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Os segredos por trás do Big Fast Food Burger King e da produção mundial de carne e a devastação do Brasil

Relatório elaborado por Marisa Bellantonio, Glenn Hurowitz, Anne Leifsdatter Grønlund e Anahita Yousefi, Rainforest Foundation Norway e Mighty Earth. Fotos de Jim Wickens, Ecostorm.

O Burger King, a segunda maior cadeia de hambúrgueres do mundo, vende 11 milhões de Whoppers, Crispy Chicken Jr., Bacon Kings e outros sanduíches por dia. Qual é o impacto ambiental para produzir toda essa carne?

A empresa não fornece quase nenhuma informação sobre como sua carne é produzida ou se os produtos alimentícios utilizados em suas refeições são provenientes de cultivos ambiental e socialmente responsáveis.

Seguramente, essa não é a única empresa cuja falta de políticas e práticas adequadas estão causando grandes problemas ambientais. Como ela, a indústria de fast food e outros comerciantes de carne, como supermercados, obtêm suas matérias-primas de diversas fontes questionáveis. Entretanto, devido ao seu tamanho, às extensas conexões com outras grandes empresas de alimentos e à aparente falta de vontade de começar a enfrentar o desafio, o Burger King é o exemplo adequado para contar a história da indústria global de carnes.

Como este relatório mostra, o Burger King omite muita coisa: Até o momento, a gigante do setor de fast food não conseguiu adotar nenhuma política séria para proteger os ecossistemas originários e ainda nativos, na produção de seus alimentos. Nesse assunto, apesar da pressão dos consumidores, o Burger King está muito atrás de concorrentes como o McDonald’s. As empresas que fazem parte de sua cadeia de suprimentos têm sido associadas à destruição contínua de florestas e pradarias – habitat de animais selvagens, como preguiças, onças-pintadas, tamanduás gigantes e outras espécies.

Ao contrário de muitos de seus concorrentes, o Burger King repetidamente recusou pedidos de organizações da sociedade civil para se comprometer a comprar apenas de fornecedores que não tenham envolvimento com a destruição das florestas ou fornecer informações sobre a origem de seus produtos. Enquanto isso, o McDonald’s demonstrou sua liderança no assunto, ao se comprometer a eliminar o desmatamento de suas cadeias de suprimentos e estimular seus fornecedores a fazerem o mesmo. O Burger King recebeu a pior avaliação possível, ficando muito atrás de outras grandes organizações, como Wal-Mart, McDonald’s e Wendy’s, na classificação da Union of Concerned Scientist, que avalia o desmatamento causado pelos maiores produtores de carne.

O Impacto Das Cadeias de Suprimentos de Carne Globais

Para examinar o impacto das operações do Burger King, vamos nos concentrar na soja, o principal alimento do gado que fornece a carne para suas refeições. A soja é um ingrediente básico importante para a produção mundial de carne. Cerca de 75% da produção mundial é utilizada na alimentação de animais, e seu cultivo está deixando uma cicatriz enorme na superfície terrestre. Mais de um milhão de quilômetros quadrados do nosso planeta –equivalente ao total das áreas da França, Alemanha, Bélgica e Países Baixos combinadas – são dedicados à produção de soja.

Vastas áreas da Floresta Amazônica, do brasileiro, do Chaco argentino, das florestas de terras baixas bolivianas e da Mata Atlântica no Paraguai foram transformadas em monoculturas de soja. Este relatório se concentra nos impactos do agronegócio sobre esses ecossistemas e biodiversidade extraordinários da América do Sul.

Este relatório se concentra nos impactos dos agronegócios sobre os ecossistemas e a biodiversidade extraordinários da América do Sul. Em 2017, a Mighty preparará um relatório para examinar o impacto das práticas de algumas dessas mesmas empresas sobre o meio ambiente da região centro-oeste norte americana.

