Resumo da história.
- Um estudo com animais detectou que a exposição ao BPA (bisfenol A) danifica cromossomas e interfere no desenvolvimento do óvulo, podendo levar a um aborto espontâneo ou a um nascimento com deficiências como a Síndrome de Down;
- Em animais expostos a pequenas doses de BPA, ocorreram não só problemas com o desenvolvimento inicial do óvulo, mas também no desenvolvimento do ovário dos fetos fêmeas ainda na fase embrionária; estes óvulos não conseguiam aderir adequadamente nos folículos o que significa que poderão ter dificuldades, no futuro, de virem a se desenvolver e maturarem normalmente;
- Exposições químicas que nós estamos vivenciando atualmente, têm potencial para impactarem não só a saúde, mas também alterarem provavelmente as futuras gerações mesmo que elas não tenham sido expostas diretamente a estes químicos;
- Um recente estudo detectou que ratas prenhes expostas a dioxinas transmitem enfermidades às terceiras gerações de seus descendentes via herança epigenética transgeracional (nt.: ver, na situação da humanidade, as crianças que até hoje nascem no Vietnã onde os EUA, entre os anos 60 e 70, aplicaram toneladas do Agente Laranja, que era o nome de guerra da dioxina, que tendo sido apresentado como herbicida, era considerado inócuo), e alterações celulares que influenciam a expressão de vários genes;
- No sentido de evitar quaisquer tipo de químicos sintéticos tóxicos que possam lixiviar para nosso alimento e bebida, escolhamos sempre materiais de vidro em vez de plásticos, especialmente quando há contato direto do alimento com estes produtos ou naqueles que são dirigidos para mulheres grávidas, bebês e crianças.
http://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2012/10/16/bpa-disrupts-egg-development.aspx?e_cid=20121016_DNL_art_2
By Dr. Mercola
Quando uma mulher experimenta um aborto ou tem um bebê com alguma deficiência como a Síndrome de Down, a causa é usualmente um mistério. A medicina moderna simplesmente não tem uma explicação na maioria dos casos, apesar de algumas pistas serem visíveis.
Químicos Ambientais como o BPA Podem Ter Sérios Efeitos Reprodutivos.
O bisfenol A (BPA) é um dos químicos com maior produção mundial, em volume, e como resultado de seu amplo uso, tem sido detectado na maioria dos 90% dos norte-americanos testados (nt.: ver este material em inglês: http://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2010/01/07/Six-Risky-Chemicals-Youre-Carrying-in-Your-Body.aspx). O BPA é um disruptor endócrino, significando de que ele mimetiza ou interfere com os hormônios de nossos corpos e “desfunciona” nosso sistema endócrino.
As glândulas endócrinas e os hormônios que elas liberam, influenciam praticamente cada célula, órgão e função de nosso corpo. É fundamental para regulação de nosso humor, crescimento e desenvolvimento, função dos tecidos, metabolismo, bem como da função sexual e do processo reprodutivo.
A mais forte evidência mostrando que a exposição a químicos ambientais como o BPA podem levar à desfunção endócrina vem das bizarras alterações vistas em numerosas espécies do mundo selvagem, como os peixes intersexos (nt.: ver o link – http://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2010/11/18/research-proves-genderbending-chemicals-affect-reproduction.aspx), anfíbios desenvolvendo uma variedade de defeitos como testículos e ovários múltiplos, bem como hermafroditismo em ursos, citando somente alguns dos casos.
Mas evidências também mostram que estes químicos estão influenciando os seres humanos e levando ao declínio na qualidade dos espermatozóides, à puberdade precoce, à estimulação do desenvolvimento da glândula mamária, desfunção nos ciclos reprodutivo e ovariano, entre numerosos outros problemas de saúde (nt.: ver em inglês – http://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2010/12/11/us-senate-fails-to-protect-innocent-children-from-dangerous-plastic.aspx), como cânceres e doenças cardíacas também.
Na última pesquisa, os cientistas detectaram desfunções no desenvolvimento de óvulos depois que macacos Rhesus, que têm sistemas reprodutivos como os humanos, foram expostos a uma dose única diária de BPA ou baixas doses, mas contínuas. O bisfenol A aparece danificando os cromossomas o que poderia levar a abortos espontâneos ou defeitos de nascimento.
