Antonio Galvan do Movimento Brasil Verde e Amarelo. Foto: Divulgação
11 de janeiro de 2023
A publicação foi feita na rede social oficial do Movimento Brasil Verde e Amarelo, que reúne mais de 300 organizações ligadas ao agronegócio conservador.
O Movimento Brasil Verde e Amarelo, que reúne mais de 300 entidades ligadas ao setor agronegócio e é liderado pelo ruralista da soja e ex-candidato ao Senado Federal por Mato Grosso, Antônio Galvan, divulgou na página oficial de uma de suas redes sociais uma publicação na qual incitava os chamados ‘patriotas’ para uma tomada do poder, que aconteceria nos dias 7, 8 e 9 de janeiro. A imagem divulgada – uma repostagem da página Pavão Mysterioso no Facebook – trazia ainda os dizeres: “não tem dia e hora para acabar, precisamos de uma multidão para a trincheira…Crianças, grávidas, paralíticos e idosos fiquem casa”. A publicação foi tirada do ar na manhã desta terça-feira (10).
O apoio de setores do agronegócio aos atos terroristas ocorridos em Brasília, no último domingo (08), segue sob investigação. Embora tenham sido realizadas centenas de prisões em flagrante, o desafio é, segundo declarou o ministro da Justiça, Flávio Dino, descobrir o ponto de partida dos ônibus que trouxeram os participantes à Capital Federal e rastrear quem foram os financiadores do ato.
Em discurso realizado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na tarde de domingo (8), durante visita à cidade de Araraquara (SP), o presidente afirmou acreditar na presença de madeireiros e garimpeiros ilegais entre os vândalos e suscitou, também, a possibilidade de integrantes do agronegócio terem participado das ações de cunho antidemocrático. “Aquele agronegócio maldoso, aquele agronegócio que quer usar agrotóxico sem nenhum respeito à saúde humana, provavelmente também estava lá. E toda essa gente será investigada, será apurada e será punida”, sentenciou.
Aproximadamente 30 das 240 pessoas autuadas até a manhã de segunda-feira afirmavam que tinham recebido financiamento de “gente do agro”, de acordo com informação divulgada pela TV Globo a partir de dados obtidos junto à Casa Civil e a Polícia Federal. Embora uma primeira lista com o nome de presos durante a ação violenta já tenha sido divulgada, ainda não foram apontados nomes de possíveis financiadores.
O ministro Flávio Dino indicou, apenas, que de acordo com as investigações iniciais eles estariam concentrados em dez estados brasileiros.
A republicação feita pelo do Movimento Brasil Verde e Amarelo incitando a “tomada de poder” dá sequência ao apoio dado pelo coletivo ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) desde o período eleitoral. No site oficial do movimento é possível encontrar um vídeo colocando em dúvida a legitimidade das urnas eletrônicas. A construção desta narrativa foi uma das principais vias para a indignação da base bolsonarista que, por não aceitar o resultado das eleições, realizou o fechamento de estradas, além de organizar acampamentos na porta de quartéis, alguns por mais de 60 dias, em todo o país, para pedir “intervenção dos militares”, como um chamado para um golpe de estado e atentado direto à democracia e a Constituição Federal.
O presidente da Aprosoja Brasil e líder do Movimento Brasil Verde e Amarelo, o gaúcho de Sananduva e sojicultor em Mato Grosso Antônio Galvan, já foi indiciado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por seu papel de financiamento e articulação para a realização do tratoraço nas festividades oficiais do último 7 de setembro, também em Brasília, que levou centenas de representantes do agronegócio, principalmente do estado do Mato Grosso, para se juntarem a Bolsonaro durante as comemorações oficiais da Independência do Brasil. A ação foi considerada inconstitucional e, embora o processo siga em sigilo, de acordo com informações divulgadas pela imprensa, Galvan chegou a ser proibido de estar a menos de um quilômetro da Praça dos Três Poderes.
De qual agro?