Descobrindo Um Rastro de Destruição

Para essa pesquisa, visitamos 28 localidades, cobrindo 3.000 quilômetros de extensão no Brasil e na Bolívia, onde a produção de soja em escala industrial está alimentando o desmatamento em massa (Para obter mais detalhes, imagens de satélite e fotos e vídeos adicionais de cada site, consulte o nosso relatório). Para denunciar a falta de transparência e identificar o desmatamento ligado aos gigantes dos agronegócios na cadeia de suprimentos da empresa, utilizamos mapeamento por satélite, ferramentas de análise da cadeia de suprimentos, entrevistas com produtores de soja e uma extensa pesquisa de campo.

Para denunciar a falta de transparência do Burger King e identificar o desmatamento ligado aos gigantes dos agronegócios na cadeia de suprimentos da empresa, utilizamos mapeamento por satélite, ferramentas de análise da cadeia de suprimentos, entrevistas com produtores de soja e uma extensa pesquisa de campo. Visitamos 28 localidades, cobrindo 3.000 quilômetros de extensão no Brasil e na Bolívia, onde a produção de soja em escala industrial está alimentando o desmatamento em massa. Para obter mais detalhes, imagens de satélite e fotos e vídeos adicionais de cada site, consulte o nosso relatório.

Na fronteira sul-americana, encontramos indicadores da presença das principais organizações que dominam a agricultura global, responsáveis pelo fornecimento para o Burger King e outras empresas alimentícias. Empresas como as americanas Cargill, Bunge e ADM compram grãos,constroem silos e estradas, fornecem fertilizantes aos agricultores e até financiam operações de limpeza de terras.

Cerrado: a Savana Brasileira

O Cerrado do Brasil é uma savana com 200 milhões de hectares, coberta por vegetação e rica em vida selvagem. A região abriga 5% da biodiversidade mundial, incluindo espécies ameaçadas, como o onça-pintada, o tamanduá-bandeira, a raposa-do-campo , o lobo-guará e o cervo de pântano. Os solos do Cerrado armazenam quantidades significativas de carbono, que são liberadas durante opreparo para a agricultura. Além disso, a região é uma fonte vital de água para milhões de pessoas que vivem em Brasil. Neste bioma encontram-se as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata). O Cerrado até ajuda a impulsionar a economia brasileira: 90% dos brasileiros dependem da energia hidrelétrica gerada pelas suas bacias hidrográficas.

Entretanto, esta vasta savana está em estado de emergência, em grande parte por causa das práticas insustentáveis de empresas produtoras de soja e gado. Mais de metade da sua área já foi destruída.

Nosso objetivo é analisar quais são as organizações responsáveis por essa crise. Utilizamos dados e análises da Companhia Nacional Brasileira de Abastecimento Agrícola (Conab) para relacionar os silos de grãos e outras instalações das empresas com os dados de desmatamento obtidos a partir da análise por satélite realizada pelo grupo de pesquisa Lapig da Universidade Federal de Goiás, no Brasil.

Presença da Cargill e da Bunge nas Áreas Mais Desmatadas

Várias empresas de soja operam no Cerrado, mas a análise mostrou que a Cargill e a Bunge são as duas empresas de soja mais ligadas ao desmatamento. Ambas compram soja de fazendeiros, que é enviada para várias partes do mundo para alimentar galinhas, porcos e vacas mantidos em confinamento, até serem transformados em sanduíches de frango, bacon e hambúrgueres.

A Cargill é a maior empresa privada dos Estados Unidos, com faturamento de US$ 120 bilhões, líder mundial no comércio de soja, óleo de palma, gado, algodão e outras commodities. Esta empresa norte-americana tem uma história de décadas de destruição dos recursos naturais brasileiros.

A Bunge, empresa com ações negociadas publicamente localizada em White Plains, subúrbio arborizado de Nova York, é uma das maiores presenças no Cerrado. Atualmente, possui a maior infraestrutura instalada em Matopiba (estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), a região do Cerrado com maior desmatamento causado pela soja. Recentemente, ela ampliou ainda mais a sua rede na região.

