Nos dias de hoje (nt.: em 2010, antes do último relatório do CDC – ver https://nossofuturoroubado.com.br/ecologia/cdc-criancas-dos-eua-com-autismo-crescem-em-78-na-ultima-decada), uma em cada 110 crianças norteamericanas está diganosticada com autismo. E o primeiro diagnóstico é feito quando ela está na mais tenra idade.
http://www.thedailygreen.com/environmental-news/latest/dr-philip-landrigan-0420
Photo: Amanda Schwab/Starpix
Dentro desse mesmo intervalo de tempo – não mais do que poucos anos – o Dr. Philip Landrigan pode ter decifrado o código para a causa do autismo – gravado na genética e na exposição aos químicos ambientais (nt.: entre eles os disruptores endócrinos). Ele, diretor do Centro da Saúde Ambiental da Criança do Centro Médico Mount Sinai, na cidade de Nova York, está liderando um esfoço monumental para se entender as doenças crônicas da infância – não só o autismo, mas também a asma, a obesidade, a desordem do déficit de atenção e outras enfermidades que vêm ludibriando, por anos, os médicos enquanto elas afligem mais e mais crianças. O Estudo Nacional sobre Crianças (National Children’s Study – http://www.nationalchildrensstudy.gov/Pages/default.aspx) começou recentemente a assinalar pacientes e pesquisadores para finalmente seguirem 100 mil crianças dos EUA do ventre de suas mães até atingirem a idade de 20 anos.
“O estudo não será como ir a uma tranquila pescaria. Está sendo guiado por hipóteses específicas que estão na mira de doenças específicas”, contou o Dr. Landrigan ao Daily Green. “Estamos prevendo que teremos informações sobre diferentes doenças em diferentes estágios no tempo. Dentro de poucos anos, depois que tivermos um número suficiente de nenês no estudo, poderemos então poder falar sobre conexões entre exposições prenatal e crianças prematuras, problemas de gestação e baixo peso de nascimento. E depois de alguns anos destas observações, podermos ter dados sobre deficit de atenção, dificuldades de aprendizado, autismo e asma”.
Esta é uma afirmação ousada, mas o Dr. Landrigan não é um pediatra convencional. Ele é um dos granhadores do Prêmio Verde do Coração do Daily Green, o que já é uma boa razão.
O Dr. Landrigan recebeu diversas indicações, desde a Environmental Protection Agency/EPA, à American Public Health Association, além de outras organizações. Ele é professor catedrático do Departamento de Medicina Preventiva junto ao Mt. Sinai. É aposentado como Capitão da Marinha, tendo servido por décadas no Corpo Médico, permanecendo como cirurgião geral adjunto à Milícia Naval de Nova York.
>> Ver as 8 dicas do Dr. Landrigan, para mulheres grávidas, alguns não ouvidos de seu médico, no link – http://www.thedailygreen.com/environmental-news/latest/dr-philip-landrigan-tips-0420?click=main_sr>>
No início dos anos setenta, ele estudo a questão do QI da crianças de El Paso, Texas, onde funcionava uma metalúrgica de chumbo. Seus resultados mostravam que 60% daquelas crianças estavam envenenadas por chumbo e que mesmo baixos níveis de contaminação já causavam danos irreparáveis a seus cérebros. Sua pesquisa levou o Congresso a agir sobre a poluição do chumbo, banindo ou reduzindo seu uso na gasolina, nas tintas e finalmente nos brinquedos infantis e outros produtos de uso corrente. Estas ações reduziram em 90% o envenenamento por chumbo nos EUA, elevando o QI das crianças em seis pontos. Além disso permitiu a injeção de 200 bilhões de dólares, anualmente, no que haviam sido perdido pela diminuição da produtividade econômica.
Sob o comando do Sen. Patrick Leahy, D-Vermont, o Dr. Landrigan mais tarde voltou sua atenção para os agrotóxicos. Antes de seus estudos, os regulamentadores federais consideravam os efeitos sobre a saúde somente sobre homens adultos que pesavam em torno de 75 quilos. Depois de seus trabalhos, a EPA/Environmental Protection Agency começou a considerar os grandes efeitos despropositados que os químicos podiam ter sobre as crianças que acabam absorvendo mais químicos por quilo do que os adultos e cujos órgãos estão ainda sob estágios críticos de desenvolvimento.
Este trabalho levou a Administração Clinton a desempenhar esforços no sentido de considerar as ameaças específicas que a saúde infantil enfrenta. A idéia deste estudo – National Children’s Study – fez surgir um comitê de alto nível constituido com membros do gabinete do governo e especialistas na área da saúde como o Dr. Landrigan. A idéia, como ele coloca, é fazer com que crianças sejam passíveis de estudos epidemiológicos prospectivos de larga escala como os que são feitos com adultos. Todos agora sabem que a doença do coração é a maior causa de morte nos EUA, e que sua causa inclui fumar, dieta pobre, pressão alta, colesterol, diabetes e falta de exercícios. Mas se voltarmos ao ano de 1948, vamos encontrar a semente deste conhecimento no estudo feito com homens adultos em Framingham, Mass. O estudo de Framingham é responsável pela redução em 60% nas mortes de doenças do coração. Foi um “plano estratégico de prevenção”, como diz o Dr. Landrigan.
