Pesquisa mostra área plantada com soja no Brasil maior que a Itália

Área com cultivo de milho. Mas a soja no Brasil ocupa território superior ao da Itália

Imagem: Governo do Estado do Paraná/Divulgação

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Colaboração para o UOL, em São Paulo

20/10/2021

O Brasil já possui uma área de 36 milhões de hectares com plantação de soja de acordo com levantamento divulgado pela MapBiomas. Sozinho, esse cultivo já ocupa 4,3% do território nacional. Essa área é equivalente ao território da República do Congo e é superior a países como Itália, Vietnã e Malásia. Metade desse total está na região do Cerrado, onde a soja avançou sobre 16,8 milhões de hectares nos últimos 36 anos.

O levantamento levou em conta o crescimento da área de agricultura entre 1985 e 2020. Segundo ele, a área mapeada com lavoura de soja e milho triplicou. Já culturas perenes, como café e citrus (laranja, limão e tangerina, entre outros), tiveram expansão de 2,7 vezes.

Esses foram alguns dados obtidos pelo MapBiomas através de análise de imagens de satélite entre o período estudado. A área total de agricultura mapeada no país passou de 19 milhões de hectares em 1985 para 55 milhões de hectares no ano passado.

Na Amazônia, o crescimento da soja aconteceu a partir dos anos 2000 e chega a 5,2 milhões de hectares ou 14% do total do país. Lá, o recente avanço sobre a vegetação nativa pode ser observado no lavrado, que é uma área com características de Cerrado que existe dentro do bioma do estado de Roraima.

Outros 26% da área de soja do Brasil estão em áreas de Mata Atlântica, local em que a soja expandiu por 7,9 milhões de hectares entre 1985 e 2020.

O crescimento da área ocupada por agricultura é observado em todos os biomas brasileiros, mas de forma mais acentuada no Cerrado. O dado mais recente mostra que 42% da agricultura do Brasil está nesta região. Entre 1985 e 2020, a área de agricultura no Cerrado cresceu 464%. Em segundo lugar está a Mata Atlântica, que representa 34% da área agrícola, seguida da Amazônia e do Pampa, com 11% cada.

O Cerrado é também um dos mais frágeis às alterações do regime de chuvas causadas pelo desmatamento da Amazônia. É também uma das regiões com maior risco climático. O último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, na sigla em inglês) prevê redução de 20% nas precipitações do local e aumento da temperatura entre 4ºC e 5ºC. Esse cenário pode comprometer a atividade agrícola na região.

“Com exceção da Amazônia e Mata Atlântica, os demais biomas possuem poucas unidades de conservação demarcadas, o que dificulta o trabalho de recuperação das paisagens. Isso reforça a necessidade de conservação das áreas de vegetação nativas restantes, especialmente do Cerrado, que já perdeu metade de sua cobertura original”, afirma Moisés Salgado, da equipe do MapBiomas responsável pelo levantamento de agricultura e diretor de tecnologia na Agrosatélite.

A fronteira entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia teve a expansão mais intensa do Cerrado sobre a vegetação nativa, com índice de 76% entre 2000 e 2020. Nos demais estados do bioma, esse percentual foi inferior a 10% no mesmo período.

“De forma geral, o que se percebe em todos os biomas é que não há necessidade de converter vegetação natural em áreas lavráveis porque já há muita terra aberta com aptidão agrícola e o Cerrado não é exceção”, diz Salgado.

Além da soja, a cana de açúcar teve grande expansão. Houve crescimento de 291% entre 1985 e 2020, ano em que essa lavoura ocupava 9 milhões de hectares ou 25% da área da soja.

O café, por sua vez, experimentou uma expansão de 43% nos estados com maior área plantada (Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Bahia, Paraná e Goiás). Esse cultivo alcançou uma área de 804 mil hectares em 2020.

O levantamento de citrus foi feito no estado de São Paulo e mostra uma área de 31 mil hectares atingidos no ano passado.