Um dos mais importantes produtores de soja do estado do Mato Grosso, Galvan tem um histórico de desmandos ambientais. Ele e seu filho, Albino Galvan, foram condenados em outubro de 2020 com multas que somam R$ 213 mil. Em abril do mesmo ano, o Instituto de Defesa Agropecuária do Estado do Mato Grosso (Indea) encontrou o fungo Phakopsora pashyrhizi, conhecido como “ferrugem asiática da soja” em plantação realizada pelos Galvan em uma fazenda a 461 km de Cuiabá, de acordo com informações do site RD News. O fato ocorreu por conta do desrespeito de Galvan em relação ao chamado Vazio Sanitário, período no qual é proibido realizar a plantação de soja para evitar o aparecimento do fungo e possibilitar o controle da safra sem a utilização excessiva de agrotóxicos.
Em suas redes sociais e desde que assumiu a presidência da Aprosoja Brasil, com sede na cidade de Brasília – até 2021, Galvan presidia a Aprosoja em MT – a principal tarefa do empresário tem sido associar a sua imagem à sustentabilidade, com a divulgação de atividades e ações voltadas ao tema da produção sustentável. Porém, Galvan foi um dos apoiadores do avanço da tramitação do Projeto de Lei 1459/2022, o chamado PL do Veneno, frontalmente criticado por entidades ambientais e científicas como Greenpeace, WWF, Fiocruz, Instituto Nacional do Câncer (Inca) e a Organização das Nações Unidas (ONU).
Antônio Galvan e o ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução/Redes Sociais
A principal reivindicação para a aprovação do texto diz respeito à pouca celeridade na aprovação de novas moléculas, processo que hoje pode chegar a até oito anos. Os ruralistas, principais apoiadores do PL, acreditam que esse prazo deve ser de no máximo dois anos. Outro ponto polêmico é o protagonismo que passa a ser exercido, em caso de aprovação do projeto no Senado, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) na aprovação final das substâncias. Hoje esse processo é realizado de forma equânime com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente).
O atual Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD-MT) também é apoiador do PL do Veneno, e, assim como Gavan, já atuou como presidente da Aprosoja em Mato Grosso, o que demonstra a linha tênue entre o agro responsável defendido por Lula – e do qual, segundo o presidente, Fávaro é um representante – e aquele que incita manifestações de caráter antidemocrático em redes sociais.
Além de Antônio Galvan, o Movimento Brasil Verde e Amarelo também conta com o protagonismo de Jeferson Rocha, presidente do Partido Republicano da Ordem Social (PROS) em Santa Catarina. Rocha é advogado, produtor rural e presidiu a Comissão de Direito Agrário e Questões do Agronegócios da Ordem dos Advogados do Brasil de Santa Catarina (OAB-SC), entre os anos de 2013 e 2015. É o atual coordenador nacional do Movimento Brasil Verde e Amarelo e preside a Comissão de Assuntos Tributários e do Agronegócio da Associação Nacional de Defesa dos Agricultores, Pecuaristas e Produtores da Terra (Andaterra).
Em maio de 2021, Rocha ajudou a organizar a mobilização nacional que levou mais de 200 mil produtores rurais a Brasília em defesa da liberdade e contra as políticas de quarentena para conter a propagação da Covid-19, durante a pandemia.
Santa Catarina é marcada por forte influência bolsonarista. Logo após a divulgação do resultado das eleições presidenciais, o estado foi o que mais teve estradas bloqueadas por apoiadores do então presidente. O novo governador do estado, o ex-senador Jorginho Mello (PL), teve no segundo turno 70,79% dos votos válidos, com apoio de Bolsonaro. De acordo com o deputado federal Pedro Uczai, em entrevista para ((o)) eco, o agronegócio catarinense, além de exercer grande poder local, também, tem influência nas políticas ambientais de dimensão nacional.
“O agronegócio em Santa Catarina sempre teve muito poder, além do alinhamento e apoio do governo estadual. Nos últimos quatro anos, as coisas pioraram com o alinhamento do governo estadual com Jair Bolsonaro, o que fortaleceu esse poderio”, explicou Uczai.
O Movimento Brasil Verde Amarelo e a Aprosoja Brasil foram procuradas por e-mail pela reportagem de ((o))eco, mas não se manifestaram até o fechamento desta reportagem. O espaço segue aberto.
Jornalista pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, atua há vinte anos na produção e pesquisa de conteúdo colaborando e coordenando projetos digitais, em mídias impressas e na pesquisa audiovisual