Orgânicos – necessidade ou moda?

Feira ecológica de Porto Alegre, existe desde 1989.

A ecológica deveria ser entendida como ação ética e de amor, além de um meio de interação entre humanos e todos os outros seres, e não só como fonte de um alimento saudável.

 

https://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2018/06/30/organic-food-hype-or-hope.aspx

 

NOTA DO SITE: Documentário da Deutsch Welle onde se mostra, dentro de uma visão bastante antropocêntrica, mas muito válida, as discussões, dentro de uma paradigma eurocêntrico e cientificista, como o alimento orgânico vem sendo tratado na Europa e suas implicações.

 

Resumo da história

  • Organic Food — Hype or Hope?” (nt.: ‘Alimento orgânico-propaganda ou esperança’ – título do documentário feito pela mídia alemã Deutsch Welle, a cargo da rede alemã ZDF, em 2016) analisa os benefícios dos alimentos produzidos organicamente. Um problema comum a muitos agricultores orgânicos é o agrotóxico usado que paira dos cultivos vizinhos usados em plantios com métodos convencionais;
  • Pendimetalina (nt.: princípio ativo de um dos herbicidas da BASF, da família dos ‘Dinitroanilina‘, ‘Herbadox’, considerado no Brasil como classe II, muito perigoso) continua aparecendo na produção orgânica amostrada na Alemanha e tornou-se um problema particularmente difícil para os agricultores orgânicos cujas mercadorias foram testados positivamente não conseguindo então estar de acordo com as estritas regras orgânicas alemãs;
  • Se a União Europeia decidir impor limites ainda mais rigorosos quanto aos resíduos de agrotóxicos nos produtos orgânicos, a deriva impedirá que muitos deles se qualifiquem efetivamente para a certificação orgânica;
  • Centenas de estudos mostraram que os alimentos orgânicos contêm menos agrotóxicos detectáveis do que os convencionais e níveis mais altos de certos nutrientes, especialmente os antioxidantes, que são importantes para a saúde além da prevenção de doenças;
  • Estudos também mostraram que a agricultura orgânica é melhor para a saúde humana e ambiental, proporcionando benefícios sociais e é mais rentável para o agricultor.

 

By Dr. Mercola

O documentário publicado no canal do Youtube, em 2018, “Organic Food — Hype or Hope?” analisa os benefícios dos alimentos produzidos organicamente. Como eles se diferenciam dos chamados convencionais e se eles realmente confirmam estar à altura da promessa de serem mais saudáveis? Um problema significativo é o fato de que muitas fazendas orgânicas estão cultivando seus alimentos próximas de outros que empregam os métodos convencionais. Elas são comparadas ao ato de fumar – se um não-fumante estiver sentado ao lado de alguém que está fumando, acabará inalando toxinas embora tenha, ele ou ela, feito a escolha de viver um estilo de vida mais saudável.

A Deriva de Agrotóxicos Pode Dizimar Uma Produção Orgânica

O filme começa focando um problema comum a muitos dos produtores orgânicos, isto é, agrotóxico derivando dos cultivos vizinhos plantados usando métodos convencionais. A União Europeia tem limites rigorosos quanto aos resíduos em alimentos orgânicos e alguns agricultores não podem vender seus produtos como tal, devido à deriva química sobre suas culturas. Dependendo das condições dos ventos durante a aspersão dos venenos, os químicos podem viajar a longas distâncias, contaminando campos orgânicos onde tais agrotóxicos não são permitidos.

E o que é pior, alguns produtos químicos, como a pendimetalina (nt.: princípio ativo de um dos herbicidas da BASF, da família dos ‘Dinitroanilina‘, ‘Herbadox’, considerado no Brasil como classe II, muito perigoso), podem permanecer no ar por semanas a fio, garantindo assim uma contaminação generalizada. Stefan Palme (nt.: um dos entrevistados e mostrados no vídeo acima), que produz erva-doce orgânica para a alimentação infantil em sua fazenda em Uckermark, Alemanha, conta como foi forçado a colhê-la no início da temporada para evitar a contaminação química, o que impediria que ele a vendesse como orgânica.

