Os plásticos também afetam os solos agrícolas

Os produtos plásticos, como os filmes usados ​​para proteger as plantas durante o seu crescimento, contribuem para a produtividade da agricultura, mas também contaminam o solo. Foto: Cristina Aldehuela / FAO (nota do website: foto que mostra exatamente o que se faz no Brasil em muitos cultivos olerícolas)

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08 De Dezembro De 2021

ROMA – Os plásticos que degradam o meio ambiente não só formam grandes ilhas poluentes nos mares e oceanos, mas também cobrem grande parte das superfícies agrícolas, afirma um novo estudo da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

As cadeias de valor agrícola no mundo utilizam 12,5 milhões de toneladas de produtos plásticos anualmente, e outras 37,3 milhões de toneladas são utilizadas em embalagens de alimentos.

Por setores, a agricultura e a pecuária usam mais produtos plásticos juntos, com 10,2 milhões de toneladas métricas por ano, enquanto a pesca e a aquicultura usam 2,1 milhões e a silvicultura 200.000 toneladas.

Por região, a Ásia lidera o uso de plásticos para produção agrícola, com quase metade do consumo mundial (5,2 milhões de toneladas métricas apenas na China). Só em filmes de cobertura a União Européia consome 1,7 milhão de toneladas por ano e a América Latina 240 mil toneladas, primeiro no Brasil.

Embora o uso generalizado de plásticos na agricultura contribua para a sua produtividade – como a cobertura do solo que reduz o crescimento de ervas daninhas e a necessidade de pesticidas, fertilizantes e irrigação – eles também criam vários problemas quando chegam ao fim de sua vida útil.

A FAO destaca que a diversidade de produtos químicos e aditivos misturados aos plásticos dificulta seu tratamento e reciclagem, e que das 6,3 bilhões de toneladas de plásticos produzidas até 2015, quase 80% não foram descartadas de maneira adequada.

Além disso, plásticos menores que cinco milímetros, microplásticos, apresentam riscos específicos à saúde animal, e estudos recentes também detectaram traços de partículas microplásticas em fezes e placentas humanas.

Embora a maioria das pesquisas científicas sobre a poluição por plástico tenha se concentrado nos ecossistemas aquáticos, especialmente nos oceanos, os especialistas da FAO argumentam que os solos agrícolas recebem quantidades muito maiores de microplásticos.

O estudo se propõe a buscar um equilíbrio entre custos e benefícios, prevendo que, na ausência de alternativas viáveis, a demanda por plásticos na agricultura e alimentação continuará aumentando.

Por exemplo, a demanda global por rolos plásticos para uso em estufas, cobertura morta e forragem está projetada para aumentar em 50%, de 6,1 milhões de toneladas consumidas em 2018 para 9,5 milhões projetadas até 2030.

Por isso, o relatório “serve de apelo a uma ação coordenada e decisiva que permita a aplicação de boas práticas de gestão e impeça o uso desastroso do plástico em todos os setores agrícolas”, destacou a vice-diretora geral da FAO, María Helena Semedo.

O bom, o Mau e o Feio

A análise lembra que os plásticos são abundantes desde sua ampla introdução na década de 1950, e é difícil imaginar a vida sem eles hoje.

Na agricultura, os produtos plásticos contribuem muito para a produtividade. Filmes de cobertura, por exemplo, são usados ​​para cobrir o solo para reduzir o crescimento de ervas daninhas (nt.: para se modificar definitivamente esse paradigma de que existem plantas que seriam ‘daninhas’, acessar o link, desse website) e a necessidade de agrotóxicos, fertilizantes e irrigação.

Filmes, redes de túneis e estufas protegem e promovem o crescimento das plantas, estendem as temporadas agrícolas e aumentam os rendimentos. Fertilizantes, agrotóxicos e revestimentos de sementes controlam a taxa de liberação de produtos químicos ou melhoram a germinação.

Os protetores de árvores protegem as mudas jovens e mudas dos danos dos animais e fornecem um microclima que estimula o crescimento.

Além disso, os produtos plásticos ajudam a reduzir a perda e o desperdício de alimentos e a manter suas qualidades nutricionais ao longo de várias cadeias de valor, melhorando assim a segurança alimentar e reduzindo as emissões de gases de efeito estufa.

Infelizmente, as próprias propriedades que tornam os plásticos tão úteis criam problemas quando chegam ao fim do ciclo pretendido.

A diversidade de polímeros e aditivos (nt.: os malfadados plastificantes como ftalatos, bisfenois e outros) incorporados às resinas plásticas originais dificultam sua classificação e reciclagem. Por se tratarem de produtos manufaturados artificialmente, são poucos os microrganismos capazes de degradar polímeros, o que significa que, uma vez no meio ambiente, podem se fragmentar e aí permanecer por décadas.

Uma vez liberados no ambiente natural, os plásticos podem causar danos de várias maneiras. Os efeitos de grandes partículas de plástico na fauna marinha foram bem documentados.

Quando esses plásticos começam a se desintegrar e se degradar, seus efeitos começam a ser observados no nível celular, de modo que afetam não apenas organismos individuais, mas podem prejudicar ecossistemas inteiros.

A FAO recomenda buscar soluções baseadas no modelo “seis Rs”: rejeitar, redesenhar, reduzir, reutilizar, reciclar e recuperar.

Também é aconselhável elaborar um código de conduta voluntário que cubra todos os aspectos relacionados aos plásticos em todas as cadeias de valor agroalimentares e aumentar a pesquisa, especialmente sobre os efeitos dos microplásticos e nanoplásticos na saúde.

AE / HM

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, dezembro de 2021.