Centenas de mulheres se reúnem na capital japonesa esta semana exigindo maior atenção para as 30 mil crianças expostas à radiação nuclear em razão da crise no complexo atômico de Fukushima. “As políticas oficiais de recuperação se concentram na descontaminação em lugar de proteger a saúde dos mais vulneráveis: crianças e grávidas”, disse à IPS a ativista Aileen Mioko Smith.
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Tóquio, Japão, 9/11/2011
por Suvendrini Kakuchi, da IPS
“Nossas reuniões com funcionários para pedir mais rapidez em programas de evacuação dos grupos de alto risco são respondidas com promessas de limpeza do lixo radioativo. Isto é totalmente irresponsável”, protestou Smith, que lidera a organização não-governamental Green Action Japan.
Smith critica o governo e a estatal Tokyo Electric Power Company (Tepco), operadora da central de Fukushima, por concentrarem seus esforços em aliviar a preocupação pública prometendo reduzir a exposição em áreas afetadas em lugar de realizar evacuações. No dia 2, a empresa admitiu que um dos reatores da usina apresentava indícios de um novo vazamento.
Desde o acidente do dia 11 de março, provocado por um terremoto seguido de tsunami, as autoridades reduziram o nível de radiação aceito para os moradores de Fukushima para 20 milisieverts (medida para calcular a radiação) por ano. Ativistas afirmam que o governo fez isto para minimizar o número de evacuados. Smith ressaltou que os novos padrões não protegem a população mais vulnerável, como meninas, meninos e mulheres grávidas.
Cerca de 36 mil pessoas foram evacuadas fora de um raio de 22 quilômetros do complexo, mas muitos mais do que os dois milhões de habitantes de Fukushima estariam em risco, alertou Smith. “Não cederemos até que o governo mude sua atitude insensível”, prometeu esta participante de um protesto diante da sede do Ministério de Economia, Comércio e Indústria, contra a política nuclear japonesa.
O coração da manifestação era constituído por cerca de 200 mulheres de Fukushima, que permaneceram no local por três dias. Quando terminou o protesto, no dia 30 de outubro, exortaram as mulheres de todo o Japão para que participem esta semana de um protesto que vai até o dia 13. Enquanto isso, mulheres de 47 prefeituras conseguiram reunir mais de seis mil assinaturas para apoiar suas demandas. Distribuíram volantes aos transeuntes com informação sobre os riscos que enfrentam os moradores de Fukushima.
Rika Mashiko, evacuada dessa cidade, explicou que se uniu aos protestos junto com sua filha de sete anos para mostrar solidariedade e expressar sua decepção com o governo. Seu marido continua trabalhando em Fukushima. Mashiko abandonou há seis meses sua horta orgânica, a 50 quilômetros do complexo nuclear. Agora reside em Tama, subúrbio de Tóquio, e tem emprego em tempo parcial. “Não recebo apoio financeiro do governo, porque parti voluntariamente, embora seja uma refugiada nuclear. Não acredito nos novos padrões de exposição radioativa em Fukushima, e não posso arriscar minha saúde e a de minha filha”, disse à IPS.
As mulheres exigem medidas mais efetivas, de proteção contra a radiação, bem como transparência e honestidade das autoridades governamentais. Também promovem um chamado nacional pela abolição da energia nuclear no Japão. Ayako Ooga, da organização não governamental Mães de Fukushima Contra a Radiação, questionou o programa de recuperação do governo. “Não é a recuperação que imaginávamos”, disse. “A política é acalmar a população, mas o que queremos são ações honestas do governo’, acrescentou.
Ooga fugiu no dia 11 de março de sua casa, localizada a dez quilômetros da usina. Explicou à IPS que os altos níveis de radiação registrados em sua área impediam as pessoas de retornarem. “Queremos a garantia de que um acidente semelhante nunca volte a ocorrer no Japão, e que o governo faça mais para proteger nossos amigos e familiares da radiação”, afirmou.
As mulheres sabiam que teriam uma longa batalha pela frente. Um duro golpe chegou no dia 1º, quando a Companhia de Energia Elétrica Kyushu anunciou que reiniciaria a atividade de um reator defeituoso na usina nuclear de Genkai, no município de Saga.
O anúncio foi feito depois que o governo autorizou a reabertura do reator por considerar que a companhia havia adotado as suficientes medidas de segurança. O reator foi fechado no dia 4 de outubro devido a erros de procedimento em tarefas de recuperação. Esta central está no centro de um escândalo devido a denúncias de que a empresa manipulou informações para a opinião pública e pressionou seus empregados para que aceitassem a reabertura do reator.
Hatsumi Ishimaru, agricultora de Genkai que liderou uma campanha dos moradores da cidade contra a usina, também está em Tóquio para unir-se aos protestos, e declarou à IPS que não descansará até sua aldeia de três mil pessoas ficar livre da ameaça nuclear. “As mulheres estão na vanguarda da campanha antinuclear. Valorizamos a vida mais do que os ganhos econômicos”, afirmou.