Para ser orgânica, envolveria mais trabalho físico e maior cuidado com uma colheita precoce. No entanto, a alternativa é vender sua colheita como convencional, por um preço menor. Rudolf Vögel, engenheiro agrícola alemão, está investigando quanto tempo a pendimetalina pode ser detectada no meio ambiente.

Ele acredita que o fenômeno da deriva tem sido amplamente subestimado, observando que as evidências emergentes nos últimos anos “exigem uma reavaliação urgente do modo como certos agentes são permitidos”. A pendimetalina continua aparecendo em amostras de produtos orgânicos e tornou-se um problema particularmente difícil, já que os agricultores orgânicos cujas mercadorias são testadas positivamente, não podem cumprir as rígidas normas orgânicas da Alemanha.

Além disso, se a União Europeia decidir impor limites mais restritivos quanto aos resíduos de agrotóxicos em produtos orgânicos, a deriva impedirá que muitos agricultores possam se qualificar para a certificação orgânica. É um problema de dificílima solução.

Por um lado, a maioria deles concorda com a abaixamento dos limites, já que será positivo para a saúde de todos. No entanto, esta contaminação nem é causada por eles como também não pode ser interrompida. E a redução dos limites colocaria assim, muitos deles fora do negócio. Palme está agora pressionando pela proibição de agrotóxicos como a pendimetalina como forma de proteção ao setor orgânico como um todo.

Agrotóxicos Detectados tanto em Árvores como nas Águas Subterrâneas

Frieder Hofmann, engenheiro ambiental, está monitorando a deriva de pendimetalina coletando amostras de casca de árvores. Ele constatou que esse herbicida pode se espalhar por, pelo menos, 10 quilômetros (6,2 milhas) do local da pulverização. O problema da deriva levanta uma questão importante: alimentos orgânicos podem ser produzidos em qualquer lugar da Alemanha? A mesma pergunta é provável que seja aplicável a quaisquer outros países, onde fazendas orgânicas estão tentando coexistir entre fazendas convencionais que usam grandes quantidades de produtos químicos tóxicos.

Em um exemplo, Hofmann encontrou nada menos que 11 agrotóxicos na casca de uma grande árvore, dois deles em “concentrações alarmantes”. Sendo um deles o herbicida pendimetalina. Estes venenos agrícolas não são só encontrados em alimentos e árvores. Quando chove, estas substâncias químicas infiltram-se nos solos e contaminam também as águas subterrâneas. Amostras de solo retiradas de uma profundidade de 15 metros, pouco mais de 49 pés, revelaram tanto a presença de nitrogênio (da percolação pela erosão de fertilizantes nitrogenados como a ureia – fertilizer runoff) como de agrotóxicos.

Para piorar a situação, muitos agrotóxicos (pesticides) se biodegradam muito lentamente, se é que são biodegradáveis, permanecendo no ambiente por anos. Como observado no filme, “Isso é a legalização da poluição ambiental em larga escala”. Acaba ameaçando também nossa capacidade de obter água limpa, pois estes venenos são extremamente difíceis e dispendiosos para serem filtrados.

Quem paga por isso? Aqueles que usam a água da torneira – não a fazenda que causa a contaminação. Dito isto, as autoridades alemãs que tratam da água não culpam os agricultores, mas sim a indústria química, observando que hoje em dia, espera-se que os produtores químicos criem moléculas químicas agrícolas que não apenas façam seu trabalho nos campos, mas também se degradem adequadamente para que não contaminem as águas subterrâneas e o meio ambiente nos próximos anos.

Alimento Orgânico Contém Altos Níveis de Antioxidantes menos Tóxicos

Seriam os alimentos orgânicos (organic foods) mais saudáveis e, por isso, valerem um custo extra? Se “mais saudável” significa a ausência de contaminação por agrotóxicos e ter maior teor de nutrientes, então a resposta é sim. Uma meta-análise 1 da Universidade de Stanford, publicada em 2012 – analisou 240 estudos comparando alimentos cultivados orgânica e convencionalmente – confirmando de que os orgânicos tinham 23 a 37% menos probabilidade de conterem resíduos detectáveis de agrotóxicos. E, além disso, de que o frango criado de forma orgânica também apresentava uma probabilidade 45% menor de conter bactérias resistentes a antibióticos (antibiotic-resistant bacteria).