No grupo exposto continuamente ao BPA, ocorreram não só problemas com o desenvolvimento inicial do ovo, mas também no ovário fetal que estava se desenvolvendo no embrião fêmea.*1 Os óvulos do embrião não se ‘enveloparam’ de maneira adequada nos folículos o que significa que eles apresentarão dificuldades de se desenvolverem como de maturarem normalmente no tempo adequado.
A pesquisadora da Washington State University, Patricia Hunt, observou:*2
“A preocupação quanto à exposição a este químico é que todos nós estamos expostos, podendo aumentar o risco tanto de abortos como de nascimento de bebês com deficiências como a Síndrome de Down. A coisa mais extraordinária sobre seu efeito é que estamos dosificando a avó e o químico atravessa a placenta e agride o feto que está se desenvolvendo em seu útero. Se o feto for fêmea, o químico está alterando a possibilidade de que esta fêmea ovule óvulos normais. É um tipo de sucesso: três em um”.
Resultados similares têm sido revelados em seres humanos. Assim, as mulheres têm se submetido a fertilização in vitro e que têm altos níveis de BPA em seu sangue, apresentam 50% menos de óvulos fertilizado, de acordo com um estudo que sugere que este químico tem comprometido a qualidade dos óvulos das mulheres e talvez contribuindo significativamente para os problemas de fertilidade.*3
Podemos Estar Sendo Impactados Pelas Exposições de Nossas Bisavós.
A assertiva de que “nenhum homem é uma ilha”, agora se torna cada vez mais verdadeiro pelo que estamos percebendo atualmente. A evidência é de que nossa saúde está totalmente ligada às vidas não só de nossos pais, mas também de nossos avós e mesmo bisavós …. A exposição química que estamos constatando nos dias de hoje tem um potencial de impactar nossa saúde com certeza, mas também provavelmente estará alterando as futuras gerações que ainda estão por vir, mesmo que elas não tenham sido expostas diretamente a ela.
Um estudo recente detectou que ratas prenhes exposta à dioxina, um conhecido carcinogênico e disruptor endócrino, transmitiram enfermidades a suas proles na terceira geração (ou seus bisnetos) via herança epigenética transgeneracional, mudanças celulares que influenciam a expressão de vários genes.*4 Os bisnetos apresentaram altas taxas de doenças dos rins, dos ovários e início precoce da puberdade, enquanto os machos apresentavam alterações nos espermatozóides.
Como o periódico Scientific American reportou:*5
“Os cientistas já sabem de longa data que exposições a químicos ambientais podem causar mutações genéticas. Mas agora os especialistas em epigenética estão descobrindo que algumas exposições parecem ser capazes de alterar como os genes se expressam, ou como se ligam ou se desconectam, sem, na verdade, danificarem os próprios genes. Estas mudanças então podem ser herdados pela futuras gerações.
… ‘A causa de maiores taxas de doenças nestes animais [terceira geração] não foi devido à exposição direta aos químicos, mas sim através da transmissão de alterações nos códigos que regulam a expressão gênica’, diz Abby Benninghoff, que é especialista em epigenética na Utah State University. Ela não estava envolvida com a pesquisa”.
O BPA é Extrema e Perturbadoramente Comum.