Além de comprar soja, a Cargill e a Bunge financiam estradas e outras infraestruturas e fornecem fertilizantes e outros recursos aos agricultores, o que lhes atribui um papel direto no desmatamento. A Bunge é a empresa com maior participação no desmatamento do Cerrado nos últimos cinco anos, seguida pela Cargill.

Nos 29 municípios do Cerrado onde a Bunge opera silos comerciais foram detectados quase 50 mil hectares de desmatamento em 2015 e um total acumulado de 567.562 hectares de 2011 a 2015. Já nos 24 municípios onde a Cargill opera silos, foram 130 mil hectares de desmatamento durante esses mesmos cinco anos. Além disso, em 12 municípios, onde as duas operam silos, o desmatamento total dessas áreas atingiu um total de 90.129 hectares no mesmo período. A investigação não pode afirmar que todo o desmatamento identificado foi causado pela soja. Entretanto, essas empresas fornecem incentivos financeiros que estimulam a destruição e não estão tomando medidas adequadas para evitar o desmatamento das regiões onde operam.

No Cerrado, visitamos 15 localidades que se estendiam por centenas de quilômetros e a situação foi a mesma: vastas áreas de savana recentemente transformadas em enormes monoculturas de soja que se estendem até o horizonte. As fazendas eram tipicamente operações comerciais espalhadas por milhares de hectares. Usamos drones para observarmos tratores enquanto eles devastavam a savana e vimos produtores provocar incêndios sistemáticos para queimarem detritos e limparem a terra, espalhando fumaça tóxica por toda a região. As imagens de satélite exibidas aqui mostram exatamente a extensão do desmatamento em 15 propriedades rurais no Oeste da Bahia.

Muitos incêndios saíram do controle e destruíram áreas selvagens vizinhas intactas. Entrevistas com fazendeiros confirmaram que a Cargill e a Bunge são os dois maiores clientes de soja dos locais que visitamos. A Bunge adotou uma política de proibição do desmatamento em sua cadeia de suprimentos, mas não a comunicou claramente aos seus fornecedores. Já a política da Cargill para esse assunto é reconhecidamente falha. Ao contrário dos concorrentes com políticas de proibição de desmatamento que entram em vigor imediatamente, a Cargill deu a si mesma o prazo até 2030 para eliminar o desmatamento de suas cadeias de suprimentos, dando aos produtores de soja e de outras mercadorias quase 15 anos para continuarem o processo de destruição. Independentemente disso, nenhuma das políticas da empresa parece ser suficientemente eficaz.

Há muita coisa em jogo nessas decisões. Em todo o Brasil, os agronegócios têm tido uma longa história de ocupação de terras, destruição e violência. Um relatório recente da ONG internacional Global Witness apontou que mais ativistas ambientalistas haviam sido mortos no Brasil que em qualquer outro país do mundo. A maioria dos assassinatos ocorreu nas regiões com maior proporção de terras ocupadas por fazendas de gado e plantações de soja. 50 ambientalistas foram mortos em 2015, por capangas contratados por interesses inescrupulosos. Interromper esse ciclo de violência requererá uma ação efetiva por parte dos clientes destes produtores agrícolas comerciais.

B o l í v ia

Nossa equipe de campo visitou a Bolívia, outro país produtor de soja para distribuição mundial. Habitat de mais de 14.000 espécies de plantas, 325 de mamíferos, 186 de anfíbios, 260 de répteis, 550 de peixes e 1.379 de pássaros, a Bolívia é um dos países com maior biodiversidade do mundo. Preguiças de três dedos relaxam em árvores e dormem tanto que até musgos crescem neles. Araras em disparada colorem o céu azul acima da Floresta Amazônica. Golfinhos cor-de-rosa nadam e pescam. Os suçuaranas dominam toda a área.