Seguindo os passos da Universidade de Stanford, um grupo de cientistas da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, avaliou um número ainda maior de estudos, 343 no total, publicados ao longo de várias décadas. Assim como o estudo de Stanford, seu acompanhamento das análises, 2 publicado em 2014, também descobriu que, enquanto vegetais convencionais e orgânicos muitas vezes oferecem níveis semelhantes de muitos nutrientes, a frequência de ocorrência de resíduos de agrotóxicos foi quatro vezes maior nos alimentos convencionais.

Os produtos convencionais também tinham em média 48% mais níveis de cádmio, 3 metal tóxico e um conhecido carcinogênico. Além disso, enquanto muitos níveis de nutrientes eram comparáveis, uma diferença nutricional chave entre os orgânicos e convencionais era o seu conteúdo de antioxidantes. Na análise de Newcastle, verificou-se que frutas e vegetais orgânicos continham de 18 a 69% mais antioxidantes do que as cultivadas convencionalmente. Segundo os autores:

“Muitos destes compostos foram anteriormente associados a um risco reduzido de doenças crônicas, incluindo cardiovasculares e neurodegenerativas além de certos tipos de câncer, em intervenção dietética e estudos epidemiológicos … Diferenças significativas também foram detectadas para outros compostos (por exemplo, minerais e vitaminas).”

Os cineastas visitam o Instituto de Pesquisa de Agricultura Orgânica 4 em Frick, na Suíça, onde investigam as diferenças entre agricultura ecológica e convencional há mais de quatro décadas. O Instituto foi o primeiro a confirmar que as maçãs orgânicas contêm níveis mais altos de antioxidantes do que as variedades convencionais. Antioxidantes são uma parte muito importante de uma saúde ótima, pois influenciam a rapidez com que se age para combater os radicais livres

Assim, o fato de os alimentos orgânicos conterem níveis muito mais elevados, atesta a visão de que os alimentos orgânicos são mais saudáveis em termos de nutrição, além de serem mais baixos em termos de contaminação por agrotóxicos. Há também uma série de outros estudos que apoiam a alegação de que produtos cultivados organicamente contêm níveis mais altos de nutrientes em geral. Como exemplo, há um estudo, 5 parcialmente financiado pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), que descobriu que os morangos orgânicos eram mais ricos em nutrientes que os morangos convencionais.

Há um Meio Termo Entre Orgânico e Convencional?

A agricultura orgânica é mais complexa e economicamente mais desafiadora do que a convencional, sendo que alguns se perguntam se as fazendas convencionais poderiam adotar alguns critérios orgânicos, que fosse, mesmo que não todos. Ou vice-versa, as fazendas orgânicas poderiam usar alguns métodos convencionais e ainda ser tão benéficas para a saúde humana e o meio ambiente?

Curto e grosso: não. Carlo Leifert, engenheiro agrônomo e professor de agricultura ecológica da Universidade de Newcastle, lidera a fazenda experimental da universidade. Um dos aspectos que ele está observando é as possíveis sobreposições entre os dois sistemas agrícolas.

Destaque por seu aspecto curioso é que no filme ele explica que, quando usamos fertilizantes orgânicos em combinação com agrotóxicos convencionais, acabamos tendo níveis mais altos destes venenos na cultura do que quando usamos fertilizantes (sintéticos e solúveis) juntamente com os agrotóxicos convencionais ! Este resultado surpreendente parecendo ser devido a como diferentes minerais e moléculas químicas interagem. Assim, para desfrutar de todos os benefícios associados ao orgânico, uma fazenda convencional que faz a mudança para o orgânico realmente precisa fazê-la de uma forma radical.

Leite e Carne de Animais de Pastos Orgânicos São Mais Saudáveis do que de Fazendas Industriais, Mostra Pesquisa

Dois estudos de 2016 6 liderados por Leifert – um sobre as diferenças de composição da carne orgânica e convencional, 7 e outro sobre leite 8  – também detectaram claras diferença entre eles. Dizendo serem os maiores estudos do gênero, os pesquisadores analisaram 196 e 67 estudos sobre leite e carne, respectivamente.

