Pare de comer carne (industrial) para evitar futuras pandemias?

Além das tecnologias agropecuárias, as de embalamento e de conservação, podem expandir estas possibilidades de novas pandemias.

https://elpais.com/elpais/2020/09/30/alterconsumismo/1601492011_826578.html

ANNA ARGEMI

1º DE OUTUBRO DE 2020

Proveg alerta sobre a relação entre o sistema alimentar e o risco de novas epidemias

Ainda somos tímidos com aquilo que caiu sobre nós por causa do covid-19, quando alguns nos avisam que esta dolorosa história de epidemias globais apenas começou. A Proveg International lançou na semana passada um relatório sobre pandemias e alimentos afirmando que existem as condições ideais para outros vírus se espalharem de animais selvagens ou domesticados para os homens e, portanto, infelizmente, repetir a história. Ou o resultado é ainda pior: a nova doença é ainda mais mortal. O documento tem o apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

E no foco desse drama, as fazendas industriais e nosso sistema alimentar, que dá grande importância ao consumo de proteína animal. No prefácio do relatório, Peter Singer , filósofo e professor de bioética da Universidade de Princeton, afirma que comer carne de fazendas industriais “sempre foi imoral por causa do que eles fazem aos animais”. Como conhecemos as , a opção é duplamente imoral porque carregamos o planeta (nt.: principalmente com os gases metano tanto pelo excesso de esterco que deve ser retirado dos confinamentos e destinado, além dos que são gerados pela ruminação). E desde a eclosão da COVID-19, o consumo desse tipo de carne é triplamente imoral, segundo Singer, porque constitui “um sério risco à nossa própria sobrevivência”. A gripe aviária e a peste suína foram o prelúdio dos sinais de alarme que não fomos capazes de decifrar a tempo.

Em particular, o que favorece esse coquetel mortal em nosso sistema alimentar são três fatores que se reforçam mutuamente, de acordo com o relatório:

1) A destruição dos ecossistemas e a perda da biodiversidade, amplamente promovida pela pecuária.

2) O uso de animais silvestres como parte da dieta alimentar.

3) O uso de animais de fazenda como alimento (na pecuária intensiva).

Globalmente, mais de 70% dos antibióticos são usados ​​na agricultura intensiva (nt.: aqui são consideradas de forma direta, a pecuária de confinamento em pequenas encerras ou potreiros, estábulos e grandes galpões e/ou pocilgas. Normalmente vacum, galináceos/perus, porcos e peixes), para animais e não para humanos. Esse uso reduz drasticamente a eficácia dos antibióticos destinados a nós, aumentando assim o risco geral para a saúde humana e aumentando a carga sobre os sistemas de saúde, especialmente durante uma pandemia.

De acordo com o relatório Proveg International , “o risco de surtos futuros e a gravidade de seu impacto aumentam com o crescimento da demanda por produtos de origem animal no mundo globalizado de hoje”. E essa demanda crescente vai ser absorvida pelo mesmo fornecedor: estima-se que as fazendas industriais e pisciculturas representem mais de 90% da produção mundial de carne e peixes.

Na verdade, as doenças zoonóticas – transmitidas de animais para humanos –  já causam mais mortes em todo o mundo do que diabetes e acidentes rodoviários juntos. A letalidade do covid-19 (4,7%) torna-o 47 vezes mais letal do que a gripe comum, ainda longe dos maiores índices de outras doenças zoonóticas, como a gripe aviária H5N1, que chega a 60%.

De acordo com especialistas, surtos futuros podem ser mais letais e também mais frequentes. Se a taxa de mortalidade de um futuro surto zoonótico global fosse semelhante à do Ebola, do H5N1 ou da gripe de 1918, seus efeitos certamente excederiam qualquer infraestrutura existente. Não seriam mais questões como se haverá ventiladores e unidades de terapia intensiva suficientes, mas se haverá pessoal de saúde suficiente para continuar fazendo seu trabalho.

A conclusão de tudo isso é uma chamada urgente para modificar nosso sistema alimentar, substituindo produtos de origem animal por alternativas vegetais. Isso não apenas evitaria futuras pandemias, mas outras frentes globais abertas também seriam combatidas no processo, como as mudanças climáticas, a fome mundial e a crescente resistência aos antibióticos. 

Portanto, surge a pergunta: você pararia de comer carne (industrial) por todas essas razões?

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, outubro de 2020.