Infelizmente, o país também tem sido um centro para o cultivo insustentável de soja para a alimentação de gado, o que está causando a destruição dos ecossistemas nativos. A Cargill e outros comerciantes também estão ligados à devastação em ritmo vertiginoso dessa biodiversidade. Nos locais que visitamos na Bolívia, os trabalhadores citaram a Cargill e a Archer Daniels Midland (ADM), empresa sediada em Chicago, como os maiores compradores de soja. De acordo com um estudo do Instituto Internacional de Estudos Sociais em Haia, os silos e armazéns da Cargill na Bolívia podem armazenar até 27 mil toneladas de grãos. A empresa também tem parcerias com outros proprietários de silos em 12 locais. A mesma pesquisa mostra que a ADM controla 13% das exportações de soja do país.

De acordo com um relatório de 2015 da FAO/ONU Organização de Alimentos e Agricultura das Nações Unidas, uma média de 289.000 hectares de terras bolivianas foram desmatadas por ano entre 2010 e 2015. Um estudo publicado no periódico científico internacional Plos One descobriu que a Bolívia perdeu 430.000 hectares de floresta por ano na década passada. Mais de três quartos deste desmatamento ocorrem na região de Santa Cruz, foco durante as pesquisas no país. De acordo com a análise da Forest Trends, até 90% deste desmatamento é ilegal.

Embora a Bolívia seja um dos países menos desenvolvidos economicamente da América do Sul, seus níveis de emissão de gases de efeito estufa per capita são iguais ou maiores que os de muitos países europeus. Mais de 80% dessas emissões provêm do desmatamento.

Quando chegamos nos arredores de Santa Cruz, a capital agrícola da Bolívia, imediatamente observamos o mesmo tipo de desmatamento extensivo visto no Brasil. Incêndios enormes e fora de controle ardiam no horizonte. Os trabalhadores agrícolas explicaram como as chamas provocadas pelos produtores de soja secaram a paisagem e tornaram-na vulnerável ao fogo.

Vivendo Entre os Campos de Soja: o Impacto nas Comunidades Locais

As populações locais e indígenas muitas vezes sofrem as consequências do desmatamento. A Bolívia possui o maior número de povos nativos de toda a América Latina. De acordo com o censo de 2012, cerca de 40% dos seus cidadãos se identifica como indígena. Grande parte do restante da população tem origem mista indígena e europeia. Muitas comunidades nativas vivem em florestas e dependem delas para obter alimento, água, abrigo e também para sua desenvolvimento cultural. Produtores de soja, fazendeiros e indivíduos com interesses madeireiros ilegais têm frequentemente utilizado a violência para expulsar povos, como os Guarani, de suas terras ancestrais.

Visitamos a comunidade indígena Ayoreo, na aldeia de Puesto Paz, a algumas horas a leste de Santa Cruz. Até recentemente, os Ayoreo eram caçadores e coletores tradicionais, e exploravam as vastas florestas que se estendiam em todas as direções. Hoje, após as florestas terem sido derrubadas, a comunidade Ayoreo está isolada e cercada por campos de soja. As terras onde tradicionalmente caçavam são agora de propriedade de empresas estrangeiras, que enviam suas produções para o exterior. Quando nossa equipe conversou com o líder da aldeia, ele descreveu o medo da comunidade quando os aviões passam por cima de suas cabeças, pulverizando agrotóxicos a poucas centenas de metros. Ele contou sobre um incidente em que várias crianças morreram porque beberam água em um recipiente de agrotóxico descartado, encontrado em um campo de soja nas proximidades. Geralmente, é assim que a cadeia de suprimentos global de carne termina: florestas derrubadas e uma comunidade expulsa de suas terras, vivendo uma existência precária, isolada do seu passado e sem saber como será seu futuro.

Espalhando o Sucesso: a moratória da soja

O desmatamento que observamos no Cerrado e na Bolívia não é inevitável. Na Amazônia brasileira, a Cargill, a Bunge e outras empresas descobriram como proteger os ecossistemas e ainda progredir em seus negócios.