A maior diferença no conteúdo nutricional da carne, foi a composição de ácidos graxos, certos minerais essenciais e antioxidantes. O co-autor Chris Seal, professor de alimentação e nutrição humana na Universidade de Newcastle, comentou os resultados, dizendo: 9

“Os ômega-3 estão conectados a reduções da doença cardiovascular, melhorando a função e o desenvolvimento neurológico e a função imune. As dietas da Europa Ocidental são reconhecidas como sendo muito baixas nestes ácidos graxos. A Autoridade Europeia de Segurança Alimentar recomenda que devemos dobrar nossa ingestão. Mas termos suficiente em nossa dieta é difícil. Nossos estudos sugerem que mudando para o sistema orgânico ajudaria como um meio de melhorarmos as ingestões destes importantes nutrientes.”

De acordo com a revisão sobre o leite, meio litro dele, orgânico e integral, fornecerá cerca de 39 miligramas (mg) ou 16% da ingestão diária de referência/IDR (RDI/reference daily intake) de omega-3 de cadeia muito longa (VLC/very long-chain) (EPA, DPA e DHA)(nt.: estas siglas etão relacionadas a três tipos de ômega 3 – ácido eicosapentaenóico – sigla em inglês =EPA; o ácido docosa-hexaenóico – sigla em inglês = DHA; e por fim o ácido alfa-linolênico – sigla em inglês = ALA), enquanto o leite convencional fornecerá apenas 25 mg ou 11% da IDR dessas importantes gorduras.

Como observado no estudo do leite, 10 os ômega-3 de cadeia muito longa (VLCs) foram associados a vários benefícios à saúde, incluindo “melhor desenvolvimento e função do cérebro fetal, atraso no declínio da função cognitiva em homens idosos e redução do risco de demência (especialmente doença de Alzheimer). O leite orgânico também contém níveis mais baixos de ômega-6, proporcionando uma relação mais saudável entre esses dois ácidos graxos. Comparado ao leite convencional, o leite orgânico também continha:

  • Maiores níveis de vitamina E;
  • Maiores concentrações de ferro;
  • Maiores níveis de carotenoides antioxidantes;
  • 40% mais ácido linoleico conjugado (nt.: linoleic acid/CLA), que tem uma ampla gama de importantes benefícios para a saúde desde lutar contra o câncer como decrescer a resistência à insulina e a melhora da composição corporal.

Outros Estudos Confirmam a Superioridade tanto do Leite como da Carne de Animais que Pastam, Naturalmente

Outros estudos têm chegado a conclusões muito semelhantes. Um estudo de 2010 11 observando carne de gado que pastou em potreiros (grass fed beef) versus alimentada com grãos, detectou que a primeira tinha composição mais saudável e níveis mais altos de ácido linoleico.

Conforme observado pelos autores, “mudanças nas dietas de terminação dos criatórios de gado convencionais podem alterar o perfil lipídico como forma de melhorar este pacote nutricional. Embora haja diferenças genéticas, de faixa etária e gênero entre as várias espécies produtoras de carne com relação à produção tanto de perfis como de proporções lipídicas, o efeito da nutrição animal é bastante significativa.”

Em estudo sobre leite orgânico de 2013 (organic milk) 12 também se confirmou que os laticínios de vacas que se criaram em pastagens eram mais ricos em muitos nutrientes, incluindo vitamina E, beta-caroteno e CLA (nt.: linoleic acid/CLA). O leite orgânico também continha cerca de 25% a menos de gorduras ômega-6 e 62% a mais de ômega-3 do que o leite convencional. Pesquisas também descobriram que os verdadeiros ovos biológicos caipiras (organic free-range eggs) normalmente contêm cerca de dois terços a mais de vitamina A, o dobro da quantidade de ômega-3, três vezes mais vitamina E, e até sete vezes mais beta-caroteno do que os ovos convencionais. 13

Como o Alimento que Comemos É Cultivado

Estudos como estes mostram que a forma como os alimentos são formados faz uma tremenda diferença. Não se pode simplesmente cortar certos caminhos durante a produção sem afetar a qualidade dos alimentos e, por extensão, da saúde humana. Como observado por Leifert, comentando os estudos da Universidade de Newcastle que ele liderou: 14

