Os Munduruku lançaram documento desmentindo nota da assessoria de imprensa da Secretaria Geral da Presidência da República que afirma ter ocorrido reunião entre governo federal e indígenas. Segundo documento da Associação Pusuru, entidade representativa dos indígenas, a reunião não aconteceu, apesar da insistência dos Munduruku.
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/519761-munduruku-acusam-governo-de-mentir-publicamente-sobre-encontro
A reportagem é de Ruy Sposati e publicada pelo CIMI, 29-04-2013.
“Nós nos preparamos, discutimos por dois dias entre nós a nossa proposta, a nossa posição [sobre as barragens], porque no terceiro dia o governo ia vir. Mas não veio, não quis vir, porque tratou a gente como selvagem, dizendo que íamos atacá-los”, explica Cândido Waro, presidente da Associação.
O indígena disse que, por três dias, Jacareacanga esteve sitiada. “O governo trouxe mais de 200 policiais pra cá, o pessoal da cidade viu chegar pelo menos sete caminhões, helicóptero, avião, caminhonete, carro. Ficou igual em Itaituba [local onde teve início a Operação Tapajós]”, explica. “E queriam que uma comissão [de lideranças indígenas] saísse da aldeia e fosse encontrar com eles na cidade, cheia de polícia. E isso a gente disse que não, foi uma decisão do nosso povo durante a assembleia de que queríamos receber o governo, mas tem que ser na nossa terra e sem policiais”.
“Os nossos vereadores foram pessoalmente dizer aos representantes que nós não viríamos pra aldeia, convidar novamente eles a virem na aldeia. O governo disse que estava com medo de ser atacado, e os vereadores disseram que eles pessoalmente cuidariam da segurança de todos os representantes. Mas aí eles falaram que só viriam se fosse com Força Nacional, Polícia Federal dentro da aldeia, que o [ministro] Gilberto Carvalho falou isso pra eles”.
“E como pode agora o governo mentir assim? Como pode inventar a história ao contrário?”, questiona. “Nós nem sabíamos que o Paulo Maldos estava em Jacareacanga, nem citamos o nome dele no documento que saiu do nosso encontro”, explica Cândido. “Nós sabemos o que acontece com polícia na nossa aldeia quando o governo manda. Da última vez morreu um parente [na aldeia Teles Pires, em 2012], agora está todo mundo com medo no Médio [Rio Tapajós] com a Operação, e agora é aqui?”.
Eis a nota da Associação Pusuru.
Nota de esclarecimento do povo Munduruku sobre as mentiras da Secretaria Geral da Presidência da República
A Associação Pusuru, entidade representativa do povo indígena Munduruku, vem a público desmentir as informações falsas veiculadas pela Secretaria Geral da Presidência da República no dia 26 de abril de 2013, na nota “Governo Federal reúne com indígenas Munduruku em Jacareacanga”.
A Pusuru esclarece, em primeiro lugar, que não houve reunião alguma.
A reunião estava marcada para acontecer no dia 25, na aldeia Sai Cinza, onde mais de 200 caciques aguardavam os representantes do governo para dialogar sobre a construção das hidrelétricas. Mas o governo se recusou a vir a aldeia e trouxe mais de 200 homens fortemente armados, entre policiais federais, militares do exército e Força Nacional, para a cidade de Jacareacanga.
O governo foi informado anteriormente de que são os caciques em assembleia que possuem poder de decisão sobre qualquer assunto que se refira aos direitos de nós povo Munduruku. O governo sabia que a reunião iria acontecer na aldeia Sai Cinza, conforme acordado entre nós indígenas e o governo. Isso está documentado.
Este grupo de vereadores com o qual o governo afirma ter se reunido estava incumbido de apenas comunicar aos representantes da secretaria que os caciques não aceitariam a mudança de local da reunião imposta pelo governo.
Comunicamos que esse grupo não tem autorização dos caciques para falar em nome do povo Munduruku, atribuição desta Associação.
A Pusuru repudia a ma-fé e a falsidade do governo federal em relação a nós povo Munduruku, manifesta pela atuação mentirosa da Secretaria Geral da Presidência da República, pelo descumprimento dos acordos e pela presença militar ostensiva em nossas terras e levará ao conhecimento da Justiça e da sociedade a nossa posição.
Jacareacanga, 29 de abril de 2013.