Após a pressão dos consumidores, que exigiam carne produzida de forma sustentável, os principais negociantes de soja se uniram e anunciaram que não comprariam mais soja cultivada em terras da Amazônia brasileira desmatadas após 2006 (data posteriormente alterada para 2008). Os resultados foram significativos: nos dois anos anteriores ao anúncio, 30% das novas plantações de soja na Amazônia brasileira eram provenientes da destruição de florestas. Depois do acordo, esse número baixou para apenas 1%. Com a união de outras ações do governo brasileiro e da sociedade civil, inclusive do setor pecuário, o Brasil reduziu o desmatamento total da Amazônia em mais de dois terços, tornando-se o país que mais diminuiu a poluição climática no mundo (nota do site: além de termos trocado a palavra pesticida por agrotóxico, palavra constitucional brasileira, esclarecemos que estas observações sobre o desmatamento estão assentadas na realidade até o ano de 2016) .

Ainda assim, a indústria de soja conseguiu crescer em um ritmo extraordinário: mesmo com a redução do desmatamento, a área de cultivo de soja na Amazônia brasileira mais do que triplicou em apenas dez anos, passando de um milhão para 3,6 milhões de hectares. Essa expansão agrícola sem desmatamento foi possível graças à abundância de terras anteriormente desmatadas, onde a agricultura se expandiu sem ameaçar os ecossistemas nativos através do aprimoramento da produção e da adoção de práticas mais eficientes. Esse exemplo mostra a viabilidade do desenvolvimento de uma agricultura mais responsável em grande escala.

É possível fazer uma revolução semelhante na América Latina. Em toda a região, existem aproximadamente 200 milhões de hectares de florestas e pastagens degradadas, equivalente a 15 vezes a área da Inglaterra. Mesmo se apenas parte destas terras pudessem ser utilizadas produtivamente para a agricultura, elas proporcionariam amplas áreas para a implementação de ambiciosos planos de expansão agrícola e ainda deixariam espaço para esforços de restauração ecológica que respeitassem os legítimos direitos territoriais das comunidades indígenas e locais. Os fazendeiros de soja e pecuaristas também poderiam gerenciar as terras com mais eficiência, cultivando mais soja e aumentando a quantidade de gado em espaços menores.

A boa notícia é que a oportunidade de crescimento agrícola na América Latina sem desmatamento está ganhando força. Em 19 de outubro de 2016, José Sarney Filho, ministro do Meio Ambiente do Brasil, participou de um evento que celebrava o décimo aniversário da moratória da soja. Ele falou sobre o sucesso da iniciativa na Amazônia e pediu uma extensão do mecanismo para o Cerrado.

“Hoje, o desmatamento é muito maior no Cerrado do que na Amazônia. Com a crise climática, cada vez mais precisamos da floresta em pé, proporcionando benefícios ambientais e garantindo a presença de água”, disse Sarney Filho. “Podemos ver o quanto este caminho avançou na Amazônia e planejar sua evolução.”

– José Sarney Filho, Brazilian Minister of the Environment

Empresas como McDonald’s, ADM, Wilmar e Louis Dreyfus também manifestaram seu apoio. Tudo indica que esse caminho levará ao sucesso. Embora ainda exista muito a ser feito, a ADM começou a mapear suas cadeias de suprimentos, a trabalhar com a ONG The Forest Trust para comunicar suas expectativas de produção sustentável aos fornecedores e a tomar medidas contra os produtores que não estão em conformidade com seus requisitos. Entretanto, até agora, o Burger King, a Bunge e a Cargill se recusaram a apoiar a extensão da moratória da soja para além da Amazônia brasileira. A Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), associação da qual fazem parte empresas como a Cargill e a Bunge e outras empresas, diz que não está considerando uma extensão da moratória da soja ao Cerrado, afirmando que o mecanismo da Amazônia foi posto em prática durante uma “situação de emergência” e que “não há uma situação de crise que justifique uma moratória para o Cerrado”.