“As pessoas escolhem leite e carne orgânicos por três razões principais: melhoria do bem-estar animal, os impactos positivos da agricultura orgânica no meio ambiente e os benefícios para a saúde… Várias destas diferenças resultam da produção pecuária orgânica e são provocadas por diferenças na intensidade da produção, com animais alimentados com pastagens e criados ao ar livre, produzindo leite e carne que são consistentemente maiores em ácidos graxos desejáveis, como o ômega-3 …

Mostramos sem dúvida que existem diferenças de composição entre alimentos orgânicos e convencionais. Em conjunto, os três estudos sobre culturas, 15 carnes 16 e leite 17, sugerindo que a mudança para frutas, legumes, carne e laticínios orgânicos forneceria quantidades significativamente maiores na dieta tanto de antioxidantes como de ácidos graxos ômega-3 …

O fato de que agora existem vários estudos de coortes de mães e filhos ligando o consumo de alimentos orgânicos a impactos positivos na saúde mostra por que é importante investigar melhor o impacto na saúde humana pela maneira como produzimos nossos alimentos.”

Porque os Alimentos Orgânicos, Algumas Vezes, Ainda Contêm Contaminantes

O documentário também analisa os esforços europeus para desenvolverem métodos de análise para autenticarem os alimentos orgânicos. É um empreendimento muito complexo, mas muito necessário para proteger produtores e consumidores orgânicos. Infelizmente, os preços mais altos praticados pelos orgânicos atraem fraudes e trapaças. Por isso que muitos consumidores confiam na reputação de um fazendeiro em função de certificações.

É importante notar também que, embora a agricultura orgânica não permita fertilizantes e agrotóxicos sintéticos, químicos que não deveriam estar presentes no alimento, podem ser encontrados até mesmo em alimentos orgânicos. A principal razão não é necessariamente fraude; em vez disso, tem a ver com a poluição ambiental. Conforme explicado no documentário, as dioxinas, por exemplo, chegam às áreas onde se cultiva, vindas pela chuva.

Uma galinha ou outro animal pode então estar comendo grama ou insetos contaminados e, como as dioxinas são lipossolúveis, elas se acumulam nos tecidos adiposos. Perturbadoramente, os ovos orgânicos na Alemanha freqüentemente contêm níveis de dioxina até 30% mais altos que os ovos convencionais, e a razão suspeita para isso é porque estes animais passam muito mais tempo ao ar livre, comendo tudo nestes solos contaminados. Daí então todas estas moléculas serem transferidas para os ovos das galinhas.

A Produção Orgânica É Sustentável e Ambientalmente Necessária

Como observado pelos cineastas, “uma coisa é certa: a agricultura orgânica traz uma grande contribuição para o bem-estar humano – contribui para a mitigação da mudança climática, protege a água subterrânea, conserva a natureza e promove o bem-estar animal”. De fato, todos esses fatores são razões poderosas para apoiar uma transição sistêmica para a agricultura orgânica. Embora os pessimistas afirmem que a agricultura orgânica não pode sustentar nossa atual taxa de crescimento populacional, as evidências científicas não sustentam essa visão.

Uma série de estudos chegou à conclusão completamente oposta – de que a agricultura orgânica é o único caminho a seguir, já que a agricultura química é realmente muito destrutiva e tem muitos efeitos adversos na saúde humana. Por exemplo, um estudo de 2016, 18 publicado na revista Nature Plants, comparou os benefícios de orgânicos versus convencionais em termos de quatro chaves métricas de sustentabilidade, concluindo que o orgânico oferece muitos benefícios que superam o preço mais alto.

O co-autor John Reganold, professor de ciência do solo e agroecologia da Universidade Estadual de Washington, observou que nos anos 80, quando a agricultura orgânica começou, existiam poucas pesquisas e muitos afirmavam que ela era ineficiente demais para alimentar uma população crescente. Hoje, pelo menos 1.000 estudos analisaram os benefícios e diferenças entre a agricultura orgânica e convencional. O estudo da Nature Plants analisou dados que surgiram nos últimos 40 anos, com foco em como a agricultura orgânica impacta a sustentabilidade em termos de:

  • Produtividade;
  • Impacto ambiental;
  • Viabilidade econômica;
  • Bem estar social.

