Pará concentra municípios que mais destroem a Amazônia brasileira.

Em 2012, mais de 450 mil hectares de floresta foram derrubados na . A porcentagem é 27% em relação à registrada no ano anterior. Mas a situação ainda está longe do ideal. Hoje, Pará é o estado que mais desmata.

 

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Quem navega pelas águas mansas do rio Xingu não imagina o contraste. Ao lado da bela paisagem está um cenário desolador. Motosserras não dão trégua e queimadas criminosas deixam a selva em cinzas. Essa região, no Pará, atualmente concentra os municípios que mais destroem a Amazônia brasileira.

“Esse é um desmatamento que está fortemente ligado à ilegalidade. Então, a exploração de madeira é ilegal, a produção de gado é ilegal e a ocupação é ilegal”, diz Paulo Amaral, pesquisador da Imazon.

A constatação é do Instituto de Pesquisa Paraense (Imazon) que monitora a floresta há mais de 20 anos. De acordo com os cálculos dos pesquisadores, mais de 80% do desmatamento da Amazônia se acumula nos municípios de Altamira, Itaituba e Novo Progresso.

Em uma operação realizada na região, fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) sobrevoaram as áreas onde a mata está sofrendo todo o tipo de ataque. Formou-se um cemitério na selva. Até o rio morreu junto com a floresta. Em todos os lados há fogo. Em alguns pontos, o excesso de fumaça impede a visão do horizonte.

A Floresta Nacional de Altamirax, no oeste do Pará, é uma região muito importante da Amazônia para a preservação da flora e da fauna, controlada pelo governo federal. Doze pontos foram devastados recentemente dentro da reserva do governo. De acordo com o coordenador da operação, o ciclo do desmatamento ilegal repete a mesma tática há muitos anos. “Num primeiro momento chegam os madeireiros, que roubam as madeiras mais nobres para se utilizar nas serrarias. Depois, vêm os grileiros que terminam de devastar a floresta. Depois, tocam fogo e plantam capim para vender para pecuaristas do resto do país”, diz Paulo Maués, analista ambiental do Ibama.

Para garantir a ocupação ilegal, muitas vezes o gado é obrigado entrar com o chão ainda quente. Por terra os fiscais checaram outro ponto de derrubada, identificado por imagens de satélite, que fica encostado na Floresta Nacional de Altamira. Em menos de três semanas, 80 hectares tombaram no lugar. Parte das toras estava pronta para o transporte. O trator foi queimado. O responsável pela derrubada tentou fugir, mas foi alcançado e teve que se explicar ao Ibama.

O helicóptero do Ibama foi à madeireira na região, no município de Novo Progresso, acusada de patrocinar derrubas e comprar madeira de origem clandestina. De acordo com o instituto, quase 70% das toras encontradas no lugar são de procedência ilegal, de áreas sem plano de manejo e até de reservas florestais controladas pelo governo. Mas os madeireiros encontraram uma maneira de tentar enganar a fiscalização.

Eles emitem as guias florestais no computador atribuindo uma origem falsa à madeira. Parte do estoque, por exemplo, teria vindo da Ilha de Marajó, a mais de mil quilômetros de distância de Novo Progresso. Desse jeito, eles esquentam as cargas que saem de áreas proibidas. “O documento que legaliza essa madeira vem de longe, mas, na verdade, a extração está sendo na própria regia”, diz Cristiano Rocha, agente ambiental da Secretaria de Meio Ambiente do Pará.

As reservas indígenas em território Caiapó são as únicas áreas intactas em São Felix do Xingu, município com 84 mil quilômetros quadrados. A área é quase o dobro do estado do Rio de Janeiro. O desmatamento é proporcional ao tamanho. A cobertura vegetal desapareceu em mais de 20% da área.

Há quatro anos, São Felix do Xingu tenta sair da incômoda posição de primeiro do ranking entre os maiores desmatadores da Amazônia brasileira. Ao todo, são 47 municípios de seis estados. O primeiro passo é traçar o mapa das propriedades e fazer o Cadastro Ambiental Rural (CAR).

Nada é perto em São Felix do Xingu. Para fazer o cadastramento ambiental no extremo sul do município, por exemplo, partindo da cidade, os técnicos precisam viajar 920 quilômetros em estrada cheia de buraco e com muita poeira. Os técnicos do cadastramento passam dias inteiros em cima da moto, sofrendo para chegar ao destino.

O produtor rural Antônio Chaves ficou apenas com 20% de reserva legal, número muito abaixo do que a lei exige para a Amazônia. Ele terá que reflorestar pelo menos 30 hectares e quer começar logo, com a ajuda do técnico do CAR. Mas nem todos os fazendeiros abrem as porteiras para o cadastramento ambiental.

Em 2008, em São Felix do Xingu foram derrubados mais de 700 quilômetros quadrados de floresta. Nos anos seguintes, houve queda dos números. Em 2009, passaram para 442 km². Em 2010, foram para 354 km². No último levantamento, em 2011, ficaram e 140 km². Apesar da redução, o número ainda está 3 ½ vezes acima do máximo permitido, de 40 km².

Segundo o secretário municipal do Meio Ambiente, Luiz Alberto Araújo, são as grandes fazendas de pecuárias que mais desmatam. O gado é o principal negócio da região. O rebanho, que passa de dois milhões de cabeças, é o maior do Brasil.

A lista negra, do Ministério do Meio Ambiente, não pune diretamente os municípios, mas os prejuízos para as prefeituras são incalculáveis porque os donos das terras, os produtores rurais, arcam com todas as consequências. Eles não podem tomar dinheiro em banco nem vender a produção. Até o gado está proibido de deixar a fazenda.

O produtor rural Pedro Vieira até consegue vender os bois. Ele já fez o cadastro ambiental, mas não pode precisar do banco. “Hoje, nós não consegue nenhum benefício bancário como empréstimo, custeio, compra de máquina ou beneficio nenhum. Eu, hoje, se eu quiser pagar os meus funcionários eu tenho que vender uma carreta de vaca, uma carretinha de boi para poder pagar os funcionários no fim do mês”, diz.

Rebanho embargado no pasto, dívidas na praça e cheque sem fundo. Assim, a cidade do boi vai pisando no freio. O comércio é obrigado a vender fiado. Nem a pequena loja de roupas escapa da crise. O faturamento da comerciante Zilda Zilda Nunes caiu pela metade.

O produtor rural Altamiro Lourenço tem apenas 80 hectares de terra, mas a família vai bem. A mesa é farta, a casa foi reformada e há até um carrinho na garagem. Tudo foi conquistado depois que ele diversificou a produção da fazenda. O cacau diminuiu o pasto. A cultura começa a ajudar no reflorestamento da mata em São Felix. A pequena mata do produtor guarda uma sumaúma, uma preciosidade.

(Fonte: Globo Rural)