estudam 18 mil horas de filmagens e descobrem que o fundo do mar está coberto de lixo.

Nós todos vemos imagens de nas praias, ou flutuando na superfície do oceano. Mas uma quantidade surpreendente acaba no fundo do mar, em profundidades tão grandes que tem sido muito difícil para nós sabermos realmente qual é a situação. Por não ser muito fácil financiar uma missão para observar lixo no fundo do mar, pesquisadores do Monterey Bay Aquarium Research Institute, decidiram vasculhar milhares de horas de vídeo gravadas por veículos submarinos operados remotamente (ROVs) durante os últimos 22 anos, procurando especificamente por detritos.

 

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Não surpreende, no entanto, entristece

Nós todos vemos imagens de lixo nas praias, ou flutuando na superfície do oceano. Mas uma quantidade surpreendente acaba no fundo do mar, em profundidades tão grandes que tem sido muito difícil para nós sabermos realmente qual é a situação. Por não ser muito fácil financiar uma missão para observar lixo no fundo do mar, pesquisadores do Monterey Bay Aquarium Research Institute, decidiram vasculhar milhares de horas de vídeo gravadas por veículos submarinos operados remotamente (ROVs) durante os últimos 22 anos, procurando especificamente por detritos.

Kyra Schlining, a autora principal deste estudo, disse: “Nós fomos inspirados por um um estudo sobre a pesca no sul da Califórnia que observou lixo no fundo do mar até 365 metros. Fomos capazes de continuar essa busca em águas mais profundas, até 4.000 metros. Nosso estudo também cobriu um período de tempo mais longo, e incluiu mais observações in situ de detritos no fundo do mar do que qualquer outro estudo anterior que eu tenha ciência”.

Para este estudo, técnicos em investigação pesquisaram o banco de dados da VARS para encontrar todos os vídeos que mostravam detritos no fundo do mar. Eles então compilaram os dados sobre todos os diferentes tipos de detritos observados, bem como, quando e onde foram observados.

No total, os pesquisadores contaram mais de 1.500 observações de detritos no fundo do mar, da Ilha de Vancouver ao Golfo da Califórnia, passando por locais distantes como as ilhas havaianas. No recente estudo, os pesquisadores se concentraram na baía de Monterey e entorno, uma área em que o MBARI realiza mais de 200 mergulhos de pesquisa por ano. Somente nessa área, os pesquisadores notaram mais de 1.150 pedaços de detritos no fundo do mar.

Cerca de 1/3 dos detritos é composto por plástico, dos quais mais da metade são sacolas plásticas, notoriamente perigosas para a vida marinha. Em seguida os objetos de metal, cerca de 1/5 do total. Outros detritos comuns incluem cordas, equipamentos de pesca, garrafas de vidro, papel e artigos de vestuário.

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Os pesquisadores descobriram que o lixo não está distribuído aleatoriamente no fundo do mar. Os detritos ficam presos em encostas rochosas, como as bordas do cânion Monterey, assim como em alguns pontos no fundo do cânion. Os pesquisadores especulam que os detritos acumulam onde as correntes oceânicas fluem, ao passarem por afloramentos rochosos ou outros obstáculos.

Também descobriram que os detritos são mais comuns em regiões profundas do cânion, abaixo de 2.000 metros (6.500 pés). Kyra, comentou: “Fiquei surpresa por termos visto tanto lixo em águas profundas. Nós não costumamos pensar em nossas atividades diárias afetando a vida no oceano a dois mil metros de profundidade.” Kyra acrescentou: “Tenho certeza de que há muito mais detritos no cânion que não estamos vendo. Muito fica soterrado por deslizamentos submarinos e pela movimentação do sedimento. Alguns desses detritos podem também ser transportados para águas mais profundas, mais abaixo no cânion.”

Nas mesmas áreas onde viram lixo no fundo do mar, os pesquisadores também viram kelp, madeira e detritos naturais que se originaram em terra. Isso os levou a concluir que a maior parte do lixo no cânion Monterey vem de fontes terrestres, ao invés de barcos e navios.

Embora o estudo tenha mostrado uma proporção menor de petrechos de pesca perdidos do que alguns estudos anteriores, os petrechos de pesca representaram os impactos negativos mais óbvios sobre a vida marinha. Pesquisadores observaram vários casos de animais capturados por petrechos de pesca perdidos.

Outros efeitos sobre a vida marinha foram mais sutis. Por exemplo, detritos em regiões de fundo lodoso são muitas vezes utilizados como abrigo por animais do fundo do mar, ou como uma superfície dura onde organismos podem se fixar. Embora tais associações pareçam beneficiar os animais envolvidos, elas também refletem o fato de que o lixo marinho está criando mudanças nas comunidades biológicas naturais existentes.

Para piorar a situação, os impactos do lixo em alto mar podem durar muito tempo. Temperatura próxima de zero, falta de luz solar, e baixas concentrações de oxigênio que inibem o crescimento de bactérias e outros organismos que podem degradar detritos. Sob essas condições, uma sacola plástica ou uma lata de refrigerante podem durar por tempo indeterminado.

Agora os pesquisadores pretendem realizar pesquisas adicionais para entender os impactos biológicos a longo prazo do lixo no fundo do mar. Trabalhando com o Monterey Bay National Marine Sanctuary, estão atualmente terminando um estudo detalhado dos efeitos de um grande contêiner marítimo que caiu de um navio em 2004.

Durante as expedições, os pesquisadores ocasionalmente coletam lixo do fundo do mar. No entanto, a remoção em grande escala é proibitivamente cara, e pode ocasionar mais danos do que se simplesmente deixá-los no lugar.

Kyra observou: “A coisa mais frustrante para mim é que a maioria do material que vimos em plástico, vidro, metal, papel, pode ser reciclado.” Ela e seus co-autores esperam que sua descoberta possa inspirar habitantes e turistas de regiões costeiras a reciclarem seu lixo, não permitindo que ele acabe no oceano. Na conclusão de seu artigo, escreveu: ” Em última análise, evitar a introdução de lixo no ambiente marinho através de uma maior sensibilização do público continua a ser a solução mais eficiente e de menor custo para este dilema.”
Fonte: Instituto Ecofaxina.