Novas pesquisas alertam que estamos produzindo muitos produtos químicos, muito rápido, ameaçando o meio ambiente e a saúde humana. Foto por Pexels/Pixabay
https://www.nationalobserver.com/2022/01/31/news/our-chemical-habit-choking-earth
31 de janeiro de 2022
As empresas químicas produziram mais produtos químicos – incluindo plásticos – do que o planeta pode sustentar com segurança sem causar danos potencialmente irreversíveis ao meio ambiente ou à saúde humana, diz uma equipe de pesquisadores internacionais.
O Canadá e a maioria dos outros países não têm a capacidade de monitorar como produtos químicos como plásticos, agrotóxicos e fertilizantes sintetizados estão impactando pessoas e ecossistemas mais rapidamente do que podem auxiliar. Com a indústria projetando uma demanda vertiginosa, os cientistas alertam que os governos devem restringir imediatamente a produção de novos produtos químicos até que os sistemas regulatórios e de monitoramento adequados estejam em vigor.
É uma nova abordagem para pesquisar os impactos ambientais e de saúde globais de produtos químicos, que normalmente examina um único tipo de produto químico, como os agrotóxicos neonicotinóides, por vez. Mas com centenas de milhares de produtos químicos em circulação e novos no mercado diariamente, os países não conseguem acompanhar, explicou a coautora Miriam Diamond, professora da Universidade de Toronto.
“Não há como realmente descobrir um limite planetário para cada (químico)”, explicou ela. Em vez disso, a equipe analisou o ritmo de produção e desenvolvimento de produtos químicos e se os regulamentos e monitoramentos ambientais e de saúde dos governos podem acompanhar.
“A resposta é um retumbante não. Estamos tão atrasados em nossa capacidade de avaliar e entender essas entidades que não conseguimos acompanhar.”
E os produtos de ‘limpeza’ domésticos, além dos produtos de ‘cuidado’ pessoal, infantil e adulto, são os mais questionáveis dos que nos atingem diretamente, dia a dia, nosso corpo e nosso interior-incluir medicamentos- (1. ftalatos; 2. bisfenol A/BPA; 3. cloro-todas as formas; 4. radônio-gás que ocorre naturalmente, impossível evitarmos; 5. perflúorcabonos- químicos para sempre=’forever chemicals’ -ver materiais em nosso website; 6. chumbo-ver websie; 7. agrotóxicos e fertilizantes sintétizados-ver website; 8. formaldeído-ver website; 9. parabenos-ver website; 10. éter difenil polibromado e polibromado bifenilos-ver website)
Por exemplo, a produção de plástico aumentou quase 80% apenas entre 2000 e 2015 e espera-se que a produção triplique até 2050. Porque cerca de 99% dos plásticos são feitos de combustíveis fósseis e sua produção está ligada a uma complexa teia de derivados de combustíveis fósseis como solventes e fertilizantes, os dados de saída são ferramentas úteis para rastrear a produção de um conjunto de outros produtos químicos nocivos. A maioria dos plásticos também contém produtos químicos adicionados, muitas vezes tóxicos (nt.: nome técnico é plastificante. Casos mais notórios, ftalatos e bisfenois como o A, o S e toda a família), que conferem aos produtos plásticos flexibilidade, resistência a chamas e outras características desejáveis
Esse boom teve um custo, com resíduos plásticos se infiltrando na maioria dos ecossistemas, matando animais e até acabando no leite materno das mulheres (nt.: hoje se sabe que muito menores do que os microplásticos, os nanoplásticos, foram detectados tanto no Polo Norte como no Sul. Além disso já há pesquisas que mostram moléculas de resinas plásticas na placenta de embriões. Ou seja, as moléculas já estavam no sistema reprodutivo materno antes da fecundação). Globalmente, apenas cerca de 10% dos plásticos são reciclados, enquanto a disposição no meio ambiente e as técnicas de descarte, como a incineração, têm consequências negativas para a saúde e o meio ambiente.
Apesar da ameaça, nenhum país impôs limites à produção de novos plásticos e poucos avaliaram os impactos cumulativos na saúde e no meio ambiente da exposição a plásticos e outros produtos químicos. Mesmo o Canadá – líder global depois que o governo federal listou o plástico como legalmente tóxico no ano passado – não concluiu uma avaliação aprofundada do risco cumulativo de saúde e meio ambiente dos materiais.
Os impactos cumulativos são os efeitos totais da exposição a vários produtos químicos, de diferentes formas, durante períodos de tempo mais longos. Por exemplo, alguém brevemente exposto a um agrotóxico nocivo provavelmente não sofrerá consequências para a saúde, mas se for exposto a ele repetidamente e a outros produtos químicos (como produtos de limpeza, solventes ou retardadores de chama), poderá sofrer consequências dos impactos cumulativos.
Os plásticos não são o único problema. As leis ambientais atuais do Canadá exigem apenas que o governo avalie o impacto cumulativo dos venenos agrícolas – um requisito que é “rotineiramente” ignorado, disse a advogada da Ecojustice Elaine MacDonald. A situação é ainda pior para outros produtos químicos, disse ela, sem exigências para os reguladores canadenses avaliarem os impactos cumulativos.
As empresas produziram mais produtos químicos – incluindo plásticos – do que o planeta pode sustentar com segurança sem potencialmente cruzar uma fronteira planetária e causar danos irreversíveis ao meio ambiente ou à saúde humana, diz um novo estudo.
Um projeto de lei apresentado em abril passado exigiria que o governo federal analisasse os impactos cumulativos dos produtos químicos, mas morreu com as eleições de setembro. Enquanto MacDonald e outros ambientalistas esperam que ele seja reintroduzido pelo governo liberal, ela “suspeita” que eles terão que “se esforçar muito para que o governo seja minucioso”.
Isso inclui o desenvolvimento de um processo mais rigoroso para avaliar e regular novos produtos químicos, nanomateriais e material biotecnológico, acrescentou Fe de Leon, pesquisador e paralegal da Canadian Environmental Law Association. Ela também gostaria de ver o Canadá pressionar por regulamentações globais mais fortes de produtos químicos – incluindo limites de produção – um apelo ecoado no estudo recente.
“Antecipo que haverá muita reação com as pessoas dizendo: ‘É impossível implementar limites na produção'”, disse Diamond. “(Mas) precisamos de suficiência em vez de crescimento.”
- Marc Fawcett-Atkinson
- Repórter
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, fevereiro de 2022.