No geral, eles descobriram que fazendas orgânicas produzem alimentos iguais ou mais nutritivos com menos ou sem resíduos de agrotóxicos. A agricultura orgânica também oferece benefícios exclusivos para o ecossistema, além de benefícios sociais. Um estudo de 2015 realizado por co-autoria de Reganold também descobriu que as fazendas orgânicas eram mais lucrativas, 19,20 gerando aos agricultores de 22% a 35% mais do que suas contrapartes convencionais. De acordo com Reganold:

“Se eu tivesse que colocar em uma frase, a agricultura orgânica tem sido capaz de fornecer empregos, é lucrativa, beneficia o solo e o meio ambiente e apoia as interações sociais entre agricultores e consumidores. De certa forma, existem práticas na agricultura orgânica que realmente são diagramas ideais para nós olharmos no sentido de alimentar o mundo no futuro. A proposta orgânica pode até ser a nossa melhor aposta para ajudar a alimentar o mundo em um clima cada vez mais volátil.”

A ONU Pede por um Tratado Global para Promover a Agricultura Orgânica

No ano passado, tanto o relator especial para as Nações Unidas quanto ao direito à alimentação, Hilal Elver, e da mesma forma Baskut Tuncak, relator especial sobre as substâncias tóxicas, pediram um tratado global para regulamentar os agrotóxicos, enfatizando o aspecto de que esses químicos se tornaram muito problemáticos e contaminantes alimentares invasivos e ameaçando a saúde das crianças em todos o planeta.

Eles desafiaram a indústria de agrotóxicos a respeito de sua “negação sistemática de danos” além de suas “táticas de marketing agressivas e antiéticas”, observando que a indústria está gastando enormes quantias de dinheiro para influenciarem os formuladores de políticas e contestando as evidências científicas que mostram que seus produtos causam grandes danos à saúde humana e ambiental .

Mais importante ainda, seus relatórios negaram firmemente a ideia de que os agrotóxicos são essenciais para garantirem quantidades suficientes de alimentos para uma população mundial crescente, chamando esta noção de “um mito”. 21,22 Segundo Elver e Tuncak:

“A afirmação promovida pela indústria agroquímica de que os agrotóxicos são necessários para alcançar a segurança alimentar não é apenas imprecisa, mas perigosamente enganosa. Em princípio, há comida adequada para alimentar o mundo; produção desigual e sistemas de distribuição apresentam grandes bloqueios que impedem que os necessitados acessem-no …”

Seu relatório também destacou a evolução da agricultura sustentável e regenerativa, onde a biologia pode substituir completamente os produtos químicos, proporcionando altos rendimentos de alimentos nutritivos, sem prejuízo ao meio ambiente. “É hora de derrubar o mito de que os agrotóxicos são necessários para alimentar o mundo bem como criar um processo global de transição para uma produção agrícola e de alimentos mais segura e saudável”, disseram eles.

Relatório do Parlamento Europeu Destaca os Benefícios dos Produtos Orgânicos para a Saúde Humana e Ambiental

Da mesma forma, um relatório de 2016 23 do Parlamento Europeu, “Implicações para a saúde humana dos alimentos orgânicos e da agricultura orgânica”, detalhou os muitos benefícios da agricultura orgânica, com base em uma pesquisa bibliográfica global. O relatório é excepcionalmente abrangente na medida em que também analisa uma ampla gama de efeitos dos orgânicos, do conteúdo nutricional e os benefícios de menos agrotóxicos quanto aos impactos ambientais e à sustentabilidade.

Suas conclusões são baseadas em centenas de estudos epidemiológicos, laboratoriais e de análises de alimentos. Mais uma vez, os benefícios mais claros dos produtos orgânicos para a saúde humana foram relacionados à exposição reduzida a agrotóxicos, antibióticos e cádmio. Como observado pelos autores, “Como consequência da exposição reduzida a agrotóxicos, os alimentos orgânicos, consequentemente, contribuem para evitar os efeitos à saúde e os custos associados à sociedade.”

Recursos de Alimentos Orgânicos

Embora seja fácil se sentir desamparado, lembre-se de que podemos auxiliar a orientar a indústria agrícola em direção a sistemas mais seguros e sustentáveis, apoiando os agricultores orgânicos e escolhendo produtos locais frescos todos os dias. Lembre-se de comprar carne e laticínio orgânicos de animais que pastam sejam aves ou gado.

Fontes e Referências

 

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, julho de 2018.