“Dispúnhamos de estudos que se fixavam na saúde do homem e da mulher e sabíamos que aqueles estudos acabariam descobrindo coisas muito poderosas que terminaram por influenciar a saúde neste país. O estudo de Framingham…foi incrivelmente exitoso, muito além do que qualquer um possa imaginar”, afirma o Dr. Landrigan. E acrescenta: “Estamos muito esperançosos de que este estudo – National Children’s Study – atinja o mesmo patamar para as crianças”.
O estudo inicia com mulheres que se apresentem como voluntárias em seu primeiro trimestre de gravidez para oferecerem um detalhado histórico de saúde, submeterem-se a um exame físico e a uma análise genética, fornecendo amostras de sangue, urina e cabelo, que possam trazer dados sobre suas exposições a substâncias químicas no ambiente. Da mesma forma, testes detalhados continuam por anos, antes e depois do nascimento de seus filhos, para que assim qualquer criança, dentro do estudo, que desenvolva alguma doença, possam as causas comuns ser identificadas.
“Seremos capazes de conectar os pontos”, diz Dr. Landrigan, “e relacionarmos as exposições prenatal e suscetibilidade genética ao surgimento de doenças, mais tarde, em suas vidas”.
O estudo não estancará com doenças precoses da infância. Mas a criança será acompnhada através de sua adolescência, podendo assim lançar luzes sobre outras questões desconcertantes de saúde pública como saúde mental ou problemas reprodutivos.
Estudo paralelos terão o foco sobre bebês nascidos no Hospital Mt. Sinai (6 mil bebês tem nascido ai a cada ano), atentando para identificar riscos que possam ser exclusivos à população de New York bem como causas particulares de autismo e dificuldades de aprendizado.
Em razão de que o estudo provavelmente identificasse substâncias químicas problemáticas que são largamente utilizadas no comércio e na indústria, a Administração Bush tentou impedir seu desenvolvimento.
“É absolutamente verdadeiro que ao transformarmos este trabalho em um estudo federal, acabamos tendo que nos sujeitar a questão política”, disse o Dr. Landrigan. “Por outro lado, afirmo que possivelment não exista uma outra entidade na sociedade, exeto talvez a Fundação Gates, que possa ter recuros para conduzir um estudo como este. Recursos incluem dinheiro, mas também estão neles a sustentabilidade a longo prazo. E nós esperamos que o governo esteja ai nos próximos 20 a 25 anos”.
Seu foco no National Children’s Study não fez com que parasse de falar sobre questões que o distingue desde o início de sua carreira. Enquanto substanciais progressos foram alcançados na redução da intoxicação por chumbo, disse que o atual padrão de saúde do governo, estabelecido em 1991, denota de que qualquer amostra de sangue infantil com menos do que 10 microgramas por litro de chumbo como sendo segura, está desatualizada com base nas atuais pesquisas sobre o tema. “Se é um ou dois, isto é a norma. Abaixo de cinco anos, estou satisfeito. Mas se estiver acima de cinco, descubra de onde vem este chumbo”, conclamou ele.
E enquanto ele viu melhoras na regulação dos resíduos químicos em alimentos que constam na lei de proteção de qualidade de alimentos (nt.: Food Quality Protection Act), aprovada em parte por causa de seus estudos sobre os efeitos na saúde pela exposição aos agrotóxicos, considera que a lei federal sobre controle e substâncias tóxicas (nt.: Toxic Substances and Control Act) como sendo “uma piada”.
“Ela tem sido, na verdade, profundamente ineficaz,” diz ele. “Existem hoje no mercado mais de 80 mil produtos químicos. Três mil deles, sendo seu material, químicos de alto volume de produção, estão em nosso entorno. O (Centers for Disease Control and Prevention/CDCs) pode medir níveis de mais de 100 produtos químicos de alta produção em todos nós. São principalmente produtos químicos sintetizados artificialmente que não existiam em 1950 e 1960. Por isso são extremamente novos tanto para o planeta como para todas as suas espécies de vida. Há uma grande falta de testes da toxicidade destes produtos químicos, especialmente quando se trata de sua toxicidade para o desenvolvimento da primeira infância. Temos este tipo de informação para menos do que 25% destes produtos químicos de alto volume. 75% destes produtos químicos que bebês e crianças tomam contato todos os dias, têm efeitos completamente desconhecidos”.
Manter as crianças longe de ficarem doentes, está em primeiro lugar. Esta é a missão de vida do Dr. Landrigan. Para elevar o trabalho da pediatria a um nível totalmente novo, The Daily Green homenageou o Dr. Landrigan como The Protector em sua cerimônia de premiação Green Awards 2010 na cidade de Nova York.
Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, fevereiro de 2013.