Graças à recusa da Administração de Alimentos e Fármacos dos EUA (nt.: U.S. Food and Drug Administration/FDA) de banir o BPA (nt.: ver o texto em inglês – http://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2012/04/19/boycott-bpa-containing-products.aspx ) das embalagens de alimentos nos EUA, esta substância química sintética continuará experimentando um firme crescimento em 2012, com a estimativa de uma produção de 4,7 milhões de toneladas para este ano. Isto, por sua vez, fará com que os fabricantes de BPA ganhem um generoso lucro de $8 bilhões de dólares.*6
Assim, mesmo que alguns fabricantes, com pensamento mais avançado, tenham removido o BPA de seus produtos, este químico ainda está perturbadoramente presente e comum em embalagens de alimentos e bebidas, como também em outros locais e produtos que nunca poderíamos imaginar, como nos recibos e notas termo impressos (nt.: muitas das notas e recibos de caixas registradoras e de cartão de crédito têm BPA em sua composição). Dai então sermos tratados como animais de laboratório, no sentido de estarmos sendo sujeitos às exposições de BPA com consequências desconhecidas tanto para nossa descendência como para as futuras gerações, independente se quisermos ou não. É por isso que é tão importante fazermos um boicote às fontes comuns de BPA que podemos controlar. como as que seguem:
- Alimentos enlatados e refrigerantes e cervejas em lata;
- Todos os produtos plásticos que contenham BPA;
- Certas resinas brancas odontológicas;
- Certos produtos apresentados como sendo BPA-free (mas que contém químicos disruptores endócrinos similares);
- Recibos e notas termo impressos e dinheiro em papel-moeda (assim, enquanto não podermos “boicotar” este dinheiro, procuremos limitar ou evitar levar recibos e notas em nossa carteira de dinheiro, pasta ou bolsa, já que parece que este químico se transfere para outras superfícies em que toca. Será oportuno também lavar as mãos após termos manuseado este tipo de notas e recibos, além do papel-moeda, evitando manipulá-los particularmente se vamos colocar uma loção ou usarmos uma outra substância gordurosa sobre as mãos, já que assim aumentaremos a contaminação).
Além disso, uma maneira de nós nos protegermos dos efeitos adversos da contaminação inevitável de BPA é se alimentar com alimentos tradicionais como o leite orgânico fermentado com Kefir e originário de vacas que pastaram naturalmente, vegetais orgânicos fermentados como “sauerkraut” (nt.: chucrute) ou o chamado “kimchi” (nt.: prato de vegetais fermentados de origem coreana), ou ingerir suplementos probióticos de alta qualidade. Estes alimentos contém “bactérias amigáveis”, algumas das quais têm a habilidade de metabolizar o BPA, bem como reduzir a nossa absorção intestinal deste químico.*7
Isto é importante para todos nós, mas se fores uma mulher grávida, amamentando ou planejando engravidar, evita o BPA o mais que puderes e for possível. Isto será imprescindível.
Trocar Produtos BPA-Free Poderá Não Ser Suficiente …
Como resultado da reação generalizada dos consumidores, muitas companhias começaram a apresentar produtos plásticos “BPA-free”, indo de mamadeiras e copos com biqueira a garrafas d’água reutilizáveis, buscando isso como um apelo àqueles consumidores conscienciosos que procuram evitar os produtos contaminados com substâncias tóxicas.
Infelizmente, isto pode ser uma falcatrua, como pesquisas têm mostrado pelo uso de outro bisfenol, o Bisfenol S (BPS), que agora tem aparecido em análises de urina humana em concentrações em níveis similares àquelas do BPA.*8 Sugere então que muitos fabricantes estão simplesmente substituindo um Bisfenol por outro. Pesquisas sugerem que o BPS tem características similares de mimetizador de hormônios como é o BPA. E ainda pode ser significativamente menos biodegradável e mais estável ao calor e ser fotorresistente, o que significa que ele pode causar ainda mais danos à saúde e ao ambiente no decorrer dos tempos.
Se alguém estiver interessado em eliminar quaisquer tipo de substâncias químicas tóxicas que lixiviem para os alimentos e bebidas em geral, escolha produtos de vidro em vez de plásticos, especialmente para os produtos que entrarão em contato com os alimentos e as bebidas, ou naqueles que forem dirigidos a mulheres grávidas, bebês e crianças. Isso se aplica a alimentos enlatados também, já que são a maior fonte de exposição ao BPA (e possivelmente a outros químicos). Escolha produtos alimentícios engarrafados em vez de enlatados ou, melhor ainda, opte por produtos frescos. Outra boa ideia é abandonar os brinquedos como mordedores para as crianças e, em vez disso, optar por aqueles feitos em madeira natural ou de tecidos variados.
Fontes e Referências
- *1 Proc Natl Acad Sci U S A. 2012 Sep 24.
- *2 Medical News Today September 26, 2012
- *3 Fertility and Sterility December 4, 2010
- *4 PLoS ONE 7(9): e46249
- *5 Scientific American September 27, 2012
- *6 SFGate April 1, 2012
- *7 Bioscience, Biotechnology and Biochemistry 2008 Jun;72(6):1409-15.
- *8 Environmental Science & Technology June 7, 2012
Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, outubro de 2012.