É difícil entender como o que está acontecendo no Cerrado não é considerado uma emergência ambiental. Mais da metade da sua vegetação natural já foi desmatada, enquanto que, na Amazônia, esse valor não chegou aos 25%. Um estudo recente de universidades brasileiras descobriu que o desmatamento ameaça o abastecimento de água do Cerrado, que por sua vez pode provocar secas na vizinha Amazônia, tornando-a mais suscetível a grandes incêndios. No entanto, grandes empresas de soja, como a Cargill e a Bunge, que fornecem para o Burger King e muitos outros grandes varejistas de carne, não deram sinais de que pretendem mudar algo. Esperamos que este relatório não apenas forneça evidências de que existe uma emergência real e generalizada, mas também que é possível encontrar soluções.

“Não há uma situação de crise, o que justificaria uma moratória para o Cerrado”, – Abiove, Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais

Potencial Para Mudança

O Burger King e seus fornecedores têm uma enorme oportunidade de contribuir positivamente para a proteção do meio ambiente e das comunidades indígenas. Esta empresa tem influência significativa na indústria de alimentos e na agricultura. Ela é responsável por mais de 15 mil restaurantes em aproximadamente 100 países. É administrada pela empresa brasileira de investimentos 3G Capital, que também tem ações em empresas como Tim Hortons, a Kraft Heinz Company e a Anheuser-Busch InBev, o que significa que as suas políticas e práticas têm um grande impacto na forma como muitos produtos – de hambúrgueres a cerveja e de macarrão a queijo – são fabricados.

A empresa foi fundada pelos bilionários brasileiros Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira, Marcel Herrmann Telles, Roberto Thompson e o atual gerente executivo, Alexandre Behring da Costa. Em 2015, Lemann foi considerado pela Forbes o homem mais rico do Brasil e a 26ª pessoa mais rica do mundo, com um patrimônio líquido de mais de US$ 32,7 bilhões. A 3G Capital é conhecida por seu foco em medidas extremas de redução de custos. De acordo com ‘Sonho Grande’, livro de Cristiane Correa sobre os três sócios, a frase favorita de Sicupira é: “Custo é como unha, tem que cortar sempre”.

O Burger King deveria usar a sua riqueza e influência de forma positiva, unindo-se a outros integrantes da indústria do fast food para adotar e implementar uma política forte de “Sem desmatamento, sem exploração”. Deveria também divulgar quem são seus fornecedores e informar se eles estão em conformidade com as política de sustentabilidade. Além disso, deveria unir-se ao McDonald’s e outras empresas para estimular seus fornecedores – empresas como a Bunge e a Cargill – a expandir a moratória da soja para o restante da América Latina e trabalhar com governos, comunidades e a sociedade civil para apoiar a expansão da produção sustentável da agricultura.

Tome uma atitude!

Hambúrgueres e batatas fritas não valem a destruição das florestas tropicais. Assine essa petição para pedir que o Burger King pare de destruir florestas e que exija que todos os seus fornecedores, especialmente Cargill e Bunge, trabalhem imediatamente para remover o desmatamento de suas cadeias de suprimentos.

A moratória da soja no Brasil mostrou que o crescimento comercial e a proteção ambiental não são necessariamente conflitantes. O ministro do Meio Ambiente do Brasil, junto com grandes empresas de consumo, apoia a ação de expansão da moratória da soja para o Cerrado e resto da América Latina.
O mais importante é que os consumidores estão exigindo que seus alimentos sejam produzidos de forma responsável, sem relação com o desmatamento ou a exploração de povos indígenas. Ninguém quer pensar em preguiças perdendo suas casas para uma plantação de soja ou uma fazenda de gado, enquanto morde um Whopper, um sanduíche de frango ou um bife. As pessoas querem alimentos a preços acessíveis e que não prejudiquem ecossistemas e comunidades, a base para a criação de um sistema alimentar verdadeiramente sustentável.

O Burger King, a Cargill, a Bunge e outras empresas têm a oportunidade de ajudar a encerrar a era do desmatamento na América Latina e conduzir o mundo em direção à produção sustentável de alimentos. Chegou a hora de perceberem isso.

This report was produced with support from a grant from the Norwegian Agency for Development Cooperation.

Bibliografia